Cristal

Capítulo 21 - Plano A


Jefferson era um cara legal, e dançava bem, mas Lana estava começando a se incomodar com o rumo que suas mãos estavam seguindo. Ela o empurrou levemente pra trás e abanou o rosto, sorrindo, esperando que ele entendesse seu recado. Jefferson retribuiu seu sorriso e prometeu pegar bebidas pra ambos, sumindo da sua frente então. Tinha sido relativamente fácil, e ela quase tinha esquecido que ainda existiam garotos decentes que entendiam seu não.

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Baixou suas mãos de novo e olhou ao redor, procurando a cabeleira vermelha de Luce, não tinha muito tempo que vira a amiga andando pra lá e pra cá, ela parecia aflita quando olhou pra Lana, em seguida dado meia volta e sumido de novo. Se alguma coisa estivesse acontecendo com ela, Lana desejaria saber.

— Você viu a Luce? – perguntou quando Jefferson voltou com dois copos na mão.

— Não. – ele disse, oferecendo uma bebida rosa pra ela – É margarita de morango.

— Obrigada – Lana bebeu um gole, tomando cuidado pra não passar disso. Sentia-se mais leve e sabia que isso era porque tinha bebido mais do que estava acostumada, seus pés pareciam está pisando em nuvens, a sensação era boa, agradável, nova, mas inesperadamente dava a ela uma sensação maior de vulnerabilidade. – Acho que é melhor ir procurar por ela.

— Tem certeza? – Jefferson apertou os dedos levemente no braço coberto de Lana e aproximou-se, trazendo um cheiro forte de suor – Daqui a pouco a Luce aparece.

Ela pensou no rosto aflito da amiga e na maneira como ela parecia procurar por alguém, Lana esquivou-se dele e assentiu. – Só vou dá uma volta, quando a achar volto.

Não esperou por sua resposta. Lana apertou os dedos em volta do copo e saiu tomando cuidado para não esbarrar em ninguém, apesar da casa cheia, as pessoas deram espaço a ela, Lana chegou do lado de fora relativamente rápido e sentiu a brisa agitando seu cabelo embaraçado, no lado de fora não tinham muitas pessoas, e isso a surpreendeu, conseguia ouvir os sussurros dos casais espalhados por ali e nada mais, nenhum olhar em sua direção ou rosto conhecido.

Havia uma fileira longa de árvores logo na frente da casa e uma sensação sombria por dentro delas, duvidava veemente que Luce poderia está por ali, a iluminação estendia-se até a porta da frente, e nada mais, deixando tudo oculto e com uma sensação perigosa. Se Lorenzo a irritava pelo excesso de muros e vigilância aquela fazendo abandonada no meio do nada a apavorava justamente pela falta dela, era tudo tão aberto e escuro. Lana bebeu devagar o resto da margarita e deixou o copo no chão, de repente tomando uma consciência maior de que quem ia parar ali era porque queria privacidade.

— Por que tão bonita? – uma voz familiar sussurrou perto, e ela a sentiu perto da nuca entrando em todos os poros que podia ter no corpo. Lana olhou por sobre o ombro, encontrando um par de olhos cinzentos que brilhavam, perigosamente perto.

Thor parecia ter surgido do nada, materializado entre aquele meio-escuro, ou ela estava distraída e alta demais para tê-lo notado antes, mesmo que todo seu corpo, a todo instante, sempre parecia está consciente da sua presença.

— O que você está fazendo aqui?

— O mesmo que você, eu acho.

— Não sabia que você tinha vindo eu... Não te vi quando cheguei – e eu estava prestando atenção. Dizer em voz alta que estava procurando por ele era como admitir pra si mesma que estava, e Lana não se sentia preparada pra isso. Ela virou de frente pra Thor e cruzou os braços, ele estava vestido com uma camiseta lisa preta e calça escura, o cabelo, pela primeira vez que ela conseguia lembrar, estava penteado pra uma só direção, mas era pros seus olhos que Lana não conseguia parar de olhar, eles brilhavam enigmáticos e perigosos.

— Precisamos conversar – ele murmurou, avançando um passo, colocando-se de frente pra ela, as mãos enfiadas nos bolsos da frente – Você me acompanha?

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Te acompanhar? ­– ela riu – Não estou acostumada com essa sua versão contida e educada.

— Você prefere que eu te arraste pelo cabelo floresta adentro então? – ele ergueu uma sobrancelha.

