Céu

Capítulo 23 – A verdade é um fruto da cumplicidade


Na hora do almoço no dia seguinte, Rukia ficou mais tempo na sala. Não estava muito a fim de ter que continuar falando com Mai. Mas não era por estar com raiva dela ou algo assim. Só não sabia como agir diante de uma pessoa que não era o que parecia ser. E ela sabia o que ela era. Agora tudo fazia sentido. E não queria ter que continuar fingindo pensar que ela era o que ela queria que ela pensasse que fosse. Muito complicado. Mas não queria ter que ficar interpretando. Se ela se referia a ela como uma amiga, por que não contava a verdade? Qual era pra ela o conceito de amizade? A estava apenas usando para mantê-la sob vigilância mesmo? Foi isso que ela fez com o Ichigo no passado? Apenas o usou? Ela era assim tão... Baixa?
Lembrou-se da briga que ouvira daquela vez na escada... Aquela vez que suas sandálias quase acabaram com seus pés... Os dois falavam dela.
Mas mesmo assim, alguma coisa dentro de si não queria acreditar que a garota que a acolhera na imensidão da Universidade de Tóquio fosse assim tão cruel. E não, não era por saber das constantes crises de choro dela. Não era por saber que ela era fraca e insegura. Era alguma coisa misteriosa... Como se de algum modo, quisesse acreditar que eram amigas. Gostava dela. Sabia que ela tinha uma boa essência. E queria poder conhecê-la melhor. Mas como podia gostar de uma pessoa que era falsa o tempo todo?
Sacudiu a cabeça. Estava ficando mais confusa que Ashido. O efeito que Mai causava nas pessoas era sempre perturbador. De alguma forma, perturbador.
Tinha o livro da próxima aula aberto na mesa para que ninguém a perturbasse, como se estivesse estudando. Mas a verdade é que sempre tinha algo que a atrapalhava a realmente fazê-lo. Se não era em Tóquio, era em Kofu. E seria em qualquer lugar.
Ouviu passos. Mergulhou os olhos azuis nos livros tentando parecer o mais concentrada possível. Mas não era Mai, percebeu logo. Não havia barulho de saltos.
- Oi. – ouviu uma voz masculina. Subiu os olhos.

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- Ichigo... – murmurou olhando o jovem. Ele parecia meio embaraçado. Certo. Ele era sempre assim. Quase sorriu. – O que foi? Ninguém quer merendar com você? – debochou. – Os coleguinhas são maus?
- Idiota. – ele falou entre dentes. – Até parece que você pode falar alguma coisa. – sentou-se próximo a ela. – Os coleguinhas não te chamaram pra almoçar hoje porque é a mais nerd da turma.
- Há. – ela cruzou os braços. – Você não é engraçado.
- Como se você fosse.
Ficaram em silêncio, como sempre.
- Ahn... – ela o quebrou. – Mas acho que você não veio aqui exatamente por solidão, né? Então o que foi?
- É... – recuperou a posição tímida de antes. – Bem... É sobre o Infernal-sama... – desviou os olhos.
- Ah... – continuava olhando pra ele. – As listas?
- É. – ele devolveu o olhar. – Já fez a sua?
- Sim. – ela assentiu com a cabeça.
- Então... Podemos mostrar, né?
- É.

****

- Ela não veio... – Chiharu observou.
- Ela estava estudando... – Mai tentou não fitar nenhuma das duas diretamente. Sua cabeça já estava cheia daquela história toda. Ou estória?
- As pessoas estão comentando... – Fuu meteu sua língua venenosa na conversa. – Que os dois estão escondendo o jogo... – riu. – Mas eu acho é que a Rukia-chan está com vergonha.
- As pessoas estão comentando isso também? – Chiharu tentou não deixar a ferocidade ultrapassar seus olhos. Trincou os dentes. Todo mundo ia pensar errado de novo e Mai ia enlouquecer!
- Bem... – ela recostou-se na cadeira com um sorrisinho malicioso e ao mesmo tempo relaxado. Era incrível como aquilo lhe fazia bem. – Acho que um pouco...
A morena de olhos esverdeados apertou um punho embaixo da mesa. Aquilo estava indo longe... Queria só agarrar-se à esperança de que aquela nuvem se dissipasse logo, e todos pudessem esquecer-se de que ela esteve ali.
- Fuu... – Mai interveio de repente. A voz branda demais para ser normal. – Será que poderia parar com isso? Já deu, né? Não quero mais infernizar o Kurosaki.

