Dangerous

Falling


—Você tem fogo? –perguntei ao garoto.

Ele me olhou. Já estávamos no terceiro dia de aula e eu ainda não tinha falado com ninguém, sem ser Juniper e trocado poucas palavras com Rachel.

—Você fuma? –Ele me perguntou.

—Não, estou pedindo fogo para destruir a escola. –Falei, ironicamente, e ele me olhou com uma cara estranha. –Fumo, sim.

Ele riu. Sempre reparo nele, desde o dia no aeroporto. Ele era diferente, tinha uma beleza extraordinária, não sei explicar. Mas o ar misterioso que o garoto tinha me deixava um tanto curiosa.

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—Você não tem cara de quem fuma. –Ele disse, enquanto me passava o isqueiro.

—Ouço isso bastante, acredite. -disse. –E você por acaso tem um cigarro pra me dar?

Ele me olhou surpreso.

—Você me pede por um isqueiro e não tem cigarro? –ele falou enquanto colocava as mãos no bolso.

—Eu estava testando você. –Respondi, e ele me entregou um cigarro.

Acendi e senti o gosto de nicotina indo até meus pulmões, para depois exalar a fumaça para fora. O dia estava nublado, estando assim sem sol desde o primeiro dia de aula, talvez até antes.

Ficamos em silêncio, sem nem olhar um pro outro. Eu estava olhando para o céu e fitava algum lugar no horizonte.

—Então, nunca te vi por aqui. – “mas eu já” pensei. –Você é nova?

—Sim, entrei esse ano. –Respondi. –Qual é o seu nome?

Ele sorriu e tragou seu cigarro novamente. Ficamos em silêncio por um tempo, as nuvens de escuras no céu nublado ameaçavam uma tempestade, e eu já não aguentava mais esses eternos dias cinza.

—Percy. –Ele respondeu, quebrando o silêncio, ainda sem olhar para mim.

Sorri. Percy.Percy era um nome diferente, que me lembrava de mitologia Grega. Seu nome provavelmente era em homenagem a Perseu, filho de Zeus. Perseu. Eu poderia ficar repetindo seu nome o dia todo.

—Eu acho que essa é a hora em que você me diz o seu nome. –Ele afirmou, e eu olhei em sua direção, apenas para encontrar aqueles olhos verdes me encarando.

—Annabeth.

—Você é muito bonita, Annabeth. –ele disse, abrindo um sorriso que até então eu não sabia que um dia iria amar.

—Oh Percy, você realmente sabe como estragar tudo. –eu disse, evitando que seus elogios continuassem.

—O que? –Ele falou confuso. –Normalmente, todas as mulheres gostam quando as chamam de bonitas.

—Eu não gosto de clichês. Da próxima vez, venha com uma frase melhor. –arqueei as sobrancelhas e voltei a tragar meu cigarro, esperando uma resposta irônica do moreno.

Ele riu e deu sua ultima tragada no cigarro, sem olhar-me novamente. Senti-me um pouco sem noção, e não conseguia mais ficar ali e ser ignorada pelo garoto que acabara de conhecer, então resolvi voltar para o dormitório.

Passando pelo corredor, vi a garota pela primeira vez desde o dia em que chegara. Thalia Graceestava caminhando na direção oposta do que a minha, em meio a varias garotas da Mansão. Nunca imaginei que nosso reencontro seria nessa escola. Enquanto ela passava por mim, senti todo o mundo em câmera lenta. Ela poderia ser aquela que destruiria toda a minha reputação, tudo o que construí, ou poderia ser aquela que teria um pouco de misericórdia, ou talvez pena de mim. Enquanto passava ao meu lado, levantou seu dedo indicador e levou-o aos dedos em um gesto de silêncio, e deu um sorriso sarcástico para mim. Ela passou por mim, e eu não ousei olhar para trás. Soltei a respiração que até então não sabia que estava contendo, e tentei controlar meus batimentos cardíacos.

Senti o cheiro antes mesmo de chegar ao quarto, e esperei que não fosse real.

Quando abri a porta, peguei Rachel na situação, e meu coração gelou. Ela tossia e abanava o ar à sua frente, uma reação de surpresa para quem estava fazendo o que ela estava de fato fazendo. Engoli em seco e esbocei um sorriso fraco.

—Você está louca, garota? Dá pra sentir o cheiro lá do primeiro andar. –disse.

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Rachel olhou para mim com uma expressão confusa e depois começou a rir. O cheiro estava impregnado no quarto, e eu esperava que ninguém sentisse de fora.

—Qual é o problema? É o meu quarto...

—Nosso quarto. –corrigi-a

Nosso quarto,enfim, é o nosso quarto e ninguém mais entra aqui, porque não poderia dar uma relaxada?

—Se você quer relaxar, durma, não fume maconha dentro do dormitório da escola. Imagina se não fosse eu que entrasse por aquela porta e sim alguma monitora?

Ela me olhou, incrédula, e riu da minha cara.

—Tá, você é nova, vou dar um desconto. Sabe, Annabeth, as coisas funcionam de um jeito diferente aqui nessa escola. As monitoras preferem muito mais ganhar uma grana ou até um pega do meu fumo do que contar aos superiores. E, como você soube antes de entrar?

