Conte Nossa História

O Desejo Mais Profundo e Desesperado do Coração


Estava preparando o café da manhã quando ela se arrastou até a cozinha, abraçando-o pelas costas.

— Bom dia, Mione. — Ele riu da sua tentativa de responder sendo interrompida por um bocejo longo. — Pode voltar para a cama. Ainda está cedo.

— Então por que já está de pé? — retrucou sonolenta. — Fomos dormir tarde.

— Porque eu preciso trabalhar, senhora Potter. — Harry se virou nos braços dela, retribuindo o abraço e beijando demoradamente a bochecha dela. — Vou deixar o café pronto, mas me espere para o almoço. Não devo demorar no Ministério.

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— Ainda é por causa do homem que prendeu em sua última missão? — Ele confirmou. — Então mande-o à Azkaban por mim, por favor. — Harry riu enquanto ela lhe dava um selinho e caminhava de volta ao quarto. — Ninguém toca em você e sai vivo para contar história.

— Sim, senhora.


O julgamento de Jones foi marcado para aquela mesma manhã. Na ausência de Hermione, Harry foi escolhido como juiz na audiência. Não seria a primeira vez que julgaria um réu, mas definitivamente foi o caso mais fácil e rápido. As provas estavam contra Jones e nenhuma testemunha dele foi capaz de ajudá-lo, uma vez que Draco extraíra tudo o que precisavam saber com Veritaserum.

— Eu condeno o senhor David Jones a trinta anos em Azkaban.

Bateu o martelo e teve vontade de rir ao lembrar-se da esposa, que sequer acompanhou o caso e decretou que Jones deveria ser preso – não pelos crimes, mas por ter machucado Harry. “Uma visão de justiça um pouco parcial” ele pensou.

Acompanhou Draco de volta ao Quartel General e estava decidido a arrumar suas coisas para voltar para casa quando o loiro trancou a porta da sala do patrão.

— Está tudo bem? — Harry arqueou as sobrancelhas, estranhando a atitude do colega.

— Eu conversei com ela novamente.

Harry puxou a cadeira e sentou rapidamente, atento. O nervosismo de Draco, além de sua hesitação, devia indicar algo sério.

— Ela está desconfiada. Pior, está assustada! Ela não se lembra de onde estava no dia que Hermione foi atacada e... — Engoliu em seco. — Ela me deixou que revistasse sua mente, mas eu... — Sentou também, escondendo o rosto, aflito. — Eu não vi nada, mas algo lá. Está coberto de magia antiga...

A respiração do moreno falhou. Os olhos verdes se arregalaram, temerosos.

— Eu não pude ver nada... — Draco levantou o rosto, a dor visível em seu semblante, mas com determinação na voz. — Mas tenho certeza que você pode.

Harry desviou o olhar, esforçando-se para controlar os nervos e não deixar Draco ainda pior.

Como é possível ter uma lembrança e não ter acesso a ela? E protegida por magia antiga? Uma Penseira poderia ajudá-los? Ou seria apenas uma fumaça branca? Hermione com certeza teria essas respostas se não tivesse perdido a memória.

Mas algo o incomodava mais do que aquela lembrança oculta: Hannah definitivamente estava entre eles... e o motivo para ela ter se manifestado, quando em todas as outras vidas foi apenas uma expectadora, era um mistério que Harry temia ter que desvendar.


Aparatou no jardim, tão distraído que teria caído na piscina se o miado de Mingau não o tivesse alertado. Harry o pegou no colo, acariciando o felino.

— Obrigado, parceiro. Me salvou de uma bronca por entrar molhado em casa.

O alerta do gatinho, porém, chamou a atenção de sua dona, que veio correndo para saber a razão do “grito”.

— Por Merlin, o que houve? Você aparatou em cima dele?

— Ele salvou a minha vida, isso sim.

Hermione sorriu com a brincadeira, deixando-se ser abraçada. Pegou Mingau no colo e a mão do marido, levando-os até a cozinha, mostrando o almoço que preparara, orgulhosa. Porém, Harry conhecia bem sua esposa.

— Não gostou? — ela disse triste ao notar o rosto sério dele.

— Você usou a cozinha para se distrair e não pensar sobre o que eu contei noite passada?

Harry viu seu rosto corado antes que ela virasse o rosto.

