POV Light

Quando entrei na sala de aula, havia desordem por todo o lado... Mas isso já é algo habitual das aulas de Filosofia, pois o Sr. York chega sempre atrasado.

A maior parte da turma estava sentada nas mesas, cada um no seu grupo de amigos, e as cadeiras estavam em sítios totalmente distintos... Havia quem saísse da sala e entrasse periodicamente, outros que andavam a conversar de grupo em grupo, de mesa em mesa...

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Só um misto de pessoas permanecia quieto, no outro estremo da sala. O meu grupo.

Eu dirigi-me até ele, passando mesas vazias e grupos até me sentir de novo bem...
Sem raiva, nem tristeza. Ainda assim, os meus olhos ardiam como tochas... Sentia-me totalmente e dolorosamente exposto depois da conversa com Lux.

Um dos meus melhores amigos aproximou-se de mim. Era Thrill.

O seu cabelo castanho-escuro estava totalmente desgrenhado e brilhante. Tinha a (pouca) barba perfeitamente aparada e quando me sorriu pude ver que os elásticos do aparelho, nos dentes de baixos, pareciam agora de outra cor... apesar de ser quase imperceptível que ele tinha aparelho. Trazia uma T-shirt verde-floresta estampada, uns jeans velhos e uns ténis brancos.

Thrill não era propriamente do mais atraente que andava por aí, mas a sua postura pessoal e social era algo a ter respeito. Se alguém estivesse em apuros, mesmo que ele não soubesse do que se tratava, defender-nos-ia com unhas e dentes até levar a sua avante... Detestava perder.

Para além disso, Thrill era filho de um pugilista conhecido na cidade e de uma advogada destemida.

Era realmente uma combinação poderosa...

Os braços fortes de Thrill abriram-se para mim e eu aceitei-os, abrindo também os meus. Senti um calafrio quando os nossos peitos se tocaram. Depois, resmunguei levemente.

-Bolas, meu... Estás gelado! Quando é que aprendes que no Inverno é para vestir coisas quentes?

Enquanto os nossos corpos se afastavam, Thrill pôs as mãos nos bolsos e conduziu-se de novo às mesas.

-Tu já sabes como sou, Light. As T-shirts, para mim, são uma dádiva da qual não me consigo separar... – brincou ele.

-Claro, claro... Eu sei como és. – Falei, rindo-me um pouco. Thrill sabia verdadeiramente como me deixar bem-disposto.

Nas mesas à nossa frente estavam as outras 3 pessoas mais importantes da minha vida.

Summer e Night estavam em cima da mesa, enquanto Wrath se encontrava encostado à parede a olhar distraidamente pela janela.

Summer estava deitada sobre a mesa, com um ar totalmente aborrecido e frustrado. Estávamos só agora no inicio do Inverno e Sum já estava com aquele ar maldisposto e rabugento que todos conheciam. Ninguém a gostava de aturar até ser Verão. E o Verão é só 3 meses... aproximadamente.

Quando o seu cabelo cor de fogo se mexeu lentamente, percebi que estava a olhar directamente para mim. Estava a ver-me a observa-la...

Oh, raios. Ela detestava que a observassem...

Sem mais demoras, dirigi-me até Night que se encontrava a olhar para o vazio, sentada na ponta da mesa.

O seu cabelo castanho como mogno caia-lhe em cascata sobre os ombros e costas. O ar sonhador dava-lhe um aspecto doce e delicado, fazendo qualquer pessoa falar baixo e debilmente perto dela. Night era como a “menininha” do grupo... a nossa pequenina.

Os seus olhos azuis fixaram-se nos meus e o seu rosto sorriu-me, enquanto saltou para mim e me abraçou fortemente. Eu tentei respirar e não cair estatelado no chão.

-Vocês não se vêem desde quando? – Questionou Summer, elevando-se sobre a mesa e penteando o cabelo com os dedos.

-Provavelmente desde o século passado... – Respondeu Thrill, enquanto lhe sorriu e ficou muito perto dela. Os seus narizes quase a tocarem-se e os corpos bastante afastados. Summer não reagiu à provocação e virou a cara, como que a fazer-se difícil.

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Thrill tinha uma paixoneta por Summer há anos!

