(DES)EDUCANDO Uma Princesa

Capítulo 06: PASSADO BRANCO




Bella



Quando Emmett desligou o carro, eu senti um arrepio de medo percorrer todo o meu corpo. Não estávamos mais na parte movimentada e familiar do Brooklyn, o lugar humano e acolhedor que abrigara a infância de Emmett.

Era uma rua sem saída pavorosamente deserta, com poucas casas que pareciam desocupadas e em melancólicos e mortos tons de cinza. Pequenos galpões e estabelecimentos lacrados com madeira nas suas portas e janelas intercalavam-se entre as casas, dando um ar de abandono e esquecimento ao lugar. A maioria das construções estava pixada e depredada. Não havia carros, crianças brincando, pessoas conversando nas varandas ou qualquer tipo de vestígio de vida por ali.

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Não havia nada, além de um silêncio fúnebre. E era terrivelmente assustador.

Eu vi o agente examinar o lugar com grande atenção, como se procurasse por algum tipo de perigo invisível para meus olhos. Emmett abriu o porta luvas e tirou um revolver de lá, o que instantaneamente sobressaltou a mim e a Preciosa.

– Emmett?

– Bella, nós não estamos mais na parte civilizada e pacífica do Brooklyn – disse ele em um tom baixo, mas extremamente sério, prendendo meus olhos nos seus. – Quero que esconda essa arma para mim embaixo do seu casaco. Prenda-a no cinto ou algo assim... Eles provavelmente vão me revistar, mas não vou deixar tocarem em você. E fique o tempo todo junto de mim.

Preciosa se eriçou toda em meu colo, sentindo a minha tensão que eu começava a perceber cada vez mais palpável. Emmett olhou mais uma vez por toda a rua e, parecendo satisfeito, saiu do carro.

– Santa Bharsóvia, onde é que nós viemos parar? – murmurei com Preciosa, as mãos trêmulas, prendendo a arma em meu cinto e encobrindo-a novamente com o casaco.

Emmett abriu a porta ao meu lado e me estendeu a mão. Respirei fundo para me acalmar e passei minha gata para o banco ao lado.

– Eu amo você, Preciosa. Voltaremos assim que possível, não se preocupe – eu me inclinei para dar um beijo rápido em seu focinho e aceitei a mão dele para sair do carro.

Ele bateu a porta suavemente, apertou um pequeno botão pendurado em um chaveiro e o carro fez dois bipes, piscando os faróis e travando as portas. Eu o vi olhar ao nosso redor mais uma vez, totalmente alerta e tomando o cuidado de me esconder.

– Eu confio em você, Emmett – eu sussurrei e joguei meus braços ao redor de sua cintura, abraçando-o forte por um momento.

– Nada vai acontecer com você, eu lhe prometo – ele jurou, me abraçando de volta antes de me soltar.

Emmett ergueu a gola do meu casaco, colocou meu cabelo para frente e ajeitou sua própria jaqueta de couro preta, também erguendo a gola da sua como fizera com a minha. Eu o vi respirar fundo uma vez, pegar um par de óculos escuros de dentro da jaqueta e assumir uma postura totalmente despreocupada, como se tivesse acabado de se transformar em outra pessoa bem diante dos meus olhos.

– Fique junto de mim – ele sussurrou, antes de passar o braço por meus ombros e me puxar para mais perto de si, levando-me em direção ao outro lado da rua.

O agente McCarthy assoviava despreocupadamente enquanto caminhávamos, ao contrário da minha postura cada vez mais tensa. Eu senti sua mão apertar gentilmente meu braço, como se tentasse me acalmar através do toque. Passei meu braço esquerdo pela cintura dele, confirmando que eu estava com ele e confiava nele.

Nós paramos diante de uma das últimas construções no fim da rua, uma casa em um tom de marrom enferrujado ao lado de um galpão igualmente abandonado. As janelas estavam com os vidros quebrados, meio despencando e bloqueadas por pedaços de madeira pregados pelo lado de dentro. Emmett me puxou para a varanda de entrada e eu só vi que ele estava ali, quando ele se ergueu de repente do canto da varanda.

– O que procuram por aqui?

Um homem negro de estatura média, mas musculoso e vestido com um longo casaco negro que ia até os pés perguntou com a voz grossa, de uma forma bem ríspida. Seus intensos olhos negros fitavam a nós dois com uma astúcia desconfiada, enquanto ele dava alguns passos em nossa direção.

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– Tenho assuntos a tratar com o Branco – Emmett respondeu.

O homem passou a encará-lo fixamente por um longo minuto, como se tentasse enxergar algo através dos olhos de Emmett. Quando eu pensei que estávamos perdidos e ele não nos deixaria passar, ele se aproximou.

– Eu vou ter que revistá-lo, procedimento padrão – ele falou, parando a meio metro de onde estávamos. Ele olhou então para mim, igualmente desconfiado.

– Tudo bem, mas a menos que tenha uma mulher por aqui você não toca nela – Emmett respondeu, posicionando-se à minha frente e bloqueando a visão do homem sobre mim.

Enquanto ele levantava os braços e afastava um pouco as pernas, o homem se aproximou e começou a apalpá-lo precisamente à procura de algo. Imaginei que o agente deveria estar tão desconfortável com aquilo quanto eu, mas não demonstrou nada. Terminada a revista, o homem se afastou e assentiu discretamente para nós.

Seus olhos não deixaram a mim enquanto Emmett abria uma porta de tela e empurrava a de dentro para entrarmos, de forma que eu evitei o máximo possível encarar o homem e procurei assumir minha expressão de serenidade e indiferença.

O interior do lugar não era dos grandes, apenas um salão retangular com algumas mesas e cadeiras espalhadas pelos cantos. A maioria delas estava quebrada e o piso de madeira velha e gasta rangia sobre os nossos pés enquanto andávamos. Quadros estavam tortos e desalinhados pelas paredes, fotografias antigas e manchadas que ameaçavam despencar a qualquer momento. Um balcão estava no fundo, na frente de prateleiras de vidro abastecidas por inúmeras garrafas de bebida alcoólica.

No instante em que alcançamos o balcão no fundo do bar, um homem com pele cor de café, perigosos olhos negros e uma grande cicatriz na bochecha esquerda surgiu da pequena passagem atrás do bar. Ele era tão alto quanto Emmett, só que era duas vezes mais largo. E tinha uma expressão apavorante.

