(DES)EDUCANDO Uma Princesa

Capítulo 26: The Hangover - part II




Bella

[...]

Não sei depois de quanto tempo, eu acordei com um susto. Eu ainda estava na casa do Jacob, ele ainda estava mexendo em meu cabelo. E olhava para mim de um jeito tão bonitinho! Eu poderia até beijá-lo, se não tivesse sido impedida por uma onda de náusea. Fiz uma careta.

– O que foi? – ele perguntou.

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– Náuseas. Acho que... tem algo querendo sair de mim... não é de um jeito agradável.

Ele riu e com muito cuidado, se levantou. Tirou a garrafa vazia à qual eu estava firmemente agarrada, não que eu tenha notado, e me pegou em seu colo.

– Vamos, eu vou cuidar de você agora. Como você se sente?

Fechei os olhos enquanto ele andava comigo pela casa, porque estava me dando tontura. Minha cabeça estava pesada e eu tinha muito sono. E aquela náusea infernal.

– Ótima – sorri torto. – Não sinto nada no meu corpo. Minha língua está dormente. E eu acho que vou vomitar em cima de você, tipo daqui a cinco segundos. Ou menos.

Ele riu baixinho enquanto abria a porta do banheiro. Colocou-me com cuidado perto do vaso, e ali mesmo eu coloquei tudo para fora. Meu corpo se sacudia em espasmos violentos e eu suava frio, surpresa por não ter colocado fígado, rins, pulmões, coração, estômago e todos os meus órgãos para fora junto com toda a bebida. Eu tentei afastá-lo por mais de uma vez, mas ele não se moveu. Ele tinha dito que ia ficar ali e o fez.

Quando eu não aguentava mais nem respirar direito, eu parei. Também, não havia o que mais colocar par fora. Eu estava muito fraca. Com a cabeça entre os braços, eu tossi uma última vez.

– Bella? – ele me chamou baixinho.

– Hmm... – gemi em resposta.

– Você acha que ainda vai vomitar mais? Você está me deixando preocupado.

Sem olhar para ele, eu só balancei a cabeça negativamente. Meu estômago estava revirando um pouco ainda, mas eu não sentia nada subir pelo meu esôfago.

– Jesus, que susto garota – ele respirou aliviado e eu senti um beijo em meu ombro. – Eu te avisei que isso ia acontecer. Isso é o que acontece quando você tem um PT. Lembre-se disso na próxima vez em que quiser beber.

Eu gemi e chorei baixinho. Eu não precisava de lições de moral agora.

– Ok, tudo bem. Desculpa. Sem lições de moral e coisas de “eu te avisei!” – ele entendeu. Ele se foi por um instante, eu ouvi uma gaveta sendo aberta e a torneira acionada. Em seguida ele estava ao meu lado de novo. – Tome, beba isso. É para a náusea. Você vai se sentir melhor.

Eu engoli um comprimido que ele me deu junto com o copo inteiro de água. Eu pedi por mais, já que a água caiu bem em meu corpo debilitado. Algum tempo depois, eu estava me sentindo melhor de fato.

– Por quê você faz isso?

– Deixar você beber? Porque você pediu, oras.

– Não, não isso. Eu sei que foi uma péssima ideia. Mas me refiro à ficar cuidando de mim e me olhando desse jeito. Pelo amor de Deus, eu estou um caco Jacob.

– Para mim você continua linda – ele sorriu, aquele seu sorriso largo e genuíno. – Mesmo descabelada, com o vestido arruinado e pálida no chão do meu banheiro.

– Eu odeio você, Black – eu disse e comecei a chorar. De verdade.

– Ei, Bella, se acalme – ele pediu agitado, quando me viu chorar copiosamente. Ele me abraçou e me trouxe para o seu colo. – Eu estava brincando. Você está linda. Eu amo você de qualquer jeito, não importa se você está de tirar o fôlego numa capa de revista ou com um saco de papel pardo na cabeça.

Ele me deixou chorar ali, lágrimas e murmurinhos embriagados. Eu nem sabia porque estava chorando, só sentia vontade de chorar naquele momento.