— Eu não duvidaria da sua capacidade de fazer isso, mas tô procurando por Luce, nossa conversa vai ter que esperar.

Lana tinha suas pernas bambas quando virou de volta pra dentro da casa, mesmo que não tivesse feito um único movimento pra entrar, ela ainda sentia os olhos brilhantes de Thor queimando suas costas.

— Quando você não achar ela, me encontra aqui fora – ele disse.

Ela o encarou sobre o ombro. – Você sabe onde ela está?

— A última vez que vi parecia um pouco ocupada com Isaac – e ele sorriu, pela primeira vez na noite, mesmo que Lana tenha detestado esse sorriso.

Thor tirou as mãos fechadas dos bolsos e se aproximou dela.

— Eu conheço um lugar onde vamos poder conversar tranquilos, quando acabarmos você vai atrás da sua amiga.

— Isso me parece meio suspeito – ela resmungou pra ninguém em particular. Thor parecia de fato suspeito, seus olhos brilhavam e seus ombros estavam tensos, Lana sentia que ele de fato queria dizer algo, e ela estava muito tentada a querer descobrir o que – Certo. Dez minutos. É tudo o que você vai conseguir de mim.

Ele não respondeu, enfiou os punhos dentro dos bolsos e passou por ela, em um pedido silencioso de segui-lo, Lana hesitou, vendo as costas dele ganharem distancia, o escuro da noite cobrindo-o, antes dele sumir por completo ela suspirou e apressou-se, chegando nele perto o suficiente pra sentir seu cheiro tão característico.

°°°

O carro parou de sacolejar a cinco minutos, Luce só pode imaginar que tinham conseguido sair da fazenda e agora estavam na cidade, ou em algum outro lugar do mundo, ela não sabia. Sua cabeça doía, sua garganta estava seca, seus braços foram amarrados nas costas, de um jeito que limitava seus movimentos, e ela já tinha parado de tentar forçar as algemas pra fora dos seus pulsos, cada movimento desencadeava uma dor nova, e apesar dos seus resmungos, Isaac permanecia em silencio no banco da frente, ela só sabia que ele ainda estava vivo porque conduzia o carro em uma direção que só ele conhecia, o pouco da estrada que conseguia ver pelo vidro escuro do carro não dava uma pista sequer de onde estavam.

— Pra onde você está me levando? – perguntou em voz alta. Silencio – Você podia pelo menos me responder isso, no mínimo.

Pelo retrovisor ela o viu ligando o radio, no mesmo instante uma música cafona encheu o ambiente. Ela não precisava olhar pra saber que seu rosto estava vermelho e bravo.

— Então é isso? Você simplesmente me amarra, enfia dentro de um carro e não me diz nada? As pessoas vão procurar por mim, e quando se derem conta de que eu sumi, e principalmente de que você também sumiu, vão vir atrás da gente, e eu sei que você não quer esse tipo de atenção, então é melhor você me soltar – a ultima parte Luce quase gritou, forçando sua voz a sobressair à música.

Isaac continuava quieto, e ela se preparou para mais um discurso quando a música de repente cessou e ele, pela primeira vez desde que sentara ali, ergueu seus olhos para o retrovisor, encontrando os dela.

— Eles não vão vir atrás de você – disse, de um jeito frio e distante.

Luce remexeu-se no banco de trás e forçou seus olhos a manterem o contato.

— Claro que vão.

— Não. Eles vão está ocupados demais procurando um corpo. – ele disse, em seguida baixou os olhos, e aquela música cafona voltou a preencher os ouvidos de Luce, só que dessa vez mais alto.

ººº

Lana estava com frio, a renda que cobria seus braços pouco fazia para mantê-la aquecida, e sentia as pernas desnudas se arrepiar a cada passo que dava. Claro que quando aceitara ir conversar com Thor não tinha imaginado segui-lo para dentro da floresta, se isolar com ele em um lugar tão escuro e distante, e por vezes pensara em da meia volta e correr de volta, mas tinha algo que a impedia, algo mais forte que sua curiosidade ou teimosia em agir como covarde.

Thor olhou por sobre seu ombro apenas uma vez, e ela não conseguiu olhar dentro dos seus olhos, os pulsos dele abriram e fecharam, assim como seus lábios, como se quisesse dizer algo importante.

Ela esperou, no entanto, ele nunca disse. Thor parou, respirando fundo, e a pegou pelo braço.

— Por aqui – pareceu mais um resmungo frio e distante enquanto ele a conduzia por uma trilha íngreme e escondida.