Defenceless

Capítulo Cinquenta e Dois


O silêncio se instalou depois que a voz de Ellijah havia sumido, juntamente com o seu dedilhar no violão. O único som vinha de Luke e Tom, que continuavam a jogar vídeo game compenetrados.

Ellijah deixou os braços caírem sobre o violão e abaixou a cabeça, passando a encarar Natalie e Hunter por baixo. Hans esticou as pernas, apoiando os calcanhares no chão enquanto seus olhos azuis assistiam à situação divertidamente. Quando Anna percebeu que ninguém se pronunciaria, tossiu forçadamente.

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— Nossa, essa música... linda, né? – a morena juntou as duas mãos na altura dos seios, sarcasticamente. Natalie e Hunter quebraram o olhar que dividiam para encarar Anna. – Será que só eu achei que eles dois seriam o par perfeito pra encenar o clipe? – ela apontou para o “casal” com o dedo indicador.

O gesto fez com que Hans tampasse a boca com a mão rapidamente, evitando que a gargalhada que havia se formado em sua garganta saísse estridente. Natalie passou a mão pela testa, completamente desconfortável com o comentário da melhor amiga. Se não estivesse tão sem reação, tinha certeza que a teria mandado para o inferno. Fitou Hunter pelo canto do olho e percebeu que o rapaz pressionava os lábios com tanta força que as covinhas de suas bochechas estavam em evidência. Ao que tudo indicava, o castanho havia ficado tão sem graça quanto ela e sequer conseguiu reagir.

Deu graças a Deus quando sentiu o bolso da frente de sua calça vibrar de forma desesperada, seguido do conhecido toque de seu celular. Ela levantou em um pulo e puxou o aparelho para atendê-lo enquanto o quarteto a assistia.

Antes de deslizar o dedo na tela, percebeu que o identificador de chamadas mostrava um número desconhecido. Franziu o cenho, e antes que o celular parasse de tocar, respondeu à ligação:

— A-alô? – seus olhos correram pelos rostos que a observavam, curiosos.

Natalie? Natalie Kalkmann? ­– ela ouviu o sotaque carregado de um homem naturalmente britânico. Engoliu em seco, já prevendo de quem se tratava.

— Sou eu...? – a resposta saiu quase incerta.

Steve Campbell. Imagino que saiba o motivo da minha ligação, certo?

— Steve. – ela repetiu mais para que Hunter, Anna, Hans e Ellijah soubessem quem era do outro lado da linha. Hunter e Hans levantaram de seus lugares, ansiosos. Natalie percebeu que Thomas e Luke haviam parado de jogar ao ouvir o nome de Steve e correram para se juntar a eles. – Acredito que sim.

Acho que os garotos devem ter comentado, mas eu realmente me interessei pelo seu trabalho. O pouco do que vi me agradou.

Natalie respirou fundo, sentindo seus lábios formigarem de tanto nervosismo enquanto um sorriso bobo lhe escapava. A mão que segurava o celular contra a orelha tremia minimamente.

— Não tenho nem palavras para agradecer seu reconhecimento. – passou a língua nos lábios, umedecendo-os. Viu Ana dar pulinhos sem se levantar da cadeira. – Mas acho que você deve saber que eu não sou profissional... sou estudante de jornalismo, e além das aulas básicas de fotojornalismo, estou fazendo um curso de fotografia há alguns meses, e...

Estou completamente ciente dos riscos que estou tomando, Natalie. ­– a voz séria de Steve a cortou. Imaginou que a expressão do rosto dele combinava exatamente com o tom que estava usando e lembrou-se das temporadas de “X Factor”­ que já havia assistido. Sentiu calafrios ao se lembrar do quão exigente e direto Steve Campbell costumava ser com os competidores do programa. Prendeu a respiração. - E estou disposto a pagar pra ver. Eu vi potencial em você, e é com isso que gosto de trabalhar. — a castanha soltou quase algo parecido com uma risada silenciosa, surpresa com o que havia acabado de escutar. – Mas é claro que em troca, preciso de total comprometimento e responsabilidade.

­- Acho que isso eu tenho até de sobra, se me permite dizer. – ela respondeu risonha, arrancando uma risadinha do homem.

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Ótimo... vejo que falamos a mesma língua. Bom... o que me diz?

— Acho... – Hunter lhe lançou um olhar apreensivo, como se soubesse cada palavra que Steve dizia. – Acho que pode ser uma experiência legal para os dois lados.