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– O que você acha de tirar essa roupa suja, tomar um banho e dormir um pouco? – ele ofereceu, seus dedos alinhando meu cabelo revolto.

Concordei com a cabeça e ele ficou de pé, colocando-me sentada sobre um banquinho do outro lado do banheiro enquanto ele ligava o chuveiro. Eu vi o vapor se formar aos poucos, enquanto ele controlava a temperatura da água. Eu tinha parado de chorar quando ele chegou até mim.

– Pronta? – ele me estendeu a sua mão.

Assenti e peguei sua mão para ficar de pé. Ele me soltou, ambos pensando que eu ia ficar de pé, mas meu corpo tombou para a horizontal. Eu soltei uma risada quando Jacob me pegava, antes que eu caísse de encontro ao chão.

– Acho que você não consegue fazer isso sozinha, não é mesmo? – ele sorriu.

Balancei a cabeça negativamente, como uma garotinha.

– Você não se importa se eu te ajudar com o banho?

– Nem um pouquinho – falei, envolvendo meus braços em sua cintura e me aproximando mais.

Ele riu e segurou a bainha do meu vestido curto.

– Olha o que você está me pedindo, Bella.

– Eu quero que você cuide de mim, Jake – falei, mantendo meus olhos nos seus.

– Você tem certeza?

– Esta é a minha única certeza agora.

Ele desamarrou meu vestido atrás da nuca, o tempo todo seus olhos presos aos meus, e lentamente eu senti o tecido fino escorregar pelo meu corpo até os pés. Mesmo com minha mente pesada pelo álcool, eu vi quando ele baixou o olhar por todo o meu corpo. Sem pressa, ele me olhou literalmente da cabeça aos pés. Em meu estado normal, eu jamais permitiria um homem me ver de lingerie. E se não fosse pelo álcool, eu estaria vermelha como um grande pimentão.

Jacob me conduziu com cuidado até o chuveiro, me ajudando a entrar no box. A água estava mais fria do que eu gostaria, o que me fez resmungar e querer correr de lá. Mas Jacob me deteve. Virei-me e fiquei olhando-o confusa, ainda todo vestido.

– Você não vai entrar? – perguntei, ainda evitando o jato de água fria.

– Eu não posso fazer isso, Bella. Você não sabe o que está me pedindo.

– Eu estou te pedindo para vir aqui, Jacob – falei para ele, com o pouco de sobriedade que eu conseguir reunir. – Eu não vou ficar aqui sem você comigo.

Eu vi enquanto ele debatia, decidindo se me escutava ou não. Eu poderia não ter equilíbrio o suficiente, mas eu acharia um jeito de sair daqui e passar por ele até o quarto. Até que eu entendi a demora.

Jacob não me queria. Era por isso que ele estava demorando tanto, provavelmente ele estava pensando em uma forma educada de dispensar uma garota virgem e bêbada em seu chuveiro. Meus olhos ameaçaram se encher de lágrimas com a sua rejeição.

– Ah, inferno – ele praguejou quando viu que eu estava quase chorando, ele deve ter somado dois com dois. Rapidamente ele tirou a jaqueta de couro, a camiseta e a calça jeans, atirando tudo para trás. Entrou só com a boxer preta no box e imediatamente me puxou para seus braços. – Ei, Bella, não chore. Por favor. Não é nada disso.

– Ja-Jacob...

– Tire essas coisas da sua mente. Eu amo você. Eu quero você. Mais do que tudo.

– Está tão fri-frio aquii... – resmunguei, agarrando-me a seu corpo quente.

– Desculpe – ele mexeu no registro atrás de mim, a temperatura da água foi subindo aos poucos. – Água fria é o que cura a ressaca. Eu pensei que podia ajudar, mas não vou infligir isso a você. Me desculpa. Está melhor?

Eu assenti contra a sua pele. Ele cheirava tão bem.

– É verdade aquilo... que você disse? – Perguntei baixinho, algum tempo depois.

Ele se afastou para olhar em meu rosto.

– O que?

– Que você me ama. Que você me quer.