- Ahh, Mai-chan... – ela continuava sorrindo. – Mas as coisas estão ficando divertidas!
- O meu objetivo era ajudar a Rukia e o Kurosaki. – ela falou dessa vez mais firmemente. Os olhos negros grudados na garota de cabelo rosa. – E agora os estamos atrapalhando.
- Ei, ei! – uma garota magricela aproximou-se da mesa.– É verdade que o garoto laranja tá com a nerdzinha do interior, não é?
Todos os olhos viraram-se para ela. As bocas hesitaram.
- É, parece que sim, né? A história está meio confusa. – Fuu sorriu.
- Tinha um boato dizendo que era mais uma loucura dele. – ela riu. – Mas acho que esse boato é totalmente falso!
- Por que você acha isso? – Mai perguntou subitamente interessada naquela animação.
- Ué, ela não está aqui com vocês, não é? E o doido de cabelo laranja voltou pra sala assim que todo mundo saiu, eu vi!
Chiharu arregalou os olhos pra Mai que correspondeu imediatamente o olhar espantado.
- É mesmo? – a loira permitiu-se relaxar os músculos. Lembrou-se de Rukia dizendo que eles se entendiam... É. Podia ser que a bagunça toda ainda tivesse uma salvação. Finalmente sorriu. – Uau. Então a foto não era uma montagem afinal.
- Acho que ele precisava mesmo de uma garota certa, né? – foi se metendo a colega de classe de Mai e Fuu. – Talvez ela dê um jeito nele.
A geminiana olhou para a loira e levantou os ombros como quem declara uma vitória.
Mas dessa vez, se ninguém saísse machucado, a loira escorpiana não se importaria de perder.

****

Ficaram de pé na sala de aula. Caminharam até bem perto do quadro e ficaram de costas um para o outro. Abriram os papéis.
- Quer começar? – Rukia perguntou sentindo o coração acelerar um pouco. Olhando para todos aqueles números na sua lista... Era atordoante! Como diria aquilo? Como transformaria em voz toda aquela tinta de caneta? Mesmo estando de costas...
- Sim. – ele respondeu nervoso. As mãos suavam no papel. Será que aquela pequena podia sentir nas próprias costas seus batimentos cardíacos? Será que ela iria compreender dessa vez?

