Eram 12:30, horário de almoço e havia muita gente na rua. O táxi a deixou debaixo de uma árvore e de lá ela observou o ambiente. Haviam muitas casas e parecia ser um povoado porém só pessoas muito ricas e os famosos podiam pagar por uma casa ali. Olívia imaginou quanto não seria a comida. Entrou no Parsey’s Dish para comer e viu que estava lotado como já havia imaginado que estaria naquela hora. Só havia uma cadeira e esta ficava no balcão. Percebeu que uma mulher também visava a cadeira e Olívia correu o mais rápido que podia e sentou-se. Cortesia para que?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Colocou o jornal e a bolsa em seu colo e pegou o cardápio disposto no balcão. O prato dia parecia comida brasileira: arroz, feijão, purê de batatas , frango, cenoura e beterraba e haviam porções extras como panqueca e peixe caso não quisesse frango. O homem ao seu lado deixou uma carteira de cigarros e os óculos na cadeira e andou em direção ao telefone. Olívia pegou seus óculos de grau e observou a lanchonete pelo espelho que havia a sua frente. Ninguém conhecido, mas muita gente rica. Olívia tinha certo receio de ficar perto de pessoas ricas em épocas diferentes pois o preconceito a pessoas morenas ou mais escuras ainda era muito forte. Ela tinha uma pele morena, cabelos escuros e uma sobrancelha média que costumava ser bastante grossa, totalmente destoante da mulher americana e principalmente da mulher americana de 1950. Quando entrou na Segunda Guerra, acharam que ela era da Espanha. Os bisavós de Olívia eram negros e brasileiros, sua avó era negra e sua mãe morena mas a mais forte característica da família era a sobrancelha. Seu pai é um professor de História que nasceu na Inglaterra, foi curador do museu da Segunda Guerra na Polônia, onde recebeu reconhecimento e foi lá que conheceu sua mãe, uma brasileira , nascida nos Estados Unidos que estava visitando os campos de concentração como turista. Eles passaram a pertencer a um círculo de intelectuais e de gente rica que financiava trabalho de cientistas e quando ela tinha 15 anos o peso da rejeição falou mais alto: Ela teve uma quedinha pelo filho mais novo de um casal que investia em petróleo no Brasil. Ele tinha olhos azuis, cabelos loiros e era muito alto e era 4 anos mais velha que ela. Algumas primas dele apareceram e trataram de afastá-la. Quando Olívia estava no banheiro lavando as mãos, ela ouviu sussurros e risadas no corredor da casa. Ela encostou o ouvido na porta:
— Acho que hoje você pode ficar com ele. - ouviu uma voz feminina
— Ele é tão lindo. Ele trouxe o amigo dele de Manchester.
— Mas e aquela menina moreninha com ele?
— A marronzinha da sobrancelha assustadora? O que tem ela? Ela não é párea pra você.
— Ele parece ter interesse nela.
— Você já olhou bem pra ela? Ela não pertence a nosso ambiente, o pai dela é alguma coisa do museu…
— Deve ser o vigia
Ouviu-se gargalhadas maldosas.
— Como você é cruel.
— Não, sério. Acho que ele é curador de algum museu da Polônia ou algo parecido. Mas ela não pertence a nós.
Olívia abriu a porta e surpreendeu as 3 jovens . Havia olhar de susto e deboche ao mesmo tempo.
— Meu pai é curador do museu da Segunda Guerra Mundial da Polônia. Ele é professor de História formado em Cambridge e tem contribuído para manter viva e transparente o que aconteceu na Alemanha nazista e foi responsável por enviar a Israel nomes de pessoas que salvaram judeus daquele fatídico momento dando a eles a honra de entrar no Jardim dos Justos. A minha mãe é descendente de negros brasileiros, e sua história começa nas senzalas do Brasil. Eu e minha família temos uma grande história então queridas, vocês não são páreas para nós.
Olívia se saiu bem sem gaguejar mas ela se sentiu ferida. Não era a primeira vez e nem seria a última que seria destratada por sua cor ou posição social.
Ainda hoje ela se sentia desconfortável, mesmo que não demonstrasse.
— Quero o prato do dia para o almoço, por favor – disse ela.
Olívia passou a folhear o jornal e ler, coisa que não havia feito enquanto escutava a conversa no Stacey.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!“Miss Universo este ano conta pela primeira vez com a presença da Miss Grécia e Miss Israel.”
“Edgar Wallace estará dando entrevista hoje e promovendo seu novo livro Os Quatro Homens Justos”
— Já li. - sussurrou Olívia.
“We’re no Angels será lançado nos cinemas dia 01 de Setembro”
— Opa… já vi. Mas vou ver de novo.
— Aqui está seu prato. O que vai ser para beber?
— Por enquanto nada. Obrigada.
A garçonete deixou a conta perto do prato e saiu.
