Lauriane não gosta de dividir nem de emprestar suas coisas. Sempre foi assim, desde criança não emprestava os brinquedos, o lápis de cor na escola, nem mesmo o caderno pro colega que tinha perdido a aula copiar a lição ela não gostava de emprestar.

—__ Minha filha não pode ser assim ___ dizia a mãe ___ é tão bom dividir as coisas

—__ Não. O que é meu é meu e ninguém pega

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

E o tempo foi passando, Lauriane cresceu, começou a namorar e namorou muito. Seus namoros não duravam mais do que um mês.

—__ Você é MEU Josivaldo, não pode olhar pra mais ninguém

—__ Mas amor, a moça só perguntou a hora

—__ Respondesse sem olhar pra ela, ora

Ninguém aguentava. Até que aos dezoito anos Lauriane engravidou de Cleidson

—__ Agora você vai ter que casar Cleidson

E casaram. Cleidson amava Lauriane, ela tinha lá seus defeitos mas era uma boa mulher. Quando a pequena Lorraine nasceu foi só alegria para o casal.

—__ Ai que bebê mais fofo ___ disse a cunhada fazendo visita ainda na maternidade ___ posso pegar no colo?

—__ Não. O bebê é meu e ninguém pega.

Agora Lorraine esta prestes a completar oito anos e uma festinha esta sendo preparada, Lauriane cuida de tudo pessoalmente, já que ela não trabalha fora tem tempo suficiente para isso. Cleidson trabalha de assistente num pequeno escritório de contabilidade e ultimamente tem andado preocupado.

—__ Vou convidar meu chefe pro aniversário da Lorraine ___ disse Cleidson durante o jantar

—__ Por que? Ele nem conhece nossa filha, vai vim fazer o que na festa dela?

—__ Ouvi dizer que vai ter corte de pessoal na empresa e acho que vai ser bom se eu ficar mais próximo dele

—__ Quer dizer puxar o saco

—__ Não, só quero ser educado, ele é uma boa pessoa, tem um filho da idade da Lorraine e uma menina adolescente, pode ser que venham.

Lauriane dá uma mordida na coxa de frango deixando a gordura escorrer por entre os dedos, ela não esta gostando muito dessa história, ela mesma já tinha feito a lista de convidados e agora Cleidson estava tentando fazer interferência.

—__ Tá bem __ diz ela após refletir bastante ___ afinal se vierem pode ser que tragam um bom presente.

Chega o dia da festa, como eles não tem dinheiro pra alugar um salão foi tudo improvisado no quintal de casa mesmo. Prenderam a cachorra no banheiro pra ela não incomodar os convidados, colocaram as bonecas de Lorraine como enfeite de mesa e uma faixa de cartolina rosa com papel crepom roxo escrito com purpurina dourada “Lorraine faz 8”.

As crianças começaram a chegar antes mesmo da hora marcada e já começou aquela algazarra. Cleidson colocou Anitta pra tocar e a criançada foi a loucura fazendo as coreografias totalmente dessincronizadas.

Lá pelas oito horas Gustavo, o chefe de Cleidon, chegou acompanhado da esposa Helena e do filho Bruninho.

—__ Que bom que vieram, fiquem a vontade ___ disse Cleidson ajeitando a camisa e dando aquela tossida básica pra limpar a garganta ___ mulher vem cá.

Lauriane olhou Helena de cima a baixo, a mulher estava usando um vestido preto justo que delineava seu corpo perfeitamente esculpido. Os cabelos sedosos com cachos perfeitamente caindo por seus ombros.

—__ Prazer, Helena

—__ Prazer, Lauriane ___ disse ela prestando atenção no embrulho grande nas mãos de Helena

Os dois homens deram aquele sorriso como se dissessem “legal, nossas esposas se deram bem”.

—__ Tia tem refrigerante? ___ perguntou Bruninho

—__ Tem, claro que tem, vou pegar pra você ___ disse Cleidson correndo pra pegar a garrafa de Dolly

—__ E sua filha? Não veio? ___ perguntou Lauriane recebendo o presente

—__ Não ___ respondeu Helena ___ Tá indisposta tadinha, sabe como é, aquela época do mês.