– Com todas as minhas forças – ele segurou meu rosto com as duas mãos, trilhas de água correndo do seu cabelo para o seu rosto perfeito até embaixo. Eu nunca o vi tão sincero na minha vida. – Mais do que tudo que eu tenho nessa vida. Eu sempre quis você desde a primeira vez em que eu te vi, na sacada do seu quarto, e eu sempre vou querer você, até que meu coração pare de bater. Você é a única mulher que existe no mundo para mim, Bella McCarthy.

Meu coração bateu descompassado dentro do peito, e meus olhos se encheram de lágrimas de novo – mas desta vez de alegria. Jacob me amava. Jacob me queria.

– E eu quero você também, Jacob Black – eu disse, levando meus lábios até os seus.

Eu o beijei com toda a vontade e amor que eu consegui. Agarrei-o como se ele fosse a minha tábua da salvação, meu último suspiro e meu último raio de sol. Eu queria que ele entendesse que eu o amava, muito, e estava pronta para ser sua.

As lembranças terminavam ali, como quando os créditos sobem na tela após o final de um filme no cinema. Eu tentei, a todo custo, forçar mais alguma coisa, mas nada vinha. Como se um interruptor tivesse sido desligado, porém eu não era capaz de ligá-lo novamente. A dúvida assombrou minha mente, até que eu me dei conta de toda a terrível realidade que me cercava.

Quando a gente acha que as coisas nunca podem ficar piores... PUTAMERDA!

Eu precisava achar algum lugar para morrer em paz, depois de me atormentar com tudo o que eu fiz na noite passada. Eu tinha bebido como uma alcóolatra. Tinha agido como uma cadela desprezível. Eu tinha traído Jacob – como se não bastasse uma, mas duas vezes. E na mesma noite, com dois caras diferentes – inclusive quase dormi com o vizinho dele. E, para colocar a grande cereja no bolo, eu tinha dado o maior vexame da minha vida na frente do meu namorado: enchi a cara, vomitei, seduzi, arrastei ele pro chuveiro e...

Decidi por um inventário rápido. Dor de cabeça infernal, confere. Garganta seca, confere. Língua dormente, confere. Estômago ligeiramente embrulhado, confere. Sutiã, confere. Calcinha... Ah, droga.

Eu não estava usando a minha calcinha, o que me provocou um mini infarto. O que cobria minhas partes íntimas não era nada menos que uma das boxers de Jacob, preta, aliás. Combina com o meu sutiã preto, pensei morbidamente. E eu sentia dores e desconfortos em algumas partes do meu corpo. Descobri também alguns vergões em meu antebraço e barriga – depois me lembrei do ataque de Napoleão. Mas algumas marcas vermelhas que cobriam determinadas partes da minha pele não eram dele. Poderiam ser mordidas, ou pegadas mais fortes. O fato de que Jacob dormia completamente nu do meu lado não ajudou muito com minhas desculpas.

– Droga. Eu preciso sair daqui agora – murmurei baixinho.

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Óbvio que eu não queria estar aqui quando ele acordasse, independentemente do que eu fiz ou não na noite passada. Eu nunca mais conseguiria olhar em seu rosto, sem me sentir a pior pessoa da história do Universo.

Com o maior cuidado do mundo, eu tirei o braço de Jacob que me segurava na altura do estômago e me afastei alguns centímetros. Parei imediatamente, congelada em meu lugar, quando ele se mexeu e chamou o meu nome em seu sono. Bella, foi o que ele disse enquanto dormia. Ele estava sonhando comigo!

Venci a tentação de ficar ali, só olhando-o dormir, ou melhor, esperando que ele acordasse. Eu tinha que sair dali, repeti a mim mesma inúmeras vezes. Havia um mundo para explodir, só esperando por mim, quando eu saísse daquela casa. Com muito esforço e paciência, eu consegui me desvencilhar de seu abraço e corpo. Ignorei o frio que senti ai deixar seu corpo e a dor em meu peito, por deixá-lo ali.

