DeBrassio

Capítulo 15 - Agora


* ANTERIORMENTE EM DEBRASSIO [NO ULTIMO AGORA] *

Posso estar fazendo uma careta agora; Reddington descreve as mulheres cada vez pior. Ainda dá para piorar? Sinceramente, já chega; não tem necessidade de ficar aqui sendo feita de idiota. Sei que há um coldre preso a cintura de alguém com uma arma carregada, que pode muito bem atirar na minha cabeça. Não quero correr mais riscos. Já não é mais a ponte que levaria à minha mãe. Ela acaba de cair, me deixando sem acesso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“E alguma vez ela existiu”, Mary-Kate sussurra.

Já chega! Vou voltar para o hospital pegar minhas coisas e ir embora. Levanto, embolando o cobertor para o lado. Percebo que acabei chamando atenção dos dois homens. Dou de ombros e visto o moletom. Reddington me encara com uma interrogação estampada no rosto.

— Não está gostando, querida? Você pode pedir mais iogurte se quiser — ele questiona aparentando boa intenção, mas só sinto vontade de vomitar.

— Raymond... — Dembe acena para a janela francesa.

* FIM DO ANTERIORMENTE *

“Isso, chega mais perto, sua idiota.”

Se alguém me contasse eu não acreditaria. Primeiro. Eu não consigo pensar com Mary-Kate gritando o tempo inteiro. Ok, cale a porra da boca, meu cérebro zumbi não consegue pensar. Coloco a mão, sentindo toda a eletricidade. É fogo lá embaixo, uma saraivada de abelhinhas explosivas. Tudo parece tão perto, parece o quinto andar. O homem do chapéu ri, como Abby — o doce e inocente Abby — assistindo o gato sempre apanhar por causa do rato. Há viaturas de cabeça para baixo, um carro forte também. Ele é sádico e o olhar de Dembe me manda correr. Eu não posso correr, meu senhor. Mas as suas janelas compridas são legais; através posso ver com tanta clareza gente estirada no chão. Acho que perdi a parte fascinante da coisa, porque começo a despencar. Escorrer pelo vidro translúcido feito um pássaro suicida.

— Não vai querer seu iogurte? — ouço já bem de longe. Porque quando ela entra, escoltada por dois humanóides mal encarados, eu só consigo pensar no quanto ela está destruída. Como eu. Nunca pensei que um dia poderíamos combinar; mas agora - Mary-Kate ri e concorda — nossos olhos, agora roxos, complementam uma a outra. Há uma linha grossa de sangue escorrendo da sua cabeça. Eu poderia chorar ao ver o estado que a minha vó está agora; mas ela mesma disse uma vez, uma DeBrassio nunca chora.

“Que eu saiba você só serve para chorar.”

Essa coisa começou a ficar toda errada quando ele achou que Marta era a minha mãe.

O macacão de presidiária não combina com o seu tom de pele; o cabelo de Miranda Priestly não funciona desse jeito, a mordaça de silver tape não combina com os olhos de lince, julgando por ser desleixada; meu cabelo de cleopatra cortado de mal jeito, as roupas de segunda mão. Fazendo de tudo para eu me sentir inadequada. Daria para ver seu sofrimento por baixo da máscara dura de queixo erguido. Desvio o olhar. É demais para mim. Entretanto, ver Raymond Reddington a encarando, a pistola nas mãos, não torna o amargo na garganta sufocante.

O mundo começa a ficar mais pesado. Eu sei que sangra de novo, estou cansada de lutar contra o mundo sozinha. Um mundo que eu não conheço. Ela me encara, os olhos cinzentos não estão confusos quanto os meus olhos castanhos. De repente, me sinto com onze anos, envergonhada pela roupa desleixada, as unhas roídas e sujas, o cabelo preto seco mal cortado. Nem quando eu me achava bonita costumava agradá-la. Quero questionar o que está acontecendo, mas não encontro coragem.

Coragem, queria ter coragem.

Eles a obrigam sentar em uma poltrona bonita. Ela veste um macacão laranja de presidiária. Pisco, tentando me concentrar. Até Mary-Kate se cala. O sr. Reddington se acomoda em um sofá maior, ainda com a arma apontada. Desde quando ela apresenta risco para alguém? Dembe não se senta, nem os que trouxeram Marta para o quarto. Permaneço encostada no vidro gelado; consigo ouvir as sirenes do lado de fora, talvez à procura de Marta. Ela deve ter sido presa, afinal.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Ah, jura que só percebeu agora?”

Cala a boca, Mary-Kate.

Ninguém diz nada. Por que diabos ninguém diz nada? Abro a boca para falar, mas Marta me censura, ela sabe que eu posso piorar a situação. Permaneço em silêncio de qualquer forma.

