I know it breaks your heart

Moved to the city in a broke down car

And four years, no call

Now I’m looking pretty in a hotel bar

And I can’t stop

Eu sei que isso parte seu coração

Mudei para a cidade em um carro quebrado

E quatro anos, nenhuma ligação

Agora eu estou bonita no bar de um hotel

E eu não consigo parar

The Chainsmokers ft. Halsey – Closer

Julian Blackthorn não queria ir a uma festa.

Parecera uma boa ideia aceitar o convite quando Cameron Ashdown o fizera, especialmente porque Julian estava bastante estressado com um projeto particularmente difícil no momento. Agora, porém, meia hora antes da hora marcada, Julian não queria nada além de terminar o quadro no qual estava trabalhando e terminar a temporada de sua série favorita antes de dormir.

Ele estava prestes a ligar para Cameron e informar que estava doente quando Helen entrou sem bater em seu quarto e se jogou na cama, sem se importar em tirar o que estava sobre o colchão.

— Você não ia sair hoje?

Embora ela fosse irmã de Julian, eles eram muito pouco parecidos. Helen, com seus cabelos loiros e seus milhares de amigos, era um pássaro exótico; Julian, com os cabelos castanhos, olhos azuis e tendência a cancelar planos no último minuto, era uma andorinha, como a maioria dos Blackthorn. A exceção, além de Helen, era Mark, embora ele não tivesse o mesmo temperamento que a irmã.

Embora os Blackthorn fossem uma família grande, ali eram apenas os três mais velhos, dividindo um apartamento minúsculo a algumas quadras da universidade. Julian acabara de se mudar, já que terminara o colégio no ano anterior, enquanto Mark morava ali havia dois anos. Helen, que se formara anos atrás, vivia no apartamento havia muito tempo, e, no início, fora difícil para Julian parar de pensar nele como algo além de “a casa de Helen”.

Julian apertou os olhos na direção da irmã, o telefone a meio caminho da orelha.

— Eu ia.

— Não me diga que você vai cancelar.

— E se eu for?

Helen apenas fez um ruído indefinido e apontou para a tela em frente a Julian. Ele estava pintando o mar, como fazia com frequência. Sentia falta de morar em frente à praia.

— Ficou legal.

Julian se apressou em cobrir a pintura; não gostava que vissem seus trabalhos antes de estarem concluídos.

— Não terminei – disse, seco. – Você não ia sair?

— Eu não – Helen se levantou, espreguiçando-se. – Estou velha demais pra isso – Ela deu uma piscadela cúmplice. - Não cancele, Julian. Você precisa viver.

Ela saiu do quarto, deixando para trás um Julian resignado, que guardou o telefone e abriu o guarda-roupa para escolher uma roupa.

Quando Cameron Ashdown ligou, Julian já estava esperando junto ao portão. Ele saiu imediatamente e se acomodou no banco do carona do Maserati do colega. Poderia ter ido no Toyota surrado que dividia com os irmãos, já que nenhum deles iria sair, mas era mais legal andar em um carro de gente rica, para variar.

— E aí? – cumprimentou Cameron.

Julian respondeu com um aceno de cabeça.

A festa já estava a pleno vapor quando eles chegaram, o que não era surpresa, considerando que era quase meia-noite e meia. Cameron conseguiu que eles furassem a fila para entrar, e logo a visão de Julian foi tomada por luzes piscando e pessoas dançando. Eles se misturaram à multidão, e ele logo perdeu Cameron de vista.

Julian sabia como se comportar numa festa, já que tivera seus momentos no ensino médio. Ele dançou por algum tempo, flertou com algumas garotas e deu alguns foras antes de decidir que precisava de uma bebida. Com dificuldade, localizou o bar em meio àquela bagunça e se dirigiu ao local, empurrando e se encolhendo para atravessar o mar de corpos dançantes.

Enquanto o barman fazia seu drinque, Cameron reapareceu magicamente ao seu lado. A gola da camisa dele estava levantada, e o cabelo, uma bagunça. Ele parecia animado.

— Olha só – Cameron pôs uma mão no ombro de Julian, indicando alguém à esquerda dele. – Acha que eu tenho chance?

Julian olhou, sem fazer nenhuma tentativa de ser discreto. Afinal, festas como aquela definitivamente não exigiam discrição.

Ele esperava se deparar com uma garota debruçada sobre o balcão do bar, e, de fato, era isso mesmo, com a diferença que ela estava atrás do balcão, empurrando um copo na direção de um rapaz com cara de menor de idade que aguardava. Era bonita, de um jeito intimidador: postura ereta, roupas escuras, provavelmente calçando coturnos. Havia tatuagens decorando seus braços, linhas indefinidas na escuridão da boate. Seu rosto estava escondido dos dois rapazes pelo cabelo, jogado por sobre um ombro de maneira charmosa. Era difícil dizer, por causa das luzes, mas Julian decidiu que ela era loira.

