Conto I - Unforgettable Wars

O Preço da Paz: Retornando às Estrelas!


Yerik finalmente havia conseguido sair da casa de Gêmeos. De uma hora pra outra ela começara a desmoronar às suas costas, quase o atingindo, e ele não vira outra opção se não correr o mais rápido que podia. Escapara ileso por um milésimo de segundo e, quando finalmente pensou que tinha chegado até Câncer, se deparou com a terceira casa a sua frente.

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Ele havia voltado ao começo, mas como isso era possível? Ficara muito tempo preso lá dentro, tentando achar um jeito de sair, e agora que conseguira, se encontrava parado em frente a porta.

— Mas que droga! Era uma ilusão! – concluiu, dando um tapa em sua testa.

Sem ter outra opção, entrou novamente. A decoração era diferente, fazendo com que o local parecesse realmente uma casa, com móveis e tudo mais, mas havia algo errado... Ele não notara nenhum guardião.

Olhou ao redor, mas não viu ninguém. Quando se encontrava quase no meio do salão, notou rastros e poças de sangue fresco. Preocupado, os seguiu e encontrou Kirsi caída de bruços, pouco antes da saída. Se desesperou imediatamente.

— Kirsi?! Oh, meus deuses!... Kirsi, você está bem?!!

Ela lentamente começou a se mover. Estava muito machucada, o que tornava a situação ainda pior.

— Y-Yerik? É-é você mesmo? – perguntou, com os olhos semi-cerrados por trás da máscara.

— Sim, sou eu... – disse enquanto a sentava apoiada si. – Zeus, o que aconteceu com você?!

Foi aí que ela parou pra pensar. Yerik estava ali, e isso era ótimo, mas... onde estava Pollux?

— G-Gêmeos... – gaguejou. – V-você o viu? E-encontrou com ele?

— Não. Não vi ninguém... M-mas isso não importa agora, precisamos esperar a ajuda chegar! Heitor está a caminho, vou pedir que chame algum médico. Eu te ajudaria com meu frio para parar a hemorragia, mas você está gelada demais. Se eu fizer isso você vai piorar! Pode pegar hipotermia e...

— N-não, Yerik... – ela o interrompeu. – Eu preciso sair desta casa. Agora.

— M-mas Kirsi, você está muito ferida! Já havia perdido sangue na casa de Áries, e agora perdeu mais ainda!

— Não importa... – tossiu, se apoiando na parede com o braço que ainda estava bom. – Eu preciso sair daqui...

— Ao menos... Ao menos deixe-me te ajudar então... – Cisne disse enquanto passava a mão em sua cintura para pegá-la no colo.

— C-certo... O-obrigada.

Ela fez uma careta enquanto ele a erguia. Ao notar, Yerik perguntou:

— Me... me desculpe! E-eu... eu te machuquei?

A pergunta soou idiota. Era claro que ela estava machucada e ele estava piorando as coisas, movendo-a. Seu olhar demonstrava uma imensa preocupação, mas para Kirsi seus olhos azuis como o céu eram tranquilizadores. Era bom vê-los novamente.

— N-não... – ela respondeu, disfarçando. – Foi só um mal jeito...

— Aqui... – disse enquanto passava um dos braços dela por trás de seu pescoço. – Se apoie em mim para não cair. Qualquer desconforto me avise, ok?

— Ok... – ela sussurrou, encostando a cabeça no peito do cavaleiro.

Lentamente ele a levou para fora da casa de Gêmeos. Sem imaginar para onde iriam, continuou caminhando, até que ela interveio:

— Yerik... – ela respirou fundo, procurando por ar. Seus pulmões não enchiam facilmente. Provavelmente estava com hemorragia interna também. – P-pare, por favor...

Ele obedeceu, mas não deixou de questionar.

— Claro... – Cisne parou de se mover. – O que foi? Eu... fiz algo errado?

— D-de j-jeito n-nenhum... É que eu não estou... – ela arfou. – ... c-conseguindo r-respirar muito b-bem...

A amazona precisou de mais um tempo para terminar a frase.

— ... você p-poderia tirar m-minha máscara, p-por f-favor?

— M-mas Kirsi, quando um cavaleiro vê o rosto de uma amazona ela deve amá-lo ou matá-lo! – ele protestou.

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— E-eu sei disso Yerik... J-já fiz essa escolha há m-muito t-tempo...

— T-tudo bem então...