Senti um frio gelado me atingir a espinha e travar meus músculos.

– O que querem aqui? – perguntou ele, sua voz de trovão soando ríspida e ecoando pelo salão. A voz era tão assustadora quanto seu tamanho.

– Preciso falar com o Branco – o agente respondeu imediatamente, tirando os óculos de sol e os guardando novamente sob a jaqueta.

O homem encarou-o por um longo momento, o que me deixou ainda mais nervosa. Até que um pequeno brilho de uma compreensão perversa apareceu em seu rosto.

– Eu lamento, mas ele não está – respondeu ele.

Emmett ergueu uma sobrancelha.

– É mesmo? Pois não foi o que o cara ali fora deu a entender.

– Ele não está – repetiu o homem.

– E aonde ele foi?

– Ele foi cuidar de uns assuntos pessoais em Ohio, coisa que não é do meu e muito menos do seu interesse.

Eu admito que fiquei realmente chocada ao ver Emmett rir.

– É sério? Por que eu tenho certeza de que você está mentindo, meu irmão – acusou ele.

O homem fechou a cara. Eu pude ver uma veia de fúria saltando do seu pescoço.

– Não fale o que você não sabe sobre mim! – rugiu ele, batendo o punho com força sobre o balcão de madeira antiga.

Eu automaticamente dei um passo para trás, enquanto o agente McCarthy permaneceu imóvel em seu lugar.

– E aí, você vai ou não chamar o Branco para mim? Ou vai ficar aí, dando chilique de garotinha pra cima de mim?

Eu quis fazer algo, como tapar a boca de Emmett ou puxá-lo comigo para fora dali. Mas eu não conseguia, pois ainda estava paralisada e morta de medo atrás dele.

O grande homem colocou as duas mãos sobre o balcão e se inclinou para nós, crescendo e parecendo impossivelmente ainda mais perigoso. Ele encarou a Emmett mais uma vez e desviou os olhos para mim, olhando-me diretamente pela primeira vez. Eu me encolhi ainda mais e dei um passo para mais perto de Emmett.

– Qual é mesmo o seu nome?

– Emmett – respondeu ele, ficando mais perto de mim.

Ele desviou o olhar do meu para fuzilar a Emmett com seu olhar assassino.

Emmett, eu vou repetir. Apenas desta vez. Meu patrão não está aqui – ele disse enfaticamente, a ameaça completamente palpável em nossa volta. – Ele está em Ohio, para resolver assuntos pessoais que não são da sua conta.

– Olha, eu tentei ser simpático e civilizado, mas parece que não está funcionando com você – Emmett disse, em um tom bastante desapontado.

E então, o inacreditável aconteceu.

O sujeito rosnou para nós dois e, em um piscar de olhos, ele estava desacordado e debruçado sobre o balcão bem na nossa frente. Em um movimento rápido e igualmente letal, Emmett acertou um soco bem no meio de seu nariz. O som alto de algo se quebrando foi o único que ouvimos, pois o homem desmaiou imediatamente e a outra mão do agente estava em minha boca em menos de um piscar de olhos, impedindo que meu grito pronto escapasse.

– Shhh, não faça barulho ou o cara lá fora vai nos ouvir. Está tudo bem – ele disse baixinho, olhando para mim com um sorriso travesso nos lábios enquanto tirava a mão devagar da minha boca.

Eu o vi esfregar o pulso direito, que acabara de usar para derrubar aquele homem.

– Ei, o Ed ia ter gostado de ter visto isso. Você viu só o tamanho desse cara? – comentou ele, se gabando. – Ele chegou a me preocupar por um segundo, mas só um segundo mesmo. E como diz aquele velho ditado, cão que ladra não morde.

– Você perdeu o juízo, agente? – sussurrei freneticamente, olhando impressionada para o homem debruçado sobre o balcão bem na minha frente. Gotas de sangue começavam a pingar na direção do piso de madeira.

– Eu ouvi essa pergunta a minha vida toda, majestade – eu o vi sorrir enquanto dava a volta no balcão e puxava o homem para o chão, escondendo-o da vista de quem olhasse de fora. Ele fez um gesto para que eu me aproximasse. – E vou te dar a mesma resposta que eu venho dando há vinte e dois anos: não se pode perder aquilo que você não tem. Agora vem comigo e não faça barulho.

Eu dei uma rápida olhada para o homem desacordado no chão, o nariz estranhamente deslocado e começando a formar uma poça de sangue em sua roupa. Deixei Emmett me guiar para dentro da passagem de onde o homem veio e eu me perguntei por um breve segundo como uma pessoa tão grande conseguiu passar por um lugar tão apertado, grande o bastante para passar apenas uma pessoa por vez.

Até que o pequeno corredor parcialmente iluminado começou a tomar um rumo completamente inesperado para mim. Começamos a descer no que parecia ser um túnel escuro que cheirava a mofo, como se estivéssemos entrando cada vez mais para dentro da terra. A mão de Emmett encontrou a minha e nós chegamos novamente à parte plana, iluminada por lampiões a óleo pendurados regularmente a certos intervalos de distância.

Nos trechos em que havia luz, eu pude ver que o túnel na verdade era revestido no chão e nas paredes com concreto, mas não parecia ser tão recente quanto eu pensava. Uma série de bifurcações aparecia no nosso caminho, provavelmente levando a túneis secundários, mas nos mantivemos sempre no túnel principal.

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Eu fiquei me perguntando até onde aquele lugar iria, ou pior, como seria horrível ficar perdida ali, quando começamos a subir novamente.

Uma longa escadaria e no topo estava uma magnífica porta branca, de aparência bem cara. Não parecia com nada que tínhamos visto por ali naquela região. Uma pequena luminária estava presa pouco acima da porta, iluminando apenas uma pequena área em volta da porta. Emmett sorriu para mim travesso, como se fosse um garotinho novamente, abriu a porta sem bater e me puxou para dentro.

E naquele momento eu tive certeza sobre o que ele falara, sobre não ter juízo algum.

Estávamos em uma linda sala ampla, que emanava luxo e sofisticação. O piso de mármore branco refletia a luz do dia que entrava pelas inúmeras janelas, o que me fez piscar os olhos cegamente por alguns instantes. Uma televisão de tela plana quase da minha altura estava ligada ao fundo, na frente de um conjunto de sofás de couro branco. Na verdade, toda a decoração do lugar era em um tom de branco, que variava para diferentes tons claros. Tudo era perfeitamente agradável, até...

