Caminho cansadamente, me solto no sofá enquanto afrouxo a gravata, sem coleiras em casa, observo um instante a partida que há dias disputo contra um inimigo cujo rosto desconheço e ignoro, com uma careta chego a conclusão de que tudo ate aqui fora em vão, era hora de desistir, derrubo o rei.

Sentado olho o anoitecer, confesso que a maioria não deve achar isso uma atividade estimulante ou divertida, porem para mim, e uma das minhas únicas fontes de prazer, ficar aqui cada dia vendo um por do sol diferente.

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Agora não me resta muito que fazer alem de sentar aqui sozinho, creio que por minha culpa, por tempo demais acreditei que não precisava de amigos, que poderia conseguir sozinho, por muito tempo essa foi minha realidade, meu consolo e minha religião.

Mas naqueles dias minha fé nisso havia sido abalada, me sentia perdido em solidão, quis chorar, porem não chorei. Lagrimas eram inúteis, serviam apenas para regar maus sentimentos e fazer florescerem pensamentos piores ainda.

Eu poderia gritar, gostaria realmente de fazer isso, gritar para destruir o véu de silencio que tornava o ar tenso e irrespirável, porem isso serviria apenas para avisar a todos que naquele apartamento vive um pobre coitado e isso faria com que todos sentissem pena de mim, coisa que em vida não permitirei.

Olho em volta, existia apenas uma atmosfera vazia e opressiva. Tecnologia de ponta agora inútil, pinturas de cores abusivas e formas irreais que naquele momento nada queria me dizer. Porem nem tudo e trevas, a luz laranja e morna banha meu rosto agradecido, olho para o retrato em cima da mesinha e penso: "se ela estivesse aqui tudo estaria melhor, não e?"

E então a campainha toca, com espanto e receio abro a porta e ela esta ali, infelizmente mais uma vez a cena se repetia. A minha frente estava uma garota de olhos negros como a noite profunda, pele branca como o leite, algo em seu olhar acompanhado do vestido preto que usava passavam a sensação de profundo luto, nos olhamos por um momento eterno.

Absorvo o perfume que ela exalava com voracidade, pois e a única prova que tudo e real "lá vamos nós de novo!" penso com um calafrio minha espinha.

Caminho sem pressa para a sala, ela esta lá sentada em meu sofá, me encarando, com uma vá esperança de tudo ser mentira, uma brincadeira maldosa da minha mente aperto meus olhos com força porem ela continua ali como sempre, sento ao seu lado lembrando de nosso passado e de como sempre fomos companheiros.

– E então...? - ela me pergunta, sua voz doce me faz lembrar de quando ela vinha me dar doces conselhos.

Agora o por do sol partira deixando para mim apenas o frio existencial da noite a escuridão que invadia meu apartamento tornava aquele momento pior e mais difícil de ser encarado, desejo de volta a liberdade, o calor e a certeza dos raios laranja do alvorecer.

– Acho... Que não estou pronto - digo por fim

– Então prefere ficar aqui sozinho novamente - ela coloca a mão em meu ombro - não existe o que temer, estou com você.

Ela tocou meu rosto, seu toque era frio como o momento derradeiro, porem quente como o carinho de mãe ou a caricia de uma amante, o toque me fez entender que o que ela dizia era verdade, ela não mentia para mim, eu sabia que quando tudo acabasse ela estaria comigo, sem perguntas ou ressalvas.

– Olhe a sua volta, o que restou para você? Venha comigo que eu te farei voar de sua prisão sem grandes - ela disse apontando para a varanda que realmente não tinha grades - venha comigo, em meus braços encontrara paz

Ela levanta e me oferece a mão, a seguro sentindo sua pele suave ao toque da minha, entretanto antes de partir enxergo algo em meu jogo, levanto o rei, não estava tudo acabado ainda, então caminho com ela em direção da janela, deixando a solidão, realmente não estava mais só, olho para a grande altura da qual nos encontrávamos do chão, ela pressiona minha mão como se me encorajasse olho para baixo, vejo uma criança com toda sua soberba inocência com um sorriso venço mais uma batalha pequena porem importante, resisto a vontade de pular.

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– Todo dia bato a sua porta, todo dia você a abra, todo dia te ofereço meus favores, então por que você nunca vem? O que te prende a este lugar? - disse exasperada

– Respiro o frio ar noturno antes de lhe responder com sinceridade pela primeira vez, pensando melhor, respondo para mim mesmo com a verdade pela primeira vez.

– Querida morte, você me pergunta o que tenho, o que me prende, mas não entende que apesar de não ter nada tenho tudo o que preciso. A esperança de ver o próximo por do sol.