30 de Agosto

Olívia tinha que admitir: passar um tempo com James Dean era se esquecer de tudo, do mundo, de quem era, do que fazia. Ela nem sabia mais o que era pra fazer quando chegou no necrotério. Mas ela sentiu um pouco de alívio, visto que não é muito dada a ficar fora de casa e muito menos na casa de estranhos. Ela tinha hábitos solitários e caseiros. Enquanto preenchia a papelada do dia, ficava pensando em Donald e se questionava se James estava falando a verdade ou queria tirar da cabeça dela qualquer tentativa de voltar com ele. A esta altura ele já deve ter conhecido Glória Noble mas não quis falar.

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“É, tenho que admitir que James possa estar certo. Ele não gostava de mim com intenção de ficar comigo.”

A semana passou devagar e Olívia tentou se concentrar cada vez mais em tentar salvar a vida de James mas não sabia como. Ele ligou para ela na Segunda de noite e na Terça. Ele disse que passaria a semana na casa dos tios em Indiana e que viajaria de lá para o Texas. Olívia aproveitaria pra dar uma fugida e fazer outra coisa pela cidade. Ela conhecia uma parte dela mas não toda. Decidiu andar pela cidade e procurar uma livraria ou talvez um sebo. Ela sempre mantinha consigo uma lista de livros que ela comprava a cada 6 meses e procurou algum que fosse de antes de 1950 . Não havia nenhum, mas andaria nas livrarias assim mesmo.

2 de Setembro
28 dias para o assassinato

Era Quinta-Feira, dia de almoçar cedo e ficar a tarde toda assistindo seriado no Notebook.Estava atravessando a rua quando alguém a chamou.

Ela olhou para trás.

Era ele.

Ela olhou ao redor para ver se alguém o reconhecia e andou na direção de seu carro.

— Vamos almoçar comigo, entra no carro.

— Como uma adolescente fugindo com o Elvis, Olívia não pensou duas vezes: entrou no carro de Donald .

— Você fica linda de enfermeira.

Todo mundo achava que ela era enfermeira por causa do vestidinho branco.

— Obrigada. – ela riu – Como você está?

— Estou bem. – ele ligou o carro – Vamos almoçar. Você tem algum compromisso hoje?

— Nenhum.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos.

Olívia lembrou-se de colocar o cinto de segurança e pegou Donald olhando para suas pernas.

— Você continua em forma – disse ele .

— Você continua lindo.

Ele sorriu sem graça.

Donald era acostumado a ouvir que era lindo mas não de pessoas próximas. Ele era muito inseguro e escondia seus complexos na comédia, nas piadas e na dança, onde ele realmente se sentia confiante.

— Seu namorado não vai notar sua ausência?

— James não é meu namorado. Estamos saindo, mas não é nada sério e duvido muito que vire algo sério.

— Você pensou no que falei ?

— Sobre voltar a dublar ?

— Sim. – ele a olhou e voltou a atenção para o trânsito.

— Sinceramente, eu não sei.

— Existem alguns musicais sendo trabalhados, se você quiser eu te coloco para cantar ou para dançar.

— Não, dançar não! Tenho pavor de câmera.

— Está sendo um desperdício você escondida naquela sala abafada cantando para desenhos da Disney – ele desviava a atenção do trânsito para o corpo dela, como se ele acabasse de perceber que ela tivesse deixado de ser adolescente. – E sinceramente, já que temos intimidade então vou dizer o que penso: Você não me falou a verdade na casa do Michael.

Olivia riu.

— Não falei mesmo não.

— Então... porque a senhorita sumiu? Jack Warner disse que você foi a melhor funcionária que a Warner Bros já teve: Invés de ficar perturbando para ganhar outro contrato sumiu de vez.

Olívia gargalhou.

— Eu vim para cá para fugir da guerra. Eu queria esquecer o que passei e começar minha vida e Hollywood é bastante fria, mentirosa, suja, promíscua e descobri que estou mais sozinha aqui do que na guerra. Achei que saindo desta vida de glamour e vivendo como os mortais, talvez eu conseguisse apagar tudo.