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Respiraram fundo.
- Defeitos de Ukitake Rukia. – ele começou debilmente lendo o título. – Um, se mexe muito quando dorme.
Os lábios dela estremeceram.
- Dois, não sabe beber.
Ela sorriu. E envergonhou-se. Queria pular esse capítulo.
- Três, desenha muito mal.
O sorriso fechou-se bruscamente. Como assim?! Teve ímpetos de abrir a boca e reclamar, bater o pé e fechar a cara. Mas controlou-se. Estava ali na missão de ouvir. Ouvir a sinceridade e o coração dele em suas costas.
- Quatro, é muito difícil de sair da defensiva. – fez uma pequena pausa. – Mas creio que isso pode mudar. – acrescentou baixinho.
E agora ela sabia que ele também podia ouvir seu coração.
- Cinco, é barraqueira.
- Ah! – ela soltou, mas logo se calou. Inflou as bochechas. Se ela era barraqueira era culpa do Infernal-sama! Aliás... Tudo, tudo era culpa dele!
- Seis, é muito pessimista. – essa ele falou com a respiração mais cansada. Porém, sorriu. – Mas também acredito ser mutável. – observou. - Sete, é agressiva.
O ruivo tomou uma cotovelada básica nas costelas.
- Ai! – gemeu.
- Só pra ilustrar. – ela disse em tom casual empinando o queixo.
- Por que é que eu sempre esqueço do seu sarcasmo? – ele murmurou ainda com sua voz de dor.
Ficou esperando. Mas só ouvia os resmungos do ruivo.
- Sabe, não temos o dia inteiro... – resolveu acordá-lo.
- Eu que devia dizer isso. – ele jogou o papel no chão. – Já terminei.
Os olhos azuis então cresceram e paralisaram-se. Então era isso mesmo? Eram só sete? De vinte e um, eram só sete? Verdadeiros sete?
Calou-se até mesmo nos pensamentos. Sentiu a respiração dele. Inalou o perfume cítrico. Olhou o papel caído no chão. Era verdade.
- É minha vez. – ela disse ligeiramente trêmula. E feliz. Não entendia bem, mas estava feliz. De alguma forma, os lábios estavam teimosos em esticar-se levemente. E o coração parecia massagear o peito. Nunca teve tanta vontade de olhar nos olhos dele.
O que será que ela tinha refeito? A aceitação sabia que sim. Mas a visão...

Os olhos de seu coração haviam conseguido enxergar através do gelo?
- O Ichigo é... – ela começou subitamente. - Apegado à família. Se veste bem. Faz caras muito engraçadas. – sorriu.
Até ali não era nenhuma novidade. Ela continuaria?
Ouviu o suspiro dela.
- Eu gosto do seu perfume. Da sua criatividade. Do modo como se empenha em ser um bom médico...
O peito estava mais quente agora... Era alguma coisa na voz dela. Não. Era alguma coisa nela.
- O Ichigo sabe patinar... Tem personalidade... E é romântico.
Não pôde deixar de sorrir. Mesmo que pequenamente. Ela enxergara.
- É surpreendentemente paciente. Protetor. Cúmplice... E confiável.
Os olhos castanhos brilharam. O coração deu-lhe um tranco e não queria se acalmar. Precisava desesperadamente encontrar-se com aquele azul. Precisava ter certeza de que não estava ouvindo uma simples voz. Mas a voz dos olhos dela. Os olhos que sempre mostravam mais de sua alma.
Cúmplice, confiável... Ela estava mesmo se empenhando pra buscar a fé que queria... Ou estava se abandonando?
Ouviu o barulhinho do papel cortando o ar e caindo no chão. Ela havia terminado também.
O silêncio reinou na sala. Por uns segundos tudo que podiam ouvir era o corpo um do outro. Os corações, as respirações, a tensão e o alívio. A satisfação.
Ele enfim girou. Encarou as costas dela.
Ela fez o mesmo. E os olhos se encontraram.
Era impossível que os dois não sorrissem gradativamente um para o outro naquele momento. Estavam em verdadeira sintonia.
Ela sabia que o brilho no doce daqueles olhos era sinceridade e entrega. Sempre fora, não é? Era essa a estrada que ele lhe mostrava para a fé.
Ele sabia que no azul de primavera daqueles olhos algo estava florescendo. Sim. Todas aquelas palavras. A confiança. Todo o sentimento... Eram puros e sinceros. As sementes que plantara.
Ali entre eles, naqueles poucos passos de distância, aquela linha invisível que os uniu estava se transformando. Ela já podia ser sentida. Tinha cheiro de cumplicidade e esperança.

- Vamos almoçar? – ele convidou. Coçou a nuca meio sem graça, mas sem desviar dos olhos dela. Não queria perder aquela visão.
- Vamos. – ela confirmou. – Acho que se corrermos conseguiremos a tempo.
Puseram-se então a andar lado a lado, ao mesmo passo, com uma tênue, bem tênue barreira entre suas mãos que balançavam de leve. Quando os dedos se tocariam?