Até nós estarmos cercados por sete homens enormes, empunhando revólveres e fuzis em nossa direção e prontos para nos furar como queijo suíço.

Eu arregalei os olhos e engoli em seco, subitamente pensando naquela história de rever sua vida toda quando você está à beira da morte. Uma imagem de papai me veio à mente, e eu pensei no quanto eu sentiria a sua falta e no quanto eu o amava...

– Ei, é assim que a donzela recebe seus amigos? – a voz de Emmett soou alta e veio carregada de deboche, como se nem tivesse reparado nos sete soldados prontos para nos matar.

Ele avançou tranquilamente para dentro da sala, nem reparando que quatro das armas voltavam-se para a sua direção, acompanhando seus passos. Eu continuei a observá-lo chocada, incapaz de fazer o mesmo e avançar um centímetro que fosse...

Foi então que eu fui pega.

Um par de braços surgiu por trás de mim, uma mão habilmente cobrindo minha boca enquanto eu sentia uma lâmina fria de metal, muito afiada, me espetar o pescoço. Eu tentei me soltar ou gritar, mas aquele corpo quente era muito mais forte do que o meu.

– Quietinha, princesa – uma voz grossa soou baixa no pé do meu ouvido, ao mesmo tempo em que eu sentia a lâmina apertar mais fundo a pele do meu pescoço. Completamente enojada e apavorada, eu congelei.

Como ele sabia sobre mim?

Só percebi que eu estava chorando quando ele apertou seu corpo mais contra o meu.

– Não chore, minha linda – ele sussurrou, mas apesar de doce, sua voz ainda me causava arrepios. – É só o seu namoradinho ficar quieto, que eu não deixo eles te machucarem... Pelo menos, não muito.

A pessoa que estava no sofá assistindo ao programa de televisão se levantou devagar e, sem a menor pressa ou reação, virou-se para nós lentamente.

Era um homem muito bonito. Bastante alto, forte e com destacáveis olhos negros que estudaram a sala toda até caírem sobre nós, onde eles se prenderam. Ele usava calças escuras e uma regata branca, o que destacava ainda mais sua linda pele negra. O tom branco nele chamava tanta atenção que eu mal pude desviar o olhar.



Agente McCarthy



– É assim mesmo que a donzela vai me receber? – repeti, olhando-o diretamente.

Eu o vi estreitar os olhos na minha direção, bem irritado. Legal. Eu sorri torto para ele, nem ligando para as quatro armas apontadas direto para mim. Eu sabia que nada ia me acontecer, fala sério. Até parece que ele ia levantar um dedo para mim. Mas a droga da ponta de uma daquelas coisas me espetou o pescoço e me deixou bravo.

– Abaixa essa joça, maluco – ordenei para o sujeitinho do meu lado, fechando a cara.



I'm bringin' sexy back

Them other boys don't know how to act!

I think it's special what's behind your back.

So turn around and I'll pick up the slack!

(Take em' to the bridge!)

Dirty babe...

You see these shackles? Baby I'm your slave

I'll let you whip me if I misbehave!

It's just that no one makes me feel this way

(Take em' to the chorus!)

Come here girl!

(Go 'head be gone with it!)

Come to the back

(Go 'head be gone with it!)

VIP



Meu celular começou a berrar, com a batida no maior volume. Procurei pelos meus bolsos até achá-lo e quando olhei no visor, fiz uma rápida careta antes de atender.

– Me dê um minuto que a gente já continua essa conversinha – eu disse, antes de apertar o verde. Respirei fundo e usei meu melhor tom divertido. – E aí, Ed? Beleza?

– Por quê é que você e a Alice têm a péssima mania de esconder ela de mim?

– Ela? – eu repeti, dando uma de desentendido. – Estou muito bem, obrigado por perguntar. Cadê a sua educação?

Eu o ouvi bufar do outro lado da linha e seria capaz de apostar todo o meu salário no fato de que ele estava revirando os olhos.

– Tirei pra lavar, junto com a sua inteligência – rebateu ele.

Ouch! – eu gemi, mas dei risada. – Ei, essa foi boa. Agora... Se for sobre a Bella que você está falando, relaxa porque ela está comigo. Nós estamos resolvendo umas paradas por aí... Mas na boa, eu não posso falar agora porque eu... estou dirigindo.

Umas paradas? – repetiu ele, rindo. – Você está resolvendo umas paradas com uma Princesa?

– É, isso aí, você ouviu bem.

Eu ouvi um clique alto perto do telefone. Aquele imbecil ia mesmo atirar em mim?

– Que barulho foi esse? – perguntou Edward.

– Não foi nada – eu respondi, mas virei o rosto para lançar um olhar bem assassino pro retardado que me apontava um revólver a centímetros dos olhos.

– Emmett, eu tenho certeza de que eu ouvi um barulho – teimou ele.

– Foi só eu abrindo uma lata – menti rapidamente, revirando os olhos.

– Você está bebendo, dirigindo e falando no telefone? – perguntou ele, indignado. – Você não sabe que como representante da lei, tem que dar o bom exemplo?

– Não é minha lata, mas da Bella – menti de novo, me enrolando mais ainda.

Edward fez silêncio por alguns segundos e, quando eu pensei que ele tinha sido abduzido ou sei lá o quê, veio a explosão.

– O QUÊ? – ele praticamente berrou do outro lado da linha, enquanto eu afastava o celular da orelha. – Você está dando bebida pra Princesa? Ficou louco, imbecil?!

– Não, nada disso! – eu falei rapidamente, quase gritando também. – Edward, fica calmo e me escuta: é só uma lata de coca cola. Só isso! Nada de álcool. Eu juro.

Ouvir risadinhas de fundo não me deixou menos revoltado com a situação.

– Quero falar com a Bella. Agora – impôs ele, ainda desconfiado.

– Ela não pode falar... Está bem ocupada com a sua adorável gata no colo – eu disse ironicamente, esperando que ele captasse a mensagem. E deu certo, pois eu o ouvi grunhir solidariamente de desgosto do outro lado da linha.

– Tá, tudo bem. Não demorem muito – recomendou ele.

– Sim, mamãe – eu zombei, dando risada.

