Dear Diary

07- O segredo


Tom foi correndo buscar seu irmão e enquanto isso fui para a sala devagar e respirando fundo, tentando me acalmar.

Sabe, faziam seis meses desde que tudo aconteceu, mas ainda doía muito lembrar de tudo. Do motivo pelo qual eu fugi de casa. Peguei meu diario, minha caixa com as cartas que eu escrevia para desabafar e os esperei.

Quando Bill entrou no quarto ele veio correndo na minha direção e me abraçou, enquanto Tom me olhava preocupado. Aquilo fez com que eu me sentisse melhor, protegida, amada.

-Amanda, você tem certeza de que quer contar o que houve? - Bill murmurou, preocupado. Eu sorri, criei coragem e falei:

-Sim, vocês precisam saber. - suspirei - vou contar desde o começo, ok? A história é um pouco longa...

-Tudo bem, temos tempo - Tom falou, me encorajando. Sorri e comecei:

-Bom, eu tinha acabado de entrar no segundo grau e estava tudo ótimo. Eu tinha feito amigos novos, estava com as notas boas e eu era bem popular até. As pessoas gostavam de mim e brigavam para estar ao meu lado, mas tinha muita gente invejosa.

"Minha amiga era uma delas.

"Ela se aproximou de mim e conquistou minha amizade muito rapidamente. Nós duas nos dávamos muito bem, viviamos juntas e eu a amava muito. Em pouco tempo ela acabou se tornando uma das minhas melhores amigas; eu confiava nela e contava tudo que acontecia comigo, e todo mundo sabia disso. Me apaixonei por um amigo meu, meu melhor amigo, mas ele namorava uma amiga minha. Eles terminaram e ele sofreu muito; eu estive do seu lado sempre, e no fim começamos a namorar. Essa minha "amiga" não gostou nada disso, porque ela também era apaixonada por ele, mas eu não sabia disso.

"Ela começou a espalhar mentiras sobre mim, dizendo coisas horriveis e me magoando muito. Começaram a me chamar de mentirosa, falsa, e por onde eu passava as pessoas me xingavam; todos os meus amigos se afastaram de mim, só me restaram três, que despois descobri que eram os verdadeiros. Por dois anos não deixei ela me afetar, até que um dia cheguei na escola e a vi ficando com meu namorado.

"Ele terminou comigo de um jeito como se a culpada daquilo fosse eu, dizendo que não queria mais olhar na minha cara, me chamando de mentirosa, de vagabunda e de outras coisas que prefiro nem comentar. Me magoei muito com aquilo, fui para casa e quando cheguei meus pais estavam lá. Contei tudo a eles, que me chamaram de idiota e disseram que eu deveria sofrer muito mais para deixar de ser burra. Começamos a discutir, meu pai me bateu muito e me expulsou de casa."

Nessa hora, Bill me olhava assustado e o Tom me segurou com força em seus braços. Sorri e continuei.

-Arrumei uma pequena mala com as minhas coisas e liguei para minha madrinha explicando o que havia acontecido; ela entendeu e foi me buscar, é claro, mas antes disso resolvi ligar para a minha melhor amiga; ela sempre esteve comigo quando precisei, e nessa hora eu precisava muito dela. Liguei pra ela, que ficou assustada e foi correndo para a minha casa. Seu nome era Kauane.

-Como assim era Kauane? - Bill me perguntou. Me segurei com força no Tom, eu precisava me acalmar.

-Ela morreu por minha culpa. Ela estava indo para a minha casa quando foi atropelada por um carro. Eu a amava demais, e a morte dela foi a ultima gota; eu não queria mais continuar vivendo. Fugi de casa e dormi durante duas semanas na rua; acabei entrando em depressão profunda e tive anorexia, eu me achava a pessoa mais feia e sozinha do mundo.

"Um pouco depois, fui para a escola e vi esse meu namorado com a minha amiga; eles estavam juntos, felizes e quando me viram começaram a rir de mim. Aquela foi a ultima gota. Me tranquei no banheiro da escola, escrevi uma carta de descpedida e tentei me matar."

Os dois me olharam chocados. Suspirei, peguei a carta que estava na caixa; ela tinha umas manchas escuras, que depois eles viram que era sangue. O meu sangue. comecei a ler a bendita carta.

"Oi Kau, sou eu,

Desculpe por ser tão fraca e não conseguir aguentar tudo isso, mas é que eu não consigo. Não dá sem você aqui. Meus amigos - os poucos que restaram - estão me ajudando muito, mas eles não sabem de nada que está acontecendo, nem nunca saberão.

Ele nunca me amou de verdade, nem ela. Eles só queriam brincar comigo, me usar e depois me jogar fora. Ah amiga, se você estivesse aqui você me ajudaria, e ficariamos juntas, como deve ser.

Mas não se preocupe, logo estou indo me juntar a você.

Eu espero que eles me entendam, que eles me perdoem por ter feito o que eu fiz, mas eu não consigo mais. Fui forte por muito tempo. Vou sentir falta da Chris, da Karol e da minha madrinha, sei que elas não vão me perodar nunca, por isso queria pedir perdão a elas e me despedir, mas não posso; elas não me deixariam fazer o que quero.

Ele me deixou, minha familia me deixou, meus amigos me deixaram, e até você me deixou. Eu NÃO POSSO perder mais ninguem. Não posso.

Por favor amiga, me espere, estou indo te encontrar e assim vamos ser felizes, vamos ficar juntas como tem que ser. Nem a morte pode nos separar, lembra?

E quem encontrar essa carta, por favor, diga a meus amigos que os amo, e peça a eles que me perdoem. Por favor.

-Amanda"

Terminei de ler a carta e os olhei. Bill estava pálido e Tom estava em choque.

-Uma semana depois acordei no hospital, com a Chris segurando minha mão e meu ex namorado dormindo ao lado dela. Nunca entendi porque ele estava lá, mas também não importava; eu não queria mais olhá-lo. Fiquei um tempo no hospital, mas minha familia não foi me visitar nem uma vez. Chris chorava muito, e achei incrivel que ela tenha vindo de tão longe para ver como eu estava. Ela tem sido minha melhor amiga desde então.

"Passei mais um tempo na minha madrinha, abandonei a escola e quando pude, peguei todo o dinheiro que meus pais guardavam e vim para cá; prometi a mim mesma que nunca mais me apaixonaria nem nunca mais faria amigos. E hoje estou aqui falando com vocês, que posso definir como meu melhores amigos, contando minha história patética."

Sorri, amargurada, e os dois vieram correndo me abraçar e murmurar palavras doces.

E então eu percebi o quanto precisava desses gêmeos e o quanto eu os amava.

Sim, eu os amava.