— Isso é. Hollywood não tem nada a oferecer exceto dinheiro.

— Eu tenho medo do estrago que Hollywood pode fazer na minha vida. Tenho medo de ser igual as atrizes: 5 maridos, rouba marido da outra, se afundar em drogas e virar uma diva por morrer jovem.

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Ele permaneceu sério, em silêncio e concentrado.

— Mas, você está pedindo com tanto jeitinho que vou acabar reconsiderando.

Ele sorriu de novo. Ele sempre ficava sem saber o que dizer quando sua “fã número um para sempre” o elogiava ou era carinhosa. Ele acreditava em tudo o que ela dizia, afinal ele não teve esta atenção nem com sua mãe nem com a esposa. Quando chegaram ao restaurante, ele pediu uma mesa privada. Foram conduzidos a uma mesa em uma sala mais interna. Depois de pedirem, esperaram o garçom se retirar para continuarem a conversa.

— Eu me divorciei. – começou ele

“E lá vamos nós de novo” – pensou ela.

Olívia tentou se manter calma.

— Ela fez algo contra você? Ameaçou?

— Não, foi tranquilo, exceto que antes do divórcio oficialmente sair ela já estava saindo com um ator.

Olívia poderia ter fingindo que estava surpresa mas não estava: ela leu na internet.

— Você está bem depois disso?

— O pior já passou.

— E sua filha?

— Eu a vejo sempre que posso.

— Você está bebendo?

— As vezes sim. Mas não como antes.

— Está saindo com alguém para esquecer tudo isso?

— Não.

“Ainda não encontrou Glória Noble. Ótimo.”

— Me perdoe me intrometer na sua vida, mas... porque você está com o James Dean? Ele não faz seu tipo.

Olívia riu. Ele realmente a conhecia.

— Simplesmente aconteceu.

Eles almoçaram conversando sobre os projetos da MGM, Paramount e Warner Bros. Donald era o primeiro ator a ter 3 contratos no mesmo ano e ele não parava 1 minuto, sempre trabalhando, cantando, criando roteiros.

Ele ainda insistia que ela voltasse a dublar.

Ela estava se apaixonando por ele de novo.

— Você tem meu número. – disse ele na porta do Hotel Rosewood. – Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

— Você também, se precisar conversar.

***

Olívia tomou um banho, arrumou a sacola de roupas que iriam para a lavanderia e fez uma lista do que precisava comprar na farmácia:

2 Desodorantes

1 pacote de Band Ai para calos nos pés

Cera Depilatória

Gilette

Perfume

Desceu para jantar rapidamente e passou o resto da noite assistindo série no seu notebook. Ela não sentia falta da internet e gostava da vida old que estava levando: pomada no rosto, bobs nos cabelos. Considerando o padrão de perfeição de beleza imposto entre 1990 e 2017, ela era quase uma diva em plena década de 50 com seu corpo trabalhado no Boxe e no Tae Bo,com dieta à base de proteínas, usando maquiagem simples, própria da época. Ela seria perfeita se não fossem as malditas espinhas. Uma coisa que não mudava: dor de cotovelo. Na guerra, em Hollywood ou em 2017, ela sempre tinha uma dor de cotovelo pra contar.

Sem ligações de Donald ou de James, a semana passou devagar e sem muito a se fazer. Foi ao cinema no sábado assistir a uma sessão de filmes antigos que eles disponibilizavam. Assistiu East of Eden, o primeiro filme de James Dean e no Domingo,IT com Clara Bow, sua atriz favorita do cinema mudo.Ainda no sábado,após a sessão, andou pela cidade até chegar no Hotel. Passou na farmácia para fazer suas compras. Encontrou uma cera depilatória chamada Milady e o barbeador feminino da mesma marca, um esmalte vermelho maçã Peggy Sage que incluía a revista Harper’s Bazzar de bônus. No domingo foi à praia e depois da sessão, ficou confinada em seu quarto de hotel. O tédio tomou conta durante semanas até que James reapareceu.