– Emmett, você é um idiota.

– Obrigado. E você é um chato pé no saco. Estou desligando, mamãe. Tchauzinho – desliguei o celular e voltei a ficar irritado com aquela coisa ainda apontada para a minha cabeça. – Você não me ouviu? Abaixa essa merda!

Ele estreitou os olhos, ainda segurando o gatilho, mas não fez o que eu mandei.

– Está tudo bem. Abaixem as armas.

Os homens hesitaram, mas não obedeceram de imediato. Eu senti outro bico frio de metal pressionando contra a base das minhas costas, perto da medula. Um mínimo movimento do cara e eu ficaria paralítico. Fechei o tempo com os desgraçados.

– Você não ouviu ele? Abaixa essa porra! – berrei, perdendo o controle.

Os homens reagiram ao meu impulso, se aproximando mais de mim e reforçando sua postura de ataque para cima de mim. A arma que estava nas minhas costas me cutucou mais forte. Droga. Eu ia bater neles, de verdade.

Eu já disse para abaixarem as armas! – ele alterou a voz, gritando.

O grito dele reverberou pela sala, ecoando para todos os lados e fazendo os babacas automaticamente recuarem se tremendo de medo. Eles abaixaram as armas e eu me virei novamente para frente, sorrindo em aprovação para ele.

– Da próxima vez em que você me chamar de donzela de novo, eu vou deixar eles te meterem bala e te transformar em um enorme e branco queijo suíço – Branco me ameaçou, fingindo estar irritado mas logo veio até mim e me deu um abraço.

– Prefere Branca de Neve? – eu zombei, quando o soltei.

Ele revirou os olhos e me deu um soco no ombro.

– Por quê você não me avisou que estava vindo hoje para cá? Eu teria te recebido pessoalmente, apesar de fazerem anos que você não vem para esses lados.

– Eu quis fazer uma surpresa – eu pisquei pra ele, depois sorri quando me lembrei de uma coisa. – Aquele cara enorme lá embaixo até tentou me barrar, dizendo uma história estúpida sobre você estar em Ohio.

– O Montanha é novo, responde apenas o que foi treinado para fazer – explicou ele, balançando a cabeça com desgosto. – Mas por quê ele ou o Travis não me avisaram que você estava aqui?

– O Travis é o cara da revista? Ele nem me falou nada sobre você estar ou não. Já o Montanha, fez de tudo para que eu fosse embora... Mas aí eu fiquei de saco cheio do blá blá blá dele, empacando a minha vida. Você deveria ter visto o belo cruzado de direita que eu dei nele, nocauteando ele completamente. Acho até que eu quebrei o nariz do seu funcionário.

Branco arregalou os olhos, bastante surpreso.

– Wow – exclamou ele, tentando sem sucesso algum prender o riso. – Você é bom mesmo, deveria trabalhar para mim. Se me permite acrescentar, nunca ninguém antes chegou nem perto de derrubar o Montanha.

Eu abri o um sorrisão para ele.

– Mas o que te traz aqui? – Branco quis saber.

– Ah, é! Bella e eu... – eu tinha até esquecido completamente o motivo para estarmos ali. Virei para trás para fazer as devidas apresentações, mas parei de falar no mesmo instante depois do que meus olhos encontraram.

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Os outros dois capachos que não me seguiram estavam com as armas abaixadas, mas ainda estavam perigosamente perto demais dela para o meu gosto. E quando eu vi o terceiro colado a ela, abraçando-a bem forte por trás e com um punhal na sua garganta, aquilo me deixou puto de verdade, como eu fiquei somente duas vezes na vida. A garota estava mais branca do que já era, o que significava quase transparente, com os olhos vermelhos cheios de lágrimas me fitando aterrorizada.

Larga ela, seu arrombado filho da puta! – eu berrei, vendo tudo vermelho e já partindo pra cima deles com meus punhos fechados prontos para matar.

Fui impedido por Branco, que me parou segurando-me pelo ombro.

– Ela está com você? – perguntou ele, sem tirar os olhos de mim.

– É claro que está! – eu berrei com ele, começando a me debater para me soltar. – Eu vou matar esse viado, me solta porra!

– Você está puto de verdade, como eu só vi duas vezes na vida – ele disse baixinho, me olhando seriamente por um segundo antes de se virar para seus homens. Suas palavras seguintes soaram frias, mas eu o conhecia bem o bastante para perceber a irritação na sua voz. – Larguem a garota.

Assim que o cara soltou Bella e eles recuaram um passo para trás, se juntando aos outros quatro, ela veio correndo até mim chorando e chocou seu corpo contra o meu, terrivelmente assustada. Eu passei meus braços em volta dela, tentando acalmá-la, enquanto ela soluçava sem parar e murmurava coisas ininteligíveis.

Branco apareceu novamente ao meu lado com um copo de água nas mãos, estendendo-o para mim.

– Vamos, Bella, beba isto – eu disse, ajudando-a a segurar o copo com suas pequenas mãos trêmulas. – Vai te fazer bem, apenas beba. Está tudo bem agora.

– Em-mett, eu pen-pensei que ia... – ela não conseguiu terminar, apenas soluçou.

– Sente-a no sofá – Branco disse gentilmente, apontando para o sofá poucos passos atrás de nós.

Fui para o sofá, com a Princesa cambaleando ao meu lado. Me cortou o coração ver o estado da garota, ainda mais porque tecnicamente era minha culpa aquilo ter acontecido. Olhei para Branco sentado do seu outro lado em busca de ajuda, mas ele parecia saber o que fazer tanto quanto eu. Droga. Eu não podia deixá-la no carro, sozinha lá fora e longe do alcance dos meus olhos.

Eu senti uma vontade incontrolável de estrangular e esquartejar o infeliz.

– Eu vou puni-lo por você – ele jurou, como se tivesse acabado de ler minha mente.

Apenas com um discreto movimento de cabeça enquanto encarava ao sujeito, os outros homens rapidamente o renderam antes que ele tivesse a chance de fugir. Ele não lutou, apenas encarou Branco com o que eu julguei ser um olhar de misericórdia.

– Levem ele para a minha sala de trabalho – ordenou Branco, estreitando os olhos.

Eu vi os seis homens saírem da sala e nos deixarem a sós, arrastando o cara que gritava algo sem parar enquanto era cercado pelos demais. Quando a porta foi fechada, eu voltei meu olhar para o meu melhor amigo e abri um sorriso para ele. Ele me conhecia melhor do que qualquer um, pois tinha décadas de experiência.

