Dead Players

Capítulo 9- Encruzilhadas do Destino


Fred encarou Samuel rapidamente, logo em seguida fuzilou Eva com os olhos. Ela não parecia estar segura, seus olhos escuros estavam sem cor alguma, como pupilas dilatas. Segurava a adaga na mão direita, e a faca dourada tremia, assim como a respiração dela. Samuel por outro lado, parecia, como sempre, solene, como se tivesse controle total da situação.

Ele não tinha, Fred comentou mentalmente consigo mesmo.

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Desde que Samuel havia lhe dado a ordem de abrir a porta para voltarem para os esgotos, estava hesitante. Não queria voltar para as galerias subterrâneas, mesmo que os gruídos das Sombras tivessem cessado, algo o deixava com uma pulga atrás da orelha. Colocou uma mão na maçaneta até então fria, pode sentir o metal esquentando com seu toque. A pistola, que segurava na outra mão, não parava de tremer, assim como um bambu alvejado por rajadas de vento.

Fred empurrou a porta, todos ficaram boquiabertos.

Os túneis de esgoto haviam dado lugar a uma enorme fábrica, com enormes prateleiras e esteiras. O clima úmido e quente desaparecera, no lugar havia predominado um vento gélido e cortante, a fumaça esbranquiçada começou a acompanhar a respiração deles.

— Aonde estamos? —Eva perguntou. Sua respiração forte e apreensiva havia parado. Estava pensando, desconfiada, algo naquela fábrica era estranho.

— Onde acha que podemos estar? —Samuel questionou, seu ar e sarcasmo misturado com o tom de solenidade fez ela revirar os olhos. — Estamos na fábrica. Foi aqui que eu comecei o Jogo, e acho que vai ser aqui que vai acabar.

— Do que está falando? — Fred inquiriu. — Vai nos matar?

— Não. — Respondeu. — Ainda não. Vocês ainda podem me ajudar a matar os outros, mas eu aviso logo, quando os outros forem eliminados, vocês serão os próximos.

Fred e Eva se viraram para começarem a caminhar, aquelas ameaças de Samuel eram mais que ameaças, eles sabiam que no fundo, aquelas palavras que o arqueiro dizia eram promessas... e ele iria cumpri-las.

O barulho de vidro quebrado fez todos se virarem. Fred apontou a pistola para a direção do som, Samuel atirou uma flecha mesmo não sabendo se iria acertar alguém, e Eva, apenas apontou a faca para frente.

Não era ninguém. Suspiraram de alivio, mas o alivio passou quando viram a janela da fábrica quebrada. Água entrava pela janela, muita água, como se o local estivesse no meio de um aquário.

—O que é aquilo? — Eva perguntou, e mesmo a questão sendo retórica, Samuel respondeu.

— Ela quer que o Jogo acabe logo, a paciência da Morte já se esgotou.

A água acabou por ser mais rápida do que esperavam, o local já estava com uma fina camada de água gelada pelo chão, como um tapete cristalino. Eles estavam passando por um corredor de prateleiras, olhavam atônitos para todos os lados, algo ali dizia que não estavam sozinhos naquela fábrica.

— Agora! — Subitamente, uma voz soltou essa ordem. Era masculina, ríspida e seca.

A prateleira à esquerda deles cedeu, e tombou para o lado, era uma armadilha, eles seriam esmagados!

Fred conseguiu se evadir pulando para frente, e com uma cambalhota aterrissou no chão, agradeceu mentalmente pelas aulas de educação física do colégio. Eva, por outro lado, ficara estática, Samuel a puxou e retrocedeu alguns passos. Ela poderia reclamar e falar para ele a soltar, mas ele havia provado ser leal a ela. Ele poderia deixa-la morrer ali, mas preferiu salvá-la.

Fred se levantou e olhou envolta, desejou rapidamente estar no mercado novamente, queria que fosse o brutamontes em sua frente, mas não, haviam três jovens olhando para eles. Uma era uma menina, pele negra e cabelos cacheados presos, deixando apenas uma mecha que escapava cair sobre a testa lustrada de suor. Ao lado esquerdo dela havia um menino alto, pele avermelhada e longos cabelos escuros, fora dele que saiu a ordem de soltar a prateleira, Fred teve certeza quando olhou.

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O outro garoto, que estava na frente dos dois, tinha tom de pele morena, cabelos, agora, desarrumados e parecia não estar feliz com o encontro.

Jade, que estava segurando sua barra de ferro pontiaguda, avançou contra Fred. Ele fez mira com a arma, mas sua inexperiência com armas de fogo havia funcionado, o gatilho era mais travado que o previsto, não havia conseguido atirar nela. Ela se aproximou rapidamente e jogou um ombro na direção dele. Fred levara um esbarrão no tórax, sentiu os pulmões se evadirem de ar e caiu no chão.

A pistola voou de sua mão para de baixo da prateleira derrubada. Ela montou sem cima dele, talvez se fosse em outros tempos, ele acharia aquilo constrangedor, mas agora não ligava para a posição que estavam. Ela o encarou com o olhar âmbar que possuía, e ele pouco ligou. Jade tentou sufocá-lo, mas ele conseguiu acertar nela um murro na lateral do rosto.

Ela caiu para o lado, e Fred conseguiu se levantar. Ele deduziu mentalmente que bater em mulheres não era seu forte, partiu para cima do menino de cabelos escuros, que a essa altura, estava encurralando Eva. Fred chegou rapidamente até ele, seu sangue estava fervendo, parecia que podia sentir cada veia do seu corpo pegando fogo, a vontade de matar pelo menos um deles havia tomado conta de suas ações.