Procurei pelo meu vestido no quarto inteiro e em seu banheiro também, mas não havia sinal dele em nenhum lugar. Mas que ótimo!, gritei em pensamento, já que não podia fazer barulho. Fui até seu o seu armário enorme e com muito cuidado, empurrei uma das portas de correr, torcendo para que as camisas dele estivessem daquele lado. BINGO! Peguei a primeira camisa que eu avistei, uma branca de botões, e a vesti ali mesmo. Encostei a porta de volta no lugar e voltei até a cama, para verificar se ele havia acordado. Jacob havia se mexido ligeiramente, seu rosto estava ligeiramente franzido, como se soubesse que eu não estava mais ali. Eu apenas fiquei ali parada, observando seu sono tranquilo. Ele era tão lindo dormindo, que eu não resisti e suavemente me inclinei em sua direção e beijei-o nos lábios antes de sair.

Desci as escadas rapidamente, mas sem causar grandes alvoroços pela casa. Fui até o banheiro no final do corredor, onde eu tinha certeza que Jacob não me ouviria, e pela primeira vez desde que saí de casa ontem à noite, olhei o meu reflexo. Eu estava um verdadeiro caos, se eu quisesse ser gentil. Meus cabelos eram uma bagunça de nós e fios soltos para todas as direções, minha pele estava mais pálida que o normal, meus lábios vermelhos e muito inchados. Eu tinha um chupão no pescoço, cujo dono eu não sabia identificar. Meu rímel estava borrado e eu tinha um grande par de olheiras. Porém, em contrapartida com toda a bagunça que eu era, meus olhos estavam mais verdes e brilhantes do que nunca. Como se eu tivesse tido a melhor noite da minha vida. CULPADA deveria estar tatuado em minha testa.

Tentei fazer o melhor que eu pude com minha aparência, afinal eu não podia sair na rua como uma louca. Quando estava satisfeita, fui até a sala, que estava uma verdadeira bagunça – provavelmente eu tinha ajudado com aquilo na noite passada. Como Napoleão não estava por ali, eu poderia sair sem alardes. Agradeci em silêncio.

Ao passar pelo sofá, encontrei meus sapatos de salto sobre a mesa de centro, ao lado do meu celular. Eu sabia que não tinha mais bateria. Ao olhar seu relógio, esquecido por ali, constatei que já era uma hora da tarde. Algumas coisas de Jacob também estavam por ali, o que me deu uma ideia. Peguei cinquenta dólares de sua carteira, seu par de Ray-Ban aviador e puxei um bloquinho e uma caneta que estavam por ali.

Black,

Te devo cinquenta pratas do táxi, uma camisa, uma boxer e um par de Ray-Ban.

Desculpe por não ficar para o café. Obrigada pela noite.

–B

Deixei o bilhete sobre a mesa e saí, sem olhar para trás.

Agente Cullen

– Bella, onde você está? – perguntei-me, pela milésima vez nas últimas 12 horas.

Encostado ali contra a janela da sala do apartamento de Alice, eu não sabia mais onde procurar. Maldita hora em que eu fui abrir a minha boca para Emmett, ontem de manhã. Parecia que tudo acontecera há tanto tempo atrás, porém não. Em questão de dois dias minha vida desmoronou completamente. Bella e eu estávamos nos dando tão bem, em pouco tempo ela esqueceria o Black e tudo ficaria sob meu controle.

Se ela não tivesse ouvido aquela maldita conversa...

Desde que Alice voltou do banheiro, poucos minutos depois da Princesa ter entrado, tudo começou a dar errado. Como eu não pensei em entrar e verificar a área antes? Assim teria descoberto que haviam duas saídas! Imbecil! Bella provavelmente sabia e usou isso a seu favor. Vasculhamos cada centímetro daquele maldito inferno – ironicamente nomeado Heaven’s – atrás da garota, mas ninguém a tinha visto.

Ah, e claro, convenientemente o celular dela estava desligado. A porra da noite toda!

– Como ela pode sumir desse jeito?! – gritei inúmeras vezes com Emmett e Alice dentro do carro, enquanto verificávamos cada rua das redondezas.

