De Repente Pobre

Capítulo 07 - Amigos


Sebastian tenta revidar o soco em Gabriel, mas me coloco no meio deles.

– Parem! – pedi. – Isso não é necessário.

– O idiota me acertou um soco e você vai defendê-lo? – questiona Sebastian.

– Ele só fez o que você merecia – falei.

Sebastian me olha como se estivesse pronto para me enforcar, mas antes de ele fazer qualquer coisa peguei na mão de Gabriel e saímos do shopping o mais rápido possível.

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Fomos até o estacionamento sem trocar uma palavra um com o outro. Quando cheguei lá, abracei Gabriel e deixei as lágrimas caírem.

– Agora está tudo bem. Eu estou aqui com você, tá? – ele diz, acariciando meus cabelos.

– Ele é louco!

– Eu sei, eu sei. Vamos voltar pra casa agora? – ele me encara, limpando as lágrimas que caiam em meu rosto.

Assenti e entrei dentro do carro. O trajeto inteiro, não trocamos nenhuma palavra. Gabriel estava concentrado no trânsito enquanto eu olhava pela a janela e chorava em silêncio.

Quando chegamos na casa de Amália, fiquei sentada na escada da varanda. Já não chorava, só queria ficar ali quieta com os meus próprios pensamentos. Até que sinto fortes braços me aconchegarem em um abraço, logo as lágrimas voltaram.

– Como eu pude ser tão idiota? – murmurei.

– Você não foi idiota – disse ele, com a voz firme.

– Só trouxa – forcei uma risada.

– Você o ama, por isso foi até lá.

– Mesmo sabendo da traição, isso quer dizer que fui idiota.

– Não fale assim, Hannah – Gabriel acaricia meus cabelos.

– Ele quase me matou – sussurrei.

– O que ele fez?

– Apertou meu pescoço com as mãos, me deixando sem ar. Ele não aceita que eu não quero mais nada com ele, não depois que ele me chifrou com a pessoa que dizia ser minha melhor amiga.

– É um psicopata! – exclamou Gabriel. – Desculpa por não ter chegado antes.

Ri, sem humor.

– Você não me deve desculpas nenhuma – falei. – Eu que devo, por deixar vocês preocupados.

– Depois que contei sobre a ligação para minha avó, ela ficou mais tranquila. Mas a Lily nos contou o que você disse para ela na noite anterior e ficamos preocupados. Se não fosse o trânsito, eu teria chegado antes.

– Obrigada – finalmente olhei para ele. – Por se preocupar com alguém que mal conhece.

Ele sorriu.

– Você é amiga da minha irmã e quase neta da minha avó, impossível não se preocupar.

Ficamos em silêncio durante um tempo, até que Gabriel pergunta:

– O que vai fazer agora? Digo, em relação ao babaca do shopping?

– Tentar esquecer esse babaca e seguir com a minha vida do jeito que o destino a quis.

– Pretende fazer isso como?

Dei de ombros.

– Não faço a mínima ideia.

Gabriel pega na minha mão e sorri para mim.

– Saiba que vou estar aqui para o que for preciso. Me considere como um amigo. Tanto eu quanto Lily, queremos te ajudar a se adaptar a essa sua nova vida.

– Vida de pobre – resmunguei.

– Não é tão ruim assim – disse ele. – Você pode trabalhar para ter seu próprio dinheiro.

– Aí eu te pergunto, trabalhar no quê?

– Não sei, você encontrará sua área.

– E isso demora?

– Se não começar logo, vai demorar.

Ficamos em silêncio novamente. As lágrimas já tinham secado, quando virei de frente para Gabriel.

– Você tem quantos anos?

– Vinte e um.

– Você tem um apartamento, não é?

Ele riu.

– Sim, tenho.

– Fica longe daqui?

– Não muito.

– Trabalha em quê?

– Sou professor.

– Sério? – duvidei. – Suas alunas tem sorte de ter um professor gato como você.

– O que disse? – ele segura o riso.

– Droga – murmurei. – Eu não falei nada!

– Eu dou aula para o fundamental da escola aqui do bairro – contou.

Sinto meu rosto esquentar.

– Legal – resolvi dizer. – E a igreja aonde vocês vão?

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– Fica a duas quadras daqui. Aliás, amanhã cedo vamos na igreja.

– Vamos?

– Claro, minha avó vai, você também irá.

– Não sei se tenho roupa para usar pra ir em uma igreja.

– Tem certeza? Porque quando vi, você tem bastantes roupas.

– Não sei se são apropriadas.

– Garanto que você encontrará uma que ficará legal em você.

Sorri com as palavras dele.

– Está melhor?

Assenti.

– Então, o que acha de irmos comer alguma coisa? Estou com fome.

Entramos dentro de casa e não vejo ninguém além de Gabriel e eu.

– Onde está sua avó e a Lily?

– Foram encontrar meus pais que voltaram de viagem hoje.

– E você não foi?

– Digamos que tinha algo mais importante para fazer no shopping.

– Eles não ficaram zangados?

– Claro que não! A não ser que eles cheguem e não tenham nada para eles comerem.

– Quê?

– Ué, vamos preparar um jantar para eles.

– Nós dois?

Gabriel assentiu.

