(Elsa)

Nós estávamos em casa quando quebraram o feitiço e todos recuperaram suas memórias. Eu estava em meu quarto, sentada na cama lendo O Diário de Anne Frank, quando houve uma luz que invadiu a cidade inteira e num flash eu recuperei toda memória de como tinha ido parar ali.

— Anna! Anna! Anna! — eu desci as escadas gritando pela minha irmã que assistia TV na sala.

Ela estava em pé, olhando pra mim e me esperando de braços abertos para abraçá-la.

— Elsa! — foi tudo que saiu de sua boca e nós nos abraçamos por longos segundos.

— Nós temos que sair daqui urgentemente. Nosso povo precisa de nós. Mas antes temos que descobrir quem nos prendeu aqui e ter uma conversinha séria.

Anna me segurou pelos braços e me levou até o sofá com a maior calma e delicadeza do mundo. Ela se sentou do meu lado e percebi que estava chorando. — Calma. Nós iremos. Mas tudo a seu tempo. E não vamos ser hostis porque eles são nossos amigos e tenho certeza que tiveram algum motivo. Agora eu só consigo pensar no Kristoff. Elsa... Nós éramos casados lá em Arendelle. Aqui ele foi meu namorado, mas... ele era meu marido. Elsa, ele é o amor da minha vida! E ele me trocou pelo meu melhor amigo!

Eu senti a dor nas suas expressões. Beijei sua testa e comecei a fazer um cafuné em seu cabelo solto, que estava jogado todo bagunçado sobre os ombros.

— Bom, pelo menos você começou a admitir isso a si mesma. Eu seria muito cruel se dissesse que eu te avisei?

Ela me olhou com grandes olhos e um biquinho que se formou involuntariamente. — Sim, seria.

— Então não vou dizer. — peguei sua mão e segurei bem forte com ambas minhas mãos. — Você vai se encontrar com o Kristoff e ter uma conversa séria com ele depois. Vê se agora que ele lembra de tudo ainda quer ficar com o David ou se foi fruto desse “transe” que a gente passou. Você ainda tem esperanças. Mas se o pior acontecer, deixe-o ir e fique livre dessa agonia que carrega. No começo, você vai ter que esconder, se esforçar pra não sentir. Mas nunca saberão. Essa tempestade vai passar, Anna.

— Obrigada. — ela se deitou em meu ombro. — Você é a melhor irmã mais velha do mundo.

— Eu sei disso. — apesar de ficar com pena, a tirei do meu ombro e a fiz olhar em meus olhos, precisava dizer algo sério a ela. — Mas agora que estamos conversando, preciso te contar uma coisa muito importante. — Anna arregalou ainda mais os grandes olhos. — Eu saí com o Hans enquanto era Teresa.

— Meu Deus! O Hans!? — ela quase deu um salto do sofá. — Caramba, o Hans. Peter. Não acredito que ele tentou me beijar na festa! — ela queixou-se sem eu imaginar que mais tarde ela me confessaria que não tinha sido a única tentativa e que conseguiu mais depois.

— E eu não acredito que ele conseguiu me beijar. — admiti inocente e se pensar muito, pensando ser a única a ter sido beijada por ele.

— O quê?

— O quê?

Ficamos alguns segundos nos entreolhando.

— Elsa, continua. — minha irmã me intimidou.

— Eu tentei te contar antes... — desviei o olhar envergonhada. — Mas você não quis me ouvir. Eu ia te dizer que conheci um cara na biblioteca. E que descobri que estudava com você quando já tínhamos marcado um encontro. Fiquei com medo de envolver com um amigo seu, mas resolvi me arriscar mesmo assim. E Anna, dessa vez eu tenho provas de que Hans é muito perigoso! Digo, mais do que sabíamos. Eu já estudei sociopatia em uns livros uma vez. E ele simplesmente apresenta todos sinais de um sociopata. Narcisista, mentiroso, manipulador, e ele é incapaz de sentir qualquer coisa por alguém. Mas se mostra extremamente simpático e conquista qualquer pessoa ao seu redor pra ter o que quer.

— Caramba, isso é horrível. Mas nós já sabíamos da maioria dessas coisas.

