Crônicas de Son Gohan

Como dar uma péssima notícia


Como dar uma péssima notícia:

Uma difícil tarefa para Gohan

- Gohan...? Bulma...? Tem alguém aí?

Chi Chi entrou na casa de Bulma, através de um rombo na parede. Ao entrar, esbarrou num dos lados da parede já abalada. Parte dela cedeu, assustando a morena.

Tudo estava em silêncio. A grande sala estava arruinada, cheia de entulhos. A fiação elétrica estava exposta, mostrando cabos partidos e em curto-circuito. “O que aconteceu aqui?”, se perguntou.

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Tinha ido até lá para saber por que Gohan estava demorando tanto para chegar em casa. Ele costumava ser pontual na maioria das vezes. Pensando nisso, tropeçou num pedaço de concreto e caiu no chão. Quando se levantou, viu um vulto. Esgueirou-se até o acesso ao corredor da sala de jantar. Preparou-se para surpreender fosse lá quem fosse. Estava empunhando o guarda-chuva, como se quisesse usá-lo como uma arma. Viu o vulto de novo e foi ao ataque, mas, no meio do caminho, se deteve ao ouvir o grito de susto de Bulma. A morena conseguiu se deter a tempo, evitando de dar-lhe uma senhora “guarda-chuvada”.

- Chi Chi?!?

- Bulma...?

Passada a surpresa, ela suspirou ainda mais aliviada quando viu que a cientista estava com o filho nos braços. Se não tivesse parado na hora, teria acertado os dois.

- O que... O que aconteceu aqui...?

- Não sei bem... – Bulma respondeu pensativa. – Só senti um grande terremoto e me escondi com o Trunks embaixo da mesa.

- Será que esse terremoto tem a ver com as explosões que eu ouvi quando vinha pra cá?

- Se forem as mesmas que eu ouvi... Mudando de assunto, Chi Chi... O que você veio fazer aqui?

- Eu vim saber por que o Gohan ainda não voltou pra casa.

- Ah! É mesmo! Ele ainda não voltou do colégio... E com toda essa confusão nem deu pra buscar o Gohan...

As duas mulheres saíram da casa e se impressionaram com o cenário que estava diante delas. Era um cenário de destruição total. Parecia, para elas, que tinha acontecido uma guerra catastrófica por ali.

De repente, Chi Chi perguntou:

- A propósito, Bulma... Onde estão os seus pais?

- Eles foram a uma reunião da Corporação.

- Sem querer ofender, mas... Vendo toda essa destruição, me lembrei de outra coisa... Cadê o Vegeta?

- Não faço ideia, Chi Chi... Quando eu cheguei, só vi ele sair voando feito um louco...

Bulma, estranhamente, teve uma sensação ruim. Sentiu que o coração ficava apertado. Alguma coisa poderia ter ocorrido com Vegeta. E, pelo jeito, algo muito ruim.

Nesse mesmo instante, as duas avistaram três crianças. Chi Chi, de imediato, reconheceu uma delas:

- Gohan!

Bulma ficou atônita, ao ver o estado dos três. Gohan chegava amparado em Yakimo e Aisu. Estavam com ferimentos mais superficiais, mas o pequeno saiyajin estava mais ferido. O trio, cansado, se sentou num bloco perto das duas mulheres.

Chi Chi já fazia cara de bronca:

- O que você estava fazendo, Gohan?

- Eu estava lutando contra os androides. – respondeu.

Ela dirigiu um olhar de reprovação ao filho. Mas Aisu partiu em defesa dele:

- Ele não teve escolha... Os androides atacaram e destruíram todo o colégio!

- É verdade! – Yakimo confirmou. – O Gohan lutou com eles pra defender a gente!

Gohan ficou surpreso com a atitude deles. Não imaginava que eles o defenderiam naquela hora.

- Eu suponho que o Vegeta esteve lá, não é? – Chi Chi perguntou.

Os três se entreolharam. Estavam bastante sérios.

- Sim, ele estava lá. – o garoto respondeu.

- É... Ele lutou muito... – Yakimo completou.

- E essa destruição toda? Tem a ver com a luta? – Bulma perguntou.

Os três sinalizaram que sim.

- E cadê o Vegeta? – a cientista tornou a perguntar.

Yakimo, Aisu e Gohan sentiram um gelo percorrer as espinhas. Eles se entreolharam mais uma vez, ainda mais sérios. Bulma sentiu seu coração se apertar ainda mais. Parecia prever o pior. Era uma sensação horrível, igual à que havia tido, antes de Goku morrer. A angústia era tanta que abraçou com força o pequeno Trunks.

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Gohan olhava para os escombros à sua frente. Por ali, jazia o corpo do saiyajin. Ficou tenso. Como contaria a Bulma o que tinha acontecido com Vegeta, sem machucá-la tanto? Qual seria a reação dela ao receber mais uma notícia dolorosa num espaço consideravelmente curto de tempo? Viu que a angústia dela era bem evidente. Estava num terrível dilema.

Contaria ou não contaria?

Logo percebeu que não tinha escolha. Não podia nem se dar ao luxo de inventar alguma coisa. Mesmo que inventasse, a verdade apareceria depois. E, pra completar, o corpo do saiyajin estava a apenas alguns metros de lá...

“Ele está sem saída”, Aisu pensou.

- Gohan – Chi Chi o chamou. – O que aconteceu?

Manteve-se em silêncio. Queria que alguém fizesse isso por ele. Era apenas uma criança, e isso lhe parecia pesado demais.