Mesmo hesitante, ele fez o que ela pediu. Delicadamente retirou a máscara, fechando os olhos e virando a face em outra direção para não ver seu rosto. Por fim, disse:

— S-só quero que saiba que fico feliz em morrer pelas suas mãos, Kirsi...

Ela soltou um longo suspiro e colocou uma das mãos no rosto de Yerik, virando-o de forma que seus olhares se encontrassem e ele pudesse ver seu rosto.

Ela era mais bonita do que ele havia imaginado. Seus olhos castanhos-escuro brilhavam como... estrelas.

— Yerik... Eu já havia decidido isso desde o primeiro dia em que te vi...

Kirsi puxou o rosto de Yerik para frente e encostou seus lábios nos dele, dando um selinho e se afastando logo em seguida.

O cavaleiro ficou surpreso e sem reação. Ele sempre amara Kirsi, mas não tinha certeza de que ela correspondia o sentimento, e por isso nunca havia contado a ela. Ele vinha tentando, mas sempre lhe faltava coragem.

Algum tempo depois ela disse, com lágrimas nos olhos e levemente corada:

— M-me d-desculpe... E-eu... e-eu n-não devia...

— K-Kirsi... E-eu... Eu pensei que você me odiasse por ser parecido com seu primo.

— C-como eu poderia odiar alguém tão p-parecido com ele? E-eu acordava todo dia e o via ao meu lado... I-isso nunca me deixou esquecê-lo. P-por isso consegui seguir adiante. F-foi você que tornou tudo isso possível, Yerik...

Isso fez com que ele se sentisse um completo idiota. Por quê nunca havia reparado? Por quê aquilo nunca havia passado pela sua cabeça?

Ela notou seu silêncio e logo se pronunciou novamente:

— E-eu sei... E-eu sou uma idiota...

— Não! Você não é idiota, Kirsi!

— S-sou sim... Você sabe que sou!

— Ok, senhora cabeça-dura, você pode até ser uma idiota...

— Não disse? – ela o interrompeu.

— ...mas é a minha idiota! – continuou.

Yerik sorriu, se aproximou, e a beijou. Depois de tanto tempo ele finalmente conseguira demonstrar seu amor por Kirsi, e melhor do que isso, ela fizera o mesmo. Parecia um sonho.

— Y-Yerik, você...?

— Sim, Kirsi. Eu também te amo... Sempre amei e sempre vou amar.

Os dois abriram largos sorrisos e se encaram por alguns segundos, olho no olho. Ela então voltou sua atenção para o céu e Yerik a acompanhou.

— É uma linda noite... – ele disse. – O céu está repleto de estrelas...

Ela assentiu e deu uma risada.

— O que foi? – perguntou sorrindo. – Eu disse alguma bobagem?

— E-estava recordando de como e-eu tagarelava para você e o Heitor sobre a D-divina Comédia (1)...

— Hahahaha, é verdade. Você nunca parava. – riu ele.

— Hahaha... – ela tossiu. – É-é verdade... A-as três partes da Comédia t-terminam com a mesma palavra, uma que tem um s-significado especial para mim...

Stelle. – Cisne a interrompeu e sorriu. – Estrelas em italiano.

Kirsi tossiu sangue novamente. Yerik tentou ajudá-la mas ela se recusou, retomando a palavra:

— I-isso mesmo... V-você se lembra do final do Inferno? (2)

— Sim. – respondeu sem compreender muito bem.

— V-você... – ela se interrompeu para tossir novamente, soltando um arquejo em busca de ar. – ... você poderia... você poderia recitá-lo para mim? Por favor...

— C-claro...

Yerik beijou sua testa e ela se encostou novamente em seu peito, sorrindo e fechando os olhos, procurando descansar.

Ao mesmo tempo que Cisne recitava os primeiros versos do final do Inferno, Heitor e Soranin atravessavam a casa de Gêmeos. A amazona ouviu suas palavras ecoarem casa a dentro:

Nesse caminho pouco luminoso entramos por voltar ao claro mundo...

— Isso é... um poema? – ela perguntou, confusa.

… e sem cuidar de ter algum repouso, subimos, antes ele e eu segundo...

— Não é qualquer poema! – Heitor começou a correr mais rápido na direção da saída. – É o Inferno de Dante!

Ao saírem da casa, se depararam com Kirsi no colo de Yerik, sendo que este chorava enquanto o dizia os versos finais:

… tanto que eu vi enfim as coisas belas que tem o céu por um buraco ao fundo, e saímos, voltando a ver as estrelas.