– E se lhe dissesse que não manjo em nada na cozinha?

– Eu não duvidaria – debochou ele.

Lhe dei um tapa no braço.

– Hoje te dou um desconto, mas na próxima é você que cozinha.

– Sonha!

– Aprenda com o mestre! – exclamou ele, colocando o avental.

Sentei em cima da mesa e o vejo preparar as coisas.

– Desde quando você sabe cozinhar?

– Desde adolescente.

– E você gosta?

– Não é tão ruim assim.

– Ah então você não gosta.

– Eu não falei isso.

– Mas deu a entender.

Gabriel riu, depois olhando para mim falou:

– Gosto de cozinhar pra me distrair.

– Acho que não entendi.

– Esqueço dos problemas, ou das coisas que terei que fazer depois. O que importa é que estou preparando algo maravilhoso para comer.

– E o que vai fazer para receber seus pais?

– Macarronada.

– Hum – disse, imaginando um prato de macarronada em minha frente.

Ele volta sua atenção para o fogão enquanto eu estava encarando o chão.

– Além de cozinhar, o que mais você gosta de fazer?

Gabriel pareceu pensar na resposta.

– Gosto de ler.

Sorri com a resposta.

– Você também, não é? – disse ele, parecendo adivinhar meus pensamentos.

– Como você sabe?

– Vi alguns livros na estante, suspeitei ser seus porque minha avó não tem tempo para ler e a Lily não é muita fã de livros.

– Tive a sorte do policial deixar levar os livros, se não só viria com minhas roupas. – disse. – Os livros me lembram meus pais, graças a eles sou apaixonada por livros.

Gabriel sorriu.

– Comecei a gostar de livros através do Pastor Paulo – contou ele.

– Você sempre foi a igreja? – pergunto.

– Quando era criança, não. Mas na adolescência ficava mais com minha avó e comecei a acompanha-la, vou lá até hoje.

– E seus pais?

– Começaram a ir faz pouco tempo.

– E Lily?

– Começou a ir quando contei a ela que as crianças ganhavam doces no final dos cultos – disse, rindo e eu o acompanhei. – Você pode arrumar a mesa? – acrescentou.

Desci de cima dela e estendi a toalha.

– Parece idiota, mas... – começo a dizer. – Não sei exatamente o que fazer, na minha casa eram vários talheres.

– Ah claro – concorda ele, mas não consigo notar tom de ironia em sua voz. – Mesa de pobre se coloca um prato, um garfo, uma faca e um copo; caso tenha algo para beber.

– Só?

– Só.

Coloquei tudo que Gabriel falou na mesa, arrumando-a para seis pessoas.

– Muito bem! – exclamou ele, sorrindo.

Ele parecia que ia falar alguma coisa, mas foi interrompido por uma voz:

– Que cheiro de macarronada! – exclamou. – Sabia que não iria me decepcionar quando chegasse aqui.

Um homem que aparenta ter quarenta e poucos anos abraçou Gabriel.

– Estava com saudades, filhão.

– Também estava pai – Gabriel deposita alguns tapas nas costas do homem.

– Olha não te vi aí – ele se direciona a mim que estava encostada em uma parede, meio afastada. – Você cresceu, Hannah!

Fiz uma careta, confusa. Como ele diz algo assim se eu nunca o vi na vida?

– Desculpa, você não deve se lembrar desse velho – brincou ele.

– Não é tão velho assim – entrei na brincadeira. – Mas como me conhece?

– Era amigo do William – falou. – Conheci você quando era pequena, te vi mais algumas vezes ainda criança, no entanto, nunca mais a vi.

– Perdeu o contato com o meu pai?

– Não, só não frequentei mais sua casa.

Não disse mais nada para ele. Afinal, o que diria? Vejo uma mulher ruiva entrar na cozinha acompanhada por Amália e Lily. Ela cumprimenta primeiro Gabriel, em seguida olha para mim.

Ela sorriu, docemente.

– Estou feliz por vê-la! – ela me abraça. – Sou Alice, caso não se lembre de mim.

– Amiga do meu pai também?

– Mais da sua mãe pra falar a verdade.

Sorri. Como o filho e a nora de Amália eram próximos aos meus pais e ela nunca me contara isso?

– Obrigada por preparar o jantar, Gabriel – agradeceu Amália. – Não tive tempo para preparar algo antes, e a volta para casa foi cansativa.

– O trânsito estava horrível – acrescentou Alice.

– Esse horário é assim mesmo – fala Gabriel.

Logo, Gabriel, seus pais e Amália já estavam indo se sentar em volta da mesa.

Antes que eu pensasse em algo, sinto Lily me abraçar.

– Estou feliz que esteja bem – diz ela. – Fiquei preocupada em saber que ia se encontrar com aquele cara, do jeito que você estava tive medo que fizesse qualquer loucura – sussurrou.

– Se não fosse você e o Gabriel não sei o que seria de mim.

– Amigos são pra essas coisas – ela piscou para mim e foi em direção a mesa.

Não pude deixar de sorrir ao ouvir aquilo. Apesar de minha vida ter virado de cabeça para baixo de uma hora para outra, sabia que poderei contar com Lily e com Gabriel porque eles sim são meus amigos de verdade.