Death Note: Unknown Note

Capítulo 2. Corvos


Devo dizer, que ao se tratar de ser o que comemos, Beyond Birthday era um especialista nisso. Ele tinha um certo gosto por saborear sua loucura esquartejada com uma pitada de corantes artificiais num pote de geléia, se é que você me entende.

Sabe o que ouvi dizerem um dia desses? Que o segredo para ser medíocre é fazer apenas aquilo que é sua obrigação.

Minha obrigação é apenas lhe dar informações, mas ainda acho mais medíocre este meu relato com um quê byroniano(4).

Azar, não poderei fazer emendas depois que isso estiver em suas mãos.Já terei passado dessa para uma melhor, com 99% de certeza.

Onde eu havia parado?

Ah, sim.

Meu pseudônimo, Felix.

Ele não tem nada a ver com o significado do nome, que seria “feliz, animado”. Acredito que já tenha sido possível perceber isso.

Ele é derivado de Felix culpa(5).

Felix culpa é a linha de pensamento que afirma que uma série de eventos miseráveis são para um bem maior.

Ainda tento, depois de tudo, me convencer disto.


31 de dezembro de 1999

Felix, como agora se chamava, chegou cansada em seu pequeno apartamento em NY. Carregara duas sacolas de compra pesadas durante um bom tempo, e boa distância.

Sentou-se em um canto qualquer no chão. Um canto que não tinha uma pilha de livros, de CDs ou videogames.

Esperava, ao lado do telefone, uma ligação de Watari.

19h 57min 02seg

O toque metálico reverberara por todas aquelas superfícies lisas.

Ela quase caiu por cima de uma coluna de CDs da banda Oasis recentemente adquirida.

“Mas que merda.”

Se perguntava em que hotel estavam, ou se viriam encontrá-la.

A única coisa que ouviu da voz distorcida foi “abra a porta”.

Levantou-se, chutando algumas pilastras de CDs e games, abrindo caminho. Sua mão tremia quando girou a maçaneta.

Se deparou com a imagem de um Watari com menos cabelo e um L bem mais alto, pálido e necessitado de uma boa noite de sono.

Ela tinha 20 anos. Ele, 21.

Sinalizou para que entrassem, e se perguntou como a ligação teria sido feita. Talvez uma gravação agendada... Não que importasse.

“Fico feliz em vê-los.”

“Você tem alguma espécie de problema com organização.” L disse. “Apesar de parecer aleatório, os CDs e pastas de arquivo estão empilhados em ordem cronológica.”

Ela já estava abaixada, consertando a bagunça que havia feito ao sair correndo.“É, eu sei.”

“Um bom armário seria útil aqui.” Watari observou.

Terminando de re-empilhar tudo alinhado e perfeito, Felix se levantou e apontou para as sacolas de compras.

“Infelizmente só tem comida congelada e alguns doces. Vocês sabem que não sei cozinhar.”

L, sem cerimônia, andou até o saco e pegou duas embalagens de muffins.

“E onde vamos comemorar, er, o ano novo?”

A garota apontou para uma sala adjacente, que possuía uma mesa de centro circular, uma televisão e um sofá de 3 lugares. Era um cômodo relativamente pequeno que ela havia liberado em caso de dúvida.

“Watari, Faye está inventando moda de novo.” L reclamou.

“Olha que eu te ponho daqui para fora bem rápido.” Felix respondeu.Watari mal ouvia o que diziam, só enxergava ali aquelas duas crianças de 8 anos.

Mas faltava alguém.


5 de novembro de 2000

Felix já havia se acostumado a algum tempo à ver reiteradamente referências ao L pelas ruas. Vinham dizendo que ele era o maior detetive do mundo, juntamente com Erald Coil e Deneuve. Ela ria consigo mesma, ao imaginar como as pessoas se sentiriam ao adivinhar que eram a mesma pessoa.

Porém, um pensamento sempre a impedia de rir até o final.

Onde será que ele se meteu?

Wammy e Felix sabiam que L estava investigando há muito tempo à procura de um único indivíduo, que parecia ter sumido no ar.

Após arrumar suas coisas em seu novo apartamento em L.A., ligou para Wammy.

“Watari.” A conexão havia sido estabelecida.

“Felix, você tem certeza que não deseja fazer parte da lista?” Ele foi direto ao ponto.

“Já lhe falei isto a algum tempo, e agora repito meu pensamento. Não quero ser uma opção.”

Ela pôde ouvir o barulho de algo sendo carimbado e um múrmurio que soou como alguém falando Roger. Talvez fosse sua ficha da Wammy’s House.

Se soubesse que mais tarde resolveria um caso importantíssimo – na sua opinião – com L, talvez tivesse reconsiderado.

B, onde você está?

O meu peito doía, e a minha respiração estava difícil. Nunca havia ficado assim, desde o acidente.


24 de março de 2002

Felix ainda estava trabalhando em alguns algoritmos, quando recebeu um email.

