Crisálida

Capítulo Final - MUDANÇAS


CAPÍTULO 33 – MUDANÇAS

POV BELLA

“Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”

Érico Veríssimo

Havia um mês que tínhamos reatado nosso namoro. Eu e Edward nos víamos todos os dias e nossos encontros acabavam inevitavelmente em sexo.

Fazer amor com ele era perfeito. A cada dia nos dávamos melhor na cama.

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Mas ao contrário do que possa parecer, isso estava me incomodando. Eu precisava mostrar a Edward que as coisas não estavam exatamente como eu queria, ou melhor, como eu achava que devia...

Quando as mãos de Edward começaram a subir por minhas coxas enquanto nos beijávamos avidamente, sentados no sofá de seu apartamento, senti que era o momento certo de colocar pra fora minhas angústias.

- Hoje não, Edward – falei, afastando sua mão.

- Por que, Isabella, menstruou de novo?

- Não, Edward, só não quero hoje.

- Por quê??

- Porque eu não quero transar todo dia, não acho isso certo.

- Por quê??? – Edward estava incrédulo com minhas colocações.

- Pára de perguntar “por que”, isso está me irritando! – Confesso que perdi a paciência com tantos “por quês”. Não era óbvio?

- Isabella, o que está havendo com você? – Ele me olhava sem entender nada. Não querer transar não era algo que Edward considerasse natural.

- Eu só estou dizendo que não quero mais transar todo dia, Edward – repeti.

- Por quê???? – Foi a gota d’água.

- CHEGA!!! Eu não sou sua esposa, Edward. Não estou preparada para levar uma vida de casada com você. A gente praticamente só se encontra para transar. Eu adoro fazer amor com você, mas eu estou me sentindo mal com isso. Eu não quero que nosso namoro seja baseado apenas em sexo, é isso. – Me senti bem por ter desabafado.

- E o que tem de mal um relacionamento se basear também em sexo, Isabella? A gente se ama muito, se respeita, se deseja... Por que não transar? Qual é o problema?

- Edward, eu sei o quanto o sexo é importante pra você. Até nos separamos por causa disso, mas para mim não é assim que as coisas funcionam. Eu quero ir com calma. Podemos continuar fazendo amor, claro, mas não nessa freqüência. Nem somos casados ainda.

- Se o problema é esse a gente se casa amanhã. – Nem bem acabou de falar, já estava me puxando para seu colo novamente, como se tivéssemos resolvido o problema com uma simples promessa de casamento.

- Você está me ofendendo, Edward. – Suspeitava que a noite fosse acabar em briga.

- Por quê?????

- QUER SABER DE UMA COISA, EDWARD, EU TE AMO MUITO! SOU MUITO GRATA A VOCÊ POR ME AJUDAR A ME LIBERTAR DOS MEUS TRAUMAS E ME ENSINAR A APROVEITAR A VIDA, DESCOBRIR COISAS NOVAS... MAS EU NÃO VOU ME DEIXAR SER APRISIONADA DE NOVO, NEM POR VOCÊ NEM POR NINGUÉM. ESSE É O SEU JEITO, NÃO O MEU! EU JÁ MUDEI MUITO POR VOCÊ, E NÃO ME ARREPENDO DISSO, MAS TUDO TEM UM LIMITE. NÃO QUERO FAZER ALGO COM O QUAL NÃO CONCORDO. SE NÃO QUERO TRANSAR TODO DIA, NÃO VOU TRANSAR, PRONTO!!

- Isabella, eu também te amo mais que tudo na vida. – Edward parecia estar se controlando para não explodir. Sua voz baixa era mais assustadora do que se estivesse gritando. - É mais do que normal que eu te deseje. Nós somos jovens, saudáveis, nos entendemos super bem na cama... Então, por que não? Por que não fazermos uma coisa que nos dá prazer? Por que não todo dia? O que tem de mal nisso? – Seu rosto estava vermelho e sua respiração ofegante.

- Tem que eu não estou me sentindo bem comigo mesma, Edward. Eu te desejo também, só que, ao contrário de você, eu consigo me segurar. Eu tenho medo de perder o romantismo do nosso namoro, tenho medo que vire uma relação carnal, sem sentimentos... Sei lá, Edward... Estou confusa! – Tentei me segurar, mas as lágrimas já desciam grossas pelo meu rosto.