“AH, por favor, Erin, deixe de ser tão medrosa. Ela é só uma velha e uma velha algemada, não tem nem como fazer algo com você.”

É verdade, mas ainda assim... Não tento abrir a boca outra vez. Ela é mesmo uma velha, e olhando daqui parece até indefesa; mas ainda é a avó que sempre desaprovou tudo o que eu tentei fazer. Melhor nem arriscar. Olho para o homem que me trouxe aqui, ele parece se divertir, perfeitamente confortável com o silêncio. Aparentemente o único a se sentir assim.

— Raymond — Marta limpa a garganta — Você é mesmo um idiota.

Ela ri. Ri como se tivesse assistindo Scarlett se dando conta de que não ama Ashley no final de E o vento levou*. Ela ri como fosse a única a perceber a estupidez de todos.

— A velha Katie não conseguiu te derrubar, não foi? — continua ela, fazendo-o rir.

Mas ele não abre a boca para fazer algo além de sorrir.

As portas estão muito longes de mim. Minha perna dói demais para correr, e mesmo se eu pudesse há dois homens maiores que todos fazendo guarda. Solto um suspiro dolorido, acho que quebrei uma costela há muito tempo. Tudo parece ter acontecido há muito tempo.

Minha avó continua, toda arrogância esmagadora.

— Muita audácia sua, Raymond... se é que posso te chamar de Raymond. Mas me denunciar para os federais, apesar de parecer, não foi tão inteligente assim.

“Já levou em conta que finalmente expor todo o meu negócio de segredos guardados, talvez exponha o seu segredo que está guardado comigo também? Eu sei como foi audacioso de usar o FBI de fantoche para me prender enquanto é você quem me quer fora do seu caminho. Eles não conseguem entender a essência do meu negócio centenário. Estou sendo presa por lavagem de dinheiro, mas acho pouco provável que eu vá ficar presa por mais de vinte e quatro horas. Ora, ora, ser acusada de lavagem de dinheiro. Que coisa mais boba, todo mundo faz hoje em dia. Não podem me manter presa algo tão bobo. Imagina se alguém da CIA saber! Eu trabalho com segredos, meu bem, e os segredos que eu guardo pagam qualquer fiança, qualquer carcereiro, qualquer presidentezinho de merda. Mas você me mantém aqui pelos seus segredos, não é, Raymond.”

Dembe suspira, parece preocupado. Entretanto, seu chefe está tão interessado na conversa que me sinto enjoada.

— Erin, querida. Me deixe te contar como a vovó, mãe solteira, consegue sobreviver nesse mundo hostil. — Marta levanta as mãos algemadas e acena para que eu me aproxime.

Meus passos são relutantes, mas há um imã que me atrai para perto. Eu sou um zumbi, com olheiras cinzentas e orbitas vazias. Morta, porém andando. Minha pele que a vida inteira pareceu dourada, hoje assume um tom doentio. Vi meu reflexo uns dias atrás, estou cinzenta, como o resto da minha vida. Mas eu sigo, não à procura de cérebros; agora desesperada por qualquer fragmento de Erin DeBrassio, Barbara Chenowith, minha mãe.

— Aí está bom — ela me interrompe — não precisa chegar mais perto. Vou te contar o segredo do meu negócio, não te abraçar, te consolar nem nada do tipo.

Então eu paro. Ela está certa. Ela sabe menos do que eu. Permaneço parada no meio do quarto, sentindo todos os olhos em mim.

Marta limpa a garganta e começa a falar:

— Eu descubro segredo, vendo e alugo segredos dos outros. É só isso, minha querida. E como alguns segredos são eternos é de se imaginar que eu vá receber dinheiro até depois da sepultura.

— E-eu não compreendo — deixo escapar.

Marta revira os olhos como se fosse como alguma adolescente que eu acostumava conviver no ensino médio.

— Erin, você sempre foi mais lenta que a sua irmã. Imaginava que prestaria mais atenção nos detalhes como a maluca da sua mãe. Afinal, se você é mesmo uma DeBrassio deveria ser mais esperta como tal.

Mãe. A palavra que deixa o mundo mais pesado nos meus ombros, posso até ignorar os insultos, nem dói tanto assim. Afinal, não há nada de novo abaixo do sol.

— Mas não seja tão melodramática, não faça esse bico. Vou te explicar. Como você nunca teve interesse de me perguntar o motivo de haver tantas moças na minha casa, todos os dias, tricotando e tomando chá, nunca precisei te explicar. Apesar da fachada, não somos exatamente uma ong que ampara mulheres em situações de risco e que ensina artesanato de graça apenas para tornar o mundo em um lugar melhor.

