Defeituoso

Sometimes love's not enough


— Gabriel, você vai voltar aqui agora e escutar o que eu vou falar, mas já lhe deixo ciente de que você vai comigo querendo ou não, não há nem espaço para reclamações e espero que você não complique com isso pois tenho me mostrado bem paciente todos esses anos.

Gabriel não podia acreditar, quando achava que as coisas estavam tranquilas logo vinha uma tempestade para destruir todas as suas certezas. Ir para uma matilha a essa altura do campeonato era a última coisa que queria, afinal quando ficamos muito tempo desejando uma coisa que sempre nos é negada passamos a detesta-la, como uma espécie de compensação.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

"Porque eu? Porque agora?"

Estava confuso com toda a situação, não conseguia entender o que o Alpha queria consigo, tinha uma vida infeliz? Tinha, mas pelo menos era digna e pagava as contas, a ideia de que ele estava aqui para joga-lo na Casa de Rubis, não era nem um pouco atrativa.

Casa de Rubis é o nome usado para os bordéis para lobos não acasalados das matilhas, visto que o adultério é condenado com pena de exílio. Em sua maioria é composto por lobos selvagens capturados, transgressores das Grandes Lendas e prisioneiros de guerra, geralmente são gerenciados por lobos altos na escala de dominância que detêm a confiança do Alpha. Definitivamente um péssimo lugar para se morar.

Passos em sua direção tiraram Gabriel de seus pensamentos e logo sentia a presença forte do homem bem atrás de si, isso fez com que as orelhas no topo de sua cabeça se remexessem inquietas e sua cauda tentasse se desenroscar de sua cintura.

— Eu disse para voltar para a sala, mas já que me ignorou completamente eu decidi que só vou explicar o porque de você estar sendo reinserido na matilha quando chegarmos em casa — Luis disse com a voz rouca perto de sua orelha.

''Perto demais'' Gabriel pensou enquanto sentia as bochechas corarem.

Não que tivesse tido experiências para sua sexualidade, porém ainda era um adolescente com muitos hormônios reprimidos só esperando a mínima oportunidade para se manifestarem e o sentimento diferente que surgia quando se pegava observando os homens que frequentavam o bar ou os personagens nos seriados que assistia não deixava dúvida que apenas admirava a beleza das mulheres e não tinha desejo romântico nenhum nelas.

— Já que estamos perto do seu quarto, aproveite e faça as malas com o que vai querer levar e não demore, já perdi tempo demais aqui — Se afastou rapidamente voltando para a sala como se nada tivesse acontecido enquanto deixava para trás um corado e ofegante Gabriel.

Porém, antes de chegar na sala, virou já na ponta do corredor e disse com uma expressão de que tinha esquecido alguma coisa.

— Eu realmente espero que você não esteja nessa fase de ''eu não vou, você não pode fazer isso'' já é bem tarde, eu estou com sono e acho que todo mundo aqui também.

Assim que viu Luis completar seu caminho para a sala, Gabriel entrou no pequeno quarto com paredes pintadas de azul escuro, com varias roupas espalhadas pelo chão e pôsteres de cantores e filmes, dando um suspiro resignado começou a recolher algumas camisetas e calças, depois indo na lavanderia que ficava no quintal ver se algumas outras roupas que gostava já estavam secas.

Enquanto isso, Luis estava na sala sentado novamente ao lado de Mirela, que agora tomava um suco e tinha um olhar vago.

Como se despertasse de um devaneio olhou para o homem que se parecia tanto com o pai, quase mais do que Gabriel era parecido com Ícaro, o que trazia lembranças tão dolorosas que a fazia ter vontade de chorar.

— Você não pode leva-lo, ele já tentou entrar para todas as outras matilhas e foi rejeitado. Além do mais, seu sobrenome esta manchado na Árvore Sagrada, não dou duas semanas para que ele seja assassinado em nome do cumprimento das Grandes Leis. — Mirela disse em um tom neutro de quem da um conselho sabendo que este não vai ser seguido.

— Ora Mirela, não venha bancar a mãe preocupada agora, eu não deixarei que nada aconteça e com o tempo todos o aceitarão, nem que eu tenha que usar minha posição para obriga-los e sobre o sobrenome — Abria um sorriso malicioso enquanto falava — Sabe que se tudo correr conforme meus planos o nome Allunio estará apagado por falta de descendentes.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Mirela agora adquirira um tom divertido. ''Ele realmente acha que conseguirá depois dessa abordagem nada sutil.''

— Depois de todo esse show você realmente acha que vai conseguir? Gabriel não é assim, ele esta assustado, um relacionamento nunca chegou nem perto de acontecer na vida dele.