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- Isabella, não tem como acabar o sentimento em nossa relação porque eu te amo mais que minha própria vida e sei e sinto que você me ama também. Por acaso tem achado que não estou sendo carinhoso o suficiente com você? – Ele acariciava meu rosto, mostrando-se preocupado.

- Não é isso, Edward. Você é o namorado mais doce e gentil do mundo. Fazer amor com você é maravilhoso. – eu mal conseguia falar. – É que eu ando me sentindo estranha. Eu não consigo resistir as suas carícias, sinto um prazer absurdo quando transamos, mas quando volto para casa me sinto desconfortável... Não sei explicar. Parece que eu deixei de ser sua namorada e virei sua amante.

Edward se levantou bruscamente do sofá, demonstrando-se bastante irritado.

- Realmente você não está sabendo se explicar, Isabella. E agora quem está se sentindo ofendido sou eu.

Comecei a chorar desesperadamente. Sabia que nossa conversa deixaria seqüelas em nosso relacionamento. Não sabia sequer dizer o que estava sentindo naquela hora. Só queria chorar.

Edward me levou pra casa em silêncio. Contive os soluços mais as lágrimas insistiam em escorrer de meus olhos.

- Tchau!

- Tchau!

Não nos beijamos nem marcamos nada para o dia seguinte.

Chorei a noite toda. Não tínhamos brigado, mas eu tinha uma leve impressão de que nosso relacionamento não seria mais o mesmo.

Eu poderia simplesmente ligar para Edward, pedir desculpas e dizer que tudo poderia continuar como antes... Mas não era bem assim. Eu realmente não queria seguir o caminho que nosso namoro estava tomando. Eu agora sabia o que era liberdade e não estava disposta a abrir mão dela facilmente. Não ia me violentar emocionalmente apenas para fazer Edward feliz, por mais que o amasse. Teríamos de achar um ponto de equilíbrio em nossas necessidades sexuais, ou... Não queria nem pensar nesse “ou”.

O dia seguinte foi estranho. Nos falamos pelo telefone mais não foi como sempre. Havia um abismo entre a gente. Não nos vimos naquele dia. E foi assim até o final de semana; cinco dias para ser mais exata.

Eu estava morrendo de saudades de Edward. Queria vê-lo de qualquer jeito. Precisava tirar da minha cabeça que não éramos mais os mesmos. Assim que me jogasse nos braços dele e experimentasse a doçura de seus lábios, tudo voltaria ao normal.

Liguei em seu celular.

- Oi Isabella! – Diferente, como eu temia...

- Oi amor! Queria te ver, estou com saudades. - Tentei parecer natural.

- Eu ia passar na sua casa. Precisamos conversar. – Senti minhas pernas falharem. Boa coisa não era.

- Tudo bem.

- Passo aí às oito. Beijo.

O som do telefone sendo desligado foi como um comando para que meus olhos se encharcassem.

Como ele pode desligar o telefone? Fui eu quem tinha ligado...

Chorei mais ainda.

Por mais que tentasse disfarçar com maquiagem, meu rosto denunciava o pranto da tarde inteira.

Assim que abri a porta, o desespero definitivamente tomou conta de mim.

POV EDWARD

Era como se um punhal estivesse cravado em meu peito.

Há cinco dias não via Isabella. Desde nossa conversa no meu apartamento as coisas andavam bem estranhas entre a gente.

Por mais que tentasse, não conseguia entender o que se passava na cabeça daquela menina. Estávamos vivendo a melhor fase do nosso namoro. Finalmente o sexo fazia parte de nosso relacionamento. E que sexo!!! Fazer amor com ela era mágico. Eu tinha descoberto emoções até então desconhecidas por mim. Estar com ela não era como antes, com as outras mulheres que tive, era completamente diferente. Extrapolava os prazeres carnais. Não era um encontro de corpos, era uma união de almas. Transar com ela era mais que apenas uma forma de se chegar a um orgasmo; era o momento em que eu me sentia pleno, completo. Era um sentimento tão maravilhoso que se tornou viciante para mim, como uma droga. Eu queria amá-la todos os dias, a toda hora, se possível. Dar prazer a Isabella, senti-la tremer em meus braços se tornara um momento único, indescritível.

