Céu & Mar

All Of The Stars


Annabeth

Acordei com a luz do sol no meu rosto. Meu corpo estava dolorido por ter dormido naquela posição desconfortável. Era possível ouvir o canto alegre dos passarinhos e sentir a brisa matinal acariciando meu rosto. Abri os olhos devagar e me deparei com um rosto masculino adormecido. E todas as memórias da noite anterior vieram à tona.

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– Então não foi um sonho - Murmurei baixinho para ninguém em especial.

Nico di Angelo era lindo até dormindo. Estava recostado no tronco da árvore de forma desleixada, com o braço esquerdo envolvendo a minha cintura. Eu havia adormecido com a cabeça apoiada em seu peito, embalada pelo som de seus batimentos cardíacos.

Recordei-me de nos beijarmos várias vezes. Na primeira vez, hesitei. Minha consciência me repreendeu, e afirmou que era de Luke que eu gostava. Porém, quando eu mergulhei nas profundezas escuras dos olhos daquele moreno eu acabei mandando aquela vozinha irritante se foder.

Não posso negar que foi bom. Okay, foi ótimo. Depois, adormecemos sob a luz da lua, fazendo o possível para não desabar dos galhos da mangueira.

Naquela manhã, ao observar o meu melhor amigo adormecido ao meu lado, a realidade abateu-se sobre mim. Como seria de agora em diante? Será que ficaríamos estranhos um com o outro? E quanto a Luke?

Afastei-me um pouco do garoto, tomando cuidado para não despertá-lo, e apoiei a cabeça nas minhas mãos, tentando raciocinar.

Nos últimos dias eu havia percebido que Luke estava mais próximo de mim. Nos encontrávamos frequentemente, seja nas escapadas para o banheiro, ou recostados num lugar mais privado. E em cada vez que ficávamos eu tinha mais certeza de que eu poderia investir naquilo, transformar numa coisa mais séria. E ele parecia compartilhar os mesmos pensamentos que eu. Eu mal podia acreditar que estava saindo com Luke Castellan, o garoto mais desejado do acampamento, a minha paixão platônica desde... Sempre. Eu estava certa das minhas decisões. E agora, Nico apareceu para bagunçar toda a minha cabeça.
Eu não tinha mais certeza de que queria investir num namoro com Luke, ou de que estava perdidamente apaixonada por ele.

Deixei escapar um gemido de frustração. O que foi uma péssima idéia. Nico remexeu-se no galho, perdendo o equilíbrio.

– Nico! - Gritei, desesperada e o segurei pelos braços.

Ele despertou com um sobressalto, agarrando-se à árvore com todas as forças. Depois que ele retomou o equilíbrio, ficamos alguns segundos nos encarando, sem ter idéia do que dizer.

– Hã... Acho que deveríamos ir - Ele quebrou o silêncio, coçando a nuca e bagunçando ainda mais seus fios negros. - Sabe... Pro acampamento.

Balancei a cabeça em concordância.

Com a luz do dia era possível ter uma noção melhor de onde estávamos. Afastei as folhagens e avistei o topo da parede de escalada, não muito longe.

– O acampamento não está longe - Mostrei-lhe a parede de escalada. - Vamos.

Meus pés tocaram o chão com o estalar seco das folhas mortas, o único som que ficou presente entre nós. Começamos a caminhar na direção que eu indiquei. Durante todo o percurso nenhum dos dois tocou no assunto da noite anterior. Aliás, não trocamos nenhuma palavra sequer. Um clima desconfortável pairava entre nós.

Depois de um tempo considerável, finalmente chegamos ao acampamento. Eu estava exausta, suja, faminta e com sede. A primeira pessoa que avistei foi Thalia. Ela arregalou os olhos e correu em minha direção.

– Eles voltaram! - Avisou para todos, enquanto corria.

Antes que eu me desse conta, ela me envolveu num abraço de urso. Estranhei aquela atitude, para Thalia abraçar alguém a situação deveria estar crítica.

Depois de alguns segundos ela me soltou e me encarou, séria.

– Nunca mais faça isso! - Advertiu. - Você tá bem? Se machucou? Quebrou alguma coisa?

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Sua preocupação e a enxurrada de perguntas me fizeram rir.

– Eu estou bem - A tranquilizei. - E aí? Nosso time ganhou?

– Você desaparece, passa a noite na floresta e ainda se preocupa com um jogo idiota?? - Exclamou.

Uma pequena multidão já se formava a nossa volta. Vi Luke surgir no meio dos campistas, olhando para os lados como se estivesse procurando alguma coisa. Então seus olhos de safira focalizaram em mim e ele assumiu uma expressão aliviada. Veio rapidamente na minha direção. De forma inesperada, envolveu-me em seus braços e tascou um longo e desesperado beijo. Ele me pegou de surpresa. O turbilhão de confusões na minha cabeça aumentou ainda mais.