O abriu.

Com um gosto amargurado na boca, lamentou-se.

“Falhei. Peço licença do FBI por tempo indeterminado.

Naomi Misora.”

Então, afinal de contas, a investigação havia ido mal.

Estivera ajudando o FBI na investigação de um traficante de drogas nas últimas semanas.

O que poderia ter saído errado?

Não, a pergunta que deveria fazer era “o que dará errado daqui a três meses.”

Hora do Segundo ato

.:: M E L A N C O L I A::.

22 de julho de 2002

Felix esperava ansiosa, com sua caixa de correio virtual aberta. Se sentia nauseada, e levemente desorientada.

“Foco... foco.”

Nove dias antes, no dia 13 de julho, recebera uma carta. Sem digitais, sem remetente, letras impressas.

“Em 9 dias receberá uma mensagem em sua caixa de email

.Essa mensagem também será mandada para a LAPD(6) .

– B”

16h 04min 00seg

A tela anunciou a chegada de uma nova mensagem, e, com uma sensação desconfortável na garganta, abriu-a.

Cada linha que seus olhos completavam adicionava um grama de horror extra à sua expressão facial.

Achou que fosse vomitar, porém, isso só seria possível se ela tivesse conseguido ingerir alguma coisa o dia inteiro. Respirou fundo, e soube, naquele momento, que ninguém na LAPD seria capaz de desvendar aquela mensagem. Era específica para ela. E para L.

Depois de algumas horas, desvendou o mistério.

221 – Insist Street

Agora, tudo que precisava saber era quando B atacaria.

13... 13... B.

Dia 22.

Felix pegou um pedaço de papel e fez alguns esboços.

Em 13, os algarismos formavam B. Concentrou-se nos algarismos.1 + 3 = 4... 2 + 2 = 4.

“Certo, achei a conexão. 13 e 22... 9 dias.”

Tentava encontrar alguma relação com o número 9, até que, enfim, conseguira, de uma forma bem simples.

13 – 4 = 9.

“O assassinato ocorrerá daqui a 9 dias... no dia 31 de julho!”

Felix acreditou que poderia impedí-lo sozinha, e este foi seu maior erro.

Que tal uma pausa para algumas explicações?

Wammy – ou Watari – era dono de diversos orfanatos, porém havia um onde crianças super dotadas eram “recrutadas”, o “Wammy’s House”. Wammy procurava um sucessor para L, e existiram três gerações até você aparecer.

A geração Alfa Beta foi um teste, e, assim, Quillsh descobriu os sucessores mais prováveis. A e B eram suas denominações.De acordo com o relato de Mello, A se suicidou e B fugiu, para, posteriormente, se tornar o conhecido assassino do boneco de palha. Você provavelmente leu o relato de Mihael Keehl primeiro, se estou correta.

Porém, Mello equivocou-se. “A” nunca se suicidou. Na verdade, “A” desistiu.

Sim, “A” atirou pela janela aquilo que você, Mello e Beyond Birthday tanto almejavam, a identidade do grande detetive L. Agora, você deve estar se perguntando o porquê de “A” ter abandonado o navio tão cedo. Certamente não foi por exibicionismo. É simples.

Eu nunca quis suceder L, pois nunca soube o que L significava para mim. L me conhecia melhor que qualquer um, conhecia minhas falhas, e eu conhecia as dele. L jamais poderia ser para mim a representação viva da perfeição. Eu o via da mesma forma que uma menina vê em seu irmão não só qualidades, mas um conjunto de qualidades e defeitos que o tornam único. L para mim foi único, em muitos aspectos, e eu jamais iria querer ser ele. Diferentemente, eu queria que ele e Wammy, a única família de verdade que tive, tivessem orgulho de mim. Beyond Birthday, meu “irmão”, foi a coisa mais distante de qualquer laço que eu pudesse fazer.

Mas o problema é que, infelizmente, os laços de sangue ainda reinvindicam seus postos de importância em minha consciência.

Acredito que B sentia inveja de mim. Eu sei que é uma afirmação um tanto arrogante, porém, B sempre quis provar o quanto poderia ser L, o quanto poderia equiparar-se à ele, possuir sua identidade. Apesar disso, isto sempre teve que ser por meu intermédio.

Acredito que no LA BB Murder Cases não tenha sido nada diferente. Seu ódio por nunca conseguir estabelecer um contato direto com L – por minha culpa – deve ter florescido seu ódio e repulsa totais por mim, e talvez seja o que tenha engatilhado a sua matança indiscriminada – o desespero pela conexão direta, B e L, L e ele. Eu era vista como a pequena amada que sempre roubou seu lugar. Lugar como filha, lugar como sucessora, e, finalmente, lugar como alguém que possuía um posto importante – fosse qual fosse – na vida de L.

Beyond Birthday, B... Eu sinto muito, e como eu desejava que você pudesse saber disso.