– Sala de trabalho, é?

– Eu chamo aparelhos de musculação, tatami e boxe de trabalho – ele sorriu de volta.

– Que tal um braço ou uma perna a menos naquele babaca? – eu sugeri.

– Você é quem escolhe.

– Corte a língua dele fora, porque é grande demais para caber na sua boca. E as mãos também, para ele aprender que não se deve apalpar a qualquer um. Olha só o estado em que ele a deixou...

Bella conseguiu me focalizar, no meio de um oceano verde de lágrimas.

– Não faça nada com ele! – ela pediu, assustada. – Ainda que ele mereça uma punição, eu vou me sentir culpada pelo resto da minha vida.

Eu sorri de volta para ela.

– Bella, a gente só estava brincando – eu garanti a ela. – Talvez o cara só apanhe... Talvez não. Apanhe bastante, eu espero.

– Você é a Bella, a garota do Alemão? – Branco perguntou, estendendo uma caixa de lenços de papel a ela que eu nem o vi pegar.

Ela olhou de mim para ele, aceitando os lenços de papel. Quando estava controlada novamente – e eu ficava impressionado em como a garota conseguia transformar uma crise do maior berreiro em uma perfeita máscara de leve indiferença e educação – Bella assentiu, confirmando.

– Sou Bella McCarthy, a prima do Emmett vinda de Rochester, uma pequena cidade no sul do Reino Unido – mentiu ela, me deixando espantado e orgulhoso ao mesmo tempo com a naturalidade com a qual ela assumira sua nova personalidade.

Branco riu alto, surpreendendo-a.

– Ah, é claro que sim – ele sorriu ironicamente para mim, piscando para ela. – Eu até acreditaria nessa sua historinha bem bolada se não tivesse feito os seus documentos e fosse o melhor amigo dele de infância. Eu sei há décadas que ele não tem primo muito menos prima coisa nenhuma.

Bella arregalou os olhos, encurralada contra a parede, sem saber o que dizer.

– Está tudo bem – eu disse, segurando sua mão. – Bella, este é James White, praticamente meu irmão de sangue. Nos conhecemos desde os quatro anos.

Branco fez uma careta.

– Só a minha mãe e a sua é quem usam esse nome – resmungou ele, pegando a outra mão livre de Bella e a beijou. – Atualmente, sou o JW. Os mais íntimos podem me chamar de Branco. Estou encantado em conhecê-la, Bella.

Eu revirei os olhos para sua cena exagerada.

– Muito prazer, senhor White – disse Bella.

– Branco, por favor, minha querida – corrigiu ele, fazendo cara feia para mim. – Tá vendo só o que você fez?

Bella conseguiu desprender seu olhar do dele e olhar para mim.

– Relaxa, cara. Além do mais, Bella não é sua coisa nenhuma. Ela é areia demais pro seu caminhãozinho detonado de pneu careca.

Ele fechou ainda mais a cara. Eu tive vontade de rir.

– Bella é sua, por um acaso?

– Não, mas...

– Mas nada. Eu tenho chance, então bico calado. Além do mais, ela é quem escolhe o caminhão dela... E advinha só? Eu sou modelo 2013 e top de linha, super cobiçado.

– Vocês dois poderiam por favor parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? – perguntou ela, soltando sua mão de nós dois ao mesmo tempo.

Nós dois bufamos ao mesmo tempo.

– Tá. Você conseguiu o que eu te pedi? – perguntei.

– É claro! Você tá me tirando?! Esqueceu quem é o profissional por aqui? – resmungou ele.

– Não, eu sei que você é o cara nessa área – eu disse, sorrindo para ele. Branco não relaxou nenhum pouco. – Mas eu achei que...

Ele ergueu a mão, interrompendo o que eu estava dizendo. Bella e eu o observamos levantar e ir até o outro lado da sala, pegar um envelope branco e grosso sobre uma escrivaninha e voltar até o nosso sofá.

– Do que vocês estão falando? – perguntou Bella.

– Branco consegue documentos falsos com alta qualidade – respondi, na lata.

– Eu prefiro o termo empresário do setor pessoal – corrigiu ele, sorrindo.

– Documentos ilegais? – perguntou ela, olhando para mim.

Demorou um pouco, mas claro que eu acompanhei o que ela estava pensando.

– Bella, a minha ligação com Branco vai muito além de uma escolha de vida ou caminhos profissionais diferentes – eu expliquei a ela.

– Nossa relação é mais do tipo laço de sangue ou de família – continuou ele. – Eu sei que posso contar com o Alemão para qualquer coisa, assim como ele também pode fazer o mesmo comigo. É muito mais e está acima de escolhas entre o que é certo e o que é errado, apesar de eu pessoalmente acreditar que essas barreiras estão cada vez mais próximas uma da outra do que a maioria das pessoas imagina. Tudo se resume a: eu não me meto nos assuntos de tira dele, assim como ele também não se mete no meu trabalho.

– Ele sabe tudo sobre você? – perguntou Bella, olhando dele para mim.

– Obviamente que eu sei – intrometeu-se ele, sorrindo presunçoso. – Quer saber algum podre ou segredo do Alemão? Eu sou a pessoa certa para você procurar. Conheço cada detalhe do que se passa por dentro dessa mente oca. Ao contrário do parceiro branquelo dele, não há nada que ele me esconda.

– Talvez porque você seja o maior bisbilhoteiro e intrometido – ressaltei.

– Que seja. A questão é que a nossa relação é completamente pacífica. Pode sair faíscas às vezes, mas nada além. Eu descolo os documentos que você me pede, para qualquer missão. O tapado do seu parceiro nunca desconfiou de nada?

– Eu consigo enrolar o Edward quanto a isso – falei e estreitei os olhos para ele. – E não chame ele de tapado, sou só eu quem pode fazer isso.

– Que seja. De novo – repetiu ele, com seu tom arrogante. – Agora, eu só te devo um favor. Nosso crédito está se equilibrando, lembre-se disso.

– Tá, eu sei disso – eu respondi de volta, no mesmo tom. Vendo o olhar perdido de Bella, eu tratei de explicar resumidamente a situação. – Eu salvei a vida dele duas vezes, de modo que ele me deve dois grandes favores em aberto.