– Como você tá? - Ele indagou, me olhando de cima a baixo para checar o meu estado. - Fiquei tão preocupado...

Quando ele me soltou, pude notar com minha visão periférica o rosto de Nico convertendo-se numa careta de dor e indignação. Em seguida, ele deu as costas para todos e afastou-se correndo.

Meu sangue transformou-se em chumbo líquido. Odiei-me com todas as minhas forças. Me senti desprezível, pior do que o lodo que formava-se no ralo dos chuveiros femininos. Eu era o pior ser humano da face da terra.

Mesmo com os meus protestos de que estava ótima, Quíron insistiu em me levar para a enfermaria. Luke ofereceu-se para me acompanhar, mas Thalia tomou a frente.

– Pode deixar que eu vou - Ela afirmou. - Assim ela vai estar em boa companhia.
E me arrastou para longe, deixando o loiro plantado com cara de interrogação. Não entendi o porquê de tanta aversão à Luke, mas não discuti com ela. Eu só queria dormir e, quando acordar, descobrir que tudo não se passou de um sonho bizarro.



Thalia

– Vocês o quê??? - Falei um pouco mais alto do que deveria, depois de Annabeth me contar suas incríveis peripécias da noite passada.

– Shhh - Ela levou o indicador aos lábios, num sinal de silêncio.

Éramos as únicas acordadas no nosso chalé. Já se passava da meia-noite. Ela estava sentada na minha cama, trocando confidências aos sussurros.

– Pois é, nos beijamos - Ela confidenciou, suspirando. - E agora eu acho que perdi o meu melhor amigo.

– Ei, não pense assim! - Adverti. - Você ainda pode consertar tudo.

– Posso?

Ela brincava com a bainha do pijama de corujinhas, desconfortável.

– Sim, mas primeiro você tem que se decidir. Quem você quer, Annabeth? Não pode ficar em cima do muro pra sempre.

Ela mordeu o lábio inferior.

– Aí é que tá o problema. Nem eu sei. Eu penso que quero algo, mas meu corpo diz outra coisa. É tão complicado! E você sabe que eu detesto não saber.

Sim, eu sabia. Era possível imaginar as engrenagens trabalhando na cabeça de Annabeth.

Suspirei.

– Não sei como posso te ajudar. Vá dormir um pouco, clarear os pensamentos. Seus neurônios estão prestes a explodir por sobrecarga - Brinquei, fazendo cócegas em sua barriga.

– Okay - Ela riu baixinho, para não acordar as meninas. - Boa noite.

Dito isso, escalou o beliche para a cama de cima.

Aconcheguei-me nas cobertas, mas não cheguei a pegar no sono. Quando a realidade já estava quase se esvaindo de mim e eu estava entrando no embalado calmo da inconsciência, batidas insistentes na janela me despertaram. O barulho não pareceu incomodar as outras. Pé ante pé, fui me aproximando. Quando o vidro já estava visível, consegui distinguir um rosto na escuridão. Meu coração sambava em meio peito, mais alto que os roncos de Rachel.

– Hey! - A voz do outro lado cumprimentou, num sussurro apressado.

– Q-quem é você? - Indaguei baixinho, assustada.

– Sou eu, Percy. Venha aqui.

— Ed Sheeran - All Of The Stars —

Soltei o ar dos pulmões, aliviada. Abri com cuidado a trava da janela, sentindo o ar frio da noite. Eu usava somente uma camiseta folgada dos Yankees e um short curto de algodão, que não me serviram de muita coisa. Atravessei a pequena saída, deixando o quarto. A grama úmida pela orvalho noturno tocou meus pés descalços.

O garoto estava mais protegido. Portava um casaco azul-marinho, o mesmo que o vi usando na noite da fogueira. Mas vestia bermuda de flanela e também estava descalço. Me cumprimentou com um rápido selinho e começou a me puxar para longe.

– Ei, isso não seria proibido? - Perguntei, enquanto seguíamos para sabe-se lá onde.

– Se você obedece todas as regras, acaba perdendo a diversão - Retrucou, com um sorriso malicioso.

Suas palavras me fizeram sorrir.

– Então pode me dizer pelo menos a onde nós estamos indo?

– Não. Você verá quando chegarmos. A propósito... Adorei esses seus shorts - Provocou.

Aquela informação fez minhas bochechas arderam como braseiros.

Ultrapassamos a Casa Grande e eu percebi que tomávamos o rumo do pinheiro. Escalamos a colina com dificuldade, a respiração pesada pelo esforço e pelo frio. As pedrinhas, galhos e detritos do chão já estavam machucando meus pés.

– Por que me trouxe aqui? - Indaguei quando chegamos ao topo.

Ele se jogou aos pés da árvore e eu imitei o gesto.

– Para ficarmos mais à vontade - Respondeu, em tom sugestivo.