Quando Isabella confessou que não estava feliz com a freqüência com que fazíamos amor, dizendo que não queria mais continuar a nos amarmos todos os dias, foi como se um buraco se abrisse sob meus pés.

Quando achei que ela estivesse tão feliz quanto eu e ela simplesmente vem e me diz que está se sentindo mal com o rumo do nosso namoro. Foi muita decepção para mim.

Evitei encontrá-la nesses dias. Queria digerir melhor tudo o que ela havia me dito. Na verdade queria achar uma explicação plausível para seu descontentamento, mas estava difícil.

Cada milímetro quadrado do meu corpo sentia falta de Isabella. Ficar sem vê-la foi como ficar sem oxigênio, mas estava muito magoado e não queria correr o risco de falar algo que me arrependesse depois, por isso nosso afastamento era necessário.

Como se eu já não estivesse sofrendo o necessário, recebi um telefonema de Emmet, de Londres, me avisando que um grande amigo nosso tinha sofrido um acidente sério e que corria risco de morte. Conhecia Jasper desde criança. Eu, ele e Emmet crescemos juntos, na mesma rua, e éramos inseparáveis. A notícia me deixou muito abalado. Resolvi viajar para Londres urgentemente. Tinha de ver meu amigo, dar meu apoio ou, na pior das hipóteses, despedir-me dele.

Só encontrei passagem para a manhã do dia seguinte. Pelo menos daria tempo de ir ver Isabella.

Ela me ligou no meio da tarde. Eu tinha acabado de ter uma crise de choro depois de falar com a mãe de Jasper pelo telefone. Ela parecia desesperada.

Não tinha condições de conversar naquele momento. Fui um pouco frio com Isabella, mas estava tudo tão confuso na minha cabeça, que pensei que acabaria tendo uma crise nervosa.

Assim que Isabella abriu a porta percebi que não tinha sido apenas eu que havia tido um dia terrível. Seu rosto estava muito abatido.

POV BELLA

Senti-me muito mal quando vi a máscara de dor que se instalara no rosto de Edward. Não era possível que eu fosse a única responsável por aquilo.

Edward me abraçou forte e por um breve espaço de tempo, enquanto seus braços me envolviam, senti que tudo tinha voltado ao normal.

Ele me deu um beijo na testa e me encaminhou para o sofá, onde nos sentamos.

“Ele vai terminar comigo.”

Todos meus músculos estavam paralisados. Não conseguia respirar. Comecei e ver tudo rodando em minha volta. A boca de Edward se mexia, mas não entendia o que ele falava. Escuro total...

Acordei em minha cama. Sentindo os lábios quentes e úmidos de Edward sobre os meus. Pensei que tivesse morrido. Enganava-se quem achava que a morte fosse ruim.

- As princesas de conto de fadas sempre acordam no primeiro beijo. Esse já é o décimo – falou sorrindo torto, confirmando que a morte e o paraíso eram a mesma coisa.

As sensações tipicamente humanas que eu estava sentindo me mostraram que eu estava bem viva.

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- Se é assim, vai ter de continuar tentando... – Fechei os olhos de novo, fingindo que não tinha acordado.

Edward soltou uma gargalhada e me beijou novamente, só que desta vez eu levei minhas mãos em seus cabelos e o puxei para mais perto, invadindo sua boca com minha língua, num beijo ardente e cheio de saudade, que durou um longo tempo.

- Esse conto de fadas não está muito adequado para criancinhas. – Edward comentou rindo, com os lábios ainda próximos do meu.

- É mesmo...

- Está se sentindo melhor? Você teve uma queda de pressão. Deve ser o estresse.

- Estou. O remédio que me deu foi muito bom – falei brincando, com um sorriso malicioso no rosto.

- Você acabou de descobrir o segredo do meu sucesso como médico. - Edward brincou, sussurrando em meu ouvido.

Ele nem me deu tempo para ameaçá-lo de morte, foi logo soltando a bomba.

