Dad's Boyfriend

As risadas do Neal


(David Nolan POV)

Naquela semana, todos os dias seguintes foram frios e chuvosos. No último dia, a chuva estava tão forte que não teria como Christopher ir embora a pé.

Estava receioso de ter que levá-lo em casa. Essa era proximidade que eu dispensaria. Além disso, era sexta feira, meu dia de pegar o Neal com a Mary Margaret e levá-lo comigo. Levar Christopher em casa só iria me desviar do caminho e me fazer atrasar, o que seria mais um motivo para Mary Margaret e eu brigarmos. Mas eu não poderia deixar aquele garoto ir andando com um temporal daqueles.

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O silêncio foi quebrado quando meu celular tocou. “Asked a girl what she wanted to be, She said ‘Baby, can't you see? I wanna be famous, a star on the screen’”, era a música Drive My Car dos Beatles que tocava. Emma estava ligando pra mim. — Cara, você curte Beatles? Eu amo essa música! — Chris exclamou animado, mas eu só sorri pra ele e atendi a ligação.

— Oi Emma, pode falar.

— Ei pai. Tudo bem com você? Eu estou preocupada porque tem passado muito tempo sozinho, isso é ruim. Pensei em sair com você hoje e te distrair um pouco, mas veio esse temporal e...

— Emma, para com isso. Claro que está tudo bem. Estou exatamente como quero estar, obrigado. Já estou prevendo que vai se oferecer pra me ajudar na delegacia de novo só pra ficar me enchendo com aquela falação de me permitir ter alguém na minha vida de novo. Eu não quero. E olha, eu tenho um estagiário aqui, e ele me dá toda ajuda que eu preciso. Continue sendo a faz tudo da Regina que é o que você faz de melhor.

— Pai!? O que deu em você? Larga de ser grosso, eu só estou tentando ajudar você! E foi você que me disse que trabalhar com Regina seria melhor pra mim. Sabe que não sou uma faz tudo, eu... é, eu faço um bocado de coisas, mas me sinto bem com isso, gosto de ajudar. E além disso, sou vice-prefeita no lugar do Glass. Poxa pai, devia estar feliz por mim. Ganho mais que nós dois ganharíamos juntos na delegacia e sabe disso.

Christopher estava me encarando sério, querendo ler através de minhas expressões, na tentativa de descobrir do que estávamos falando. Ele parecia ansioso pra perguntar algo, como se só tivesse me esperando desligar o telefone pra isso.

— Não estou sendo grosso, filha. Desculpa. Desculpa, eu não estou com a cabeça no lugar hoje. Obrigado por se preocupar, tá? Eu juro que tô bem. Tenho que desligar, estou saindo pra buscar o Neal. Nós combinamos depois de sairmos eu, você e o Neal, ok? Te amo, filha. Boa noite. — e desliguei enquanto ela parecia juntar ar pra falar alguma coisa.

Como eu esperava, Christopher me fez uma pergunta assim que desliguei o telefone. – Por que chama essa Emma Swan de filha? Ela não tem idade pra ser tipo... sua namorada?

Dei um suspiro bem longo antes de lhe responder. — Longa história, Chris. Eu realmente considero ela como se fosse uma filha pra mim, e minha ex-mulher também. Inclusive nos tratamos como pai e filha. Vem, vou te deixar em casa. – e peguei as chaves do carro.

— Ué, mas isso não vai te desviar do seu caminho? Você não precisa, David.

— Se eu não fizer isso, você vai ficar esperando esse “pé d’água” passar e não vai embora. Vamos. — eu disse pegando minha jaqueta e juntando as coisas para ir embora. Ele fez o mesmo. – Se importa se eu pegar meu filho antes?

Ele respondeu umas três vezes que não seria problema algum e fomos para o carro. Dirigi até o loft de Snow sem trocarmos uma sequer palavra. Estava temente de que fosse perguntar mais de Emma e eu não conseguisse pensar em nada plausível para explicar. Mas ele não perguntou. Assim que chegamos lá, pedi pra que ele ficasse no carro e eu desci rapidinho pra não tomar muita chuva.