****

- Aizen-sensei! – a menina com cheiro de pêssego entrou na sala dos professores alegremente depois da Educação Física. – O que o senhor quer? – aquela timidez, pelo menos grande parte dela, havia desaparecido na relação dos dois. Depois daquele feriado, muitas nuvens haviam sumido do céu. Certamente haviam ficado bem mais íntimos.
- Hinamori-kun! – ele sorriu para ela. – Sente-se!
Ela então sentou na cadeira à frente da dele.
- Sabe, não tem nada a ver com a aula. – sorriu amigável. Aproximou-se conspiratoriamente. – Só queria te mostrar as fotos! – cochichou.
Rapidamente as bochechas dela se tornaram rubras.
- As fotos? – os olhos cintilavam inegavelmente. – Eu quero vê-las! – cochichou de volta, mas animada.
- Que bom. – ele continuava a sorrir. – Você não me decepcionou nada no resultado. Devo dizer que tem talento!
- Aizen-sensei! – ela não podia estar mais satisfeita. – Quando poderei vê-las?
- Bem... Um dia que não estiver ocupada... Pode aparecer lá em casa. – disse. – Mas é segredo, hein? – pediu com convicção, muita pra quem estava falando tão baixinho.
- É claro! – ela balançou a cabeça afirmativamente tentando passar a maior confiança possível.
- Estou muito feliz, Hinamori-kun. – o sorriso nos lábios dele provava as palavras. – Você não sabe o quanto está me fazendo bem.
- Aizen-sensei... – a menina sentiu todas as suas estruturas abalarem-se. Nem um terremoto seria tão eficaz. – Estou mais feliz ainda! – tudo nela era prova de seus sentimentos. – Quero poder ajudá-lo sempre!
- Como você é doce, Hinamori-kun... – ele levantou-se e acariciou um pouco a cabeça dela. – São pessoas de sorte aqueles que te têm por perto.

A mão, a voz, o carinho dele... Queria poder ficar contemplando aquele rosto amável por mais tempo...
- Bem, agora temos que ir! – ele pegou alguns papéis e livros em cima da mesa. – Hoje teremos muita matéria.
- Certo. – ela levantou-se contente e pôs-se a seguir o professor.
E nem era uma aluna assim tão exemplar, pensava. Era ela que tinha sorte. Ter o amor e a confiança dele desse jeito... De graça...
- “Será que...” – pensou enquanto observava as costas do homem que andava à sua frente. Mas meneou a cabeça e tentou não sonhar demais. É. Eles eram amigos muito íntimos... Para tudo o que diziam, aquilo já não estava bom por enquanto?

****

- Rukia... – Mai caminhou séria até a baixinha quando ela estava quase alcançando os portões da universidade.
- Sim? – ela virou-se para ela.
- Olha, sei que tem mil coisas importantes pra fazer, então serei direta: você está com algum problema comigo? – encarou-a fundo com aqueles olhos misteriosos. Os da garota à frente eram totalmente opostos. Quase transparentes. Assim como ela, talvez.
- Mai... – ela começou meio insegura. Apertou o livro que carregava contra o peito. – Aqueles boatos todos e... E a confusão que deu... Eu fiquei meio atordoada, não sei se pode me entender... – pausou e obrigou-se a fixar seus olhos nos dela de volta. – Eu fico ouvindo pessoas falarem de mim, mas não ligo. Eu não vim aqui pra isso, você sabe. Pra dar atenção às fofocas. Mas mexerem com algo que envolve outra pessoa... Criarem e espalharem verdades criadas, isso mexeu comigo. E eu preciso ficar um pouco sozinha. E terminar de resolver isso tudo com o Ichigo. Ele já tem um passado lastimável nesse lugar. E não quero que inventem mais coisas. Ele não merece.
Pulou os olhos rapidamente para o chão. Como aquilo era cansativo! Não ia agüentar mais!
- Eu... Entendo... – a loira sentiu um aperto no peito. Não sabia bem o que aquilo significava. Mas não estava gostando. – Tudo bem... Acho mesmo que tem que resolver isso.