Arqueei uma das sobrancelhas.

– E porque a vista é bonita - Apressou-se em acrescentar.

De fato, era um cenário de tirar o fôlego. Dali era possível ver toda a extensão do acampamento, até o mar ao longe brilhando com a luz do luar. Depois de um momento admirando a paisagem, rolei para longe da sombra da árvore, de forma que fosse possível avistar as estrelas. Percy deitou-se ao meu lado, também fitando o céu.

– É lindo... - Murmurei.

– Obrigado, todos dizem isso - Gabou-se, passando a mão pelos cabelos.

Revirei os olhos.

– Você não, Cabeça de Alga. O céu.

Ele riu.

– Deixarei o mérito para as estrelas, dessa vez. Mas você mesma sabe que eu brilho mais.

Um sorriso formou-se em meus lábios.

– E qual é desse novo apelido? - Virou de lado, apoiando-se no cotovelo, para poder me observar.

– Sei lá - Respondi, ainda mirando o céu. - Talvez porque você não tem cérebro, então precisava de alguma coisa para preencher o espaço vazio. Algas, talvez.

– Ei! - Protestou, cutucando minha barriga.

Me contorci com as cócegas. Logo estávamos numa guerra de cócegas, comigo sentada em sua barriga, o imobilizando com uma perna de cada lado do seu corpo. Em meio a risos e protestos, Percy aproveitou-se de uma brecha na minha defesa para me virar na grama e ficar por cima de mim.

Entretanto, ele parou de tentar me fazer rir. Ficamos nos encarando em silêncio por um bom tempo, com nossos rostos quase colados. Suas íris esverdeadas eram como labirintos, em que eu adorava me perder. Despertavam em mim os desejos mais sacanas, os quais eu nem sonhava que possuía.

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– Como vai ser quando tudo isso aqui acabar? - Ele perguntou de repente, ainda com os olhos fixados nos meus. - Quando o verão terminar e voltarmos para as nossas casas?

Eu não havia parado para pensar nisso. Lembrei-me imediatamente de algo que a minha mãe dizia, quando eu era pequena e olhávamos as estrelas da janela do nosso apartamento. Eram meio ofuscadas pelas luzes da cidade, mas ainda estavam lá.

– Olhe para o céu - Ordenei.

Ele ficou me encarando com confusão.

– Anda logo, olha! - Mandei, impaciente.

Ele bufou e saiu de cima de mim, relutante. Deitou se com os braços apoiados atrás da nuca.

– O que você vê? - Indaguei.

– Hã... Estrelas?

Ele deveria estar achando que eu era maluca. Respirei fundo e prossegui.

– As pessoas veem as estrelas de maneiras diferentes. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os cientistas, são bolas de gás estourando a milhões de quilômetros. Para outros, os sábios, são problemas. Mas você verá as estrelas de uma forma diferente. Quando olhar o céu de noite, lembre-se que eu estarei lá, onde quer que for, admirando as estrelas também. Sempre estarei contigo.

Não sei como algo tão piegas saiu da minha boca, mas pareceu surtir efeito em Percy, que fitava o céu, admirado.

– Okay... - Ele virou-se para mim novamente, em seguida indicou o litoral, ao longe. - E você, quando vir o mar beijando a praia, até onde o horizonte alcança, lembre-se de que eu estarei em algum lugar, surfando e pegando as gatinhas.

Ele riu ao ver a minha expressão.

– Chato - Resmunguei, virando-me de costas para ele não reparar na risada que eu tentava conter.

– É brincadeira, Cara de Pinheiro - Abraçou-me por trás e sussurrou no meu ouvido, causando um arrepio naquela região. - Eu sou só seu.

Deixei escapar um meio sorriso, mas continuei de braços cruzados. Ele traçou uma trilha de beijinhos no meu pescoço até alcançar a minha boca. Entreguei-me a um beijo profundo, ávido, cada vez mais feroz. Percy livrou-se do casaco, já que o calor dos nossos corpos era suficiente. Suas mãos passeavam pelo meu corpo, como se quisessem memorizar cada detalhe. Eu o desejava intensamente, como nunca antes desejei alguma coisa.

Éramos dois malucos se pegando debaixo de um pinheiro, no frio da madrugada. E eu tinha certeza de que o amava. Talvez ainda mais do que eu gostava de pizza. Aquele pensamento me fez rir.

Ele parou de me beijar e me observou, confuso.

– O que foi?

– Te amo mais do que pizza - Confidenciei, envergonhada.

– Ahh - Percy resmungou, desapontado. - Eu programei uma noite incrível para dizer que te amo e você falou primeiro. Isso não se faz.

Um sorriso alargou-se em meu rosto ao ouvir aquela frase. O moreno também sorriu, então selou nossos lábios novamente, envolvendo-me no seu mundo. Um mundo só nosso. Meu mundo favorito.