A escola nova não era a pior coisa do mundo como eu imaginava que seria, eu já tinha feito uma amiga que tinha os mesmos gostos que o meu e parecia bem divertida. Beatriz conversou comigo até tarde sobre livros e sobre as pessoas da escola, ótimo, ela adorava falar mal das pessoas assim como eu. Ela falou de alguns garotos que conversava na escola e parecia doce em questão de amor, uma fofa. Me perguntou se eu tinha achado algum gatinho e fiquei negando por dez minutos, combinamos de sair no sábado e falamos dos professores.

Quando já era tarde eu fui dormir, e admito que nesta manhã me arrependi de ter dormido tarde. Eu estava cansada e cheguei a cogitar que não conseguiria levantar e passar a manhã inteira na escola, mas me forcei e levantei. Taquei uma água gelada no rosto e tomei um banho rápido para que sobrasse tempo para eu me ajeitar e não parecer uma relaxada. Vesti aquele uniforme que eu não odiava, e coloquei uma calça jeans justa e bonita que eu havia comprado a pouquíssimo tempo e nunca havia usado. Peguei a maleta de maquiagens que eu tinha ganhado da minha mãe quando fiz quatorze anos, não fazia tanto tempo já que eu faria quinze no próximo mês, nunca usei muita maquiagem a não ser os dias que eu estava cheia de olheiras. Hoje eu havia decidido colocar um pouco de pó para disfarçar as manchinhas da pele, e passei rímel, meus cílios eram enormes e eu não gostava disso, mas exibia para Renata quando ela reclamava que os dela eram pequenos demais.

Ajeitei o cabelo e desci as escadas, não comi nada pois eu tinha dinheiro e comeria na hora do intervalo, provavelmente. Tirei meu skate do armário da cozinha que agora era meu esconderijo desde a noite passada quando minha mãe começou com a ladainha que eu teria de joga-lo fora.

Meu pai fez questão de me levar até a escola, quando cheguei na frente da escola sai do carro com o skate na mão e bati a porta com força, e cochichei “Foi sem querer!” e então mordi meu lábio. Depois que meu pai deu partida e saiu da frente da escola taquei o skate no chão e comecei a andar nele, entrei pelos corredores indo devagar para não acabar atropelando alguém. Tarde demais.

Quando me dei conta eu estava nos braços de alguém, por sorte nós dois não fomos para o chão. Olhei para cima e me perdi em olhos castanhos claro, cor de whisky através de um copo brilhante demais, que olhos lindos. Percebi um cabelo tacado de lado, um ondulado tão delicado e bonito, havia uma mecha atrapalhando seus olhos e então vi um sopro, mas o cabelo não mudou de posição.

– Cuidado, se eles pegarem seu skate não devolvem mais. – Aqueles lábios pronunciaram rápido, mas eu vi em câmera lenta.

Fiquei parada lá, feito idiota e ele me encarrando me soltando aos poucos. Tentei pronunciar alguma coisa, mas não consegui, fiquei totalmente paralisada lá.

– Manu? – Beatriz chegou perto de nós dois e ele olhou para ela sorrindo. – Vejo que conheceu o Felipe!

Continuei muda e então ele deu um riso, o sorriso mais lindo do mundo.

– O gato comeu a sua língua? – Ele se abaixou e pegou meu skate me entregando na mão. Foi só ai que consegui responder algo não idiota, pois naquele instante tudo que me vinha na cabeça era um “Você é gostoso.” Ou “Eu te beijaria agora.”.

– Obrigada! – Respondi muito rápido.

– Ual, ela não é muda. – Ele brincou enquanto Beatriz dava risada.

– Seria melhor se eu fosse. – Dei um sorriso e ele retribuiu.

– Não concordo.

O sinal tocou e eu senti muita raiva nesse momento, até porque eu tinha certeza que ele não estava na minha turma, ele acenou para nós duas e foi embora, caminhou para longe e então segui meu rumo. A aula de sociologia foi longa e quando eu achei que havia acabado, tinha a segunda aula que também era de sociologia. Quis gritar de raiva, a terceira era de inglês e eu gostei, o professor era muito gentil e não passou muita matéria, já havia ganhado um crédito extra comigo.

Quando bateu o sinal do recreio dei um suspiro longo e profundo, finalmente eu poderia olhar para aquele menino tão lindo, e poderia conversar com Beatriz sem ser interrompida pelos professores nos mandando ficarmos caladas.

Eu queria ficar calada e não falar nada a respeito de Felipe, mas quem disse que eu conseguiria? Eu tinha que perguntar, e se eles fosse namorados? Eu ficaria muito assustada, mas descartei isso de primeira pois eles nem tinham se cumprimentado com beijos ou coisa do tipo.

– Aquele – Limpei a garganta. – Felipe, ele é o seu... – Não consegui terminar minha frase, ela assentiu e deu um riso.

– Somos namorados, sim. Desde a sétima série, amo ele. Não conte a ele sobre o que eu falei do Michael, ele ficaria furioso. – Michael? O cara que ela tinha falado noite anterior? NOSSA, eles eram namorados e ela estava pensando na possibilidade de trair ele?

– Ah sim. – Foi só o que eu consegui falar.

– É mentira, eu nunca namoraria um primo meu. Tá afim dele é? – Primo? Ele? Caraca, ela tinha me engano, que piranha.

– Vaca! É claro que não tô afim dele.

– Vou fingir que acredito então Manuela. – Ela ficou rindo de mim o recreio inteiro, e quando ele passou por nós sem nem notar nossa presença, ela me olhou e deu mais um riso. Um riso sarcástico.

As últimas aulas foram de geografia, eu sempre me dei muito mal em geografia e então eu sempre ficava incomodada nas aulas. Os professores não pegavam muito no meu pé, só o Sr. Peres, ele tinha me dado aula de sétima a oitava série e cismava com as apresentações dos meus trabalhos, ele sabia que eu era péssima com isso e fazia questão em prestar atenção só na minha apresentação. Eu literalmente odiava o Sr. Peres.

Depois da aula voltei ao meu armário e retirei meu skate de lá, dei carona para Beatriz até a casa dela e depois fui direto pra casa, quando me sentei no sofá pronta para descansar uns cinco minutos, minha mãe saiu da cozinha e veio até mim com um sorriso tão largo que fiquei com medo.

– Eu estava conversando com seu pai hoje. – Assenti. – Falamos sobre o seu aniversário.

– O que tem? – Olhei para ela.

– Estamos preocupados de não conseguir planejar tudo até a data. – Meus quinze anos, nossa, meus pais se recusavam a me dar uma festa grande até mês passado e agora faziam questão de fazer uma coisa grande.

Fiquei olhando para minha mãe sem saber o que dizer, pela milésima vez, hoje eu não estava nem um pouco falante, diferente dos outros dias.

– Liguei pra uma decoradora hoje e combinamos de nos ver hoje à tarde, se não for problema pra você. – Negativei, pois não seria problema. – Pensei em fazermos a festa aqui mesmo. Até porque a casa é grande e bonita.

Achei a ideia ótima, até porque não seria eu que teria de arrumar toda a bagunça depois, pois se fosse eu negaria de cara. Eu odiava arrumar as coisas.

– O vestido poderíamos mandar fazer exatamente do jeito que você sonha.

Fiquei ouvindo as mil ideias da minha mãe e a maioria eram boas, nunca tinha passado pela minha cabeça que ela fosse tão geniosa. Encontramos a decoradora de tarde e ela me deu muitas ideias, ela era simpática e bem jovem, me ajudou a escolher a decoração perfeita. Acho que as coisas estão começando a darem certo...