Alguns raios de sol já indicavam o início da manhã e podiam ser visualizados atrás de várias nuvens. Tudo indicava que o dia permaneceria nublado. Há dois dias tinha chovido na região e, desde o dia anterior, o clima havia continuado o mesmo.

Artie e Rikard encaravam-se enquanto estavam parados diante de uma porta. Rikard tinha que dar um recado a seu superior, mas não queria atrapalhá-lo tão cedo. Assim, preferiu levar Artie junto para que qualquer consequência fosse dividida entre os dois. Ele não ligava para o que acontecesse com seu acompanhante. Eles nem sequer eram próximos e estavam sendo obrigados a conviver devido a uma situação em que eles mesmos escolheram se colocar.

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— Não sei por que você me acordou tão cedo! - reclamou Artie com resquícios de sono sendo expressos em sua voz que ainda estava meio rouca. - Você é quem tem algo para falar, não eu!

— Eu não teria nada para falar se você tivesse sido mais cuidadoso. Estamos tentando consertar o seu descuido. Não acho que você tenha o direito de falar alguma coisa. Só obedeça e pronto! - vociferou o mais alto lançando-lhe um olhar de superioridade.

— Na verdade eu acho é que você está com medo da reação dele quando você falar e quer me usar de escudo. Não sou tão burro quanto pareço. - parou para pensar em suas palavras depois que as tinha pronunciado.

— Ou então estou poupando o trabalho dele de ter que te procurar quando tomar ciência do que sua grande capacidade de cometer deslizes inconsequentes ocasionou. E, claro, assim que também garanto um divertimento para mim ao ver você recebendo uma punição. O que já está passando da hora. - o sadismo em sua expressou deixou Artie receoso.

— Entrem logo! - uma voz áspera gritou atrás da porta.

Os dois levaram um susto e prontamente obedeceram. Na verdade, nem gostariam de imaginar o que aconteceria caso não o fizesse.

O ambiente tinha um ar sombrio. Apesar de possuir algumas janelas, todas eram tapadas com alguns panos de forma que somente pequenos feixes de luz adentravam, fazendo com que ficasse bastante escuro. Não era muito ornamentado e, como era um local amplo, tinham muitas partes desocupadas. Os destaques do cômodo eram os quadros que mostravam cenas de guerra e torturas. Fora isso, alguns objetos metálicos estavam espalhados e algumas pedras brilhantes haviam sido estrategicamente colocadas em pilares distribuídos ali.

— Posso saber o que vocês dois querem comigo? - perguntou a figura masculina que os aguardava e ainda permanecia de costas.

— Rikard tem algo para lhe falar! - anunciou Artie com certo pavor em sua voz enquanto apontava para o conhecido.

— Pois bem, está enrolando por quê? Não gosto de desperdício de tempo. Desembucha!

— Acabei de ficar sabendo, senhor Razen, que um dos alvos está seguindo em direção a Balchmont para tentar conseguir ajuda.

— O que? Como se já não tivéssemos problemas suficientes ultimamente, agora ainda terei que me preocupar com isso? - o tom de raiva adotado era nítido. - Será que vocês não conseguem cumprir a parte de acordo de vocês? Se for o caso, acho que eu mesmo terei que tomar a frente. Isso é, depois que de eu ter que acertado as contas com vocês? - virou-se de frente encarando seus ajudantes com um olhar furtivo.

Os olhos escuros de Razen eram os primeiros a denunciar o seu humor ruim quando algo não saía conforme o planejado. Sua pele era pálida, o que evidenciava seus longos cabelos pretos repicados e que geralmente estavam presos, com algum tipo pano ou elástico, na altura das costas. Era alto e isso, segundo sua mãe, era algo que havia puxado do seu pai. Não podia confirmar isso, pois aos onze anos havia visto o pai sendo assassinado e isso fez despertar um desejo de vingança que, agora, aos vinte e oito anos, estava fazendo de tudo para colocar em prática.

— Minha parte eu estou fazendo, chefe! Vim lhe contar no exato momento em que eu soube! - disse Rikard. - Lembre-se de que não estaríamos nessa situação se esse inútil não tivesse deixado as prisioneiras escaparem. Ou tivesse pego a pessoa certa, para início de conversa.

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— Fiz o que achei que estava correto. Eu não sabia que era o amuleto errado! - justificou-se. - A ordem que eu tinha era de sequestrar um jovem com amuleto em Awalles. Quando vi um, entrei em ação. Um erro, eu sei! Mas não foi proposital...

— Um erro que vai acabar nos custando muito caro! Acho que está na hora de fazermos um faxina e eliminarmos todo o pó desnecessário aqui nessa prisão. - zombou Rikard fazendo alusão aos artifícios que Artie utilizava.

— Calem-se! - gritou Razen. - Não preciso que me digam o que precisa ser feito. Eu apenas espero, melhor ainda, quero que resultados finais sejam satisfatórios. Ainda não está tudo perdido. E, quando estiver, vocês serão os primeiros a saber, pois sofrerão as consequências. Entendido?

— Sim, claro, claro! - responderam em uníssono.

— Agora preciso que façam uma coisa. E que sejam bem rápidos! - anunciou. - Mandem mensagem, falem pessoalmente, se virem! Quero que vocês avisem a todos os ajudantes que é hora de coletar o favor que me devem. Estou ordenando que eles venham para cá!

— Mas para que exatamente isso? Achei que você os tinha enviado para outras tarefas! - disse Rikard um pouco preocupado.

— E tinha! Mas não tenho outra escolha no momento. Graças a certos erros precisamos nos preparar para o que possa estar vindo.

— Senhor, eu não sei como lutar! - declarou Artie percebendo ao que ele se referia.