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— Você... acredita em mim?

— Acredito — respondeu sem hesitar, mas ainda envergonhada demais para olhá-lo. — Seria bobagem inventar algo dessa proporção. Além do mais, você me mostrou as lembranças de Peter... foi real demais para eu não acreditar.

Ele se aproximou dela, abraçando-a pelas costas. Deu um beijo demorado na bochecha da mulher, que fechou os olhos com o carinho.

— É que é muita coisa para assimilar. Estou me esforçando, mas quando lembro que ainda estamos no meio de tudo... — Ela se virou para encarar o rosto do marido. — Tenho medo do que ainda não sei.

— Eu também tinha — confessou. Um pequeno alívio apareceu nos olhos castanhos. — Mas o meu medo de perder você era maior.

Harry não estava com fome e sabia que Hermione também não. Puxou-a para sentarem à mesa da cozinha e continuou sua história.

~*~


“Por favor, não rasgue ou jogue fora antes de terminar de ler.
Sei que fui um estúpido ao dizer aquelas coisas noites atrás. Sinto muito. De verdade. Estava louco com tantos segredos e com mais uma profecia nas costas, e acabei descontando minha frustração em você. Me perdoe.
Não posso escrever tudo o que tenho vontade nesse pedaço de papel, então apenas peço uma oportunidade de conversar direito contigo, pedir desculpas e contar que estou morrendo de saudades! Você é, acima de tudo, minha melhor amiga. E, como tal, tem um lugar especial no meu coração. Não se afaste mais de mim, por favor. A distância só me fez perceber o quanto não consigo viver bem sem você.
Com carinho,
Harry.
P.S.: Acredita que encontrei novamente o Espelho de Ojesed? Dumbledore o escondeu na Sala Precisa.
P.S. 2: Você tem três chances para adivinhar o que eu vi no espelho.”

Suas palavras ficaram impregnadas na mente de Hermione. Ela respirou fundo e guardou na mochila o pedaço de pergaminho rasgado.

“Por favor, não fuja mais” pediu ele em pensamento, com todo o fervor.

Hermione, para sua surpresa, levantou de seu lugar, dirigindo-se a Flitwick. Não ouviu o que falaram, mas logo a morena arrumou suas coisas e saiu da sala, o rosto transtornado.

“O Espelho de Ojesed” ouviu-a antes de sair. Harry nem pensou duas vezes.

Guarde minhas coisas, por favor pediu a Rony. Preciso sair.

Aonde...?

Não esperou que o amigo terminasse. Saiu da aula com a desculpa que iria ao banheiro. Não retornaria, obviamente. Disparou pelo corredor, surpreso que Hermione já estivesse tão longe. Encontrou-a exausta cinco andares acima. Ela parara no meio da escada, ofegante.

Mione...

Tentou segurá-la, mas a moça desvencilhara-se, parecendo transtornada.

“O espelho...” pensava. “Preciso chegar ao espelho!”.

Por quê?

Hermione não lhe respondeu, continuando seu caminho e parando novamente na frente da tapeçaria do sétimo andar.

O que você pediu?

Sua voz estava rouca. Hermione evitava seus olhos. Harry respirou fundo, pensando no espelho e andando três vezes na frente da parede vazia. A mesma porta apareceu, e a morena não hesitou ao abri-la, largando a mochila assim que adentrou no aposento. Andou até o objeto mágico no fundo da sala empoeirada e com pouca luz, hesitando, como ele, a alguns passos de seu desejo. Harry sentiu seu medo, a mágoa dos últimos dias e até mesmo o sentimento que a moça nutria por ele. Por sorte ela estava distraída demais com seus próprios receios para que pudesse ver o rosto vermelho do rapaz atrás de si.

Ele parou a três metros dela, um pouco atrás, longe o suficiente para que o espelho reconhecesse apenas o desejo dela, e ao mesmo tempo perto o bastante para que pudesse ver suas reações pelo reflexo. Hermione fechou os olhos e ficou a um passo do desejo de seu coração, os olhos brilhando e o queixo caindo ao finalmente visualizá-lo. Os olhos castanhos que tanto adorava ficaram marejados em segundos.

Quem é? ela perguntou emocionada, a voz baixinha.

Harry ficou em dúvida se deveria responder algo. Não precisou.

