Contos de Mentora Russa - Morte do Gavião Arqueiro

É terrível quando alguém te conhece tão bem


Assim que terminou de limpar a bagunça, Clint começou a preparar o almoço. Estava preocupado, não sabia ao certo o que se passava no QG. Mas sabia que a KGB era perigosa, e estava pronta pra qualquer tipo de contratempo.

— Mas com certeza, não vamos derrotar ela de barriga vazia. – ele comentou. – E nem com o tédio desse silêncio. – ele saiu de perto das panelas e começou a fuçar os CD’s que Natasha tinha. – Meu Deus! Será que ela não tem nada deste século? Só tem disco! Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, nada mal. – ele comentou olhando os discos. Olhou para a estante e viu algo interessante. – Ah! Agora eu vi vantagem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Natasha estacionou o carro e desceu.

— Agente Romanoff? – ela ouviu uma voz feminina chamar. Olhou.

— Agente Carter. – Natasha cumprimentou a vizinha em tom respeitoso.

— O que aconteceu? – a veterana perguntou devido ao estado da ruiva.

— Problemas do ofício. – Natasha deu de ombros.

— Entendo. Eu acho que você deixou seu rádio ligado. – ela avisou.

— Ah. Tá. Obrigada. – Natasha agradeceu entrando na varanda de casa. – Rádio? – ela pensou alto franzindo o cenho. Aproximou a cabeça pra porta a fim de ouvir o que estava acontecendo. Ouviu um som estranhamente familiar. –I Want To Break Free, Queen 1984. O Filho da mãe tá mexendo no meu som! Eu vou matar ele! – ela cerrou os dentes entrando.

Viu Clint dançando na cozinha enquanto cortava temperos. Algumas panelas fumegavam atrás dele no fogão. O cheiro era delicioso, o que a fez mudar de ideia quanto a mata-lo, mas ainda brigaria.

— O que acha que está fazendo? – ela perguntou deixando as chaves no chaveiro e se aproximou.

— Almoço. – ele respondeu sem olhá-la.

— É. Essa já é uma boa razão pra eu te matar. Você está na minha cozinha, e mexeu no meu som, nos meus discos! Tem ideia do quanto eles valem? – ela perguntou. – De como são raros?

— Tenho. – ele respondeu. – E pra quê tantos discos de rock? Você passou por Woodstok por acaso?

— Pela maior parte deles. – ela respondeu. – Você tem ideia do perigo?

— Que perigo? Você vai me matar por acaso? Só porque eu vi os seus discos secretos e obscuros? – ele perguntou em tom de provocação virando se de costas e jogando os temperos em uma panela.

— Como assim? – Natasha espreitou os olhos.

— Não se faça de desentendida. Não pense que eu não vi a sua coleção completa de discos da ABBA. – Clint falou. – Mas é claro que a ABBA não vai te convencer. Mas... que tal aqueles discos secretos da Rita Lee?

— Você não se cansa de brincar com o perigo, né? – Natasha perguntou. – Ninguém vai acreditar se você contar. E ninguém vai perceber se eu te matar. Pensam que você já está morto mesmo. – ela ameaçou se colocando atrás dele.

— Uh. Agora eu senti um friozinho. Natasha há muitos anos que você não me bota medo. - ele debochou.

— É mesmo? – Natasha perguntou em tom ameaçador. Clint se virou pra ela com um sorriso debochado, mas o sorriso se desfez ao ver que ela estava coberta de sangue.

— Por favor, me diz que esse sangue não é seu.

— Não é meu. – ela respondeu.

— Você disse porque eu pedi, ou porque é a verdade? – ele perguntou.

— Porque é a verdade. E eu não mentiria só pra te agradar. – ela retrucou se afastando. – Eu vou tomar um banho. É melhor que esse almoço esteja realmente bom.

— Pode deixar. – ele prometeu enquanto ela subia as escadas.