Quando ela abriu a porta, ficou brava por eu não ter nenhum guarda-chuva, e foi buscar um com o Neal no colo, brava com a ideia de que eu molharia o bebê. — Não esqueça do remédio dele às 21hs! Em ponto David! — ela disse quando voltou com um guarda chuva na mão.

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— Papai! — Neal gritou todo fofo, estendendo seus bracinhos pra mim.

— E alguma vez esqueci de cuidar do nosso filho? Para com isso, Snow. – peguei o garotinho no colo e o segurei com uma mão, pegando o guarda-chuva na outra. – Vem cá gatão do papai! Amanhã vamos construir um castelo de areia enorme no parque com a Emma, você quer? Dessa vez você que vai ser o rei, eu prometo! — O pequeno sorriu e grudou em mim num abraço que me enforcou. – Ai filho, calma, tá me machucando! — disse entre risos.

Recompus a postura ajeitando ele e me despedi de Snow.

— Chris, pode abrir a porta pra mim? — perguntei percebendo pelo vidro que minha ex-esposa ainda observava da porta, curiosa.

—Claro! — Chris respondeu imediatamente abrindo a porta pra mim.

— Oi garotão! — ele disse para Neal bagunçando o cabelo dele, assim que entrei. E Neal respondeu com um “Oi” um pouco tímido para o desconhecido.

— Chris, então... — eu comecei dizer ligando o caro. Tecnicamente, o Neal não deveria andar na frente de um carro porque é muito pequeno, ele devia andar de cadeirinha e atrás, mas a camionete só tem bancos frontais. E eu deixei a cadeirinha na delegacia pra você poder se sentar. Vai ter que levar ele pra mim no seu colo. Isso está errado do começo ao fim, mas não se preocupe, a autoridade da cidade está bem aqui e não vai nos multar ou nada do tipo.

Nós começamos a rir e Neal riu também, sem nem entender o que estava acontecendo.

Arranquei o carro e saímos dali, rumo à casa de Kristoff. Digo, “Christopher”. Neal ficava se virando para olhar para Christopher e ficava rindo da cara dele o tempo todo. Este acabou por achar engraçado e ficou brincando com o garoto e fazendo caretas pra ele. Eu olhava pros dois brincando e acabava rindo também.

— David, você chama sua ex-mulher por apelidos? — ele disse quebrando o silêncio. Fiquei completamente desconfortável.

— Hã? Como assim?

— Parece que você chamou ela de “Snow” ou coisa assim. O que significa? — a petulância dele me incomodava muito.

— Não, eu não chamei não. — eu estava sério e olhando fixamente para a rua à minha frente.

— Sim, você disse “Para com isso, Snow”.

— Você entendeu errado. Eu disse “Para com isso, ok?”. Vai ver botei entonação demais nesse “ok” pra entender isso. Eu não tenho nada além de respeito pela Mary Margaret, não a chamaria por apelidos. — não sei por que julguei necessário expressar isso, eu só tinha que deixar ele pensar que tudo era perfeitamente normal na cidade e que Mary Margaret era uma pessoa comum como qualquer outra. Mas além de prevenir que entendesse que as vezes a chamo por um nome de contos de fadas, quis deixar claro que não tínhamos nada mais um com o outro.

Chris e Neal continuaram brincando, e depois de um tempo, Chris percebeu que Neal imitava a risada dele e em seguida gargalhava. Ele se fingia de bravo e depois riam juntos. Ou seja, estavam rindo o tempo todo.

— Christopher, você mora com seus pais? — perguntei estragando a brincadeira deles. — Nunca me falou deles.

— Ah, sim, — ele respondeu parando de tremer meu garoto que ainda não tinha parado de rir — moro, mas eles estão viajando, estão no México. Tem uma senhora cuidando em mim desde então.

— Desde quando eles estão viajando?

— Nossa. Agora que você falou isso e parei pra pensar... que estranho, não consigo me lembrar da última vez que vi eles, parece que foi há tanto tempo. Eles estão de férias no México desde que eu me lembre.

— Típico. — e ri da ironia da situação.

— O que é típico?

—Ah não, nada. Estou com o pensamento longe.

As regras da famosa maldição também se aplicavam a ele e não tinha uma história familiar para se lembrar. A senhora era provavelmente outra pessoa sozinha em Storybrooke que serviu como uma emenda, uma desculpa para a existência de sua nova pessoa. Com Hans e Anna devia acontecer algo parecido também.

