Eu estava tendo um sono tão bom, quando de repente ouço alguém chorando. Eu queria abrir meus olhos e ver quem era, mas não conseguia. Estar nesse estado era horrível, eu não conseguia sequer me mexer; eu queria consolar quem quer que estivesse chorando. Quando descobri de quem se tratava, minha vontade de sair daqui aumentou ainda mais:

-Ah, amor, porque você fez isso? – sussurrava ele, perto de mim – você não sabe o quanto dói te ver assim e não poder fazer nada. Se você puder me ouvir, por favor, não me deixa. Fica comigo, por favor. – ele soluçava. Meu anjo estava soluçando, mas por quê? Ele não devia estar assim, anjos não podem chorar. “por favor, não chora” eu queria dizer. Por que eu não conseguia me mexer? – por favor, não me deixa. Sei que errei, que fui um idiota, mas eu te amo, e preciso de você. O Bill precisa de você, e a Chris precisa de você. Por favor, não nos deixe.

Então entendi e me lembrei de tudo que aconteceu. Tom tinha me traído, eu tinha ficado muito triste, jurei a mim mesma que não passaria por tudo aquilo de novo e tentei me matar. E agora ele estava aqui, chorando, pedindo desculpas, porque ele me amava.

Ele realmente me amava.

Mas será que isso era suficiente?

Eu não queria continuar ali; metade de mim queria pular nos braços de Tom e consolá-lo até ficar tudo bem, mas a outra metade de mim queria ir embora dali e nunca mais ter que chegar perto dele. Eu ainda estava muito magoada, e mesmo sendo só umas fotos, aquilo me deixou muito insegura. Se ele fazia aquilo quando estava com pessoas que eu conhecia por perto, imagina o que ele faria quando estivesse sozinho?

Enquanto pensava nisso, deixei cair uma única lagrima insistente.

-Oi Tom, como ela está? – alguém entrou no quarto, provavelmente a Chris.

-Ela está na mesma, o medico disse que não teve muita melhora de uns dias pra cá.

-Eu sinto muito, Tom – murmurou outra pessoa; Bill, eu acho – mas ela vai melhorar. Ela tem que melhorar. – Enquanto Bill e Tom conversavam, senti uma pequena mão segurar a minha com força.

-Amiga, eu sei que as coisas não estão fáceis, mas se você puder me ouvir, não nos deixe. O Tom não dorme há dias, eu e Bill estamos preocupados, e todos os seus amigos querem você bem. Tenho tanta coisa pra te contar, mas só posso fazer isso se você lutar e ficar bem logo. Você se lembra da Kauane, né? De toda a dor que você teve que passar quando ela se foi. Você sente muita falta dela, então não me faça passar pela mesma coisa, por favor. Eu preciso de você amiga, nós precisamos de você.

Eu não tinha pensado no quanto eu deixaria pra trás fazendo aquilo; em quanta gente eu magoei, gente que eu amava. Como eu fui idiota.

Juntei todas as minhas forças pra poder e mexer, mas a única coisa que eu consegui fazer foi dar um mínimo aperto na mão da Chris.

-Gente, ela apertou minha mão! – Chris começou a gritar, e deu a impressão de que estava chorando. “o que deu nesse povo que não param de chorar?” pensei, mau humorada. – ela consegue nos ouvir!

Todos começaram a falar, aparentemente felizes. Tentei falar, mas minha voz ainda não saía.

“merda, eu quero falar, quero me mexer, será que tem como, por favor?"É, eu estava muito mal humorada, mas eu tinha motivos.

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Mais dois dias de tortura se passaram, parecia que eu estava recuperando minhas forças aos poucos, mas ainda não conseguia falar nem abrir os olhos. Isso estava me deixando agoniada, ainda mais porque o Tom sempre falava comigo, segurava minha mão e beijava meu rosto, mas eu não conseguia reagir.

Era de manhã eu acho, quando ouvi alguém entrar no quarto. Seja quem for sussurrou algo pro Tom, esperou ele sair e começou a murmurar:

-Olha, eu acho que esse é o único jeito de eu poder falar com você sem você fugir de mim nem nada, então vamos lá – reconheci a voz e enrijeci na hora. “Filha da puta, o que ele tá fazendo aqui?” – sabe, o Tom não teve culpa disso tudo que aconteceu, e não queria que vocês brigassem e que tudo terminasse desse jeito. Acredita em mim, ele não teve culpa de nada, perdoa ele, ele ta muito triste. –ele riu, e eu reconheci esse riso. “ele está desconfortável. Mas com o que?” – Eu odeio ter que admitir isso, mas não consigo mais deixar isso pra lá. – ele segurou minha mão e suspirou – eu nunca deixei de me importar com você. Eu nunca entendi porque você foi embora, e eu só descobri o que realmente tinha acontecido com você quando a Chris me contou. Eu não sabia de quase nada que estava acontecendo com você naquela época, e sinto muito por ter sido um idiota. Eu sei que você ama o Tom e que não restam mais esperanças pra nós, então eu queria poder ser seu amigo.

Ai, meu deus. Que merda”, pensei. Então tudo resolveu acontecer enquanto eu estava sem forças pra sequer falar? Eu tenho uma sorte do caramba mesmo.

Até agora não entendo como nem porque isso aconteceu, mas eu simplesmente abri meus olhos e o olhei fixamente. Ele me olhou com uma mistura de choque e felicidade, e então me abraçou. Me senti tão feliz, tão bem com aquele pequeno gesto, que mesmo lembrando de tudo que eu já passei me senti feliz por estar bem com ele novamente.

-Oi, Joe – murmurei, quando consegui encontrar minha voz.

-Oi – murmurou ele, e sorriu.