— Olha só, a senhorita Allunio falando com tanta confiança o que o filho que ela repudiou todos os dias desde que soube que estava grávida, a mesma que o culpa de tudo que aconteceu, gosta ou deixa de gostar. — Luis sabia que a mulher não tinha culpa de ser do jeito que era, o destino tinha desenhado linhas cruéis para sua história, mas não conseguia não jogar tudo na cara dela, por mais sensato que tentasse ser, sempre detestaria aquela mulher pelo que ela havia feito com o próprio filho.

Como se tivessem jogado um balde de água fria em sua cabeça, Mirela desfez o sorriso que antes ostentava.

— Você é só um garoto brincando de Alpha, se acha que os Grandes Anciões deixaram isso quieto está muito enganado, sei bem como aqueles velhos podem ser rígidos quando querem.

Agora Luis, que estava se controlando para não por um fim nas coisas ali mesmo, ficou furioso.

Brincando de Alpha? Como ela, uma selvagem manchada, tinha a ousadia de dizer que ele não tinha maturidade o bastante para saber das consequências de suas ações. Seus olhos brilharam em vermelho, seu lobo estava ofendido e se sentia desafiado.

— Cuidado com o que fala, apesar da semelhança eu não sou o meu pai e você sabe exatamente o que eu quero dizer com isso — O brilho continuava em seus olhos enquanto falava perigosamente baixo — Os tempos mudaram, os Grande Anciões não são mais tão influentes desde que eu assumi, para me dar conselhos eu já tenho meus chefes de guarda e meu Beta, aqueles velhos só continuam tendo alguma voz porque eu os respeito por tudo que já fizeram de bom pela matilha. Quem manda na matilha, quem decide o que será feito em qualquer situação e quem dá a palavra final sou eu, se eu os mandar lamber o chão que piso eles farão e ninguém vai sequer poder questionar o porque. Sabe, algumas vezes eu pensei em levar você também para poder restaurar o nome da família e não deixar Gabriel sozinho mas você não foi boa com ele um dia sequer desde que ele nasceu então não merece nada de bom que está reservado para o seu futuro também.

Interrompendo a conversa e quebrando o clima tenso que se formara na sala, Gabriel apareceu segurando a mochila um pouco estufada pelo tanto de coisas que tinha colocado e alternava o olhar entre os dois.

Assim percebendo a presença do menino, Luis fez seus voltarem a cor normal, se levantou com um sorriso satisfeito de quem tinha colocado a mulher em seu devido lugar e deu uma estalada nas costas. Já estava muito tarde, passando das três e meia da madrugada.

— Ah você esta pronto, finalmente vamos pra casa dormir um pouco, amanhã o dia será cheio.

— Tudo bem, mas onde estão as malas da minha mãe? — Gabriel olhava para a mãe que parecia querer chorar.

Antes que a mulher dissesse qualquer coisa, Luis cortou o assunto.

— Ela não irá conosco. O tempo dela naquela matilha já se esgotou muito tempo atrás.

— Mas você não pode! Ela não é um exemplo, mas continua sendo minha única família

Sua mãe não era uma boa pessoa e nunca fez questão de demonstrar o contrário, mas abandona-la ali não era certo, ela nem tinha um emprego, como iria sobreviver sem Gabriel ali? Antes que pudesse terminar foi interrompido.

— Pelo amor de Deus, cale a boca e vá logo! Eu quero dormir e você fica só empatando, seja útil uma vez na vida e obedeça o Alpha Luis — Mirela disse irritada enquanto secava algumas lágrimas que teimaram em cair. A presença daquele homem estava levando-a ao limite, especialmente depois das coisas que ele tinha dito.

Por mais que parecesse, Gabriel nunca se acostumaria com a raiva da mãe direcionada a si, especialmente porque não dava motivos para tal e por muito tempo se perguntou o que o Alpha que ela mostrava na pequena fotografia em que estavam presentes ela e um homem que ele nunca soube quem era, tinha feito de tão cruel. Porém como qualquer coisa, nós temos um limite e aparentemente tudo o que tinha acontecido naquele dia tinha feito Gabriel chegar no seu, se a mulher não o suportava por mais que tentasse de tudo ele não tinha o que fazer ou continuar se culpando.

— Bom, se é assim o nosso adeus, eu espero que fique bem e que consiga se manter, temos nossas diferenças, mas não quero nunca que passe por necessidades.

— Se já terminaram de se despedir, nós precisamos ir. —Disse Luis já chamando os dois homens que só tinham ficado de pé na sala e indo até a porta.

Assim que saíram da casa e entraram em um dos carros, Gabriel sentiu o cansaço bater. Deveria estar assustado e até mesmo questionando tudo que tinha acontecido, mas o dia tinha sido tão cheio que ele só conseguia se acomodar mais naquele banco de passageiro e dormir sob o olhar de esgueira que Luis lhe direcionava enquanto dirigia em direção à Matilha das Montanhas.

As coisas estavam começando a mudar. Gabriel só não sabia se eram para melhor.

Don't make me sad, don't make me cry
Sometimes love is not enough and the road gets tough, I don't know why