Heitor ficou sem reação. Sua melhor amiga, que era como uma irmã mais nova para ele, jazia nos braços de Yerik. O choque foi tamanho que ele não conseguia controlar as lágrimas.

***

Soranin estava confusa e abismada. Fora dito que não haveriam mortes durante a subida pelas doze casas, mas agora a amazona de Lobo estava... Zeus, ela não conseguia nem pensar na palavra.

***

— Y-Yerik... O-o que aconteceu? – o Santo de Leão Menor se aproximou dele aos prantos.

— E-eu... eu n-não sei muito b-bem...

Sem deixar os mínimos detalhes de lado, Cisne contou tudo o que sabia.

Mesmo depois de ouvir a história, ninguém acreditava.

— Então você não sabe quem deixou ela desse jeito? – Fênix perguntou, tomando cuidado com as palavras para não ferir os sentimentos deles.

— N-não... – admitiu, choroso.

Eu sou o culpado... – uma voz vinda da casa de Gêmeos falou. – ... e creio que deva-lhes uma explicação.

Um homem alto e forte com cabelos azuis escuros, quase roxos, apareceu. Estava muito ferido, com sangue escorrendo da cabeça aos pés, assim como Kirsi, e derramava algumas lágrimas.

— Quem é você? – questionou Heitor.

— Eu sou Pollux de Gêmeos, o responsável pela morte de Kirsi.

— O quê?! Então foi você? – perguntou Soranin.

— Sim... M-mas deixem-me explicar tudo primeiro.

Ele disse tudo do começo ao fim. Contou sobre como Kirsi havia driblado sua ilusão, sobre a batalha, sobre o irmão se apossando de seu corpo e como a amazona despertara o Sétimo Sentido para salvar a vida deles. Não escondeu nada, apenas jogou as cartas na mesa.

No final, ninguém disse uma só palavra.

Depois de um tempo, Pollux foi até Yerik.

— Deixe que eu me encarregue disto, sim? – ele estendeu os braços.

O Santo hesitou, mas compreendeu que ele queria que a deixasse ela sob seus cuidados.

Como pedido, a entregou. Só agora reparara, mas Kirsi sorria, como em todas as noites. Parecia estar dormindo – e realmente estava, mas era um sono profundo, do qual não acordaria mais.

— O que eu faço agora? – perguntou, com as mãos tremulas, sem saber o que fazer.

— Siga para Câncer... Era o que ela queria, não é?

Cisne assentiu e se despediu dela. Os brincos de gelo eterno que ele fizera estavam intactos, reluzindo à luz da Lua.

— Kirsi, me desculpe por lhe fazer sofrer... Eu... eu deveria ter te contado tudo, mas parece que não se pode enganar o destino afinal... Eu continuarei te amando pra sempre, por todos os dias da minha vida... – ele beijou sua testa novamente e derramou uma última lágrima. – De agora em diante viverei por você e por mim, carregando para sempre as memórias que compartilhamos... Adeus.

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Yerik correu para a próxima casa e se foi, sem olhar para trás.

— Vocês dois também precisam ir... – Gêmeos lembrou. – Mas esperem um pouco. Ele precisa fazer isso sozinho.

— Ah, sim, certo... Me desculpe. – Heitor chegou mais perto. – Me desculpe por tudo Kirsi... Mas saiba que ainda é minha irmãzinha e eu nunca vou te deixar para trás. Você ainda vive em minhas memórias e em meu coração, e assim será até o dia da minha morte.

Ele alisou os longos cabelos castanhos-escuro da amazona e então correu atrás de Yerik.

Soranin estava com o coração nas mãos. Não conhecera muito bem Kirsi ao longo desses anos, mas sabia que ela era uma boa pessoa. Em sua infância ela sempre se mostrou presente e disposta a ajudar quem precisava.

Um pensamento repentino ocorreu. Lembrou que estava diante de Gêmeos e ele dissera que seu irmão se chamava Castor. Essa havia sido a última palavra que o tenente Urashima dissera ao seu pai... Será que...?

— Pollux, posso te perguntar uma coisa?

— Claro, Fênix.

— O que aconteceu na noite em que meu pai, Tatsuo de Peixes, morreu? Por favor, diga a verdade.