Viu o castanho disfarçar um sorriso torto, deixando o ar escapar rapidamente pelas narinas, quase como um risinho, e assentir com a cabeça. Hans fechou os punhos e os balançou minimamente, vibrando. Thomas deu um soquinho no ar e Luke cruzou os braços enquanto sorria.

Perfeito. Fico satisfeito em ouvir isso. — a garota assentiu como se Steve pudesse vê-la. - Conversei com os garotos e gostei da sugestão deles sobre esse primeiro projeto ser um teste para ver como será a sintonia entre toda a equipe.

— Claro, concordo com isso. – Natalie começou a andar pela sala enquanto continuava a conversar com Steve, deixando os amigos agoniados.

Será que você poderia me encontrar ainda hoje? Gostaria de explicar um pouco do que será o seu trabalho e o que esperamos de você como nossa fotógrafa. Além, é claro, de acertarmos o salário e o contrato.

Natalie queria pular e sair correndo por todo o apartamento de Hunter. Sentia uma animação inexplicável começar a se apossar de seu corpo, mas se conteve para soar o mais madura possível.

— Sem problemas!

Já estou gostando de você, garota.— Natalie riu fracamente. – Vou passar o endereço e o horário por mensagem. Te vejo mais tarde.

— Até mais! Ah... Steve?

Sim? — teve quase certeza de que o tom do homem agora havia soado como receio.

— Obrigada. – ela respondeu com um sorriso direcionado aos amigos, que não conseguiram evitar correspondê-la.

**

Depois de abraços em grupo, congratulações e brindes de bebidas, Natalie puxou a sua bolsa e se despediu às pressas do pessoal antes de correr para a porta. Diferente do condomínio no qual ela e Anna moravam, não havia um corredor que levava aos elevadores comunitários. A porta do apartamento de Hunter dava para um pequeno hall individual com uma mesinha e um espelho na parede e, logo adiante, a porta do elevador.

Natalie já estava havia apertado o botão do ascensor, quando ouviu a porta do apartamento reabrir às suas costas. Ela se virou minimamente e viu Hunter surgir ali.

— Eu esqueci alguma coisa? – ela perguntou um pouco ansiosa. Odiava admitir, mas estava insegura de ter que encontrar Steve.

— Hm, não... – o rapaz passou a mão pelos cabelos, jogando-os para o lado enquanto a outra mão se escondia no bolso da calça skinny preta. – Você... – Natalie começou a rir quando percebeu que ele estava meio sem graça, pois aquilo não era comum quando se tratava de Hunter Saxton. Irritado com a própria reação, Hunter molhou os lábios e falou de uma vez. – Tava pensando se você não queria uma carona.

Os olhos da garota de sardas fitaram Hunter com surpresa. Ela puxou o ar lentamente pelas narinas enquanto encolhia os ombros.

— Mas e a galera? Você é o anfitrião. – Natalie ouviu o barulho da porta do elevador abrindo e deu alguns passos para trás para que o sensor a identificasse.

— Eles são de casa e sabem onde ficam as bebidas, que é o mais importante. – ele respondeu balançando os ombros, arrancando risinhos dela. – Mas é só se você quiser, é claro... – Hunter percebeu que a castanha o encarou por alguns segundos e pareceu adivinhar o que ela pensava quando completou. – Não, eu não bebi, se é o que você quer saber!

Natalie deu um sorriso torto que o surpreendeu. Talvez eles estivessem passando bastante tempo juntos. Tempo suficiente, aliás, para um pegar o trejeito do outro, ele pensou.

— Tudo bem. – ela deu mais um passo para trás, finalmente entrando no elevador e dando espaço para Hunter se juntar a ela. – Honestamente, vai ser melhor ter alguém pra me distrair.

— Está com medo? – Hunter a olhou de canto enquanto apertava o botão do estacionamento subterrâneo do condomínio. Viu Natalie assentir uma única vez, e aquilo o fez soltar uma risadinha anasalada. – O Steve é mais de boa do que pensam, fica tranquila. E as coisas são ainda mais fáceis quando o trabalho de alguém o agrada. Você está segura.

— Espero que esteja certo. – ela sorriu, agradecida.

Os dois se encararam demoradamente, com sorrisos cúmplices no rosto, como se estudassem um ao outro. Ficaram assim por tanto tempo que nem perceberam quando chegaram ao andar do estacionamento. A campainha do elevador acabou por despertá-los.