Natasha entrou em seu quarto já se despindo. Deixou sua roupa em seu cesto de roupas sujas e pegou seu roupão com uma toalha e foi pro banheiro. Ao entrar no box, e sentir a água morna escorrer por seu corpo, relaxou. Olhou para baixo e viu o sangue escorrer pelo ralo. O mais estranho foi saber que desta vez o sangue não era dela. Passou a mão por seu rosto e seu pescoço tentando se limpar do sangue.

— Tarântula sem veneno uma pinoia, Cyka. – Natasha xingou assistindo o sangue escorrer pelo ralo como uma cena de Psicose de Hitchcock.

Depois do banho, Natasha se enrolou no roupão e saiu do banheiro. Sentou-se em sua cama e começou a secar seus cabelos com uma toalha. Seu celular vibrou indicando mensagem. Ela olhou. Uma mensagem de Coulson e uma de David.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Tá afim de sair hoje?”

David

“Mandei a russa pro nosso hospital. O diretor já está tomando providências quanto às informações. Obrigado por ter deixado o que sobrou dela vivo.”

Coulson

Natasha pousou o celular no colchão e soltou um suspiro olhando para baixo. Ouviu uma leve batida na porta que estava aberta. Olhou e viu Clint parado na porta.

— Tudo bem? – ele perguntou em tom suave e preocupado. Ela concordou com um aceno e voltou a enxugar o cabelo desviando o olhar. – Natasha? – ele chamou. Ela o olhou. - Como foi com o infiltrado?

— Foi bom. – ela respondeu sem nem pensar no que falava. – Divertido.

— Deve ter sido mesmo. Você voltou toda ensanguentada. E o sangue sequer era seu. – Clint cruzou os braços se apoiando na batente da porta. – Quem era?

— Hum? – Natasha o olhou parando com o que estava fazendo.

— Quem era o infiltrado? – ele perguntou. – Era alguém que você conhece. Então...

— Como sabe que é alguém que eu conheço? – Natasha perguntou.

— Porque te deixou abalada. – ele respondeu.

— Eu não tô abalada. – ela retrucou.

— Está sim. – ele rebateu.

— Por que acha isso? – ela perguntou.

— Porque você acabou de evitar uma longa discussão comigo de “Está sim” e “Não estou não”. – Clint falou.

— E o que isso significa? – ela perguntou.

— Que está sem forças pra discutir comigo. E você só fica sem forças pra discutir comigo quando está abalada. – ele respondeu. – Então, aconteceu algo muito pesado pra te deixar abalada.

— É terrível quando alguém te conhece tão bem. – Natasha riu com ar de cansaço.

— Te conheço melhor do que imagina. – Clint sorriu.

— É. Me lembra de não me permitir me abrir tanto assim pra mais alguém. – ele pediu.

— Claro. Eu quero ser único. – ele prometeu.

— Aliás, por que está aqui? – ela perguntou o olhando.

— O almoço. – ele respondeu. Ela ergueu uma sobrancelha. – Está pronto. – ele completou.

— Tá. Já desço. –ela prometeu.

— Tá. – ele concordou e se afastou.

Ela se vestiu, fez uma trança simples no cabelo e fez o curativo das mãos que ainda estavam machucadas. Desceu as escadas. O prato dela estava pronto no balcão. Clint terminava de fazer suco de laranja natural.

— Espero que não se importe. Eu espremi suas laranjas... quer dizer eu...eu fiz suco. – ele se atrapalhou. Natasha franziu o cenho.

— Tá. As frutas estão aí. Use-as. – ela deu de ombros.

— Tá. – ele suspirou desviando o olhar. – Seu prato está no balcão. – ele mostrou.

— Ok. – ela concordou sentando-se ao balcão, e começando a comer. Clint entregou a ela um copo do suco que ele havia feito. – Obrigada. – ela agradeceu. Ele deu um leve sorriso.

— Sabe, como eu sei que você odeia ervilhas eu não fiz nada que tivesse isso. – ele avisou.