Depois de meia hora andando duas vezes por cada lugar da vizinhança, parando qualquer um que estivesse na rua, desistimos e aumentamos a nossa área de busca. Nova York é uma cidade enorme, e cheia de gente mal intencionada e becos escuros. Bella não conhece a cidade como nós. Qualquer um poderia tê-la pegado. O pior de tudo, nós nem poderíamos informar às autoridades – porque nós éramos as autoridades. E não fazíamos a menor ideia onde ela estava. Porra.

Duas horas depois Alice sugeriu que voltássemos para casa, porque Bella poderia ter feito o mesmo e talvez até estivesse por lá esperando a gente. Foi a melhor ideia da noite, mas claro que eu não disse isso a ela. No fim das contas, chegamos em casa para dar de cara com nada. Bella não havia voltado. Ninguém tinha notícias dela.

Sem mais recursos e em um momento de desespero, eu fiz Alice ligar para o Black. Ele inclusive pareceu ficar preocupado, mas a última coisa que eu precisava era daquele cara aqui do meu lado me enchendo o saco. Então dissemos a ele que estava tudo bem, que Bella estava com o Chad em algum lugar e que se ela aparecesse por lá, era para ele nos avisar.

Tínhamos voltado então à estaca zero. Emmett verificou a lista de entrada em hospitais de hora em hora, eu verificava o banco de dados da polícia nas últimas 12 horas e Alice ligou para cada amigo que ela tinha apresentado Bella uma vez. Passamos a noite toda em alerta, em vigília constante, mas até agora, nada da garota.

– Se a Bella aparecer viva por aqui, pode ter certeza que eu mesma irei matá-la – resmungou Alice, repetindo a ameaça que ela vinha fazendo nas últimas quatro horas. – Vocês sabem o que é ficar a noite em claro, com uma ressaca de matar?

– Se você não a tivesse levado para lugar nenhum, não teria do que reclamar agora – lembrei a ela, fuzilando-a com o olhar.

Alice estava encolhida no sofá, com a Malgata aninhada em seus pés. A criatura causou-nos um verdadeiro alvoroço quando voltamos para casa, especialmente porque não estávamos com a sua dona. E agora ela estava lá, aninhada com o inimigo. Alice também não estava em seu melhor. Ela havia bebido bastante, mas não estava em seu pior – eu já a resgatara em estados mais deploráveis. Depois que ela tomou seu banho, ao perceber que Emm e eu não a deixaríamos dormir, ela voltou para sala usando aquele pijama de flanela rosa – o pijama que alertava quando ela estava em um estado de pura fúria, e eu sempre a evitei quando usava aquele negócio. Olhando de perto, eu não sabia quem parecia mais perigosa: minha irmã caçula ou a gata do mal aninhada a seu lado.

– Ok, valeu cara. Eu estou em alerta também – eu ouvi Emmett desligar o celular.

– Alguma novidade?

Ele afundou contra a poltrona do outro lado da sala.

– Até agora, nada – informou ele. – Nenhuma entrada com as características da Bella foi dada nas últimas doze horas em qualquer hospital da cidade.

– Com quem você estava falando agora? – perguntou Alice.

– Com o JW. Ele também está em alerta, colocou todos os seus homens na cidade procurando pela Bella.

Estreitei meus olhos para ele.

– E que tipo de poder esse cara tem para isso? – perguntei, desconfiado.

– Mais do que você imagina – Emmett respondeu sombriamente. Ele me devia uma dúzia de explicações sobre esse amigo dele. Eu sempre achei que o cara era suspeito demais para parecer limpo. – Porém agora ele não é nossa preocupação.

– Eu preciso de mais café – anunciei, ignorando o assunto por hora.

– Nós já tomamos quatro jarras de café. Acho que eu estou com overdose – Alice fez careta.

– Quando se é agente secreto, seu organismo não diferencia mais café de água – explicou Emmett, erguendo sua caneca gigante a ela em um brinde.

Ocupei minhas mãos com o preparo do café. Era isso, ou estrangular o pescoço da toupeira da minha irmã como eu vinha querendo fazer nas últimas horas. Porém mamãe e papai provavelmente não ficariam muito felizes comigo, então restringi-me a imaginar como seria adorável poder apertar o pescoço dela vagarosamente.