- Ele lutou muito contra os androides... Mas...

Deteve-se. Estava com medo de continuar. Testemunhar uma tragédia era uma coisa, contá-la era outra bem diferente. Veio à sua memória a imagem de Vegeta, depois de derrotado pelos androides no último combate. A imagem de alguém que teve que engolir todo seu orgulho e implorar para que alguém protegesse aqueles que lhe eram queridos.

“Quero que proteja os dois... Até que Trunks possa fazer isso...!”

Tinha tentado reanimá-lo, mas não adiantou.

“Não, Vegeta! Não morra!”

Tinha sido inútil.

“Não adianta, moleque... Não vou aguentar... E não pense em fazer cara de choro...! Não quero que tenha pena de mim...!”

Yakimo e Aisu olharam pra ele. Sabiam que ele estava se lembrando do que tinha acabado de acontecer há alguns minutos. Gohan respirou fundo. Era hora de contar o que tinha que contar. Fechou os olhos e disparou:

- Os androides eram mais fortes...! Eles eram mais fortes e... Mataram ele...!

Um pesado silêncio se pôs entre eles. Bulma ainda abraçava Trunks com força. Fechou os olhos, mas as lágrimas conseguiram escapar:

- Por quê...?!

Primeiro Goku, depois Tenshinhan, Chaos, Yamcha, Kulilin, Piccolo... Todos morreram de um jeito inesperado. Goku, de uma doença misteriosa. Os outros, nas mãos dos androides.

Agora foi Vegeta...

- Por quê...?!

Todos eles marcaram sua vida de alguma forma. Todas essas perdas a entristeceram. Mas duas foram as que mais lhe doeram.

Goku era um grande amigo, de longa data. Tinha vivido tantas aventuras com ele... Durante todo esse tempo de amizade descobriu que ele era, além de grande guerreiro, alguém que tinha um coração de ouro. Tinha o dom especial de transformar alguns inimigos em aliados.

Ele era uma pessoa quase perfeita. E era quase como um irmão.

O destino se encarregou de levá-lo embora, mesmo ele sendo tão querido, tão jovem... Mesmo sendo seu melhor amigo...

Isso lhe doeu tanto... Tanto quanto lhe doía agora...

Depois de aparecer a imagem de Goku em sua memória, apareceu a de Vegeta. No começo ele lhe metia medo. Depois, conseguiu se aproximar dele. Mais do que isso, ele se tornou sua outra metade. Ele era o oposto exato de Goku, mas tinha conseguido conquistá-la. Desde adolescente, ela procurava alguém ideal, como nos contos de fadas. Mas as esferas do dragão não deram o que ela queria. E não esperava que seu companheiro viesse de tão longe.

- Foi um pesadelo?

Naquela hora o viu sozinho, parecia atormentado. A primeira derrota para os androides tinha mexido muito com ele. Quase todo dia tinha pesadelos e noites insones. Percebeu que ele parecia solitário. Levantou-se ao ouvir os passos dele indo para a sacada.

- Se veio pra tentar me fazer dormir, está perdendo seu tempo! – Vegeta lhe disse. – Canções ridículas de ninar e essa conversa fiada de contar carneirinhos não vão adiantar comigo!

Estava com a sua mão por cima da dele. Não gostava de vê-lo atormentado daquele jeito. Ele respirou fundo. Olhou de esguelha para ela. Bulma acabou mergulhando na negrura daquele olhar, quando ele a encarou. Era um olhar diferente. Bastante diferente do habitual. Já desconfiava daquele olhar.

- Tem razão... – ela disse. – Contar carneirinhos não deve adiantar...

De repente, sentiu que ele a puxou para si. Cravou os olhos negros nos dela e, em seguida, a beijou. Aquilo foi o suficiente pra ela tirar muitas das dúvidas que tinha a respeito dele.

Mas nunca mais o veria de novo... Aquele tinha sido o último beijo...

- Por quê...?! – ela se perguntou, mais uma vez.

Continuava abraçada a Trunks. O garotinho a viu chorar e começou a fazer o mesmo. Gohan via aquela cena e se sentia cada vez pior. Estava ainda mais abatido. Sentiu-se culpado. Se pudesse ter feito alguma coisa... Se tivesse condições de continuar aquela luta... A história seria diferente...

*

No dia seguinte, a Capital do Oeste enterrava seus mortos. As vítimas do Colégio West e todos aqueles que estavam por perto de onde acontecia o combate contra os androides tinham recebido as últimas homenagens de familiares e amigos. Yakimo, Aisu e Gohan estavam lá e viram o tamanho da tragédia, traduzido em número de vítimas fatais.

Depois disso, Gohan se afastou da multidão. Aquilo tudo o deixava ainda mais pra baixo. Tantas vidas perdidas de uma forma tão estúpida... E ele não pôde fazer muita coisa, ainda não era forte o suficiente pra enfrentar aqueles androides de igual para igual. E os guerreiros mais fortes haviam morrido...

Aisu e Yakimo o encontraram.

- Ainda pensando no que aconteceu ontem, Gohan? – a garota perguntou.

Ele não respondeu. Yakimo tentou animá-lo:

- Não fica assim... A vida continua... Você vai ficar mais forte...

Gohan deu um sorriso. Tinha perdido alguns amigos, mas tinha outros pra apoiá-lo. Agora só pensava em ficar mais forte pra vencer os androides. Não saberia quanto tempo levaria pra isso, mas faria o possível pra alcançar seu objetivo. Nem se levasse anos pra fazer isso...