“De fato, elas aprendem novas formas de trabalham e são tão gratas pela segurança que isso tudo proporciona e se sentem felizes em ajudar outras moças; moças que escrevem para nós pedindo ajuda pois estão em situações parecidas, sendo ameaçadas por parceiros, pais e irmãos. Pessoas violentas em geral; a maioria homens é claro. Mas apenas isso não seria lucrativo, não daria para sustentar todo mundo, não conseguiria manter a minha adorável mansão. Acontece que, na minha caixa de correspondência também chegam segredos — uma prova incriminadora a respeito de alguém importante, um vacilo de um cidadão de bem que nunca foi esquecido. Além do chá e do tricô, elas leem atentamente cada carta, e separam cada pedido de ajuda, de um segredo lucrativo; que cada moça levará para o túmulo a menos que a hora de contar realmente chegue. Sabe, aquela música que você e sua amiga escutam. Como é mesmo? Deixa-me ver se acerto: Os perdedores são meus leões, os silenciosos são meu coro, as mulheres serão meus soldados, com o peso da vida em seus ombros. Beba até você estar satisfeito, Eu vou beber das suas mãos, Eu serei seu guerreiro, Eu serei seu cordeiro, Até o reinado das rainhas vir, Meu reinado vir.** Não é ótimo? Sou tão jovem mesmo nesse corpo milenar, sei até as músicas dos jovens e criei o meu próprio reinado. Essa música só pode ter sido feita para sua velha avó. Acho que você saberia um pouco mais se conferisse mais a sua caixa postal.”

Eu devo estar surtando mesmo. Preciso ir embora. Mas ela continua:

— Não me olhe assim, nem sempre é chantagem, Erin. Algumas pessoas vendem os de outras pessoas, se é por necessidade ou maldade não nos interessa. Outros pedem ajuda para manter tudo encoberto — o que existe taxas ao decorrer do tempo. Não nos importamos muito com a moral e essas trivialidades, afinal, não são os nossos segredos. O fundamental é que todas estejamos seguras e meu bem, não é nada melhor que isso, meu bem. É, bem. Não é melhor do que saber que nós podemos nadar em piscinas de dinheiro se eu quiser como... como é o nome daquele personagem mesmo? Aquele adorável pato que Laurel adorava quando criança... Ah sim, o Tio Patinhas. Segredos são eternos, meu bem, e ainda vou continuar ganhando até mesmo após eu ter me mudado para o inferno.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Essa mulher é ainda mais maluca que você”, Mary-Kate é quem diz.

Estreito os olhos e tento procurar alguma coisa para dizer, mas... Olho para o lado e vejo Raymond Reddington rir como se fosse algo muito engraçado.

— Marta, você chega a ser quase tão engraçada quanto a sua irmã. — diz ele, com a voz rouca e estranhamente brincalhona.

Seu sorriso é um tanto hipnotizante, é tranquilo. Não consigo parar de olhar até que ele percebe e sorri para mim. Acho que vou vomitar agora, mas ouço ele continuar.

— Presumo que deve saber o motivo de estar aqui — continua dirigindo-se à Marta — quero seus segredos; segredos que lhe foram vendidos por correspondências e que me pertencem.

Sua boca se torna em uma linha fina e ele já não sorri mais; a pistola que antes descansava em seu joelho agora está apontada para Marta. Um calafrio sobe pela minha espinha e quase me derruba. As cores parecem distorcidas. Seguro nas costas de uma poltrona de veludo verde musgo.

— Não se aproxime muito, Erin — Marta me repreende e continua — Raymond, seus segredos não estão sob negociação então é melhor ir embora. Não sei porque ainda traz minha neta e a expõe a uma situação dessas. O que passa na sua cabeça, seu velho nefasto?

— Não sei, gosto de andar por aí com crianças órfãs à tira colo. — ele responde, sem o menor sinal de brincadeira.

— Seus segredos são meus, pode atirar se quiser, não pode pegá-los — Marta dá ombros e começa a se levantar. Os dois homens que a trouxeram seguram-na pelos ombros; mas ela mantém o olhar louco e se aproxima mesmo assim — Erin, minha filha, se pudesse ser dito algo que te fizesse escutar eu te diria para ir embora, um lugar seguro; o espaço, quem sabe seja o único lugar que essa facínora não possa te perseguir. Porque esse homem com quem você tem andado por aí, não passa de um fedelho mimado. Ele mata todo mundo que o irrita, que mexe nos seus negócios, e ainda os seus aliados. Você tem inveja de mim, Raymond, porque eu estou conseguindo ser bem-sucedida há mais tempo que você, bem mais que você. Você me se sente impotente porque eu tenho algo que você não pode ter. Nem que mate todos os seus rivais e afiliados. O que eu consegui foi com a ajuda de mulheres honestas e frágeis, que logo se tornaram fortes e tudo isso sem nenhuma ameaça. É a mais pura gratidão, algo que você não sabe o que é. Por mais grato que alguém possa aparentar por você terá sempre o medo. Eu tenho isso e você não. Então vamos, Raymond, atire logo porque eu preciso de férias. São cinquenta anos seguindo os passos da minha amada mãe e já fiquei entediada demais, Raymond. Mas é bom que você saiba que se nós queimarmos, você queimará conosco****.