—Nunca poderia esquecer. –respondi, sorrindo com a doce lembrança.

—Então... –Rachel disse, estendendo o baseado em minha direção. –Você quer?

“Eu me encontrava sozinha no meu quarto. Alguns dos meus amigos tinham ido embora fazia pouco tempo, e minha mãe... estava por algum lugar da cidade fazendo alguma coisa relacionada ao trabalho. Decidi matar minha vontade e alimentar meu novo vicio. Liguei o som alto, que tocava uma música aleatória de Arctic Monkeys, me abaixei, estendendo meu braço para debaixo da cama, onde estava minha caixa de esmaltes. Bem, uma parte era uma caixa de esmaltes, mas todos os esconderijos tem um fundo falso. Puxei o fundo falso e dei de cara com meus brinquedinhos, meus vícios. Puxei uma pequena caixa onde estavam os baseados, peguei um e fechei tudo. O isqueiro, como de costume, estava em cima de minha escrivaninha, e eu acendi o baseado. Aumentei o som, e enquanto fumava, passeava pelo enorme quarto que eu tinha, dançando lenta e estranhamente ao som da música. Eu estava tão fora de mim que não percebi os barulhos. Não percebi os gritos dela. Não percebi a porta sendo escancarada tão bruscamente. O que me tirou dos meus devaneios foram os olhos. Ah, os olhos dela pareciam ser de outro mundo naquele momento. Eu ri. Até hoje não entendi o porque do riso, mas tento entender.

—Você... –minha mãe não conseguiu terminar a frase.

—Você não sabe mais falar,mamãe? O gato mordeu sua língua? –eu disse, zombando-a.

—Drogas, Annabeth? –Ela disse, com os olhos cheios de lágrimas. –Sério? Você já chegou a esse ponto?

Ela estava estranha, sussurrava coisas do tipo “o que eu fiz de errado?” e afins. Comecei a me sentir mal e um peso veio sobre mim.

—Eu estou falando com você. –seu tom de voz aumentou, ela agora estava aos gritos. –Qual é o problema que você tem? Você está desperdiçando tudo o que eu já fiz por ti, garota estúpida. Eu te dei tudo, uma boa escola, um bom ensinamento, um teto e comida todos os dias. Te dou tudo o que você pede. O que eu fiz de errado para você virar... Isso? –Ela falou com nojo, sem nem conseguir olhar na minha cara.

Eu ri alto.

—Você me deu tudo? Ah, claro, acho que eu estava com amnésia então. –disse. –Você só me deu coisas materiais, porra. Você não me deu nem um pingo de amor nesses últimos 16 anos caralho, eu estou cansada de seguir suas regras, estou cansada de você. Você deixou tudo isso acontecer na minha vida, isso é tudo culpa sua. Você só se preocupa com que eu vá bem na escola e tudo mais, mas não se preocupa com o que realmente importa: a saúde mental de sua filha. SUA filha, ou você esqueceu que é mãe de alguém? É tudo culpa sua, você foi um péssima mãe desde que pai morreu. Tudo, tudo é culpa sua. Você matou meu pai!

—Chega! –ela gritou. –Isso já seguiu por tempo demais, já deu Annabeth. De um jeito ou de outro você vai ter que aprender.

Engoli em seco. Quando ela falava isso... Não quis nem pensar. Antes que eu tivesse uma reação, ela puxou-me pelos cabelos e me tirou do meu quarto à força, me arrastando escada abaixo. Eu gritava para ela parar, para ela me deixar em paz, mas ela continuava me levando para lá. Comecei a chorar e nem sabia por que mais, já tinha chorado muitas vezes fazendo esse trajeto que já era automático as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Ouvi a porta sendo aberta e fui jogada na escuridão mais uma vez.

—Essa é a sua ultima chance, Annabeth. A última! –ela gritou. –Se você aprender direitinho dessa vez, talvez eu te poupe de alguns estragos.

Dizendo isso, ela bateu a porta com tanta força que senti as paredes tremerem. Encolhi-me e chorei por aquela tarde inteira e pela noite também. Quando o sol nasceu, consegui pegar no sono ali no chão mesmo, e acordei quando já estava anoitecendo. Eu estava morta de fome e não havia nada que eu poderia fazer para consertar aquilo. Lembrava-me exatamente onde ficava a mesa com livros e cadernos e a única lâmpada do ambiente, mas não queria nem chegar perto. Quando a noite caiu, ouvi a porta sendo destrancada. Quando ela foi escancarada, vi Daelly e comecei a chorar. Sai correndo para abraçá-la e decidi que essa seria a ultima vez que isso aconteceria. Nunca mais iria deixar aquela mulher me domar novamente, nunca mais.

Quando cheguei ao meu quarto, ele estava revirado. E o pior era que minha mãe achara o esconderijo. Meu pequeno lugar de vícios estava vazio.”

Que se foda. –eu disse para Rachel, pegando a droga da mão dela. –um só não vai me matar.

—O que não mata, engorda. –ela disse rindo enquanto eu tragava uma, duas, três, quatro vezes a maconha.

Eu me sentia mal. Me sentia observada. Me sentia ameaçada. Me sentia estúpida e talvez um pouco apaixonada.

Mas eu não me importava. Não naquele momento.