É nosso? continuou a jovem.

Pareceu receber a resposta, pois um sorriso bobo tomou conta de seus lábios. O moreno não conseguiu ver nada nos pensamentos dela, algo que aflorava ainda mais sua curiosidade. Hermione quase chorava de alegria.

Você é tão lindo!

Harry não se conteve. Ligeiramente enciumado, andou devagar até ela. A morena fechou os olhos, uma lágrima caindo no seu rosto e um sorriso emocionado mexendo com ele. Parou bem atrás dela. Quando os olhos castanhos se abriram, tomaram um susto. Não havia mais desejo algum, apenas Harry.

Onde ele está? perguntou rapidamente. O desespero logo tomou conta. Afaste-se! Ela o empurrou. Deixe-me vê-lo novamente!

Mione...

Não! ela gritou, assustando-o. Empurrava o amigo para trás, aflita. Saia! Deixe-me vê-lo de novo!

Hermione! Segurou firme seus braços, obrigando-a a olhá-lo. Ela parou, segurando as lágrimas, o semblante sério. Não é real! Acalme-se.

Largue-me. O tom lhe deu calafrios, mas ele não a soltou.

Não é real, Mione. Não pode acreditar no que vê no espelho.

Mas ele...

É o desejo de seu coração. Lembrou-a, as palavras amargando em sua boca ao assimilar que ela vira William. Hermione arregalou os olhos um instante, digerindo a informação. Não é real. Não é o futuro. É um desejo desesperado. Não confunda as coisas.

Ela tremeu em seus braços, atônita. As lágrimas contidas finalmente saíram, e Harry as enxugou com um beijo demorado.

Não enlouqueça por causa do espelho. Olhou profundamente para os castanhos cor-de-mel. Não volte mais aqui.

Hermione o abraçou forte. Merlin, como sentira falta daquele abraço sufocante! Não se importou por estar quase sem ar, os braços pequenos da jovem enlaçando seu pescoço com firmeza. Retribuiu o carinho em dobro, aspirando seu perfume e mergulhando o rosto nos cachos dela. A saudade tornava aquele momento indescritível.

Tomou-a em seu colo, saindo da Sala Precisa e parando assim que as portas atrás de si fecharam. Deu três voltas e entrou novamente, a garota ainda em seus braços. Deparou-se com os jardins de Hogwarts, mas não com o mesmo tempo frio do lado de fora, e sim em uma reconfortante primavera. Andou calmamente até as margens do Lago Negro, hesitando por um instante.

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— O que houve? — Ela olhou para os lados e depois para ele, estranhando que o rapaz ainda não a tivesse colocado no chão.

— Não quero te soltar.

Os lábios femininos tremeram, e ele não soube se seu desejo de prová-los novamente passou despercebido à morena.

— Então não solte.

Hermione escondeu o rosto no pescoço dele novamente. Harry sentiu o coração bater mais forte, sentindo que ela se encaixava perfeitamente ali, em seus braços.

Sentou na grama fofa, tomando o cuidado para que a jovem ficasse entre suas pernas e dentro de seu abraço. Juntou suas testas e declarou sem pensar duas vezes:

— Perdoe-me... por favor, me perdoe! Eu sou um idiota completo e não a mereço em minha vida. Mas também sou egoísta demais para não tê-la perto de mim! Não quero mais ficar longe de você, Mione! Nunca mais!

A moça não respondeu, limitando-se a esconder seu rosto no peito dele, aos soluços. Harry a sentia apertar com força sua camisa, a dor dela sendo a sua também.

“Como?” ele se perguntava. Como ainda poderiam compartilhar alguns pensamentos e sentir o outro se ele não era quem precisava ser? Hermione continuava projetando seus poderes nele? Isso era possível?

Tentou deixar essas dúvidas de lado. Por enquanto, bastava ter a amiga em seus braços novamente. Esperou que o choro cessasse e a respiração dela regulasse para tomar coragem e fazer uma pergunta cuja resposta ele sentia que precisava.

— Qual era o desejo dela? De Elizabeth.

As mãos femininas se fecharam novamente no uniforme dele, denunciando que o rapaz acertara em cheio.

— Eu nunca a vi desse jeito, Mione... não era um desejo seu, não é? É um desejo de Elizabeth que ainda vive em você.