Eu tinha acabado de colocar o café sobre a mesa de centro quando ouvimos um barulho na porta. Alice interrompeu o seu bocejo pela metade. Emmett congelou sua mão com a xícara de café fumegante a meio centímetro da boca. Eu fiquei rígido em meu lugar, mãos fechadas em punho.

A porta abriu e uma garota silenciosa entrou, como se não fosse nada demais sumir no meio da madrugada e só aparecer em casa quase duas horas da tarde. Meus olhos se estreitaram quando olhei melhor para ela. Bella estava com um par de Ray-Ban aviador preto, o cabelo completamente desalinhado e não estava com a mesma roupa da noite passada: os sapatos eram os mesmos, mas agora ela estava vestindo uma camisa social branca masculina, metade dos botões abertos e que não chegava nem perto de cobrir alguma decência em suas pernas... e aquilo era uma boxer?

Ela estava quente como o inferno. E eu estava mais furioso do que o próprio diabo.

Uma rajada de perguntas dispararam ao mesmo tempo.

Onde você estava? – rugi.

Como você chegou até aqui? Como você entrou? – bradou Emmett.

O que é isso que você está vestindo, pelo amor de Deus?! – gritou Alice.

Emmett e eu olhamos para ela ao mesmo tempo. Alice era Alice.

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Bella parou tranquilamente na nossa frente, serviu-se de um gole da xícara que Emmett ainda segurava e levantou os óculos escuros para o alto da cabeça.

– Por aí. De táxi. Chave reserva embaixo do tapete. Uma camisa Dior e uma boxer Armani – ela respondeu desafiadoramente, levantando a barra da camisa para exibir a marca da boxer no elástico. – Agora parem de gritaria, minha cabeça está explodindo.

– Bella! – gritamos os três ao mesmo tempo, ficando de pé.

Porra, que parte do parem de gritar vocês não entenderam?! – gritou ela de volta, batendo a xícara contra a mesa. – O inferno está explodindo dentro da minha cabeça!

Alice arregalou os olhos e calou-se, murchando de volta para o sofá. Mas essa nova atitude sou-foda-e-dane-se-o-que-você-pensa da Princesa não ia me fazer recuar. Nem a Emmett.

– Você tem noção de que estamos procurando você como loucos pela cidade? A noite toda? – ressaltou Emmett, olhando-a de cara feia.

– Eu não pedi para ser encontrada, que eu me lembre.

– Olha só o jeito que você está! – explodi, levando minhas mãos à cabeça. Provavelmente eu amanheceria com todos os fios de cabelo no meu travesseiro amanhã, devido ao gesto repetitivo das últimas horas. – E olha só como você está falando, garota!

– Ah, eu estou incomodando você, pobre Agente Cullen? – ela virou-se para mim, completamente cínica. – Eu não sabia que você tinha sido promovido à meu pai.

Trinquei os dentes.

– Ninguém aqui está bancando o seu pai – interveio Emmett, olhando-a seriamente. – Você só não pode fazer esse tipo de coisa. Sumir assim do nada sem avisar.

– Bem, eu estou de volta, não estou? Não é um motivo para comemorarmos? – ela continuou, sarcasmo escorrendo em seu tom de voz. – Onde estão as minhas palmas? Por quê você não dá uma festa agora para celebrar, hein Alice?

– Você não precisa se comportar como uma megera – falou Alice pela primeira vez.

Ah, que ótimo. Alguém conseguiu o grande feito de ser mais megera que minha irmã.

– Então me deixem em paz – respondeu Bella, sem nem se desculpar. – Tudo o que eu queria era chegar em casa, deitar em minha cama e dormir em silêncio pelos próximos dois dias. Mas vocês já estavam com os canhões me esperando!

A Malgata, que até então observava a dona em completo silêncio, nesse instante saltou do sofá e correu para os seus pés. Bella abaixou-se para pegá-la e murmurou algo a gata, que ligou aquela máquina felina de ronronar. Traidora.

– Onde você estava? – perguntei, minhas mãos coçando para torcer seu braço.