E a festa foi rolando. Cleidson colou em Gustavo, serviu cerveja gelada e puxou papo sobre futebol. Cleidson era flamenguista, Gustavo vascaíno, mas isso não foi problema, porque Cleidson engoliu o orgulho rubro negro e elogiou muito o vasco.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Helena fez amizade com Cláudia, uma vizinha e as duas passaram o tempo todo fofocando e rindo. Lauriane só observando de longe, irritada com a possibilidade de estarem falando dela.

O pequeno Bruno era um pestinha, corria de um lado para o outro derrubando tudo o que via pelo caminho.

—__ Dentro de casa não ___ gritava Lauriane para as crianças que já tinham invadido a sala.

—__ Tia tem mais cachorro quente?

—__ Tia que horas vai partir o bolo?

—__ Tia quero fazer xixi

—__ Tia ele me empurrou

Lauriane estava enlouquecendo

—__ Já vou servir. Bolo só mais tarde. O banheiro é ali. Empurra de volta

Naquele momento ela decidiu que só faria festa de novo para Lorraine quando a menina completasse quinze anos.

Como se a situação já não tivesse estressante o suficiente, ouviu-se uma gritaria e correria de crianças. De repente, Raxitag a cadela vira lata da família passou correndo pela sala e pulou numa bandeja de salgadinhos que estava no murinho da varanda.

—__ Quem abriu o banheiro? ___ gritou Lauriane

—__ Eu só queria fazer xixi ___ disse um garotinho chorando e com as calças molhadas.

Cleidson prendeu Raxitag e a festa continuou, a criançada se divertindo a beça e Lauriane rezando para aquela noite terminar.

Finalmente a hora do parabéns, todos se reuniram em volta da mesa e cantaram, Lorraine assoprou a vela com tanta força que foi baba pro meio da cobertura.

Quase onze da noite quando os convidados começaram a ir embora. Lauriane estava dando graças a Deus.

—__ Nós também já vamos ___ disse Gustavo ___ estava tudo muito bom

Cleidson deu um abraço em Gustavo rezando para a festa ter agradado o chefe o suficiente para ele não estar na lista dos futuros desempregados

—__ Corta um pedacinho de bolo pra eu levar pra Tiffany ___ pede Helena à Lauriane

—__ Quem é Tiffany? __ pergunta Lauriane

—__ Minha filha ___ respondeu Helena ___ ela adora bolo de chocolate e tadinha tá tão tristinha hoje, sabe como é, aquela época do mês né

Lauriane ficou sem palavras, Helena parecia uma mulher tão chique e estava ali pedindo praticamente uma quentinha? Lauriane sabia que não devia ter convidado aquela gente, todos os outros convidados sabiam que ela não gostava de dividir as coisas, se sobrou bolo era dela, ninguém tinha que pedir nada.

—__ Pega o bolo pra ela amor ___ disse Cleidson sorrindo forçadamente para a esposa

Muito a contra gosto, Lauriane pegou um pedaço de papel alumínio e cortou uma fatia de bolo. Uma fatia pequena.

—__ Aqui esta ___ disse ela entregando o embrulho à Helena

—__ Ah, será que você pode colocar num potinho por favor. Fica melhor pra levar.

Lauriane lançou um olhar mortal para Cleidson. Colocar num potinho? Ela tava doida? Todo mundo sabe que pote emprestado não volta mais.

—__ Deixa que eu coloco pra você ___ disse Cleidson pegando o embrulho de papel alumínio e indo pra cozinha

—__ Coloca uns brigadeiros também ___ disse Helena.

Cleidon correu pra cozinha, mas Lauriane foi mais rápida e chegou primeiro

—__ Você não vai dar um dos meus potes pra ela

—__ Não vou dar, só vou emprestar

—__ Não

—__ Amor, ela é esposa do meu chefe, meu emprego esta em jogo

Lauriane sabia que se Cleidson perdesse o emprego a situação da família ia se complicar.