Não!

Não!

Não!

Ela é tudo o que eu tenho.

— Não! — grito, corro para abraça-la.

Sou impedida por um aceno com a mão.

— Não se aproxime, Erin! — ela me repreende.

Uma ordem. Mais uma ordem.

Não se aproxime, Erin! A frase mágica que me censurou a vida inteira. Não chegue perto, Erin, você vai estragar tudo. Ela me quer longe também, serei apenas eu no mundo de novo.

— Por favor, não a mate. Não atire, por favor — Rogo ao homem com a arma na mão.

Por algum motivo ainda resta água no meu corpo e eu choro. Ele não pode fazer isso. Não, não pode. Mary-Kate se mantem em silêncio porque ela é imprestável e some toda vez que deveria ser útil.

Raymond hesita, parece abatido. Sei que considera poupa-la. Marta, minha a vó, que nunca gostou tanto de mim quanto gostava de Laurel, vai poder ir embora viva. Será liberada da acusação, como ela disse e logo estará na sua mansão toda branquinha e bem cuidada. Continuará não gostando tanto assim de mim, mas estará viva.

— Claro que ele vai atirar, meu bem. Ele não quer que todos saibam que ele não é...

Mas ele atira.

Meu mundo explode e acaba.

O mundo de todo mundo explode e acaba.

Porque Marta DeBrassio, minha avó, explodiu e acabou.

Sou jogada com força no chão, minha pele arde, meu corpo arde. Eu tenho sede. Abro os olhos bem devagarzinho; tenho dificuldade em mexer a cabeça. Está tudo pegando fogo de verdade, não no sentido figurado. O quarto todo está em chamas.

Ela explodiu de verdade.

Estou em casa.

Eu preciso de água, acho que estou morrendo. Só tenho a dor pra me abraçar e me consolar. Me abraça tanto que sufoca. Não consigo chorar.

Ela se foi e o mundo está girando de verdade. Vejo os cantos do teto girarem. Algo cai com força no chão. Logo perceberão que o mundo acabou e tudo está pegando fogo mais uma vez.

“Vamos, Erin, levante daí” Mary-Kate chora

Não. Consigo esboçar um sorriso apesar da dor.

“Você vai morrer.”

Cala a boca.

“Levante-se! Você tem que ir, sua desgraçada.”

Não tenho não. Estou em casa agora.

— Ei, levante daí — é quase como um sussurro.

Uma sombra aparece em cima de mim.

— Vamos, não temos tempo! — sua voz é rouca e um tanto arrastada.

— Eu não preciso ir — choro — não quero ir.

Eu posso ver seu rosto, parece familiar. Ele não sorri e estende a mão.

— Hm, acho que você não ficar aqui. Vamos, eu te ajudo.

Eu faço que sim com a cabeça. Talvez Mary-Kate esteja mesmo certa. Seguro a mão do rapaz e tento me levantar. Não é como se eu tivesse apenas caído. Não consigo me levantar. Agora eu vejo que a poltrona verde musgo é pesada e prende as minhas pernas. Ele a tira de cima de mim e me pega no colo. Eu deveria, mas não reclamo. Olho para trás e vejo Dembe e Raymond caídos no chão. Não há sinal de Marta nem dos dois homens enormes. Bem, talvez eu devesse... Não, essa é a minha chance de escapar. Então nos braços de um desconhecido eu vou embora mais uma vez. Se alguém me contasse eu não acreditaria, mas as coisas não param de se repetir. Eu ouvi minha avó confessar um esquema confuso, citar uma música, fazer à Katniss e depois explodir em mil pedacinhos.

Fecho os meus olhos e agarro o pescoço de quem me carrega, seguimos pelo corredor enquanto meu mundo pega fogo mais uma vez.

* Scarlett O’Hara e Ashley Wilkes, personagens de E O Vento Levou da Margareth Mitchel.

** Queendom, Musica da AURORA

*** “se nós queimarmos, você queimará conosco.” Foi o que a Katniss falou em A Esperança Parte 1 – não me lembro se tem no livro.