Crash

Um: Crazy and Old Crush


James Potter. Ele tinha sido meu namorado no colégio. Na verdade, ele foi o meu único namorado, se estivermos contando os amores que realmente importaram na minha vida inteira. Eu adquiri um certo fanatismo por ele, e eu era o que as pessoas chamavam de stalker. É, esse título também me assusta. Mas prefiro usar a ele do que a "louca que persegue o ex namorado nas redes sociais e o segue todos os dias da faculdade para casa".

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu nunca tinha sido pega, por mais surpreendente que isso seja. Petúnia tinha cedido aos meus pedidos pelo empréstimo do carro, para que eu pudesse usá-lo todas as tardes, mesmo sem saber o motivo disso, e aquele plano aparentemente estava funcionando. Nunca tinha me preocupado tanto em ser pega quando estava de carro. Eu tinha medo de curtir alguma foto sem querer quando stalkeava nas redes sociais, mas nunca tinha passado pela minha cabeça o risco de ser reconhecida quando realizava a "perseguição" pessoalmente.

Essa era uma das vezes que a vida provou ser mais irônica que o esperado: eu nunca tinha pensado que algo pudesse acontecer com o carro durante a perseguição. Sempre pensei que, se fosse para acontecer algo, seria nas redes sociais. Afinal, eu encho o tanque duas vezes por semana, calibro o pneu todas as vezes necessárias... por que diabos algo pudesse acontecer com o carro?

Bem, o que podia ter acontecido - e aconteceu, de fato - é a droga do freio ter parado de mexer por alguns segundos. E esses segundos coincidentemente serem os mesmos que James tinha parado o carro... Bem, isso foi o suficiente para eu ter sido notada. E, além disso, perder a consciência, batendo a minha cabeça no volante. O meu último pensamento, com exceção do rosto de James, foi que eu deveria ter aconselhado a minha irmã a ter comprado um carro com air-bag.

~

Eu saí correndo do carro ao perceber que tinha alguém machucado. Quando consegui abrir a porta do outro carro à força, quase me xinguei, por perceber que aqueles fios avermelhados e macios me eram familiares. Eu tinha passado dias acariciando-os há alguns anos.

Tirei meu telefone rapidamente do bolso da calça e, enquanto discava o número da emergência e tentava lembrar se os meus pais tinham falado alguma coisa sobre o seguro do carro, me arrependo imensamente de ter freado com o carro. Será que ela estava com algum machucado fatal? Será que o cérebro dela tinha sido afetado, ou alguma função importante? Será que...

Tento impedir as possibilidades terríveis de passarem pela minha mente, e falho imensamente nessa tarefa. Todos os minutos que as luzes da ambulância demoraram pareciam ser uma década. Lily Evans. A melhor garota com quem eu já tinha ficado. Aquela que quebrou a ideia de que as líderes de torcidas deveriam ser loiras, com as costelas aparecendo pelas roupas. Aquela que era inteligente e boa de conversar, aquela com quem eu gostava de passar as minhas horas. Eu nunca gostaria de ter terminado com ela, mas foi algo que a senhora Evans, mãe dela, tinha me dito.

Quando eu acabasse de fazer minha faculdade e tivesse uma carreira, eu poderia voltar. Mas eu não podia desperdiçar a minha vida para ficar lá. Sempre havia uma volta.

Será que eu ainda tinha uma chance? Será que ainda havia uma volta? Eu já não sabia mais. O que ela estava fazendo ali? Se eu soubesse, teria ido visitá-la? As perguntas rodavam ao redor da minha cabeça, enquanto a imagem daqueles fios vermelhos de cabelo misturados ao sangue, que quase não era visto, rodava pela minha cabeça.

Eu nunca conseguiria esquecer. Mesmo que nada de grave tivesse acontecido com ela, eu sabia que nunca conseguiria esquecer. Sabia que aquela imagem estamparia os meus sonhos daqueles dias para frente.

Quando eu ouvi o som e vi as luzes da ambulância, tive a sensação de que nunca senti um alívio tão grande. Os médicos começaram a sair do enorme automóvel branco e a carregaram para dentro. Eu praticamente os obriguei a me deixarem entrar, e apenas quando chegamos no hospital me lembrei do meu carro e do dela na estrada vazia. Mas eu não tinha espaço na cabeça o suficiente para amaldiçoar a minha memória. Eu só conseguia pensar nela, deitada na maca do hospital com a roupa azul do hospital.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Era estranho como aquelas coisas aconteciam. Ela não estava na minha vida há mais de um ano, e eu não saberia que ela estava por perto se não fosse aquele acidente. Se não fosse eu no carro da frente, demoraria a saber que algo tinha acontecido - talvez eu nem mesmo soubesse. Mas agora... Eu estou me revirando por inteiro só com a possibilidade de perdê-la, mesmo que eu já a tenha perdido.

Mas agora eu sabia que a amava. Eu tinha certeza disso. E eu não poderia deixá-la ir embora quando ela acordasse. Porque ela iria acordar. Ela vai ficar, nem que eu tenha que beijá-la e balançá-la pelos ombros, cantando a nossa música. (Eu ainda lembrava. Eu ainda tinha a nossa playlist salva no celular. Será que ela ainda tinha no dela?)

— Quem aqui é James Potter, o responsável por Lily E...

— Eu. - respondo, antes que a enfermeira tivesse a chance de concluir a pergunta. Eu precisava vê-la, precisava ter alguma notícia.

— O que o senhor é da senhorita Evans? - a enfermeira pergunta, ainda anotando coisas na prancheta, enquanto andava em frente pelos corredores do hospital.

— Namorado. - respondo, sem hesitar ao menos um pouco, mesmo que eu achasse que deveria ter hesitado.

— A senhorita Evans está no quarto. Ela só precisou de alguns pontos em várias partes do corpo. Ela precisará ficar aqui no hospital durante três dias, e depois terá alta. - eu assenti várias vezes, e demorou algum tempo para que meu interpretasse tudo o que ela disse. - Eu suponho que você queira vê-la.

Assinto com a cabeça novamente.

— Eu não quero. Eu preciso vê-la.

Surpreendentemente, a enfermeira sorriu e me disse para segui-la. Eu apenas fiz isso. Eu estava tão desesperado para ver Lily que eu não iria contestar. Talvez ela pudesse me proibir de entrar no quarto se eu fizesse algum comentário ácido sobre o fato da minha "namorada" estar morrendo.

Quando a enfermeira para no meio do corredor e eu olho pela parte transparente da porta, eu sei que é ela pelos cabelos vermelhos se destacando no travesseiro branco. A minha mão instintivamente toca a maçaneta da porta, e, percebendo que eu talvez não pudesse entrar sem permissão, olho para a enfermeira, que assente, como se dissesse que eu podia abrir. Eu não espero muito tempo para abrir a porta, e, quando o faço, consigo ver o movimento da barriga de Lily de acordo com a sua respiração, e eu suspiro.

Ela estava respirando.

Ela estava viva.

Ela tinha ficado.