Desde que os conhecia, Thrill estava constantemente a provocar Sum. Ela não lhe ligava nenhuma, claro... Até porque ela ficara interessada em Wrath, há uns anos.

No entanto e neste momento, Sum crescera e desistira de Wrath... Thrill continuava confiante e resistente sobre ela, pensando que conseguiria alguma coisa com as suas provocações. Hoje mais do que nunca, Summer parecia pronta a fazer-lhe a vontade...

-Começas já pela manhã? – Questionou Summer a Thrill – É só que... hoje está a chover e não me sinto com vontade para aturar as tuas parvoíces.

-Oh... Que querida! - Falou Thrill, aproximando-se tanto de Summer que estava quase a cair para cima dela. - Não achas, Light?

Eu acenei com a cabeça, ainda a tentar respirar. Thrill continuou a falar.

-É não, é? Até dá vontade de lhe dar um beijo...

Depois, Thrill aproximou a cara de Sum e fechou os olhos. Ela quase que sorriu e, com o indicador e o dedo médio, bateu com força mesmo no meio da testa de Thrill. A cabeça dele reclinou para trás e ele sorriu.

Ele sabe que ela nunca lhe daria um beijo... Não sabe?

Thrill olhou-me de volta e piscou-me o olho. Já não voltou a olhar Summer e dirigiu a sua atenção ao telemóvel que tirou de um dos bolsos dos Jeans. Summer voltou a deitar-se sobre a mesa.

Enquanto tentava fazer com que Night me largasse, Wrath tomou finalmente sentido ao que se estava a passar à sua volta e sorriu-me, mostrando a sua dentadura de um branco luminoso. Eu até lhe tinha sorrido se Night não me estivesse a estrangular...

Céus, ela tem muita força!

-Deixa lá o rapaz, Night! Estás a sufocá-lo...

Night aliviou o aperto e ao encarar-me, sorriu. Eu sorri de volta, aliviado por voltara a respirar novamente.

Mas não por muito tempo...

Wrath aproximou-se e os seus braços grandes e fortes abriram-se para mim. Eu não era propriamente fraco, era até mais musculado que Thrill, mas Wrath era o dobro de nós os dois juntos. Para além disso, o cabelo negro, as botas de combate, o olhar ameaçador, as camisas justas que lhe definiam a musculatura... O rapaz era do tipo: “metes-te comigo e/ou com os meus amigos e podes ir começando a escavar a
tua cova”.

No entanto, era o melhor amigo que alguém poderia ter... e a enorme e grossa cicatriz que ele tinha por cima do olho direito era a demonstração disso. Tal como a cicatriz que eu carregava no peitoral direito todos os dias.

Eu também abri os meus braços e quando nos tocámos mais parecia um encontro de músculos do que um abraço... Eu apertei-o ligeiramente e enquanto era esborrachado pela segunda vez naquele dia, senti as imagens de há 3 anos a voltarem à minha
memória...

A escuridão do beco, os drogados a aparecerem, a bater em mim e em Wrath, a lâmina a aparecer de dentro do casaco de um deles, Wrath a proteger-me e depois, só dor...

Oh céus, a dor...

O grito profundo de Wrath, o meu sangue e o sangue dele por todo o lado...

Ele protegera-me no exacto momento em que a lâmina descia sobre mim e mesmo assim ficara ferido. Porém, estávamos os dois vivos, bem. Graças a ele... e ao seu autocontrolo. Nesse dia, descobrira que não éramos apenas os melhores amigos, éramos irmãos. Desde aquele dia, sentia isso. Sentia-me protegido por ele...

Por mais lamechas que pudesse parecer.

Quando nos separamos, Wrath olhou-me nos olhos e o seu sorriso desapareceu. Notei também que Night tivera a mesma reacção.

-Light? – Perguntou Night. – Estiveste a chorar?

Oh, bolas... iam-me dar na cabeça, outra vez.

Sem responder, dirigi-me a uma das cadeiras e sentei-me nela. Assim que elevei o olhar, olhei erradamente para a porta ao mesmo tempo que Lux entrava na sala.

Uma raiva profunda eclodiu de mim e todos os meus amigos perceberam. Eu suspirei e baixei a cabeça.

Depois, comecei a falar...