Hermione tremeu antes de mostrar o rosto novamente, ainda hesitando em olhá-lo. Ajeitou-se no colo do rapaz, uma vez que ele não a deixaria se afastar tão cedo.

— Você lembra da profecia? — ela falou baixinho, apertando as próprias mãos, nervosa.

— Perfeitamente. — Ele se esforçou para não mostrar a amargura em sua voz. — “Duas almas gêmeas, destinadas a sempre se encontrarem, mas jamais a ficarem juntas” — recitou para provar. Fora dormir no dia da briga com aquela frase em sua cabeça.

— Exato. Estou condenada a vagar por essa terra enquanto não escolher o amor. — Ela respirou fundo. — Há algumas vidas, descobri que existe uma saída, um fim para a maldição. Invadi a mente da reencarnação de Hannah em busca de...

— Hannah?

— A mãe de William — explicou, corada. — A mulher que me amaldiçoou... ela continua reencarnando comigo e com William, para garantir que ficarei por aqui enquanto não escolher meu verdadeiro amor. — Voltou a olhá-lo, mais decidida. — Há uma saída... não há prova maior de que eu escolhi Will do que aceitar gerar um fruto de nosso amor.

Tão simples, mas tão cruel... Harry sentiu o coração apertado, deduzindo facilmente:

— Você viu o seu filho.

O semblante dela entristeceu novamente. Novas lágrimas caíram no rosto da mulher, e ela o tampou com as mãos, permitindo-se chorar por seu passado e futuro tão esmagadores.

— Eu o quero, Harry — ela disse em meio ao choro, sem vergonha de encarar os olhos verdes dessa vez. — Eu quero aquele menino para mim... mais do que jamais ousei sonhar em outras vidas! Antes eu apenas me conformava que jamais teria Will para mim, quanto mais ter tempo de construir uma família. Mas não agora... agora eu quero os dois, para sempre! E nenhuma coroa ficará em meu caminho novamente...

Uma coroa. Uma metáfora para o primeiro – e definitivo – obstáculo entre Elizabeth e William. E também uma alusão a qualquer coisa que tenha ficado entre os dois nos últimos quatrocentos anos.

— E onde ele está?

A pergunta a pegara desprevenida.

— Onde está William? Alguma vez você demorou tanto para encontrá-lo?

— Sim... — respondeu envergonhada, baixinho, mas não mentia. — Já o encontrei fora de Hogwarts uma vez.

“Robert...” surgiu o nome na mente dela.

Ele sentia que tremia com tantas perguntas em sua cabeça.

— Quantas... — hesitou. — Quantas vidas já viveu, Hermione?

A morena fechou os olhos, sentindo o peso de todos aqueles anos.

— Estou na décima terceira.

Harry engoliu em seco. Queria lhe perguntar tudo: as treze vidas, quem ela foi em cada uma delas, os motivos para não escolher William doze vezes... mas um sentimento desconhecido lhe implorava para pedir outra coisa. E ele cedeu:

— Posso vê-lo? — gaguejou timidamente.

— Quem? — Hermione arregalou os olhos. — William?

— Não. —A última coisa que queria era conhecer William, sendo bem sincero consigo mesmo. — Seu filho... posso ver o seu filho? Você pode mostrá-lo em minha mente?

Temeu que ela saísse de seu abraço e fugisse novamente, alegando que seu pedido a magoava ou invadia demais seus segredos. Acabou por apertá-la mais, inconsciente. No entanto, surpreendeu-se quando ela hesitou apenas por um momento, confirmando levemente com a cabeça em seguida.

O coração dele acelerou em expectativa.

Hermione colou a testa na dele, fechando os olhos e pedindo para que ele fizesse o mesmo. A lembrança do instante em que ela encontrou O Espelho de Ojesed invadiu a mente do rapaz, que conseguiu ver o espelho pela perspectiva dela.

Abriu um sorriso sem dar conta.

Hermione via ele, Harry, sorrindo apaixonadamente para ela e segurando um bebê em seus braços. O menininho de rebeldes cabelos negros e olhos castanhos parecia ter menos de um ano, mas sorriu também ao reconhecê-la.