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- Muito obrigada pela compreensão... – disse baixinho. Olhou para o rosto sem expressão de Mai. Onde estava aquele brilho? – Bem... A gente se vê. – sorriu verdadeiramente.
- É. – ela sorriu também. – Até mais!
Acenaram e despediram-se.
Agora, mais do que nunca, tinha que descobrir a verdade sobre quem espalhou essa fofoca. Ia dar um jeito. Ah, se ia!

****

O ruivo cruzava a esquina tentando esvaziar a cabeça de preocupações e deixá-la apenas com a leveza das palavras de Rukia.
É... Aquelas palavras... Nada podia lhe fazer mal agora. Não importava o que falassem dele. Estava tudo bem. Ele estava bem.
Olhou para o céu. Aquele tom de azul parecia acompanhá-lo onde quer que fosse. Só esperava que não mudasse quando trocasse a estação.
- Ichigoooo! – ouviu um berro escandaloso e parou assustado. – Ichigoooo! – o berro foi ficando mais claro e dava para perceber que havia uma boa dose de lágrimas também. Só conhecia duas pessoas que usavam aquele tom. Parou com sua costumeira cara de tédio, que só perdia para a cara azeda. O que aquele chato queria dessa vez?
- Oi Keigo! – viu o moreno aproximar-se com lágrimas caindo como se seus olhos fossem cachoeiras furiosas. – O que você quer? – conteve um bocejo antecipado.
- Não fale comigo! – gritou histérico fazendo um X com os braços. – Não se aproxime!
- Ahn? – a careta de dúvida do canceriano era engraçada. – Mas não é você que está falando comigo?
- Não interessa! – parecia uma gralha gritando daquele jeito. – Não quero que dirija nunca mais a palavra a minha pessoa que você deveria ter prezado! Hunf! Que tipo de amigo pensei que você fosse? – exagerou na fungada profunda. – Eu estava enganado. Oh, tão enganado!
- Hum... – ficou observando o jovem com os olhos diminuídos e interesse zero. – Certo. Então, adeus! – saiu andando e acenando. Simples, não?
- Ichigooo! – se ele continuasse gritando tão agudamente ia acabar com as cordas vocais. Já estava parecendo uma moça. – Não pode me deixar falando sozinho!

- Ué? – ele virou-se ainda confuso. – Mas você não quer mais falar comigo! Cara, eu nem tô sendo resistente nem nada, assim não é mais fácil?
- Você não tá nem aí pra minha amizade! – tapou os olhos com o antebraço. – Insensível!
- Ai, ai... – suspirou e encarou o garoto. Lidar com dramáticos sempre fora comum pra ele. – O que aconteceu, hein? Pode falar.
- Você! – apontou o dedo para ele. As lágrimas cessaram imediatamente e seus olhos tornaram-se acusadores. – Você por um acaso tá andando nas nuvens? Os boatos, Ichigo, os boatooos!
Ihh não. Os boatos. Keigo. A “Ruky-chan”. Deu um tapa na própria testa e preparou-se. Tinha esquecido de Keigo. Um dia Mai ia pagar muito caro por tudo. Tinha que pagar!
- Os... Boatos... – repetiu sem saber o que dizer. Não encarava o garoto.
- Você está saindo com a Rukia-chan! – ele berrou ofendido.
- “Finalmente falou o nome certo!”. – o ruivo comemorou em pensamentos. Ei! E isso lá era hora pra comemorar? – Keigo... – disse calmamente. – Eu acho que... Bem... – respirou fundo e encarou-o sério. – Me desculpe. Mas isso foi antes de você se interessar por ela. Sabe... Eu não podia contar. – o que estava falando? Estava de novo assumindo aquele compromisso que não existia. Mas... E se dissesse que era tudo invenção? Não era, certo? E então o que ele pensaria? Um dia iam esquecer esse boato. E droga! Keigo tinha o direito de saber de seus sentimentos. Eram amigos apesar de tudo.
- Sei... – o choro tinha realmente parado. E a voz voltara ao normal. Os olhos estavam pensativos, vagando pelo rosto do ruivo. – Nice job! – de repente, ele levantou o polegar para o amigo, todo reluzente. – Parabéns, Ichigo! – deu uns tapinhas amigáveis no ombro do canceriano. – Pela primeira vez na vida teve uma sorte do caramba! Ela é mesmo linda!
- É-é... – ele não entendia mais nada. Será que ele era bipolar? Além de tudo? Coitado... – O-obrigado. – conseguiu dizer encabulado.
- Olha, só não vai tratá-la mal, viu? – franziu as sobrancelhas. – Por que você sabe, não cuidou, outro levou!