Cleidson abriu o armário e pegou um potinho de plástico de tampa amarela

—__ Ah não, esse não ___ disse Lauriane ___ esse foi minha mãe que deu

Cleidson largou o pote e pegou o de tampa verde

—__ Esse também não. Esse eu comprei na excursão que fizemos pra Foz do Iguaçu

—__ Amor vai lá se despedir dos convidados e deixa que eu arrumo aqui

—__ Mas...

Cleidson faz uma cara séria e Lauriane saiu emburrada. Cinco minutos depois Cleidson entregou um potinho de tampa vermelha para Helena

—__ Aqui esta ___ disse ele ___ bolo, brigadeiro e cajuzinho

—__ Obrigada ___ disse Helena ___ adorei conhecer vocês

Lauriane deu um sorriso amarelo

—__ Ficamos felizes em ter vocês conosco

Um troca de beijinhos no rosto com mais falsidade que o “não vai doer” da enfermeira antes de dar a injeção.

Assim que o casal e Bruninho entraram no carro, Lauriane seguiu emburrada para o quarto, ainda tinha alguns convidados, mas ela já não quis mais bancar a simpática com ninguém. Sua cota de simpatia já foi esgotada.

Cleidson fez sala para a meia dúzia de convidados que ainda restavam e já passava da meia noite quando eles finalmente foram embora.

A casa estava uma zona, Lorraine dormindo no sofá da sala e o banheiro imundo por terem deixado Raxitag presa ali. Não querendo mais aborrecer a esposa, Cleidson carregou Lorraine até a cama e deu uma geral na casa, tirando só o grosso. Depois de um banho ele seguiu pro quarto esperando encontrar Lauriane dormindo, mas ela estava mais acordada do que nunca

—__ Você viu o pote que você deu pra ela?

—__ Amor, por favor estou exausto

—__ Exausto? Eu que estou exausta. Tive que aturar um monte de criança bagunceira, umas dondocas rindo e pra completar você ainda deu pra ela o potinho que ganhei no bingo da igreja.

—__ Eu só emprestei, tenho certeza de que ela vai devolver

—__ Pro seu bem eu espero que ela devolva.

Lauriane passou o domingo inteiro emburrada, Cleidson fez de tudo para agrada-la, inclusive limpou toda a bagunça da festa sozinho. Lorraine acordou quase meio dia e passou a tarde toda brincando com os presentes que havia ganhado, enquanto isso Lauriane ficou o tempo todo sentada no sofá comendo o que sobrou dos docinhos e assistindo Faustão.

Segunda feira a tarde assim que Cleidson colocou o pé dentro de casa, a esposa já estava parada na sala

—__ Cadê meu potinho?

—__ Boa tarde pra você também querida

—__ Não enrola Cleidson, não enrola. Cadê o meu pote?

—__ Ele não trouxe, aposto que esqueceu, deve levar amanhã

—__ Se não levar você cobra ele

—__ Amor, pelo amor de Deus! Ele é meu patrão, não posso ficar cobrando um pote de plástico.

—__ Não é um simples pote de plástico Cleidson, é o pote que eu ganhei no bingo da igreja, eu nunca ganho nada em bingo, aquele pote tinha um valor sentimental e eu quero ele de volta.

—__ Ai meu pai

E os dias foram passando, sempre que chegava em casa Cleidson era recebido com o mesmo olhar furioso da esposa e a famosa pergunta ‘cadê o meu pote”.

No escritório, Gustavo nem tocava no assunto e Cleidson tentou puxar assunto

—__ E sua esposa como esta? ___ perguntou Cleidson

—__ Bem

—__ Ela e Lauriane se deram bem

—__ Acho que sim

—__ Lauriene gostou muito dela, até emprestou um potinho que ela havia ganho no bingo pra ela levar o bolo

—__ É, Helena também simpatizou com a sua esposa

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—__ Que bom

—__ É

Não dava, Cleidson não ia ter coragem de pedir o pote de volta, então na saída do escritório ele resolveu passar numa lojinha de R$ 1,99 e comprar um pote novo, um não comprou logo cinco.

—__ Eu não quero esses potes Cleidson, eu quero o pote que eu ganhei no bingo da igreja.