— Oh. Tudo bem. Obrigada. – ela agradeceu num sorriso. – Está tudo ótimo, Clint. Você até que manda muito bem no fogão. – ela elogiou.

— Pois é. – ele se apoiou no balcão. – Eu não piloto só Quinjets.

— É. Surpreendentemente você também tem lá suas surpresas. – ela comentou.

— Vou levar isso como um elogio. – ele falou. – Pela minha sanidade mental, é melhor achar que você fez um elogio.

— Tem toda a razão. –ela riu. Ele sentou do lado dela.

— Então, você ainda não respondeu a minha pergunta. – Clint cobrou.

— Não respondi o quê? – ela perguntou.

—Sobre o infiltrado. – ele respondeu. – Quem era?

— Uma agente da KGB. – ela respondeu.

— “Uma” agente? – ele perguntou.

— É. É uma mulher. – Natasha confirmou. – É a Viúva Negra que a KGB escolheu pra me substituir depois que eu saí. – ela contou. – Yelena Belova. Ela não era muito fã minha quando eu estava na KGB, porque eu era a favorita do chefe, tinha um estatus na agência, tinha minha própria aprendiz. Era a agente perfeita. E eu tinha uma coisa que ela sempre quis. O soro.

— E ela não parou de te odiar, imagino. – Clint comentou.

— Não mesmo. – Natasha respondeu. – Mas, o lado bom, é que eu pude passar duas longas horas brincando um pouquinho com ela.

— É. Eu vi como você chegou. Mas com ela ficou? – ele perguntou.

— Coulson me mandou mensagem dizendo que mandou ela pro hospital da SHIELD. – Natasha respondeu. Clint fez uma careta.

— Coulson só manda um prisioneiro pro hospital da SHIELD quando a coisa tá muito feia. O que você fez? Desfigurou o rosto dela? Arrancou todos os membros do corpo? Enfiou a mão no peito dela e esmagou os pulmões? – ele perguntou. Natasha soltou um grunhido por estar de boca cheia. Ela cobriu a boca pra falar.

— Não vai querer saber.

— Desfigurou o rosto dela. – Clint concluiu.

— Céus, não! – Natasha negou tomando um gole de suco. – Não. Não sou um monstro. Não fiz nada que seja irreparável com o rosto dela.

— Tá. – ele riu. – Mas arrancou alguma coisa dela?

— Um monte de informações.- ela respondeu.

— Sabe que não era a isso que eu me referia.

— Mas é o que importa. – Natasha retrucou. Clint soltou um pequeno suspiro. Olhou para as mãos dela que estavam enfaixadas.

— Coulson perguntou disso? – Clint perguntou indicando as mãos dela com um olhar.

— Não. Ele está acostumado com meus “acidentes”. – ela respondeu calma.

— E, os machucados não te atrapalharam com a cessão? – ele perguntou curioso. Natasha negou levemente com a cabeça.

— Desde quanto ferimentos me impedem de fazer algo? – ela riu.

— É. – ele concordou. – Só impedem, quando o ferimento é em outra pessoa.

— Uhum. – ela concordou. – Falando nisso, como está o ombro? – ela perguntou.

— Tá funcionando. Ainda não é o mesmo de antes, mas, tá melhorando. – ele respondeu. – Você tem uma mão boa para curativos.

— Você também tem. São ossos do ofício. Nem sempre podemos contar com médicos. – ela comentou.

— Verdade. – ele concordou. – Se bem que eu acho que vou precisar de muito mais que um médico pra me concertar depois que o Fury acabar comigo. – ele comentou a fazendo rir.

— Vai. – ela concordou. – Ainda mais agora que já é seguro contar sobre você.

— É. Mas só vamos contar amanhã. Como planejado. Eu ainda quero curtir mais uma noite em uma cama macia antes de ir pra cadeia. – ele cobrou.

— Tudo bem. – ela deu de ombros.