Correspondências

214, Harbor View - Apartment #12 - Charleston MA


09/05/2010

Querida Jane,

Devo dizer que além de perseguidora, você é um tanto quanto engraçada e... carinhosa? Não sei dizer com certeza sobre esse último adjetivo, mas me parece que sim. Não me incomoda o fato de você ter me procurado no Google, eu mesma estava curiosa em relação à sua aparência - não que isso fosse importar alguma coisa no final, mas desde que começamos a trocar cartas me despertou a curiosidade de saber como você é, e me perguntava se pudesse ter cruzado com você na rua e não ter sabido que era você. Assistir a matéria na televisão foi totalmente acidental, eu te garanto. Mas me deixou feliz. Eu não acredito em coincidências, então acho que inúmeros acontecimentos estão me levando à você.

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Obrigada por responder a carta e enviá-la aqui para Virgínia. Me sinto um pouco mal por demorar a responder à você por mais tempo do que você levou para responder a mim. Como citei na carta anterior, os dias são longos e cansativos. Tenho presenciado autópsias as quais eu... bem, me peguei esperando que a morte tivesse chegado logo para aquelas pessoas. Algumas coisas são difíceis de se ver, mesmo para nós, médicos legistas que estamos acostumados com a frieza da morte.

Esse é o primeiro motivo pelo qual passo os feriados sozinha por aqui, preciso de um tempo para mim mesma - apenas para matar tua curiosidade. E não se engane, não recebo tantos convites para sair assim. Os que recebo geralmente estão relacionados à ocasiões formais de institutos e políticas. O segundo motivo pelo qual tenho passado esse tempo sozinha é que não me dou muito bem com as pessoas. De alguma forma pareço estranha para elas, mesmo para aquelas que compartilham algo tão singular como minha profissão. Sendo assim, prefiro manter certa distância. Para falar a verdade, acredito que você é a pessoa mais próxima a mim agora - e eu nunca sequer apertei sua mão. Não é estranho? Acho que você está certa ao dizer que tem um lugar de importância na minha vida.

Espero que sua ex-parceira não esteja te criando tantos problemas - mesmo que seja apenas em sua cabeça. E espero que as rodadas de cerveja com seus outros amigos tenham te ajudado a superar o que aconteceu entre vocês. Não é fácil sair de um relacionamento assim, eu sei. Não se irrite tanto com isso, ou com ela, e nem mesmo com você. O tempo tem o dom de curar as coisas, é o que dizem.

Jane, meu cágado não é uma piada! Francamente! E por qual razão eu deveria ter quatro deles e nomeá-los de tartarugas ninjas? Eles nem tartarugas são! Há uma diferença grande entre tartaruga e cágado, e talvez você queira usar o Google para pesquisá-la - já que você provou ser capaz de usá-lo eficientemente.

Bem, sobre o esporte, você poderia me dar uma aula teórica. Isso ajudaria com certeza.

E fico contente de saber que nossa concepção ao que diz respeito ao nosso trabalho seja tão parecida. Me sinto mais conectada com você agora que sei sobre isso.

Escreva quantas cartas quiser, Jane. Mas certifique-se de que elas cheguem em minhas mãos. Como já disse, gosto de lê-las. E me agradaria passar parte do dia lendo-as. Sua letra também não é nada mal, a propósito. Sei que há uma ciência que estuda a escrita, traça a personalidade pela forma como a pessoa escreve, infelizmente não sei muito sobre isso. Vou procurar assim que terminar aqui, entretanto.

Deveria ter mencionado isso na carta anterior, mas acredito que o cansaço não me deixou concluí-la da melhor forma. Não quero agravar o seu vício em álcool, mas deveria te enviar uma garrafa de um bom vinho como um presente por ter se saído tão bem em sua mais recente apreensão.

Acredito que seja mais seguro se sua resposta à essa carta for direcionada para o meu endereço em Boston. Odiaria que ela se perdesse por aí.

Cuida-se, e até mais.

Maura