– Por aí, eu já disse – ela revirou os olhos.

– E por quê não ligou para avisar? – questionou Emmett.

– Porque a porcaria do celular acabou a bateria no meio da noite, enquanto ainda estávamos no Heaven’s. Satisfeitos agora? – ela se virou para ir para o quarto.

– Bella, nós não te dispensamos ainda – lembrou Emmett.

– Eu não lembro de ter pedido permissão alguma – ressaltou ela, sem olhar para trás.

Aquilo foi a gota d’água para mim. Eu não tinha que lidar com uma mimada agora.

– Bella, eu ainda não terminei de falar com você! – discordei, alterando minha voz, seguindo a garota que ousava me dar as costas.

– Ah, é? Mas que pena... Porque eu já terminei de falar com você, Agente Cullen! – bradou ela, batendo a porta do quarto atrás de si.

Eu realmente odiava quando ela me chamava assim, principalmente com esse tom de desdém e provocação. E ela sabia muito bem disso, pois o fez de propósito. Claro que eu não ia deixar barato. Nem ferrando.

– Você anda impossível de se suportar ultimamente, majestade – falei quando invadi o quarto logo atrás dela, usando o mesmo tom que ela usara.

Bella

Quem esse agente achava que era?!

Estreitei meus olhos para ele, completamente ultrajada, minha cabeça estourando e meu sangue fervendo. E também me odiei por um segundo, por ter sido muito estúpida a ponto de não ter lembrado de trancar a porta do quarto quando a bati na cara dele.

– Eu não ligo a mínima – rebati, empinando o queixo.

– Você não é mais a mesma de antes – acusou ele, com a voz fria e cortante como a lâmina de uma espada enquanto avançava um passo pelo quarto na minha direção. – Não lembra nenhum pouco aquela garota gentil, doce e inocente que Emmett e eu resgatamos de um lugar em pleno caos. Agora você não passa de... uma vadia.

Arregalei meus olhos, boquiaberta como se ele tivesse acabado de me dar um tapa no rosto. Ele acabou de me chamar de vadia, na minha cara?

Com o corpo tremendo de fúria e um desejo assassino, avancei até onde ele estava e parei a poucos centímetros, os olhos estreitos como duas fendas.

Dane-se você e o que você acha, Cullen – rebati, colocando meu dedo indicador bem no meio do peito dele. – Aquela princesa idiota não existe mais. Aceite-me ou arque com as consequências.

Seus olhos ardiam contra os meus, eu vi toda a fúria que ele emitia na minha direção. Não senti medo, apenas aumentou a minha fúria. Por um ínfimo instante, eu cheguei acreditar que ele levantaria a mão para mim. Mas claro, ele não iria sair ileso. Mesmo com essa ressaca dos infernos, eu conseguiria dar um belo chute na área de lazer dele.

Então eu fiquei surpresa quando ele simplesmente sorriu, aquele maldito sorriso torto, toda a ira dissipando de seu olhar em um batimento cardíaco. Eu queria esbofeteá-lo. Mas não relaxei minha postura defensiva nem baixei a guarda.

– Nunca. Você é quem vai ter consequências, majestade – jurou ele.

Aquilo me confundiu. O que você está tramando, Cullen?

Ergui uma sobrancelha para ele, desafiando-o na mesma hora. Se o Cullen queria consequências, eu daria isso a ele com o maior prazer.

– Perfeito. Prepare o seu exército, agente – eu o desafiei.

– Ele estará pronto. Descanse enquanto pode.

Ótimo! – gritei com ele, com vontade de socá-lo naquele momento.

– Ótimo – ele repetiu, alargando o sorriso. Imbecil! – Tenha um bom dia.

E simplesmente virou as costas e saiu do quarto, batendo a porta atrás de sim. Eu gritei e atirei a primeira coisa que minhas mãos alcançaram contra a porta. Eu deveria voltar lá e gritar com ele de volta, mas eu não tinha condições de participar de uma disputa de gritos agora. Não enquanto minha cabeça estivesse tão bagunçada.

– Esse cara tem o dom de me tirar do sério – falei com Preciosa, me atirando na cama.