A chuva engrossou em questão de segundos. Começou um barulho infernal de vento, chuva forte e trovões. Freei bruscamente quando uma árvore da calçada despencou bem à nossa frente. Nós levamos muito susto e Neal começou a chorar.

— Chris, tá ventando muito e essa região tem muitas árvores. É perigoso passar por aqui. Daqui posso dar uma “rézinha” e fazer uma conversão que nos leva à pousada da Granny por um caminho mais seguro. Você fica lá comigo até o tempo melhorar, pode ser? — eu disse atropelando as palavras, já dando a ré antes mesmo que ele pudesse responder. — Pode ligar pra essa senhora que cuida de você e avisá-la?

— Sim. Sim. Claro. – ele respondeu um pouco assustado, quando eu já estava virando à direita, cantando os pneus.

Quando nós chegamos, ele me ajudou com a operação Neal-Porta-Guarda-Chuva. Assim que ficou com as mãos livres ele ligou para a tal senhora. Pude ouvir a velhinha apavorada do outro lado da linha, dizendo que ficou com medo assim que começou a tempestade e que deu um jeito de pedir carona pra um vizinho de Chris e ir pra sua casa. Era até melhor porque ele não precisava se preocupar em chegar tarde e ter que acordar a mulher.

Entramos na pousada e ele não quis me entregar o Neal de jeito nenhum. E Neal também não parecia nada interessado de largar Chris, que o carregava de cavalinho. Destranquei minha porta e entramos na minha “fortaleza da solidão”. Falei pro Chris pegar um filme pro Neal na caixa de DVDs dele, que estava na estante. Fiz sanduíches naturais e levei pra sala com copos de suco de laranja pra gente. O Neal já tinha comido, então só coloquei um pouco de suco no copinho especial dele.

Tinha um colchão jogado no chão, e Christopher e o menino estavam deitados nele assistindo um filme da Tinker Bell quando cheguei com o lanche. Ele levava jeito com crianças pelo que eu estava notando. A paixão dos dois foi mútua, pareciam amigos de longa data. Neal via ele como um amiguinho da idade dele, só que num corpo de adulto. Eu estava vendo uma criancinha e um crianção vendo filminho infantil juntos. E achei a coisa mais linda.

— Ei Christopher. Fiz pra você. — disse lhe entregando uma bandeja com o sanduíche e o suco.

— Opa, valeu David! Valeu mesmo. — ele respondeu animado, e voltou-se para o filme, sem piscar. Estava até engraçado vê-lo tão interessado no filme.

— Posso me juntar a vocês? — me sentei na beirada esquerda do colchão segurando a bandeja no colo. Eles nem prestaram atenção em mim. Eu fiquei sem graça porque Christopher ficou no meio, com Neal deitado em seu braço, na direita. — Ei, coloca o Neal aqui no meio, quero ficar do lado do meu filho! — acrescentei com um riso.

— Ah não, seu filho é muito fofo, vou roubar ele pra mim. — Chris respondeu em tom de brincadeira, arrancando de Neal outra gargalhada.

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— Do que você está rindo, mocinho? Posso dar você pro "tio" Chris então? — eu estava certo de que ele responderia negativamente, como de costume. Sempre dizia que não podia dar ele pra ninguém.

— Pode. — Neal disse rindo da minha cara.

— Ah é? E você vai ficar sem o papai? — eu estava vermelho e com um pouco de ciúmes já. Neal mal tinha ido pro meu colo, só queria saber do novo amigo.

— Não. Fico com papai e com Chris e com mamãe pra mim. E com Emma. — o menino respondeu inocentemente.

Só sorri pra ele e fiquei na minha, porque crianças da idade dele podem falar coisas desagradáveis sem querer, e fiquei com medo de que ele pudesse causar algum embaraço para mim ou Chris.

Antes que eu pudesse perceber, meu pequeno estava dormindo. — Ei, ei. — cutuquei Christopher – Ele dormiu, olha. — e ri de babão.

Christopher pareceu incomodado porque estava seriamente focado no filme, mas assim que viu começou a sorrir também. — David, seu filho é muito lindo. Quero ter um igual com a Juliet um dia.