Quando o rapaz com cara de adolescente se retirou com seu drinque, a moça começou a preparar o próximo. Pela forma confiante como ela fazia a mistura, dava para ver que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Julian se virou para Cameron e disse, com toda a honestidade:

— Boa sorte.

— Qual é – Cameron não pareceu surpreso nem ofendido com a resposta. – Quer dizer, ela é bonita, mas eu também sou, certo?

— Ela é assustadora – observou Julian.

— Eu vou tentar.

— Tá, volta aqui quando ela arrancar sua cabeça.

Curioso, Julian observou enquanto Cameron se dirigia à moça e iniciava uma conversa. Ele sabia que o colega podia conquistar todos os tipos de garotas, mas havia algo a respeito daquela em específico que o incomodava. A postura confiante o fazia pensar em alguém, embora ele não soubesse citar nomes.

Então, a garota jogou o cabelo para trás, revelando seu rosto a Julian, e, imediatamente, ele lembrou de um nome. Seu cérebro congelou, tentando conciliar aquela jovem cheia de tatuagens com a garota destemida que conhecera, que não tinha nenhuma marca no corpo além das cicatrizes nos joelhos. Era tão improvável, tão absurdo, e, ao mesmo tempo, parecia perfeitamente razoável.

O barman depositou um copo à sua frente. Julian mal percebeu. Estava muito ocupado encarando a garota, que parecia estar rindo de algo que Cameron dissera, ou talvez rindo dele. Para sua surpresa, se pegou desejando que fosse a última opção.

Então, a moça olhou para o lado, e, subitamente, Emma Carstairs estava andando em sua direção.

Julian havia passado quatro anos imaginando aquele reencontro, e aquele cenário era um único que nunca passara em sua cabeça. Ele não esperava que Emma o reconhecesse tão imediatamente, ou que jogasse os braços ao redor dele sem nenhum pudor, sem nenhuma dúvida, e muito menos que ela murmurasse que tinha sentido sua falta. Era reconfortante, mas ele estava paralisado demais para reagir.

Quando Emma se afastou, ele finalmente encontrou sua voz:

— Você está... Diferente.

— Vou aceitar como um elogio – respondeu Emma, com um sorriso. Era incrível: o sorriso dela ainda era o mesmo.

Nesse meio tempo, Cameron já retornara para o lado de Julian e estava olhando de um para o outro, embasbacado.

— Vocês se conhecem?

Emma o olhou como se ele fosse um cachorrinho muito carente, e ela, uma dona bastante ocupada.

— Você conhece ele? – perguntou a Julian.

— Ele me trouxe até aqui – Julian respondeu. Emma se dignou a oferecer um sorriso a Cameron.

— Bem, acho que tenho que agradecer, então.

Julian apenas olhou para ela, mudo. Em todos os cenários nos quais imaginara seu reencontro com Emma, eles haviam planejado isso, combinado data, hora e lugar, e, portanto, ele tivera tempo para se preparar psicologicamente. Agora que eles haviam finalmente se encontrado, no meio de uma balada barulhenta demais para conversar, ele não tinha a menor ideia do que fazer.

Felizmente – ou talvez infelizmente –, ele foi salvo por um homem de jaqueta de couro que se aproximou do bar para pedir um drinque. Apressada, Emma tirou uma caneta do bolso e agarrou o braço de Julian.

— Estou trabalhando agora – disse, aumentando a voz para ser ouvida por sobre a música enquanto rabiscava algo na mão dele. – Liga pra mim qualquer dia desses?

Antes que Julian pudesse responder, ela já havia se afastado. Cameron olhou para o colega, boquiaberto e, seria seguro supor, um pouco enciumado.

— Como você fez isso?

Julian franziu o cenho para ele.

— Isso o quê?

— Ela, tipo, olhou para você e, no segundo seguinte, estava escrevendo o número dela na sua mão – Cameron parecia impressionado. – Cara, como você conseguiu?

Com um suspiro, Julian se apoiou no balcão, tentando entender o que havia acontecido.

— Ela me conhece.

— De onde?

Julian sacudiu a cabeça.

— Cara, acho que vou pegar um táxi para casa. Minha cabeça está me matando.

Era mentira, embora sua cabeça estivesse mesmo uma bagunça. Cameron assentiu, embora ainda parecesse curioso.

— Certo. Mas depois você precisa me contar essa história direito.

Assim que chegou em casa, Julian se trancou no quarto, andando de um lado para o outro. Tentou desenhar alguma coisa, talvez algo que lhe lembrasse Emma, mas tudo parecia ficar ruim demais, ou distante demais, ou errado demais. Ele não contou a Mark e Helen sobre o encontro no bar. Ainda não parecia real o suficiente.

Antes de dormir, Julian salvou o número que estava escrito em sua mão nos contatos de seu celular e passou longos minutos encarando a tela. Apesar disso, não teve coragem de apertar o botão.