Daredevil

Capítulo 8 - Training


Os cabelos finos e curtos do menino repousavam sobre o tórax coberto do mordomo. Traçando pequenas formas com a ponta dos dedos, o olhar de Ciel se fixava no nada, digerindo e processando tudo que ouvira. Toda a história, a marca, e as coisas que poderiam vir com isso. Afinal, na hora, tudo o que ele conseguiu ouvir foi o “Eu te amo”.

Já as mãos largas e finas do demônio descansavam sobre o cabelo esverdeado, brincando com suas mechas entre os dedos e lhe fazendo o que os humanos costumavam chamar de ‘cafuné’.

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O silêncio era profundo. Porém, não era um silêncio ruim. Era um vazio confortável, onde os dois corpos se aqueciam e davam tempo para pensarem sobre o que havia acontecido.

– Como as pessoas irão reagir à marca? – foi a primeira coisa que saiu da boca de Ciel desde o beijo, e o beijo depois, e o beijo que veio ainda depois quando eles pararam para respirar.

O adulto desceu a mão pelas costas cobertas de um tecido de linho fino. Levantou o corpo da cama vagarosamente, de apoiando pelo cotovelo, e o menino saiu de seu aconchego para sentar-se de pernas cruzadas na cama.

– Se o senhor não se importar, eu já havia feito alguns preparos. – o pequeno amo arqueou as sobrancelhas, deixando escapar um sorriso verdadeiro. Um sorriso que, desde a morte dos seus pais, apenas Sebastian lhe trazia.

Andou em passos apressados até a gaveta da cômoda de madeira, a mesma gaveta onde se guardavam as roupas de dormir de seu amo. Debaixo das camisas finas de linho e das cuecas cinza listradas, havia um pedaço de peno preto. Sebastian ofereceu sua mão ao garoto, que encaixou sua delicada palma entre os dedos compridos, uma ação que Ciel poderia até começar a chamar de rotina.

O mordomo o guiou até o largo espelho em um canto de uma das paredes de seu quarto. Posicionou o jovem senhor no meio dele, ficando atrás do menino. Soltou sua mão e segurou com as duas o acessório que estava em sua palma livre.

– Feche seus olhos – sua voz profunda disse. No fundo dela, era vagamente perceptível certa ansiedade, como a de uma criança quando vai mostrar um desenho para seus pais. Porém, o grosso de seu comando enchia os ouvidos de Ciel e causava arrepios em sua espinha.

Fez como foi pedido – ou até mesmo mandado – e fechou os olhos. Sentiu algo deslizar por sua testa, e depois se amarrar na parte de trás de sua cabeça.

– Pode abrir – repetiu a voz grave.

Abriu os olhos, porém só enxergou com um. O outro, como via no espelho, se encontrava coberto por um tapa-olho, como aqueles que piradas costumam usar. De um preto fosco, ao garoto passar a mão sobre ele, percebeu seu tecido macio e áspero, por cima do material firme que se encontrava dentro, e sobre seu olho.

– Charmoso, não? – disse o mordomo, agora sem conseguir esconder sua animação. O magnata parou para pensar, se olhou de novo e de novo no espelho, virou o rosto para os lados e por fim assentiu.

– De fato. – um pequeno sorriso brotou em seus lábios, ao perceber que o adulto havia preparado tudo isso para ele, e ele só. O jovem girou em seus calcanhares, ficando na ponta dos pés e envolvendo o pescoço do moreno com os braços finos. Aproximava sua boca dos lábios finos do adulto, já começando a fechar os olhos.

Quando alguém bateu à porta.

Recompôs-se rapidamente, ajeitando a blusa e limpando a garganta. – Pode entrar – disse, o mais sério que poderia.

Era Mey-Rin, trêmula, segurando uma carta branca e vermelha na mão. Ciel franziu o cenho, sempre todas as suas cartas eram guardadas e lidas pelo próprio Sebastian, e também organizadas e respondidas pelo mesmo. O que ela estava fazendo ali, o entregando qualquer coisa?

– É para o senhor... Da Rainha.