— Vou levar ele pra cama. Licença. — me levantei e passei uma perna por cima dele, ficando com uma perna de cada lado de Chris. Peguei o menino nos braços com cuidado para não acordá-lo e o levei pra cama. O espaço que eu alugava ali era pequenininho, mas bem organizado, de forma que coubesse uma cama para meu garoto ao lado da minha, que inclusive, era de casal. E ainda tinha sala, banheiro e cozinha espaçosos, apesar de serem ambientes pequenos.

Eu fiquei alguns segundos ali olhando ele dormir. Adorava admirar o quão lindo meu filho ficava acordado, dormindo, em pé, sentado, deitado, ou como quer que estivesse.

— Christopher, o tempo se acalmou agora, quer que eu te leve em casa? Chris? Chris? — eu me surpreendi ao tentar falar com ele voltando à sala e perceber que também tinha pegado no sono. Aquele não dava pra pegar no colo e levar pra cama.

Fiquei sem saber o que fazer a princípio, mas afinal, o dia seguinte era um sábado e ele não precisava voltar pra casa aquela noite porque a senhora que morava com ele já tinha ido embora. Fiquei com dó de ter que acordar ele. Busquei uma coberta no meu quarto e coloquei sobre ele, com cuidado. Eu ia voltar para o meu quarto e me deitar também, mas como o tempo estava bom, dava pra ligar a TV no Netflix e assistir alguns episódios de Supernatural até o sono chegar. Eu ameacei sentar no sofá, mas aquele colchão realmente parecia confortável. Além disso a coberta era muito grande, então roubei um pedacinho pra mim, já que continuava frio.

Eu fiquei sentado com a coberta jogada por cima do corpo, mas a vontade de deitar estava me tentando. Só não queria deitar ao lado dele por medo de que acordasse e achasse estranho. Mas ele estava num sono tão tranquilo. Peguei então algumas almofadas, e me deitei com ele, arrumando melhor a coberta. Eu já tinha assistido uns dois episódios e estava tudo normal, até que ele virou pro meu lado e sua mão segurou meu braço. Fiquei sem saber o que fazer. A mão dele estava muito fria. Sem pensar direito, coloquei minha mão mais livre sobre a dele, com a intenção de esquentá-la. Ele começou a me segurar mais forte, estava sonhando com alguma coisa.

Peguei o controle, e desliguei a televisão. O escuro e o silêncio tomaram conta do ambiente. Senti uma repulsa tão grande pelo que estava fazendo, que me levantei bruscamente. Corri pra cozinha e acendi a luz. Ainda faltavam alguns minutos pro remédio do Neal, mas decidi que levaria naquele instante mesmo. Levantei a cabecinha dele e coloquei o copinho de remédio em sua boca, porque ele geralmente tomava “meio dormindo”, mas ele acordou. Ele olhou pra mim, arqueou as sobrancelhas, certificando de que eu não era nenhum personagem malvado dos desenhos que ele assistia, querendo sequestrar ele, e então bebeu o remédio.

Eu estava me levantando pra sair mas ele me chamou. – Papai...

— Oi filho. Pode falar.

— Por que você mentiu pro seu amigo? Você chama a mamãe de Snow. Ele não pode saber? — a carinha dele era de indignação. Eu nunca tinha o visto assim antes.

Eu iria responder, mas ele pegou no sono de novo. Dei um beijo na testa dele e saí, rumo ao babanheiro. Nunca consegui dormir sem escovar os dentes. Enquanto escovava, pensei no que Emma tinha me dito mais cedo. Talvez eu não precisasse de um envolvimento romântico com uma mulher. Talvez uma amizade de um jovem como o Chris, pudesse me ajudar. Eu não estava mais me sentindo solitário. Talvez nem mesmo fosse continuar criando um escudo pra isolar as pessoas.

Enxaguei a boca. Fiquei me olhando o espelho por alguns segundos, perdido em pensamentos. Teria que ligar pra Emma na manhã seguinte pra levarmos o Neal ao parquinho se o tempo tivesse bom, afinal, tinha prometido pra ele, mas ainda não tinha combinado nada com ela.

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