— Você não precisava nem se humilhar fazendo uma declaração dessas, não é mesmo? - retrucou Rikard. - Já era esperado de um covarde como você visto seus métodos.

— Confesso que você e seu jeito de fazer as coisas foram um pouco úteis até agora. Um pouco! - frisou Razen. - Mas você realmente precisa arranjar alguma outra utilidade no momento e, na sua condição atual, só consigo imaginá-lo como um escudo humano. - soltou uma risada. - Temos lugar para todos na batalha.

Artie sabia que as habilidades de Rikard também não seriam muito úteis em um confronto direto, mas conhecia o passado dele como mercenário e, portanto, talvez ele tivesse alguma experiência de combate. Queria rebater os insultos recebidos ali, porém estava em desvantagem numérica e física. Abaixou a cabeça e absteve-se.

— Agora saiam! Vocês tem algo a fazer. E façam direito! - ordenou. - Não tolerarei mais erros.

O primeiro a sair foi Artie, que resmungava insultos contra Rikard e Razen que não poderiam ser ditos em voz alta. Rikard ia logo atrás com um sorriso um tanto vitorioso ao ver que tinha conseguido escapar de qualquer culpa, conforme seu objetivo inicial. Ainda assim, os dois permaneciam em estado de preocupação. A ideia de ter uma batalha se aproximando os assustava. E cometer mais algum deslize, despertando a ira de Razen, os deixava ainda mais em estado de pânico.

— Você não pode atribuir toda culpa a eles. Sabe disso não é mesmo? - disse uma voz feminina de forma arrastada.

— Sim, sei disso. Você também tem uma parcela de culpa nisso. - rebateu.

— Olha lá como fala com os mais velhos. Isso não é jeito de tratar sua mãe.

Uma fumaça começou a se dispersar de trás de um dos pilares e, pouco a pouco, ganhava forma revelando a silhueta de uma mulher baixa e magrela.

Nagisa possuía a pele pálida assim como a de seu filho, com manchas e rugas referentes a idade. Os cabelos longos e grisalhos eram presos numa trança mal feita, com várias fios soltos e, uma franja cortada de forma descuidada caía por cima de suas sobrancelhas grossas. Estava usando um vestido escuro em que havia costurado um capuz, que lhe ajudava a se camuflar naquele ambiente escuro. Caminhava com dificuldade com a ajuda de um cajado entalhado a mão por ela, que lhe servia também de bengala.

— É muito fácil querer transferir a culpa para os outros. Talvez devesse pegar um pouco da responsabilidade para você. - disse ao filho.

— Se você tivesse feito um feitiço de proteção melhor, não estaríamos nessas condições.

— Você me pediu pra fazer um feitiço que não permitisse que pessoas daquela família utilizassem os amuletos. Foi o que eu fiz! Eu ia imaginar que você teria pedido pra um lacaio sem experiência fazer o serviço de captura?

— Talvez...

— Ainda não acabei. - interrompeu Nagisa. - Até onde eu sei, nenhuma das duas conseguiu usar os amuletos! Além disso, ainda dei um jeito de bloquear os poderes da mais velha para que não fugissem da cela. Aparentemente, o que estava ao meu alcance foi feito. Qual a sua justificativa agora?

O silêncio tomou conta do lugar. Razen não conseguia achar palavras pra contraria sua mãe. Apesar de querer proferir algumas respostas, não queria desrespeitá-la. E, no fundo, mesmo que a contragosto, ele tinha que admitir que ela estava certa.

— Foi o que pensei! - completou. - Agora vamos torcer para que no meio de tantos adeptos a sua causa, tenham pessoas competentes para essa luta. E, honestamente, acho muito difícil. Pessoas desse nível procuram sempre evitar confrontos diretos.

— Ainda temos tempo! Não deixarei que tudo isso tenha sido em vão.

— Temos tempo e temos bastante pessoas. A vantagem numérica será nossa! Boatos que aquele rei não é lá de prestar ajuda e, mesmo que resolva ceder alguns de seus guerreiros, não serão muitos pois ele não vai querer arriscar deixar seu reino desprotegido. - explicou.

A segurança que Razen transmitia perante seus lacaios era desfeita quando estava sozinho na presença de sua mãe. Mostrava toda sua insegurança e confiava na figura materna mais velha para lhe fornecer suporte e segurança.

— Vamos fortalecer nossas defesas e confiar nos homens mais experientes para assumir a linha de frente.

— Não se esqueça que você ainda está com a mãe das garotas e com outros prisioneiros. Eles terão que entrar aqui se quiserem resgatá-lo. Pense nisso!

— E irei pensar num jeito deles terem uma surpresa assim que chegarem aqui dentro. Isso é, se conseguirem entrar! - anunciou Razen.

— O feitiço de proteção contra os amuletos ainda está ativo. Já é menos uma coisa a se preocupar. Vou garantir que eles tenham outras dificuldades.

— Deixa que meus subordinados cuidam da parte externa e a gente garante a segurança da parte interna. Não podemos ficar nos preocupando com muita gente. Eles se colocaram nisso, então que arranjem um jeito de cuidar das próprias vidas.

— E, no fim, teremos a vingança que desejamos. Aqueles que foram responsáveis pela morte de seu pai terão o que merecem. - sentenciou Nagisa.

— Sim, eles vão ter o que merecem. - concordou o filho.

Naquele instante, Razen ficou reprisando em sua mente o que havia ocorrido anos antes. Via o exato momento em que seu pai tinha morrido e uma crescente onda de raiva lhe dominava. E era aquele sentimento que mantinha acesas a vontade e a certeza que conseguiria o que estava ambicionando. Sua vingança seria realizada, não importava como.

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