– Devia – ele me corrigiu. – Agora só devo um.

– Ok, mas aquelas cicatrizes dos tiros que eu levei ficarão no meu lindo corpo para sempre – rebati.

– Você levou dois tiros por ele? – Bella arregalou os olhos.

– Não é qualquer um que toma um tiro por um amigo – Branco se gabou.

– Dois tiros. Duas vezes. Em ocasiões e lugares diferentes – eu o corrigi desta vez.

– Tá, eu sei. Vai continuar dando seu ataque de frescura e querer que eu te pague uma plástica? – ele debochou de mim, rindo descaradamente. Peguei uma almofada atrás de mim e atirei nele. – Você conseguiu as fotos?

– Claro. Bella, passe as fotos para ele – eu pedi a ela.

Bella tirou a cartela de fotos do bolso e repassou a ele. Eu vi aquele sorriso malicioso – aquele, de quando se interessava de verdade por algo – aparecer em seu rosto.

– Uh, belas fotos, hein prima! – ele elogiou, piscando para ela.

Bella corou.

– Já pensou em investir na carreira de modelo fotográfica? Você tem a minha aprovação, é claro. E se precisar de um agente, eu estou disponível – falou ele levantando a mão, com a pior cantada que eu já ouvi na vida.

– Cara, que cantada péssima – eu disse, balançando a cabeça em reprovação. – Se toca. Agora, será que dá para retomarmos o foco?

Ele revirou os olhos para mim e se esticou até a mesa de centro, onde alcançou um tubo de cola bastão. Nós o observamos em silêncio terminar o serviço com habilidade, não deixando a menor falha visível em cada documento. Quando terminou de colar a última foto, ele sorriu para nós todo presunçoso.

– Aqui está, em tempo recorde. Menos de vinte e quatro horas, se me permite ressaltar, em um serviço que eu peço no mínimo cinco dias – ele foi tirando documento por documento do envelope e nos entregando, enquanto enumerava. – Carteira de identidade, certidão de nascimento, passaporte preenchido e carimbado, registro sanguíneo e carteira de habilitação.

– Carteira de Habilitação? – repeti, surpreso. Tentei imaginar a Princesa dirigindo.

– É, essa foi cortesia de minha parte. De nada.

Bella ainda examinava os documentos em mãos, olhando-os intrigada.

– São perfeitos, tem certeza de que não são de verdade?

– Obrigado por valorizar o meu trabalho, prima – ele sorriu para ela.

Babaca.

– E o extra? Conseguiu? – perguntei, interrompendo seu “flerte”.

Ele foi novamente até a mesa de centro e pegou um pequeno aparelho dentro de uma caixa bege. Antes de o entregar a mim, eu o vi apertar alguns botões. Peguei o celular e ergui uma sobrancelha para ele.

– Ui, Blackberry? – eu abri um sorriso torto.

– Obviamente, o modelo de última geração – ele sorriu largamente. – Eu só trabalho com produtos de primeira linha e, como você não me deu tempo o suficiente para descolar um Iphone para ela, isso foi o melhor que eu consegui... Aliás, Bella, acabei de gravar o meu número na sua discagem rápida, sou o sete. Sete é meu numero da sorte, então quando precisar falar comigo, estarei apenas a um número de distância.

Ignorei mais uma vez – para o bem dele – o meu melhor amigo de infância dando em cima da minha Princesa sob responsabilidade.

– Você não roubou isso, não é mesmo? – perguntei, encarando-o desconfiado.

– Claro que não! Assim você me ofende – ele explodiu, estreitando os olhos para mim com superioridade. – Eu por um acaso tenho cara de batedor de carteira? Não me venha com a piadinha racista de que “eu sou negro, moro no Brooklyn e roubo mesmo!”... É claro que não. Eu sou profissional, não um amador qualquer.

– Eu não ia dizer nada disso – eu falei para ele, revirando os olhos. – Como foi que você conseguiu esse Blackberry?

– Não se meta nos meus assuntos que eu não me meto nos seus – ele respondeu, o que soaria ríspido para qualquer um, menos para mim.

– Acho que eu devo lhe agradecer, Branco – intercedeu Bella, desviando o foco.

– Não foi nada, prima – ele mexeu as sobrancelhas, piscando. Agora chega!

– Pára com isso! Ela não é sua prima – rosnei para ele.

– Nem sua – ele rebateu.

– Tecnicamente e pra todos os efeitos, Bella é a minha prima – falei, enfatizando bem.

– Então eu posso chamá-la de prima também, já que eu sou da sua família há décadas – argumentou ele de volta. – Se até a sua mãe me assumiu como filho, por quê eu não posso adotá-la também?

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– Vocês parecem dois garotos birrentos, não homens – observou Bella.

– Eu realmente estou encantado com esse seu sotaque britânico, Bella. Eu acho super sexy mulheres britânicas – ele falou para ela, que ficou sem reação. Depois se virou para mim, interessado demais. – Onde foi que você a achou?

– Em um lugar que não é da sua conta, assim como Bella também não é. Preciso repetir o “não se meta nos meus assuntos que eu não me meto nos seus?”

Ouch – ele fez uma careta, fingindo se encolher no sofá. – Tá vendo só como ele trata o seu melhor amigo, Bella?

– Emmett, isso não foi nada educado da sua parte – ela me repreendeu.

Branco riu tanto que até tombou a cabeça para trás, colocando as mãos sobre a barriga. Eu balancei a cabeça para ela. Deus, ela acredita em tudo!

– Bella, ele está se aproveitando da sua bondade e inocência! – falei para ela.

– Eu não vou me aproveitar de nada dela, a menos que ela me peça – ressaltou ele.

– Bella, me passa agora a arma que eu te dei pra esconder. Vou fazer o grande favor de te dar um tiro agora, James. E ficamos quites. Ponto.

– Emmett, não me chame de James. Branco. B-R-A-N-C-O! – ele se irritou.

– Por quê seu apelido é Branco? – perguntou Bella de repente, ignorando nossa briga.

– Eu sempre gostei de ironias, desde pequeno – ele sorriu torto para ela. – James White é muito “europeu”, como se eu fosse um daqueles mauricinhos ensebados arrumados pela vovó. Fala sério! Eu sou um negão do gueto, tenho raízes e tudo mais. Eu tinha que ter um apelido legal, e o White me veio bem a calhar...