— Quem é? — ouviu a morena perguntar. O Harry do espelho não disse nada, mas alargou o sorriso e abraçou o bebê, bobo. Foi fácil deduzir sua resposta. — É nosso? — perguntou Hermione, também pensando naquilo. Harry-espelho confirmou com a cabeça, enquanto a morena se aproximava mais do reflexo, encantada e emocionada com a aparência da criança. — Você é tão lindo...

E então a lembrança sumiu, pois o verdadeiro Potter a impediu de continuar vendo seu filho.

Harry permaneceu de olhos fechados, ainda visualizando na própria memória o rosto do menino.

— Você está sorrindo — falou uma surpresa Hermione, já longe de seu rosto.

— Estou?

Ele não tinha reparado como a imagem de uma criança mexeu tanto consigo... Hermione tinha razão: ele era lindo! Tão parecido com ela... com eles dois.

— Está — ela respondeu, hesitante. — Por que está sorrindo?

— Por que não estaria?

— Porque você não acredita em mim. — A mágoa presente em sua voz o fez abrir os olhos, o sorriso sumindo. — Porque eu me apaixonei por uma história, lembra-se?

— Mione...

A garota enfim se afastou, levantando do chão e ficando a uns bons passos de distância. Ele levantou também, disposto a consertar aquele erro.

— Você é Elizabeth Tudor — disse firme. — Eu sei disso agora. O que não entendo é por que você me viu no espelho, e não William. — Hermione corou, desviando o olhar. — Eu memorizei o rosto dele, Mione, e vi que ele não era eu, por mais que eu quisesse, por mais que eu desejasse... mas não sou William. — Ele acabou com o espaço entre eles, mirando profundamente os olhos cor-de-mel. — Sou o homem que deseja tomá-la dele.

Puxou-a pela cintura e tomou seus lábios, desesperado, apaixonado, sabendo que nunca tinha sido tão sincero com os próprios sentimentos. E quando ela se entregou, abrindo os lábios e deixando que aprofundasse o beijo, Harry teve certeza: seu coração já era de Hermione. E nem mesmo William Francis o impediria de ficar com ela.

~*~

— Foi então que ficamos juntos? — Hermione interrompeu, confusa. — Achei que demoraria mais. No diário pareceu que ficávamos juntos somente depois do Natal.

— E foi isso mesmo — confessou, ligeiramente envergonhado e chateado. — Por mais que tivesse te visto no espelho e eu mesmo no seu desejo, eu ainda não conseguia entender como você insistia em dizer que William era o homem que você amava. Eu não queria nada entre nós, muito menos outra encarnação de William... um fantasma que me assombrava todos os dias. Mas você continuava sendo muito convincente...

~*~

Hermione afastou-se um pouco, ofegante.

— Harry... o que está fazendo?

— Eu já lhe disse... — respondeu entre os beijos que continuava dando nela. — Vou roubá-la para mim.

Ele pretendia beijá-la novamente, mas ela se afastou bem, ainda nos braços dele, mas com uma expressão de confusão.

— Do que está falando? Você não entendeu ainda? Não entendeu o meu desejo?

Um resquício de decepção estava em seu tom, e Harry não deixou de notá-lo. Porém, ainda estava decidido a fazer a coisa certa dessa vez: ficar com Hermione.

— Eu vi bem, Mione. Eu vi a mim no espelho, e não William — falou firme. — Eu vi o nosso filho, não seu e dele. Você ama a mim, não William. Eu não faço ideia de como isso afetará na sua maldição, mas não estou disposto a abrir mão de você.

Hermione saiu de seus braços, tentando esconder as lágrimas, mas Harry as viu mesmo assim.

— Mione, por favor...

— Não é você que eu amo. — A certeza na voz dela o fez estancar, quebrando algo dentro de si. A moça parou de costas para ele, encarando o Lago Negro. — Eu amo William. Sempre amei. Achei que tinha visto isso... que tinha entendido.

— Era eu quem estava no espelho! — rebateu, indignado.

— Era William.

— Era eu! E eu não sou William!

O soluço da morena o pegou de surpresa.

— Deixe-me sozinha.

A voz contida para esconder o choro partiu seu coração.

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— Mione... eu quero você.

— E eu quero que saia daqui — respondeu rapidamente. — Por favor!

Ele engoliu em seco, nervoso, tentando entender a reação da garota à sua frente.