Não aguentando mais aquela situação, na sexta feira de manhã Lauriane decidiu ir até a casa de Helena. Como ela descobriu o endereço? Não há nada que uma mulher não consiga descobrir, ainda mais uma mulher como Lauriane.

—__ A gente não quer comprar nada ___ disse uma menina de cabelo roxo e um piercing no nariz assim que abriu a porta.

—__ Eu não estou vendendo nada ___ disse Lauriane ___ quero falar com a Helena

—__ Ô Mãeeeeee ___ gritou a garota deixando Lauriane entrar.

Lauriane entrou com seu shortinho jeans, salto plataforma de plástico e com Lorraine do lado comendo biscoito fofura.

Helena surgiu linda e elegante como sempre.

—__ Lauriane que surpresa ___ disse Helena estando realmente surpresa com aquela visita

—__ Pois é, eu estava passando aqui por perto e resolvi entrar pra fazer uma visitinha

—__ Ah, tá

—__ E você Lorraine? Gostou da boneca? ___ perguntou Helena

A menina só balançou a cabeça positivamente

—__ Ela adorou, mas eu já disse pra ela não emprestar pra ninguém ___ disse Lauriane ___ não é bom ficar emprestando as coisas, as pessoas nunca devolvem

—__ É

E ficou aquele clima, ninguém sabia o que dizer. De repente a menina de cabelo roxo passa com um prato de comida na mão e se senta na frente da tevê

—__ Tiffany, por que não come na mesa? ___ pergunta Helena

—__ Não ___ diz a menina de cabelo roxo

—__ Almoça com a gente Lauriane? ___ pergunta Helena pra não ser indelicada

—__ Aceito

As duas mulheres e Lorraine se sentam na mesa de jantar com tampa de vidro. Os pratos brancos de porcelana e as taças finas totalmente diferente dos pratos de vidro de Lauriane e dos copos de massa de tomate. A comida disposta sob a mesa, arroz, salada, legumes ao vapor, e no centro uma travessa com camarão e lula à dore

—__ Se eu soubesse que vocês viriam eu tinha mandado fazer alguma coisa especial ___ disse Helena

—__ Imagina, a gente come qualquer coisa

E comeram bem, fazia anos que Lauriane não comia camarão e ali tinha em fartura.

—__ Estava muito bom, você que fez?

—__ Não, eu não cozinho ___ disse Helena ___ mas tenho uma excelente cozinheira

Lauriene queria dar na cara daquela mulher. Ela era linda, magra, rica e ainda por cima estava com o pote dela.

—__ Nossa, sobrou tanto camarão né ___ disse Lauriane ___ será que você se incomoda se eu levar um pouquinho? É pro Cleidson, ele gosta tanto

Helena não esperava por essa, mas claro que ela não ia negar comida

—__ Claro, vou mandar a Maria colocar num potinho pra você

—__ Ah, obrigada. Pode ser naquele meu potinho que você trouxe o bolo no outro dia.

E assim Lauriane foi para casa com a barriga chega e com seu amado potinho de volta

Na segunda feira a tarde Cleidson chegou em casa radiante

—__ Amor, você não sabe o que aconteceu

—__ O que? Não vai me dizer que você foi demitido

—__ Não amor, muito pelo contrario ___ disse Cleidson com um sorriso de orelha a orelha ___ o chefe me chamou pra conversar e eu até temi que fosse demissão, mas ele elogiou meu trabalho e me deu um aumento de 30 por cento

Foi uma alegria só. Laurine pulou no colo de Cleidson, Lorraine nem sabia o que estava acontecendo mas começou a comemorar também e até a cadela Raxitag latia de alegria.

Enquanto isso na casa de Gustavo...

—__ Dei um aumento pro Cleidson hoje ___ disse Gustavo

—__ Que bom amor ___ respondeu Helena ___ eu fiquei com tanta pena quando a Lauriane e a menina vieram aqui só pra comer, você tinha que ver como ela devorou tudo e ainda pediu pra levar pra casa.

E foi assim que graças a um potinho de plástico, Cleidson conseguiu um aumento.