Gabriel não o viu chegando, e Fred conseguiu acertar um murro na bochecha do menino. O pescoço de Gabriel pareceu virar, pode se ouvir um estralo, ele caiu no chão, mas já estava se levantando. Eva saiu de cena, fora contra a menina com a barra de ferro, Fred sabia que aquilo era uma péssima ideia.

O confronto de Fred e Gabriel se resumia em socos e chutes, e, embora os dois não possuíssem habilidades de combate formidáveis, eram no mínimo muito bons com o pouco que sabiam. Gabriel tentou um cruzado de direita, mas Fred se abaixou e lhe aplicou um gancho, sangue jorrou da boca do menino de cabelos longos, mas mesmo assim ele não desistiu. Com o sangue manchando quase todo o rosto, Gabriel tentou um jab com a esquerda, errou e Fred lhe devolveu uma rasteira. Caiu no chão e viu o mundo a sua volta se apagar, conforme os socos de Fred lhe acertavam a cara. Sua face estava inchada, mas ele não ligou, apenas desistiu, sabia que havia perdido. Pode sentir sua esperança ir embora, seus sonhos acabaram ali.

Fred só parou de socar o menino quando viu que ele não só havia perdido a consciência, mas sim falecido. Gabriel estava morto, e foram as mãos ensanguentadas de Fred que haviam feito aquilo.

Samuel fez mira para tentar atirar em Alex, mas o menino conseguiu escapar da flecha que foi em sua direção. Alex era ágil, Samuel havia percebido isso nos últimos minutos que havia gastando flechas tentando acertá-lo, ele havia desviado de todas. Com saltos impressionantes, Alex havia se esquivado de todos os projeteis de Samuel. O arqueiro tentou atirar contra a face do saltador, mas ele correu para a esquerda.

Os movimentos de Alex foram tão rápido que Samuel não conseguiu acompanhar com os olhos. Quando conseguiu prender a vista sobre o garoto, viu que ele estava escalando uma prateleira. Ele era tão veloz que fez Samuel lembrar-se de felinos, que via nos documentários do Discovery Channel. Alex mal havia escalado a prateleira e saltou na direção de Samuel. Ele vinha de cima, exatamente como os leões que saltavam das árvores para abaterem as presas que ficavam embaixo. Viu o fulgor atrás dos olhos do menino, uma chama que indicava que ele estava disposto a vencer aquele Jogo.

A mão de Alex estava esticada e a poucos centímetros de pescoço de Samuel. O arqueiro teve a impressão de ver tudo ao seu redor em câmera lenta, as partículas de poeira que dançavam com qualquer movimento que faziam, a água caindo pelas janelas, a aproximação da mão de Alex perto de seu pescoço. Com um movimento rápido, pegou uma flecha na aljava e a colocou na linha, pode sentir as pontas do dedos de Alex no seu pomo de Adão. Colocou a flecha na linha e a soltou.

O projétil não teve tempo de voar pelo ar, a cara de Alex já estava direção certa. A flecha penetrou a testa do menino, a cabeça caiu para trás, e as pontas dos dedos perderam a firmeza. Alex caiu morto no chão, com uma flecha presa no centro da testa, o liquido escarlate jorrou, e a água envolta começou a aderir à cor do sangue.

Eva não estava conseguindo fazer quase nada, Jade não dava espaços para ela reagir. Já havia tomado um soco no olho esquerdo, que agora estaria inchado, e um cruzado nas maçãs do rosto. O nível da água estava grande, na altura das canelas de ambas.

Jade havia acabado jogado a adaga de Eva longe. Ela chutou o ventre da menina, que caiu na água, sem reação alguma. A cabeça de Eva entrou completamente da água gelada, e Jade segurou a oponente pelo pescoço. A agonia tomou conta do corpo de Eva, as dores aparentemente haviam sumido, a única coisa que se preocupava agora era não se afogar. Sua respiração era vista na superfície como bolhas de água, que não paravam de sair, ela tentou se debater, não funcionou. Pode sentir a água entrando por suas narinas, a sensação de se afogar era horrível, não desejaria aquilo para seu pior inimigo. Sabia que não iria conseguir escapar.

Fora quando as mãos de Jade se afrouxaram.

Os dedos que outrora foram tão rígidos agora estavam sem força, mortos. Eva tirou o rosto debaixo d’água, os cabelos desgrenhados grudaram na cara, mas mesmo assim conseguiu ver a sua volta. Jade estava tombando, a sua barra de ferro pontiaguda e mortal estava atravessando sua cabeça, como uma carne num espeto de churrasco. A expressão raivosa e determinada da menina havia sumido, ela agora estava morta, o rosto estava relaxado. Jade sumiu quando seu corpo caiu na água gélida.

Eva olhou para cima, esperava ver Fred ou alguém, mas viu uma menina. Ela era baixa e aparentava ser mais nova que ela, tinha pele bronzeada e longos cabelos caramelos, a cabeça era enfeitada com uma touca cor de rosa com cara de gato. Ela ostentava um sorriso sádico para Eva.

Amanda avançou contra Eva, tentando terminar o que Jade havia começado. Assim como a outra garota, pegou no pescoço de Eva e tentou afogá-la, mas, ao contrario de Jade, Amanda era menor e mais fraca de Eva.

Ela resistia, em tempos conseguia tirar a cara d’água para pegar ar, mas se continuasse assim não teria muito tempo. Amanda parecia que não iria ceder, a faceta de nojo e repugnância que tinha deixava Eva com mais medo. Apesar de parecer infantil fisicamente, mentalmente ela já pensava como gente grande.