— Foi uma ilusão? — Foi impossível disfarçar a amargura. Hermione virou o rosto apenas um pouco, sem olhá-lo, mas obviamente surpresa com a pergunta. — O livro conta que você é capaz de fazer ilusões tão poderosas que deixariam o mais poderoso bruxo boquiaberto. Foi o que você fez agora? — acusou. — Colocou o meu rosto sobre o de William para me enganar? Para me confundir?

Harry quase deu um pulo no lugar quando todo o cenário ao seu redor sumiu num piscar de olhos, mostrando o esqueleto daquela pequena e escura sala. Hermione se virou, o rosto marcado pelas lágrimas, mas com uma seriedade assustadora no olhar.

— Primeiro me acusa de me apaixonar por uma história, e agora que estou tentando confundi-lo e enganá-lo. — Ela deu um passo em sua direção, causando-lhe um arrepio na espinha. — Eu sou uma bruxa extraordinária, Potter, você não faz ideia... seu cérebro derreteria com as coisas que sou capaz de fazer. — Ela deu outro passo, estreitando os olhos em ameaça. — E mesmo assim não uso meus poderes para manipulações.

Harry engoliu em seco.

— Mione...

— Não ouse me julgar por não entregar meu coração para um homem que duvida de mim e da minha história — cortou.

— Mas eu... — gaguejou.

— Oh, sim... você duvida sim.

Ela então lhe deu as costas, caminhando lentamente até a janela. O garoto tomou um susto quando ouviu o ranger da porta se abrindo, sem nenhuma indicação da varinha de Hermione à vista.

Não era mais um pedido para sair. Era uma ordem.

E mesmo contrariado, ele obedeceu.


O pudim de rins estava absolutamente sem graça ao seu paladar. Ver Rony comendo aquilo – e todo o resto que via pela frente – lhe embrulhava o estômago. Afastou o prato de vez, conformado que não conseguiria engolir nada.

— Você brigou com Hermione novamente?

Levantou o rosto para ver Gina. Ela parecia dividida entre a angústia e a raiva. Ronald percebeu o tom da irmã e prestou atenção nos dois.

— O que está acontecendo com vocês dois, afinal?

— Nada.

— Vocês nunca brigaram por tanto tempo — reparou o mais velho. — Ela brigar comigo é normal, mas com você? Que merda você fez?

— Você não faz...

Um pigarro o interrompeu. Gina e Rony arregalaram os olhos, enquanto o moreno se virou para encarar uma envergonhada Hermione pedindo atenção.

— Posso me sentar aqui? — Ela apontava para o lado vazio de Harry. Bobo e surpreso, o rapaz afastou-se ainda mais um pouco, confirmando. — Obrigada.

A timidez dela era real, o que espantava Harry ainda mais. Tentou acessar seus pensamentos, mas ela o bloqueava com eficiência, como se nunca tivessem compartilhado aquele poder antes.

Seu embaraço seria arrependimento? Uma esperança surgiu no moreno, que desejava que ela estivesse arrependida de tê-lo expulsado da Sala Precisa e que queria, pelo menos, reatar a amizade que tinham.

— Eu acho que adiei isso por tempo demais — ela começou, quase sem coragem de olhar os Weasley. — Mas não quero continuar com isso. — Hermione respirou fundo e soltou de uma vez, enfim olhando para os dois à sua frente. — Quero pedir desculpas a vocês. Não tenho sido uma boa amiga há algum tempo e acabei mergulhando em problemas que não esperava. Não consegui lidar com eles muito bem, então acabei me afastando. Queria que soubessem que não era nada a ver com vocês... o problema era todo meu.

— Somos seus amigos. — A voz decepcionada de Gina falou mais alto. — Você podia contar conosco para qualquer coisa.

— Eu sei, mas não era qualquer coisa — respondeu tão depressa quanto. — Não foi algo fácil de descobrir, e...

— E o que foi? — Foi a vez de Rony interromper, irritado. — Porque, sinceramente, Hermione, você nos deixou pensando que nos odiava! Eu achei que ainda estava chateada comigo pelo que aconteceu n’A Toca!

— Mas não estou.

— O que aconteceu n’A Toca? — perguntou Gina.

— Não importa! — Hermione falou antes que o ruivo piorasse a situação. — Escutem... vocês ainda não importantes para mim. Meu afastamento teve um motivo bem diferente.