— Sim, Anna. Quando ele tentava roubar nosso reino. O que muito babaca ganancioso e esperto podia tentar fazer. Mas eu estou falando de relações humanas. Eu dialoguei com ele por horas, ouvindo tudo que ele tinha a me dizer e eu estou te afirmando: Hans ou Peter, como quiser, é um sociopata. Ele manipula as pessoas e é incapaz de ter sentimentos como amor ou compaixão. Ele até inventou pra mim que era seu ex-namorado e inventou histórias sobre você, achando que eu não te conhecia. Eu não o dispensei, porque fiquei com medo, mas me afastei gentilmente e o deixei pensar que continuo interessada.

Anna corou. Ela me olhava nos olhos, mas murchou-se. — Elsa, eu tenho algo a te contar também. Eu também beijei ele. Mais que isso, tentei levá-lo pra cama. Mas ele me rejeitou. Não, na verdade, ele mais que me rejeitou. Ele entrou em pânico. E ficou extremamente ofendido e repulsivo de repente. Ele me humilhou... Foi terrível. — seus olhos estavam lacrimejando. Limpei debaixo de um de seus olhos.

— Espera. Foi por isso que chegou aquele dia em casa toda estranha e me abraçou sem falar nada?! Você devia ter me contado! Eu achei que era coisa do Christopher. — gritei um pouco exaltada.

— Me desculpa, Esa. — Anna me chamou pelo meu apelido em Storybrooke mesmo depois de lembrar meu verdadeiro nome, mas não foi estranho, foi íntimo. — Por favor, não fique pensando mal de mim. Eu não queria agir assim, mas eu estava meio confusa. Meio não! Super confusa! Eu achei que pudesse estar amando ele. E eu... eu estava carente por causa do Chris e...

— Não vou julgar você, maninha. — respondi firme e confiante, tentando acalmá-la. — Mas isso é novo. Sociopatas tendem a se levar pelo prazer, sendo insensíveis a qualquer consequência que isso possa causar. Você sabe de qualquer experiência sexual dele? Com outras pessoas? — Anna sacudiu a cabeça negativamente. — Você acha que ele se sentiu assim por não ter tido interesse em você ou em sexo?

— No começo, achei que o problema fosse comigo. Mas depois ele me mandou um monte de mensagens pedindo desculpas. Disse que ainda era apaixonado por mim e queria se redimir, mas eu não devia pedir sexo a ele de novo.

— Engraçado. Agora que comentou, lembro que ele deixou bem claro no nosso encontro que não estava mesmo disposto a fazer sexo, mas segundo ele, era por prudência e não tinha costume de fazer sexo com quem não conhecia. Mas Anna, eu acho que Hans é assexual. Ou isso ou ele teve uma frustração sexual muito grande. Mas acho que seja a primeira hipótese mesmo. Acredito que ele possa até ser virgem. Um sociopata muito perigoso e que machuca as pessoas mas é incapaz de fazer sexo. Curioso. Mas de qualquer forma, temos que achá-lo e levá-lo para um local seguro, onde não possa manipular e ferir ninguém.

— Por Merlin, Elsa! Você não tá pensando em matar o coitado, né?!!!

— Que mané, matar, Anna, deixa de ser doida, menina! Mas de coitado não tem nada. Lugar seguro, foi o que eu disse. Uma clínica pra ele se tratar, não sei. Algo assim só vamos encontrar aqui nesse mundo. Fora de Storybrooke, de preferência. Vai ser até melhor voltar pra Arendelle sem ele.

Naquele dia, fui atrás de Regina Mills. O que quer que tivesse acontecido conosco, ela com certeza tinha pelo menos uma parcela de culpa. Não a achei em seu escritório na prefeitura. Na verdade, a prefeitura estava completamente aberta e abandonada, qualquer um poderia entrar lá e fazer o que bem entendesse. A cidade toda estava um caos.

No dia seguinte, um carro de som passou pelas ruas de toda a cidade, anunciando um discurso que Regina iria fazer a todos cidadãos de Storybrooke que deveriam comparecer ao centro da cidade às 15hs.