Sorriu.
- Idiota. Não fique esperando isso. – apertou a munhequeira de caranguejo no braço. – Vai perder sua juventude.
Sorriu de volta.
- É assim que se fala, cara.
...
- Já contou pro seu pai?
- Não! – os olhos quase pularam. – Nem pensar! Por favor, Keigo... Isso ainda é pra ser um segredo!
- Mas todo mundo tá falando disso... – fez beicinho.
- E graças a Deus isso não é mais o colégio e meu pai não aparecerá de repente para descobrir. Por enquanto deixe-me cuidar disso sozinho.
- Certo. – ele balançou a cabeça afirmativamente. – Olha, agradeça a Deus também você ter um amigo tão legal e compreensivo. – foi andando junto com Ichigo. – Se fosse outro quebrava sua cara!
- Oh, nossa! O que eu fiz pra merecer um amigo tão exemplar? – ironizou dramatizando a voz.
- Hun... – olhou para o espetado desconfiado. – Onde foi que aprendeu a ser tão irônico, hein?
- Onde pode ter sido, né? – alguns rostos apareceram em sua mente. Capricornianos malditos. – Não faço idéia.

****

- Foi isso que aconteceu. – Rukia terminou de contar a história depois do jantar. A loira peituda e a moreninha ouviam de boca aberta. – E eu não sei mais o que fazer... Preciso descobrir se o Ichigo tem razão ou não. Não posso mais ficar fugindo da Mai por simplesmente não saber como lidar com ela.
- Ohh, a Rukia-chan é mesmo uma garota pura, não é, Momo? – os olhos azuis de Rangiku brilhavam. – Ela não foi corrompida pela fofoca nem pela falsidade. Continua buscando a honestidade, não quer julgar as pessoas...
- É verdade, prima. – Momo sorria. – Rukia-chan teve uma atitude admirável!
- Aposto que ela é mesmo virgem... – a libriana segurou o queixo pensativa.
- Garotas, parem! – Rukia estava vermelha de novo. – Eu estou falando sério! Eu não sei o que fazer! Acreditem, não estou aqui desabafando por desabafar. Estou realmente perdida.
- Certo. – Rangiku ficou séria de repente. – Eu sei exatamente o que fazer.
As outras duas olharam admirada para ela.
- Sério? – Rukia encheu-se de esperanças. – O quê?

- Simples. – empinou o queixo vitoriosa. De vez em quando era bom se sentir útil. – É só a gente hackear o post do blog!
- O quê?! – Momo quase deixou o queixo cair. – E com essa cor de cabelo você acha que é capaz de fazer algo tão difícil?
- Ah! – abriu a boca indignada. – Olha só que abuso!
- Hehe, escapuliu! – as bochechas de Momo ficaram rosadas.
- Certo, certo. Alguém aqui sabe fazer uma coisa dessas? – Rukia, como sempre, tentou por ordem na bagunça.
- Eu não sei. – Momo admitiu.
- Nem eu. – Rukia meneou a cabeça já pessimista.
- Muito menos eu. – Rangiku disse, mas o sorriso não saía de seus lábios. – Mas conheço alguém que sabe.
Os olhos piscaram curiosos sobre ela.
- Não conto quem é. – reprimiu um risinho. – Mas vou resolver esse problema pra você, Rukia-chan.
- Sério mesmo? – os olhos dela voltavam a brilhar. – Mas isso não é errado?
- E sair por aí espalhando uma fofoca lá é certo? – pôs as mãos nos quadris, já de pé. – Você vai descobrir a verdade, Rukia-chan. E vai poder lidar com ela.
Ficou olhando para a loira. Tão adulta, tão criança... Tão preguiçosa e tão prestativa... Essa era ela. E já podia ser chamada de irmã, não é?
- Obrigada. – disse baixinho, alegre. – Muito, muito obrigada, meninas. – o rosto era pura ternura. – Vocês são muito especiais pra mim.
- Ohh! – Rangiku se empolgou de novo. – Você também é pra gente, Rukia-chan! – sorria. – Que gracinha! – apertou a bochecha dela.