Hunter saiu seguido de Natalie, direcionando-se para sua Range Rover, que estava estacionada logo ao lado do Audi R8, que ela sabia também ser do castanho. Perguntou-se quantos carros ele deveria ter e disfarçou um sorriso, já que ela mesma não tinha nenhum automóvel. Seus únicos meios de transporte eram os públicos – não que aquilo realmente a importasse, já que morava em New York City e tinha fácil acesso ao metrô em todo o lugar. Mas era engraçado pensar em como o mundo deles era tão diferente, e ao mesmo tempo, Hunter parecia uma pessoa tão comum – exceto quando não estava se gabando, o que era uma raridade.

Assim que entraram no carro, Natalie sentiu o celular vibrar e o puxou do bolso enquanto afivelava o cinto. Rolou os olhos e soltou uma risadinha debochada, chamando a atenção de Hunter, que a olhou curioso.

— A Anna é uma cretina, meu Deus. – ela balançou a cabeça e mostrou o visor do celular para Hunter.

O rapaz passou os olhos verde-claros pela tela do iPhone e não conseguiu evitar rir fracamente quando leu a mensagem:

Anna

Juízo nesse carro, Natalie Kalkmann. Sei que ele é irresistível e os hormônios da juventude afloram, mas lembre-se de que você tem que chegar no MÍNIMO apresentável para encontrar o Steve.

— Ela bem que tem razão sobre a parte do “irresistível”. – Hunter brincou enquanto tirava o carro da vaga. O rádio do carro ligou automaticamente no momento em que ele havia dado a partida.

— Me poupe! – Natalie riu gostosamente, arrancando um sorriso torto dele.

Hunter não sabia o que estava acontecendo, mas estava adorando aquela trégua que parecia se assentar entre eles a cada segundo que passavam juntos. Estava satisfeito, pois finalmente estavam conseguindo controlar a explosão que era tão presente entre eles. Sempre gostou de tê-la por perto, mesmo quando estavam brigando e querendo estrangular um ao outro... mas tinha que admitir que não havia nada melhor do que vê-la sorrindo daquela forma, com ele e para ele.

Em vez de continuar a dirigir, Hunter acabou parando por alguns segundos para apreciá-la, sem nem perceber. Natalie sentiu seu rosto queimar enquanto ele a encarava.

— Que foi? – ela perguntou, risonha.

Hunter deixou um sorriso um tanto quanto tímido lhe escapar os lábios quando percebeu o que estava fazendo, e voltou a dirigir.

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— Nada... – “É que você é linda”, sua mente respondeu.

**

Hunter ficou esperando dentro do carro, no estacionamento subterrâneo do prédio onde ficava o escritório de Steve. Teve muita vontade de acompanhar Natalie e até cogitou em ir quando ela pediu pela companhia dele em um ato de nervosismo e desespero por ter que “encarar” o empresário sozinha. Porém, se conteve. Sabia que era melhor ela ter aquele primeiro encontro com Steve a sós.

Ao contrário do que Natalie pensou, a conversa foi amena e bem informal. Ficou surpresa, pois achou que Steve fosse cheio das cordialidades. Aliás, quase havia caído para trás quando percebeu o quanto o empresário estava sendo doce com ela. “Doce” do jeito Steve Campbell, é claro.

O homem explicou por cima o cronograma da banda nas duas semanas em que ela os acompanharia e como ela iria atuar ao lado deles nesse meio tempo.

Porém, o trabalho era muito mais do que ela havia esperado, pois achava que seria responsável por cobrir apenas os shows. Ficou surpresa quando Steve explicou que estavam com um projeto novo, um “presente” para as fãs, no qual consistia em fotos mais pessoais da banda entre rotina de shows, passeios, entrevistas e momentos em casa. Ela os acompanharia em cada compromisso para registrar esses momentos.

Aquilo certamente não seria um problema para Natalie. Ficou feliz de saber que seria mais requisitada do que imaginava. E é claro que o interesse aumentou ainda mais quando viu o cachê que Steve estava disposto a pagar a ela, além das acomodações e alimentação já inclusos. Era uma boa quantia em dinheiro que deixaria ela e Anna confortáveis por uns bons meses sem ter de fazer babysitting.

Daquele momento em diante, viu o quanto seria incrível passar por aquela experiência, não só com relação ao crescimento profissional, mas pessoal também. Amaldiçoou-se quando pensou que quase havia perdido aquela oportunidade por pura teimosia. Fez uma anotação mental para agradecer Hunter pela milionésima vez, porque se não fosse todo o esforço dele, nada daquilo se concretizaria. Isso sem contar o fato de ela ter conhecido o seu ídolo. Não poderia estar mais feliz.

Entrou toda animada dentro do carro, assustando Hunter, que estava completamente distraído, mexendo no celular. Ele deu um pulinho quando a ouviu bater a porta do carro, fechando-a.