– Tá, eu vou falar a verdadeira razão – eu interrompi, caindo na risada. – Acontece é que ele sempre morreu de inveja de mim desde pequeno, porque eu era branco, loiro de olho azul e fazia o maior sucesso, porque era diferente de todos. Aí, como ele não podia ser branco que nem eu no físico, resolveu ser no nome. Essa é a verdade.

– Agora sou eu quem precisa da arma, prima – ele me fuzilou com os olhos.

– Cala a boca, você sabe que é verdade! – foi a minha vez de ter ataque de riso. – Você é um plagiador dos mais espertos. E ainda tem TOC, para piorar a coisa. Pra quê essa frescura de “ah, tudo branco para mim” e “tudo em quantidade sete”?

– Eu não tenho culpa de que branco é a minha cor, que ativa o meu lado sensual seduction – argumentou ele, todo presunçoso. – As mulheres se arrastam aos meus pés quando eu uso branco, nem conseguem disfarçar. E sete é o meu número da sorte desde pequeno, você sabe disso melhor do que ninguém.

– Ok, eu não vou discutir isso com você agora – eu falei, olhando-o seriamente. – Vamos deixar isso para outro dia. Bella e eu temos que ir embora agora.

– Temos? – perguntou ela.

– Viu o que eu disse? Mulher nenhuma resiste a mim – ele continuou com aquele papo de sou-a-última-bolacha-do-pacote. – Ela não quer ir, deixe-a aqui comigo que eu vou cuidar muito bem da prima.

– Você devia parar de dar em cima da garota desse jeito – eu o censurei, sério. – Na boa, você está assustando ela. E também você não está se valorizando. Tem que se fazer de difícil, porque é assim que elas gostam. De caras que não estão nem aí.

– Você é expert nesse assunto por um acaso? – desafiou ele.

– Claro que eu sou – eu dei um olhar bem superior para ele. – Agora, como eu estava dizendo, nós temos que ir, Bella. Vamos passar em um lugar antes de irmos.

– Tudo bem, Emmett – ela deu um pequeno sorriso e ficou de pé.

– Se quiser ficar, meu convite continua de pé – reforçou Branco, ignorando-me totalmente ali e oferecendo o braço a ela. – Saiba que pode voltar quando quiser.

– Obrigada, Branco – ela sorriu para ele, que ficou radiante.

– Vamos logo – eu comecei a ir para a porta.

– Eu acompanho vocês até o carro e aproveito para dar uma olhada no Montanha desacordado – ele riu, enquanto vinha atrás de mim com Bella junto dele.



Bella



– Quer dizer então que vocês dois acharam aquele lugar e exploraram cada parte daqueles túneis? – perguntei, não acreditando no que ele me contava.

Estávamos no corredor, quase na porta do apartamento de Alice. Desde que saímos do Brooklyn, Emmett me contou várias coisas sobre a história dele com Branco, de forma que eu dei bastante risada naquela tarde.

– Pois é, descobrimos aquele lugar quando tínhamos quinze anos e passamos a assumir aquele lugar como nosso esconderijo secreto – concordou ele, baixando a voz. – Agora nem Alice ou Edward podem saber que estivemos lá, muito menos que o que aconteceu... Vamos contar só uma parte da verdade.

– Tudo bem – eu assenti, como tínhamos ensaiado no caminho de volta para casa. – Nós dois saímos de manhã, você me levou para tirar fotos, depois encontrou um amigo seu no centro em um restaurante, enquanto eu fiquei dentro do carro por cinco minutos com Preciosa. Depois, nós fomos até uma loja de departamentos, passamos nas lojas esportivas que você falou, em um... hummm... pet shop, e viemos para casa.

– Nike e Adidas – completou ele, sorrindo para mim quando paramos na frente da porta. – Muito bom, está bem convincente e só omitimos um pequeno detalhe.

Eu sorri de volta para ele, que estava com várias sacolas nos braços, enquanto eu carregava apenas uma leve sacola – que eu tive que tomar das mãos dele, porque ele não ia me dar nenhuma. Preciosa miava alegremente atrás de nós, exibindo seu novo laço lilás na cabeça e contente pelas coisas que Emmett e eu compramos para ela.

– Vamos entrar, antes que Edward coloque o FBI atrás da gente – ele riu da própria piada e apertou o botão da campainha.

Alice abriu a porta alguns segundos depois, bastante surpresa.

– Olha só, a dupla de desaparecidos apareceu – disse ela sarcasticamente, dando um sorrisinho para nós. Depois ergueu uma sobrancelha quando olhou para Emmett, carregado de sacolas. – O que vocês dois fizeram? Compras... e sem mim?!

Eu passei por ela rapidamente e me deparei com o agente Cullen em pé nos degraus de uma escada no meio da sala, com uma lâmpada enfiada no bolso de trás de sua calça jeans. Ele olhou de mim para Emmett sem saber o que dizer, e eu não pude decidir se sua expressão era desconfiada ou incrédula.

– Ei, Ed, o que você está fazendo aí nessa escada? – perguntou Emmett, passando por mim e jogando todas as sacolas no sofá de uma vez.

– Não está vendo, eu estou tentando chegar ao céu. O que você acha, gênio?

– É mesmo? – ele riu, assim como Alice. – Eu acho que você anda bem mal criado ultimamente, se quer mesmo saber. Esme não aprovaria esse seu comportamento.

O agente Cullen bufou, encaixou a lâmpada no teto e desceu para o chão.

– Vai me dizer aonde é que vocês dois estavam e que paradas estavam fazendo? – perguntou ele, olhando dele para mim. – Estou pronto para as explicações.

– É, eu também quero saber – disse Alice, indo para perto dele e encarando a mim e ao agente McCarthy ao mesmo tempo. – Posso saber por quê você saiu com ele?

– Emmett me pediu ontem para que eu o acompanhasse hoje em alguns compromissos, que inclusive tinham a ver comigo – expliquei, olhando para os dois.

– Quando? – perguntou Edward.

– Enquanto você e Alice discutiam na sala – eu respondi, sorrindo.

– É, isso mesmo – reforçou Emmett. – Querem o nosso itinerário completo?

– Por favor – disseram os dois ao mesmo tempo, o que fez a Emmett rir.