****

“Querida família e amigos,

Faz um tempo que não nos falamos, não é? Desde a vez que eu falhei em ir visitá-los... Ainda me sinto mal e muito culpada. Espero que tenham me desculpado.
Queria dizer que tive um feriado surpreendentemente bom. Os meus laços com minhas colegas de quarto estão ficando cada vez mais estreitos. Já somos uma pequena família. Uma coopera muito com a outra.
Na faculdade, estou tendo alguns problemas com minhas amigas... Mas creio que tudo logo, logo vai se resolver. Nunca esquecerei do que me ensinaram. A verdade vem sempre em primeiro lugar. Mesmo estando num mar de intrigas e falsidade, jogarei limpo. Porque as vozes de vocês estão comigo, aqui dentro do meu coração.
Quanto aos meus estudos, isso é o que menos devem se preocupar. Estou me dedicando muito mesmo. E como aprendi no ano passado, fazendo pausas para não enlouquecer. Já estou até conhecida como a nerd do interior. E devo dizer que me orgulho desse título.
No trabalho também estou indo superbem. Talvez vocês não acreditem, mas estou pensando em doar meus coelhinhos, pelo menos alguns deles, para as crianças da creche. Eu sempre os levo, e elas adoram. Eu me dou realmente bem com crianças, muito obrigada por terem colaborado com isso para mim durante toda minha vida. Estou ganhando o suficiente para meus gastos. Não quero preocupá-los com nada.
Estou muito bem, de verdade. A saudade machuca de vez em quando, principalmente quando vou dormir... Mas um dia vou orgulhar todos vocês. E é bom deixá-los respirarem das minhas broncas um pouquinho.
Papai, mamãe, crianças, Renji, Orihime... Cuidem-se. Quero vê-los bem quando eu voltar.

Sinto muito a falta de todos. Vocês não saem um minuto do meu coração.

Com muito carinho,

Rukia.”


****

Teve que esperar que terminasse o mês de maio para ter seu resultado. Evitar as amigas – ou será que não? – por todo aquele tempo não foi tarefa fácil.
Mas aproveitou para estudar mais na hora do almoço. E de vez em quando tinha a companhia do ruivo. E era melhor que a companhia daquelas três. De alguma forma, era.
Acabaram aumentando os boatos de que estavam juntos e escondendo alguma coisa, mas por enquanto, nada iam dizer.
Toda vez que a pergunta se dirigia à baixinha dos olhos azuis, ela fazia questão de responder evasivamente. O que não ajudava o ruivo. E nem a loira escorpiana.
Mas não queria dizer algo que não era verdade... Não era verdade, certo? Claro que não!
Por mais que almoçasse com Ichigo quase sempre e conversassem bastante. Sobre trabalho, astrologia, a matéria que estavam estudando, livros. É. Até estavam estudando juntos algumas vezes. Estavam tão bem que deixaram a última carta de Celeste-sama guardada.
Mas isso não era hora de ficar pensando no resultado dos feitiços daquele loiro estranho de chapéu mais estranho ainda.
Tinha algo a resolver. E seria logo, com a proximidade do verão. Agora, definitivamente ia fazer as coisas andarem para seu caminho certo.

Continua...

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