O homem que estava ao seu lado, minutos antes, voltou e pediu um prato de frango assado com purê e ervilhas. Olívia levantou os olhos para o espelho e seus olhos se detiveram no homem ao seu lado: James Dean. Ela desviou o olhar, com o coração acelerado. Ela se esqueceu de que entre 1920-1950 era muito fácil encontrar artistas na rua diferente dos dias atuais onde você enfrenta a mãozada na cara de algum segurança. Olívia discretamente voltou a olhá-lo: sim era ele.
Não era nada sexy, gostosão e tinha um jeito de quem gostava de usar roupas de Geek,Nerd e afins. Perfeitamente compreensível para um homem com o seu QI elevado. Ele estava usando óculos de graus, assim como ela ,ele tinha miopia e usava uma camiseta branca e uma calça jeans.
— Com licença, o senhor pode me passar o sal por favor? - Olívia pediu, olhando-o como se não o conhecesse.
Ele esticou seu braço e passou o sal.
— Obrigada .
Ela não costumava comer sal daquela forma. Para ganhar tempo, pôs um pouco de sal nas verduras e o olhou, desinteressada.
— O senhor é estudante de medicina?
Ele a olhou por alguns segundos, sem entender a pergunta.
— Eu ?
— Sim… acho que te vi na faculdade hoje de manhã.
— Certamente que não. Você é estudante de medicina?
— Não, eu trabalho no necrotério da faculdade.
— Não conheço muitas moças que trabalham no necrotério. Porque você trabalha lá? Você é gótica?
Olivia riu, precisava manter o assunto a todo custo.
— Eu sou estudante de Enfermagem.
— Mas… Necrotério?
Olívia não conseguia conter o riso.
— Sou fã de literatura policial.
— Ahhh…mas não era eu. Você deve ter encontrado alguém muito parecido comigo
— Muito mesmo.- ela estendeu a mão para ele – Anne Masterson
— James Dean.
A garçonete trouxe o prato dele e uma cerveja. Colocou a conta embaixo do prato e afastou-se.
— De onde você é Anne?
— Texas. E você?
— Indiana. Você mora aqui em Los Feliz?
— Não, moro no Texas. Sabe como é, lá no interior. Cheguei esta semana na Califórnia para estagiar no necrotério e estou hospedada em um hotel.
— Sozinha?
—Sim, sozinha. E você? Você não é estudante de medicina, ou estagiário do necrotério. Você parece dono de estúdio de música.
Ele riu.
— Fiz faculdade de Teatro na UCLA.
— Então você é ator?
— É serio que você nunca ouviu falar de mim?
Olívia parou por um momento e o olhou, procurando por uma resposta rápida.
— Agora fiquei curiosa com sua pergunta. O senhor é famoso?
— Não precisa me chamar de senhor, pelo amor de Deus. - ele riu sem graça.- Eu sou ator.
— Sério? Mas… quantos filmes você já fez? Quer dizer, não me leve a mal, não quero ser rude, afinal eu passo muito tempo estudando e eu raramente vou ao cinema… acho que só fui 2 vezes .
— Que filme você viu?
— Não sei, eu só fui por causa de um menino.
— Ohh...- ele riu encabulado – Acontece.
— Mas pretendo ver este filme aqui “We're no Angels” Só não sei se vou estar trabalhando na estreia .
— O que você veio fazer em Los Feliz? Passear?
— Me falaram que eu devia vir visitar Parsey’s Dish que era o point onde todos comiam e como hoje estou livre, vim dar uma voltinha por aqui.
Olívia fez a conta de quanto devia pagar junto de 10% de gorjeta e deixou o dinheiro no balcão.
— Bom… eu tenho que ir... vou dar uma volta por ai, aproveitar minha folga. Foi bom te conhecer James Dean. - ela apertou a mão dele que apertou de volta com mais força. Ela de propósito não tirou a mão das dele mas ameaçou levantar-se .
— Você quer dar uma volta? - perguntou ele. - Posso te mostrar a cidade.
— Adoraria – ela sorriu
As mãos ainda estavam uma dentro da outra.
Ela deixou o jornal no balcão, pegou sua bolsa e saíram da lanchonete.
— Você tem medo de moto?
— Não.
— Vou te levar de moto para conhecer o Monte de Dante e a Ponte de Shakespeare.
— Ai… droga… - O salto de Olívia ficou preso em um buraco no chão.
Ela tentou puxar. Segurou-se no braço de Dean mas não conseguiu. Estava prestes a se agachar quando ele se ofereceu e tirou a sandália dela. Olívia tinha uma cicatriz de guerra no pé, uma cicatriz que só podia ser visto se ficasse descalça.
— O que foi isso? - ele perguntou alisando a cicatriz
— Ferimento de guerra. Servir ao exército na guerra.
— Você tá brincando? - ele estava recolocando a sandália em seus pés após retirar o salto de dentro do buraco de um esgoto.
— Não… fui enfermeira. - mentiu Olívia
— Você tem quantos anos? - ele levantou-se
— Obrigada. - ela desviou do assunto. - Podemos ir?
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