– Tudo bem, tudo bem – ele sorriu. – Apesar de vocês dois parecerem extremamente controladores em relação a Bella e a mim, eu tenho que dizer que somos maiores de idade e responsáveis por nossos próprios atos. Tenho que lembrá-los também que os Estados Unidos é um país livre e, embora não pareça, eu também sou responsável por Bella tanto quanto vocês.

– Pára de me enrolar, Emmett – interrompeu Edward.

Emmett revirou os olhos.

– Tá, se liga só na nossa aventura do dia – começou ele, puxando uma cadeira da mesa para mim e se sentando em outra. – Primeiro, eu levei a Bella até o shopping em uma daquelas cabines de foto instantânea.

– Cabine de foto instantânea? – repetiu Alice, sentando-se no encosto do sofá.

– É, isso mesmo – respondeu ele, depois se virou para mim. – Bella, mostre para eles a prova do que eu estou dizendo.

Procurei pelas fotos que nós dois tiramos dentro do bolso do meu casaco e, enquanto Alice e Edward olhavam as fotos tentando não rir, Emmett apressou-se em continuar.

– Tão vendo só que maneiro? Bella e eu somos uma dupla fotogênica imbatível, para o conhecimento de vocês... Eu precisava das fotos dela para o compromisso número dois – dessa vez ele tirou o envelope de dentro do bolso de sua jaqueta e o entregou aos dois. – Saímos do shopping e eu passei em um restaurante no centro onde fiquei por cinco minutos, enquanto Bella permanecia quietinha e segura no carro.

– Você conseguiu documentos falsos para Bella? – indagou Alice, surpresa.

– Eles vêm do mesmo lugar que você sempre pega? – perguntou Edward, olhando dos documentos para Emmett, desconfiado.

– Sim e sim – continuou ele, dando um rápido olhar para mim. – Usei os meus contatos para conseguir eles. E na hora em que você me ligou, Ed, eu estava dirigindo para irmos ao compromisso número três.

– Quantos compromissos vocês tinham? – interrompeu Alice mais uma vez.

– Emmett me levou a vários lugares – eu disse a eles.

– O compromisso número três era o Mc Donald’s – continuou ele, piscando para mim. – Fala sério, não tem como a Bella vir para os Estados Unidos e não conhecer um Mc Donald’s. Bella, entregue a eles a prova número três.

Passei a eles o pequeno gato de pelúcia, que estava preso em uma das sacolas.

– Ela foi oficialmente batizada com um Mc Lanche Feliz, como qualquer pessoa normal. E eu pedi um lanche de verdade para ela também, porque as crianças não comem. Todo mundo sabe que elas só vão atrás do brinquedo.

Alice e Edward reviraram os olhos.

– O que nos leva ao compromisso número quatro. Bella, por favor.

Peguei o pequeno aparelho que Branco me dera, o... celular, isso. Alice e Edward me olharam como se eu segurasse uma granada em mãos.

– Você deu um celular para ela? – falou Alice, quase gritando.

– Ela sabe como usar um Blackberry? Sem ofensas, majestade – emendou Edward.

Eu não disse nada, mas Emmett revirou os olhos para eles.

– Qual o problema de vocês dois? – ele os repreendeu. – Como esperam que Bella viva no século XXI sem um celular? E se ela precisar falar com a gente, como é que ela faz? Manda um sinal de fumaça? Código Morse? Pombo correio? Tele-transporte?

– Eu não estava... – disse o agente Cullen, querendo rir do seu súbito ataque.

– É, você não estava pensando nisso, não é? – o agente McCarthy pareceu voltar ao seu estado normal, brincalhão de novo. – Mas eu pensei, e vou ensiná-la a usar o celular também. E não tem problema nenhum eu comprar um celular para ela, porque saiu do meu bolso e eu uso o meu dinheiro como quiser Alice. O Wal-Mart adorou conhecer o meu cartão de crédito.

Alice fechou a cara para ele, Edward soltou uma risadinha.

– Depois Emmett me levou a lojas de material esportivo – decidi continuar, para ajudá-lo também. – Hummm, os nomes eram... Nike e Adidas – Emmett sorriu para mim, orgulhoso. – Ele me disse que precisava comprar um tênis novo para si, e quando me perguntou qual modelo eu tinha comprado, ele quase teve um ataque cardíaco.

– Verdade – concordou ele, soando desapontado. – Alice, como é que você deixa a garota sem nenhum tênis e nenhuma jaqueta esportiva? O que você acha que ela é?

Alice estreitou os olhos para ele, bastante ofendida.

– Exatamente o que você disse: uma garota – respondeu ela, soando bastante ríspida. – Bella não é um garoto para usar moletons, tênis e boné. Eca!

– Isso é um preconceito obtuso – disse ele, olhando para mim e rindo.

Obtuso? – ela guinchou. – Eu vou te dizer o que é obtuso...

– Vocês vão mesmo discutir por causa de tênis e moletom? – interrompeu Edward.

– Você tem razão, agente – eu intercedi, continuando de onde parei. – Emmett comprou algumas coisas para ele, além de três pares de tênis e algumas jaquetas de moletom bem maneiras para mim.

Maneiras? – repetiram Alice e Edward ao mesmo tempo, bastante chocados.

Eu corei, envergonhada. Será que eu tinha usado a palavra no sentido errado?

– É, eu tô ensinando umas gírias pra Bella. E ela tá aprendendo. Bom trabalho, Bella.

– Obrigada, Emm – eu sorri de volta para ele, me sentindo mais aliviada. – O compromisso número seis foi um pet shop enorme, onde compramos várias coisas para Preciosa. Vocês precisavam ter visto como ela ficou enérgica dentro daquele lugar... Tinha tanta coisa tão legal!

Nesse momento, todos olharam para a minha gata, sentada elegantemente sobre suas patinhas de trás ao meu lado e exibindo seu novo laçinho de cabeça lilás.

– Ninguém ainda tinha pensado nisso – disse Edward, pensativo.

– Pois é, mas eu pensei. De novo – disse Emmett, se exibindo.

– E então voltamos para casa – concluí, sorrindo junto com Emmett.

– Só tenho uma coisa a dizer sobre isso tudo – disse Alice, depois de um breve instante de silêncio.

Todos nós olhamos para ela, enquanto ela se levantava do braço do sofá e olhava para as sacolas com nojo.

– Bella não vai sair de casa usando nada disso. Nem morta eu vou permitir.