— Que demora, hein? – ele depositou o iPhone no console do carro para encará-la. Riu baixo quando a viu sorrir de orelha a orelha. – Pelo visto a conversa foi boa e o Steve te tratou que nem uma princesinha.

— Praticamente! – ela riu abobada, enquanto esticava o envelope com o contrato no rosto de Hunter divertidamente. – Diga olá para a nova integrante temporária da equipe do Elite Fooour! – Natalie cantarolou. - Cuidado, posso roubar teu lugar.

Hunter gargalhou, jogando a cabeça para trás, no encosto do banco.

— E galera vai à loucura! – o rapaz fechou as duas mãos em formato de concha ao redor da boca, fazendo barulho de uma multidão ovacionando, o que fez Natalie gargalhar com ele. Hunter girou a chave do carro, ligando o rádio automaticamente enquanto ele dava partida.

Natalie contou tudo o que Steve havia lhe dito enquanto ele dirigia para fora do estacionamento, e o rapaz ouvia cada detalhe atenciosamente, fazendo comentários e algumas piadinhas, como de praxe.

A castanha tinha certeza que estavam quase chegando no condomínio de Hunter, pois já havia memorizado uma parte do caminho, mais cedo.

Subitamente, sentiu uma vontade enorme de não estar com mais ninguém além dele. Apesar de estar feliz e querer comemorar aquele momento, se deu conta de que a única pessoa com quem queria comemorar era, ironicamente, o rapaz que estava ao seu lado. Aliás, devia àquilo a ele e a ela mesma.

— Estamos voltando para o seu apartamento? – ela perguntou mesmo já sabendo a resposta. Fez uma careta quando ouviu uma música repetida tocar na rádio. – For Christ sake, de novo essa maldita música?

Hunter deu risada e puxou o iPod dele, entregando a ela.

— Seleciona o iPod no carro, você pode escolher o que quer ouvir. – ele respondeu sem tirar os olhos da direção. – Estamos... por quê? Você quer passar em algum lugar, comprar alguma coisa?

Pensou em dizer que não. Que maluquice era aquela? Desde quando ela obedecia aos instintos sem noção que arrebatavam sua mente? Seu lugar era com Anna e todos os garotos, inclusive Ellijah Scott. Abriu a boca para responder exatamente isso enquanto passava os olhos pelas músicas do iPod, mas sua voz não saiu.

Repensou. Pois é... desde quando ela se deixava levar pelo momento? Estava sempre tão preocupada em planejar e fazer tudo como havia pensado... e estava cansada daquilo. Desde que conheceu Hunter Saxton, havia experimentado um pouco do que era fazer as coisas fora do cronograma, agir por impulso... e havia gostado. Queria mais.

Por isso, antes que pudesse se arrepender, desligou a chave interna de seu cérebro e respondeu:

— Não sei se quero voltar.

Os olhos verdes do castanho se arregalaram minimamente, pois estava surpreso com a declaração da garota. Será que ele havia feito algo de errado para ela não querer voltar para o seu apartamento? Tentou refazer os passos daquele dia em sua cabeça para tentar encontrar a resposta.

— Por quê? Tem algum problema, aconteceu alguma coisa? – o castanho perguntou sem entender nada. Naquele mesmo momento, a sinalização havia ficado vermelha e ele pôde olhá-la.

Natalie levantou os olhos do aparelho que estava em suas mãos para olhá-lo de volta.

— Achei que pudéssemos... sei lá... sair?

Hunter pareceu ter engasgado com a própria saliva, mas tratou de disfarçar o quanto havia ficado pasmo com o que havia acabado de escutar. Aquilo era decididamente a última coisa que um dia imaginou escutar dos lábios daquela garota brava.

Acordou de seu torpor quando ouviu várias buzinas atrás de si. Deu-se conta de que o farol já havia aberto e voltou a dirigir, desconsertado.

— Você quer sair... comigo? – Será que havia entendido errado?

— Você não quer? – Natalie tentou dar o seu melhor sorriso confiante. Estava sentindo o coração na boca. – Sei lá... você me ajudou tanto com essa história toda. No final você também ganhou a batalha, não é? – ela riu, fazendo-o rir fracamente. – Achei que poderíamos comemorar isso juntos.

Hunter a olhou com certa doçura no olhar, algo que surpreendeu até a si mesmo. Ele sorriu fracamente, apenas com os lábios. Aquele decididamente era um sim.

— Então vamos começar a nossa comemoração comendo, porque eu estou com o estômago nas costas de tanta fome. – ele exclamou, fazendo-a rir.