Estava lotado. Toda a cidade ou quase toda, estava lá. Regina chegou pontualmente e subiu num palco improvisado. O som de seu salto em passos rápidos demonstrava o nervosismo da prefeita.

— Cidadãos de Storybrooke. — ela disse pegando num microfone preso a um suporte e ajustando-o à sua altura. Um barulho desagradável de uma falha técnica seguido de um demorado eco em loop, soou pelos próximos segundos, fazendo Regina semicerrar os olhos e fechar a cara, incomodada pela proximidade das caixas de som. Mas brevemente o problema foi corrigido. — Eu gostaria de começar desejando-lhes uma boa tarde. E um pedido de desculpas. — Vários murmúrios começaram nesse instante e algumas pessoas mal educadas a vaiavam no meio do tumulto. — Eu sei que tudo que foi feito pode parecer injustificável a um primeiro olhar. Aliás, acredito que seja mesmo injustificável. Não há proporcionalidade, se colocarmos numa balança... — ela simulava uma balança com as mãos — hã, entre o que houve e a solução que demos. Mas vocês merecem sim uma justificativa. Ou melhor, ao menos uma explicação. Pois bem. Nossa cidade sofreu um massacre. Nós perdemos 14% da nossa população. Vocês acham que 14% é pouca coisa? Todos nós perdemos um vizinho, um amigo, um irmão. Se você não perdeu, ao menos conhecia alguém que perdemos. E você tem sorte de estar aqui hoje. Não bastasse isso, a Rainha Elsa e sua família... — ela fez uma pausa pra nos procurar na multidão e logo me encontrou ali sozinha, porque fiz questão de ir e de estar bem à frente. Regina me olhou diretamente nos olhos e alguns curiosos passaram a fazer o mesmo. — ...veio humildemente nos ajudar em uma missão de resgate, mas que entretanto foi falha, impossibilitando a mesma de voltar para a casa com sua família. Como bem podem se lembrar agora, estamos sem qualquer forma de criar qualquer portal para outros mundos. Sem nenhum recurso para ajudá-los e temendo um grande período de dor e luto em Storybrooke, formamos um Conselho em busca de uma solução plausível. Chegamos a um consenso de que seria mais fácil de lidar e seguir em frente se todos pudessem se esquecer de tudo isso e começar uma nova vida. — Uma série de xingamentos e provocações começou nesse instante. Entre eles, algumas pessoas faziam questionamentos razoáveis. “E quem diabos fazia parte desse conselho?”, “Por que não fomos consultados a respeito disso?”, “De quem foi essa ideia estúpida?” e “Você acha ético decidir isso por nós? Sem nos dar uma escolha?”. Regina ajeitou seu cabelo por trás da orelha e limpou uma gota de suor na testa, bastante nervosa. — A todos vocês, nós devemos desculpas. Eu lhes devo desculpas. Especialmente à Elsa, Anna e Kristoff, que não tinham nada a ver com isso e acabaram na mesma situação que todos nós. Inclusive, expresso a eles além do meu pedido pessoal de desculpas, minha eterna gratidão por terem feito tudo que fizeram pela cidade. E acreditem nas minhas palavras, meu pedido de desculpas é sincero. Antes de me dispor a responder quaisquer dúvidas que tenham e lhes dar quaisquer informações que queiram a respeito do que aconteceu e da espécie de “maldição” que criei, gostaria de lhes informar que todos terão direito a acompanhamento psicológico com o Dr. Hopper, custeado por... — um homem a interrompeu, zombando: “Custeado pela prefeitura? Você quer dizer com nosso próprio dinheiro, dos impostos?” — Custeado por mim mesma, Regina. — ela respondeu nervosa e me perguntei se ela realmente teria todo dinheiro necessário para pagar acompanhamento psicológico para todos caso a cidade toda resolvesse mesmo buscar a ajuda do Dr. Hopper. Mas já imaginava que não, as pessoas não queriam um psicólogo, as pessoas queriam a cabeça de Regina. — Além disso, as famílias que perderam alguém, receberão suas devidas indenizações. Além disso, estarei disposta a atender-lhes pessoalmente para lhes tirar quaisquer duvidas, semanalmente em meu escritório, durante meu expediente de trabalho. Obrigada. Agora, estou aberta a perguntas, críticas ou sugestões. Deixo a vocês a oportunidade de dizerem qualquer coisa. — Eu levantei minha mão. — Pois não, Elsa? Você pode subir aqui se quiser. — ela sugeriu com um sorriso tímido que escondia uma aflição enorme.