- Isabella, vou ter de viajar. Vou a Londres ver um amigo que se acidentou. Acho que poderemos usar este tempo que ficaremos afastados para pensarmos melhor em tudo o que está acontecendo entre nós.

Edward me contou o que tinha acontecido com seu amigo e fiquei penalizada com seu sofrimento. Ele estava arrasado.

Sentei-me na cama. A notícia de sua viagem me pegou de surpresa.

- Vai ficar muito tempo por lá?

- Consegui vinte dias de recesso no mestrado. Vou levar alguns trabalhos para fazer lá. Pretendo ficar lá esses dias todos, quero ficar com meu pai também.

- Claro! Ele deve estar com muitas saudades e seu amigo precisará muito da sua força, mesmo que esteja em coma.

- Quando eu voltar a gente conversa melhor.

- Tudo bem.

- Eu te amo, Isabella. Não sei se isso será suficiente para sermos felizes juntos, mas quero que saiba que sou completamente apaixonado por você. Por favor, não pense que se tornou apenas um corpo para mim. Você é minha vida, menina. É a energia que me mantém vivo. Esses dias que ficamos separados eu me senti como uma máquina. Eu apenas funcionei, mas não vivi. Eu não existo sem você. – Edward me olhava nos olhos e pude perceber o quanto ele estava sendo sincero.

- Eu também te amo loucamente, Edward. Espero não ter te magoado com o que falei, não foi minha intenção. Eu sei o quanto me ama e me respeita. Nunca achei que fosse apenas um corpo para você. A forma como você faz amor comigo não me deixa dúvidas quanto aos seus sentimentos. Quando está dentro de mim, você me faz sentir especial, sem falar no prazer absurdo que me proporciona. Eu só estou um pouco assustada com essa nova fase da minha vida. Tudo aconteceu muito rápido. Vou aproveitar esses dias e me fechar para balanço. Quando voltar, prometo que estarei menos confusa. – falei rindo.

Edward me beijou novamente e nos despedimos. Ia ser difícil ficar vinte dias longe dele.

Enquanto Edward estava em Londres resolvendo seus problemas eu dedicava meu tempo a resolver os meus, ou melhor, a repensar minha vida.

Eu tinha passado por tantas mudanças que ficava difícil me definir atualmente.

Quem era Isabella Swan?

Queria ter essa resposta, mas por mais que me esforçasse, não conseguia descrever essa menina.

“Menina!” Era assim que eu ainda me via. Mas quem era aquela mulher que compartilhava a cama de Edward, ora seduzindo-o, ora gemendo de prazer em seus braços?

Não era uma menina... Com certeza não era.

Eu tinha mudado por fora, faltava agora mudar por dentro. Aceitar a nova Isabella e despedir-me de Lela, a menina assustada que ainda teimava em viver dentro de mim.

Eu sabia que quanto mais eu me abrisse para a vida, mais vulnerável eu ficaria, mas foi me expondo ao sofrimento que encontrei a felicidade ao lado de Edward. Precisava me acostumar com esse paradoxo. Fernando Pessoa já dizia: “...Deus, ao mar, o perigo e o abismo deu,mas nele é que espelhou o céu...”

Medo... Eu não podia mais submeter-me a ele. Já dominava meu vôo como borboleta, precisava agora parar de temer o pouso.

Percebi que não era a freqüência com que fazíamos amor que me incomodava. O que me apavorava era me assumir como a mulher que ia pra cama com ele.

Quando Edward voltou, me encontrou muito mais segura e decidida. Passamos a fazer amor só quando eu queria, e eu queria todos os dias...

Não foi fácil, nem nunca será. Amadurecer é mais que envelhecer... É renovar-se, reinventar-se a cada dia. Dói, mas vale à pena. Abre-nos portas, fecha janelas, nos mantém mutáveis, que é a essência da vida.

Eu e Edward crescemos juntos. Erramos e acertamos muitas vezes. Nosso amor é um bálsamo para nossas tristezas e um combustível para nossas alegrias. É nele que nos apoiamos e nos apoiaremos sempre, até o fim de nossas vidas...

Meu nome é Isabella Swan. Essa é uma história sobre catarse... A catarse de uma lagarta.

Quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém...”

Vinícius de Moraes