— Bem, eu e ele estávamos em uma missão no Japão, procurando um garotinho que havia acabado de despertar seu cosmo... Nós nos separamos por alguns minutos e meu irmão se manifestou. Tatsuo havia avisado alguns amigos que estaria ali e não usava sua armadura, apenas um traje militar para, além de não levantar suspeitas, não assustar o garoto... Eles se encontrariam em um determinado lugar para comemorar os velhos tempos depois que a missão fosse cumprida... Depois que tudo acabou, o garoto foi levado por um Santo de Prata até o Santuário e eu e seu pai nos separamos, indo em direções opostas. Os amigos de seu pai passaram por mim e Castor usou um golpe chamado Satã Imperial (3) em Urashima... Essa técnica é muito poderosa. Domina a mente do oponente, que fica sedento de vingança até que mate alguém, de preferência uma pessoa próxima. Castor pode manipular sua mente, e isso fez Urashima acreditar que Tatsuo era um inimigo e estava indo ao seu encontro para matá-lo... – ele fez uma pausa. – Não me lembro muito bem do resto.

— Já é o suficiente... Mas por que seu irmão fazia essas coisas?

— Ele não gosta de Santos de Atena. Só se manifestava quando eu estava perto de um... As coisas que ele dizia para mim eram terríveis...

— Então... não foi você quem salvou eu e minha irmã naquele dia?

— Desculpe, mas não... Voltei para cá assim que percebi o que havia acontecido e o que eu havia causado.

— Ok. Obrigada mesmo assim, Pollux.

— Não há de quê. – ele forçou um sorriso.

Ela foi até a amiga e disse algumas palavras. Era algo realmente triste, mas nem as lágrimas de Fênix podiam trazê-la de volta.

A amazona seguiu escadaria acima, deixando Gêmeos sozinho com Kirsi.

Pollux voltou para dentro de sua casa com Kirsi em seus braços, se arrependendo por ter feito aquilo e ao mesmo tempo agradecendo por ela ter salvo a ele e seu irmão. Agora ambos teriam paz novamente.

No mesmo instante, Ulysses e Sui chegaram. Surpresos com a cena incomum, não hesitaram em perguntar o que havia acontecido. O Santo de Ouro novamente relatou os fatos.

— Que coisa horrível... – disse Ulysses, chocado. – É realmente uma pena que tudo isso tenha acontecido...

Ele foi até ela e continuou:

— Kirsi, você ajudou Athos quando mais ninguém estava disposto. Lhe agradeço de verdade por isso... Quando menores, nos dávamos bem e éramos bem amigos... Se eu tivesse mais tempo, tentaria fortalecer nossa amizade ainda mais, mas agora é tarde para arrependimentos... Sinto muito... Espero que descanse em paz.

Ele se ajoelhou e orou por ela.

Após terminar sua prece, se levantou e saiu da casa.

***

Sui esfregava os olhos compulsivamente, tentando parar de chorar.

— Kirsi, eu não acredito que você se foi... Cumpriu a promessa que fez aos seus amigos... a todos nós... Morreu tentando nos proteger e ainda salvou quem não conhecia... Estou orgulhosa de você. Todos estamos... Você foi honesta até o fim, mantendo sua palavra... Espero que compreenda meu sentimento e entenda que isso ainda não acabou. Eu irei continuar essa jornada... Farei o que tem de ser feito. Não só por mim e pela minha irmã, mas por você também... Até logo.

Andrômeda se foi, deixando Pollux sozinho novamente.

— Kirsi, você me ensinou várias lições hoje. Não vou deixar que suas esperanças se percam... Minhas recordações boas com meu irmão voltaram e sua voz não ecoa mais em minha mente.

Ele fez uma pequena pausa para derramar algumas lágrimas.

— Jamais nos esqueceremos nem por um único segundo do sacrifício que fez por todos nós... Castor também agradece, e se duvida de mim basta olhar para o meu lado. Ele está aqui neste momento. Também veio se despedir, prestando uma homenagem.

Uma criança apareceu ao seu lado. Sem dúvida era o irmão, pois além dos olhos vermelhos, era idêntico a Pollux. Ele tinha um olhar melancólico, mas conseguia sorrir levemente. Sua voz era doce igual a do irmão.

Logo ambos começaram a dizer em voz alta:

Foi a alta fantasia aqui tolhida, mas ânsias e vontade era a movê-las, já como roda por igual movida, é o amor que guia o Sol e as outras estrelas... (4)

Lá fora, a constelação de Lobo brilhou mais forte no céu. A primeira das seis profecias que Rimo recitara havia se cumprido.