Imediatamente fiz com que uma escada de gelo começasse a surgir em minha frente e as pessoas foram abrindo espaço. Eu subi calmamente e sem expressar absolutamente nada em meu rosto. Um homem com um crachá o identificando como “Sidney Glass”, surgiu de algum lugar, me trazendo um microfone. — Boa tarde, Regina. — eu disse assim que peguei o objeto entregado a mim. Regina engoliu em seco. — Eu aceito seu pedido de desculpas. — Alguns “O quê!?”, “Como é que é?!”, surgiam entre a multidão. Vi de relance Emma, Snow White e alguns funcionários do Granny’s cochichando algo, surpresos. — Eu não vou dizer que concordo com sua atitude ou com esse Conselho. Mas sou capaz de entender por quê fizeram isso. E pra ser brutalmente sincera, fico aliviada de que por esse tempo em que estive aqui sem poder voltar pra casa, pelo menos pude viver uma vida normal ao invés de ficar desesperada com meu reino sem governante e a situação do meu povo. Entretanto... — dei alguns passos em direção de Regina. — Eu exijo saber o que está acontecendo em meu reino agora. Você também tem magia, sei que pode me ajudar e quero que em compensação do que fez, faça tudo que estiver ao seu alcance para que eu possa ver o que está acontecendo com meu povo e se possível a chance de falar com eles, enquanto trabalhamos numa forma de voltarmos pra lá. Aqui não é meu lugar. Arendelle precisa de mim.

Regina estava boquiaberta e visivelmente aliviada. — Muito bem, Elsa. Eu estou agradecida pela sua compreensão, de coração. Saiba que vou sim fazer tudo que estiver ao meu alcance para conectá-la com seu povo de novo. Inclusive já lhe adianto que não será tão difícil te mostrar de logo, a situação atual do seu reino. Podemos nos encontrar em minha casa mais tarde e farei o feitiço necessário.

Eu concordei com a cabeça e notando a mão estendida de Regina, a peguei e sacudi num cumprimento formal, como um acordo selando as pazes. Muitas pessoas nos vaiavam, mas eu estava certa e segura de mim mesma, satisfeita em ter tomado a melhor decisão naquele momento. Regina era uma mulher cética e apesar dos erros do passado e do presente, tentava ser justa. De nada adiantaria agir com violência ou ódio contra ela ou contra aquela cidade. Eu considerava muitos dali meus amigos, especialmente agora depois de ter vivido como Teresa e conhecido outros moradores de Storybrooke. Estava positiva de que tudo ficaria bem e em breve acharíamos algum meio de voltar pra casa, se trabalhássemos juntos.

(Regina)

Acertar as coisas com Elsa foi um alívio. Eu estava surpresa com tamanha lucidez e compreensão daquela mulher. Depois de encerrado o discurso, conversamos novamente, em particular, e combinamos de nos encontrarmos naquela noite, em minha casa.

Agora eu tinha outros negócios a resolver. Tinha outro pedido de desculpas a fazer, esse, muito mais íntimo e difícil. Tinha muito medo do tipo de reação que teria de Tinker Bell, após tê-la internado como louca.

— Como você teve coragem!? — ela urrou agressiva assim que a porta de sua espécie de cela foi aberta. — Como pôde fazer isso comigo!? Comigo!

— Tinker Bell, eu... — antes que pudesse dizer mais alguma coisa, fui estapeada na cara. Eu cerrei os punhos com muita força e contei até três para não fazer nenhuma besteira. “Está tudo bem”, disse a mim mesma em pensamento, “Eu mereci isso”.

— Você vai me libertar agora. Você vai me libertar agora ou eu... eu... Eu vou fazer coisas terríveis! — ameaçou a fadinha.

— Eu vou. — respondi segurando-a gentilmente nos braços. — Mas preciso me explicar a você e pedir desculpas primeiro.

