Crônicas de nós dois

A Sua Maneira


Gregory House parecia ter sua própria maneira de ver o mundo. Costumava desgostar de alguém no primeiro contato com tal pessoa. Gostava de jogar verdades constrangedoras na cara dessa mesma gente. Aparentemente não achava que regras sociais básicas - como dizer "Obrigado", "Por favor" e "Desculpe". - se aplicassem a ele. Achava que não havia problema nenhum em mentir de forma descara para chegar onde queria. Acreditava que todos mentiam sobre tudo e costumava rejeitar qualquer pessoa que tentasse se aproximar de si.

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Mas para toda regra existe uma exceção.

E existia Wilson.

O dito cujo de cabelos castanhos e macios dormia um sono solto ao seu lado. Seus braços soltos sobre o corpo do grisalho e os lábios vermelhos entreabertos. House sorriu brevemente sentindo o calor do moreno contra seu corpo. A sensação era gostosa, como num sonho.

Wilson não parecia ser real. Não podia ser.

O moreno fora o único que não fora embora. O único que não desistira dele. Que ficara mesmo com toda a dor que House já lhe causara. Ficara, mesmo com todas as desavenças, as brigas, as palavras ásperas, a misantropia e com a sua própria depressão. Wilson sempre estivera ali pra se preocupar com ele, cuidar dele.

House o amava como nunca amara alguém. Mas era como se não conseguisse controlar a língua ferina entre os dentes. Sempre acabava machucando Wilson, sempre o magoava e se odiava cada vez mais quando isso voltava a acontecer.

E, mesmo assim, Wilson continuava bem ali. Dormindo no calor de seus braços. Como num sonho perfeito. Quase numa utopia impossível.

E ambos sabiam que nada daquilo iria mudar. Sabiam que House nunca deixaria de ser quem era e que ambos haviam caído numa armadinha muito bem projetada. Onde estavam presos em um clico vicioso de dor e prazer. Se amando e machucando de forma mutua.

Foram anos de amizade conturbada, como numa preparação para o que aquilo viria a se transformar. E haviam aprendido tudo um do outro antes de entraram naquilo. Naquela coisa que chamavam de amor. E agora eles se entendiam com perfeição, como opostos que não vivem um sem o outro.

Tinham sua própria forma de amar. Uma maneira torta, conturbada e dolorosa demais. Mas eles estavam juntos. Haviam aprendido a amar daquela maneira. Se projetaram, durante anos, à aguentarem as dores um do outro. Eles se derrubavam e seguravam um ao outro quando caiam.

Não era, definitivamente, uma forma saudável de amar. Mas nenhum dos dois se importava com o que alguma daquelas coisas significava. Era único. Era deles. E só isso importava.

House apenas esperava que aquilo continuasse a funcionar pra sempre. Que nada desse errado e que eles continuassem a se entender da forma com sempre haviam se entendido. Esperava nunca ter de deixá-lo.

Enquanto Wilson continuasse ali, ao seu lado, nada mais importava. Porque só assim sua vida pareceria realmente estar completa.