Ela tirou minhas mãos de seus braços e deu as costas, andando até uma poltrona ao fundo, onde se sentou. — Sou toda ouvidos. — disse arqueando uma sobrancelha, enquanto sua mão buscou uma bandeja ali próxima num criado mudo e pegou uma maçã.

Respirei fundo. — Eu tive muito medo quando você recuperou sua memória. Eu não pensei direito e agi impulsivamente, fazendo o que precisava para garantir que você não “acordasse” mais ninguém do meu feitiço. Eu sequer queria sua internação televisionada, mas o canal da cidade ignorou meus pedidos.

— Eu apareci na TV como louca!!!!? — ela quase se engasgou com a maçã. — Que história é essa, Regina!?

— Sim, você apareceu, mas agora todo mundo que se lembrar daquilo, saberá que pelo contrário, você só ficou sã antes deles. Como eu estava dizendo, fiz o que fiz porque precisava impedir um efeito dominó na cidade, antes que tudo fosse por água abaixo mas... — dei de ombros — Aconteceu de qualquer jeito. Eu tentei fazer tudo que podia pra te deixar confortável aqui e eu sei que nada disso ameniza a situação, mas...

— Tá brincando? — ela abriu um sorriso sincero, levantando-se da poltrona num pulo. — Eu estou comendo melhor que na minha casa, alliás, estou comendo até demais, eu não gostei disso, tenho canais pagos pra assistir quando eu quiser, a qualidade HD é incrível, a cama é melhor que a minha e amei essas revistas que deixou aqui, super atualizadas, tô híper feliz que verde é tendência esse ano. — a loira corrigiu sua postura, fechando o sorriso. — Mas eu não vou te perdoar por ter me deixado sem internet e quase ter me deixado gorda.

Comecei a rir e ela teve que se segurar pra não rir também. — Você seria bonita ainda que gorda, uma coisa não anula a outra. — eu sorri confiante. — E internet já seria demais, já que a intenção era justamente isolar você da sociedade. Falando nisso... — eu também mudei minha postura e parei de sorrir. — Devo pedir a você que nunca conte a ninguém sobre isso. As pessoas já estão irritadas o suficiente comigo. Quero que se alguém algum dia perguntar a você sobre o que foi exibido na TV, invente qualquer desculpa sobre um mal entendido e não me envolva nisso. Diga que tudo deu certo, foi pra casa no final das contas e que está processando o canal. Tudo bem?

— Negociável. — Tinker Bell respondeu andnado de um lado pro outro com as mãos na cintura. — Eu quero levar pra casa tudo que está dentro desse quarto. Posso? — ela sorriu como uma criança chantagista, me fazendo cair na risada de novo.

— Tudo bem, Tinker. Você pode. — concordei. — Mas não vou continuar pagando esses canais pra você na sua casa a vida toda. A TV é toda sua.

— Aaaaah Regina! Qual é! — protestou. — Você me deixou mal acostumada. E não esquece que quem precisa de mim mentindo é você.

— Ou eu posso simplesmente mantê-la aqui e tirar-lhe tudo isso. — brinquei, mas ela não entendeu como brincadeira e fez uma cara assustada. — Te dou a senha da minha Netflix e não se fala mais nisso.

— Acordo feito! — minha ex-melhor amiga do passado cruzou os braços e sorriu se sentindo vitoriosa.

Eu saí de lá refletindo sobre como Tinker Bell era uma pessoa incapaz de manter ódio em seu coração de forma invejável. Já tinha tido seus ressentimentos por mim antes e superado, imaginava que agora fosse ser muito mais difícil e não foi. Ela continuava bondosa e com um ar de doida. A pureza em seu ser me lembrava uma criança.

Por um momento me imaginei com uma criança de personalidade forte e divertida, parecida com a dela. Sorri, enquanto entrava no meu carro. Não era impossível, afinal, graças ao presente que minha mãe deixou pra mim, eu não era mais estéril. Mas era bobagem, de qualquer forma. Eu não tinha tempo para cuidar de uma criança de novo e já tinha meu principezinho que estava virando um homem. Já tinha muito o que me preocupar com ele questionando se a SBU* atendia mesmo suas expectativas.