— Que seria...?

— Sou uma reencarnação.

A ruiva arregalou os olhos. O irmão dela franziu o cenho, confuso.

— Você é o quê?

— Uma reencarnação — respondeu Gina, ainda olhando atônita para Hermione. — Alguém que já viveu outras vidas.

— Exatamente. Descobri isso pouco tempo depois das aulas começarem. Demorei um pouco para acreditar, para aceitar... e vocês tinham os próprios problemas. Não queria adicionar mais isso em nossas vidas.

— Mas isso não é um problema! — A indignação de Gina ainda era palpável. — Você poderia ter nos contado!

— Não é tão simples — disse pacientemente, como se esperasse aquela reação. — Eu descobri sobre minhas outras vidas, mas há muita coisa por trás delas. Eu estou... — Hesitou. — Amaldiçoada. Não sou uma reencarnação comum.

Dessa vez até Ronald se surpreendeu.

— Espere. — A outra moça balançou a cabeça, tentando assimilar o que ouvia. — Está me dizendo que você não viveu apenas uma ou duas vidas antes? Que foi amaldiçoada? Que ainda vai reencarnar mais vezes?

— Sim. Estou na décima terceira vida. Tudo começou em 1553, pouco antes de eu virar a rainha da Inglaterra.

A morena explicou rapidamente sobre o conto, a maldição e a profecia que tinha nas costas. Rony e Gina não pouparam perguntas e Hermione respondeu a todas de forma simples, sem entrar em detalhes. Porém, um deles não passou despercebido:

— Então você ainda precisa encontrar William?

Ela hesitou, sem coragem de olhar para o rapaz ao seu lado.

— Sim.

Foi a primeira vez na noite que Harry arregalou os olhos – não que algum deles tivesse notado, pois ele ainda encarava o pudim de rins em seu prato, evitando olhar para qualquer um dos três durante a narração da morena.

Hermione mentiu.

Não foram seus pensamentos ou sentimentos compartilhados que lhe revelaram, mas apenas o tom de voz, conhecido por ele há sete anos.

Hermione teria finalmente encontrado William?

A ideia revirou seu estômago ainda mais.

— Você não está chocado com isso? — A voz de Rony, seguida de um silêncio incomum, chamou a atenção dele.

— Não, ele não está — a garota ao seu lado respondeu por ele, ainda sem olhá-lo. — Harry já sabia de tudo.

— E por que não nos contou?! — O ruivo perguntou novamente.

— Porque ele não acredita.

Harry quebrou o copo de suco que nem sabia estar segurando. O vidro quebrado assustou os Weasley, mas Hermione refez magicamente o copo, como se nada tivesse acontecido. Ambos se encararam seriamente.

— Eu já lhe disse. — Ele se esforçou para segurar a raiva. — Eu acredito em você. Acredito em sua história. Eu não acredito é em quem você diz amar.

Viu os olhos castanhos vacilarem com sua última frase, fazendo com que tivesse certeza de que ainda havia segredos entre eles. Levantou sem se despedir, rumando até o sétimo andar a passos firmes, sem olhar para trás.

Porém, hesitou ao parar em frente à Mulher Gorda. Não estava com sono e nem com paciência para aguentar as perguntas de Rony no dormitório. Deu meia-volta e andou até a parede em frente à Tapeçaria de Barnabás. A tão conhecida porta apareceu depois das três voltas, e dessa vez ele não hesitou antes de se aproximar do espelho.

Uma nova pessoa apareceu em seu coração. Seus lábios tremeram ao vê-lo de novo, seguido da frustração de tocar o espelho por esquecer que era apenas um espelho.

O bebê estava no colo de Hermione agora, paparicado não apenas por ela, mas também por Tiago e Lílian Potter. Seu herdeiro tinha o sorriso da mãe...

Uma lágrima caiu em seu rosto, e ele se esforçou para segurar o soluço. Céus, como amava aquela família! Como desejava tê-la agora! Poderia Hermione desistir de William e ficar com ele, e formar aquela família que ela também sonhava em ter? A maldição a obrigava a escolher William? Ou bastava que ela escolhesse um amor, mesmo sendo novo?

Ele a sentiu antes de vê-la pelo Espelho de Ojesed, fazendo sumir seu desejo mais profundo.

— Eu não tenho que escolher William — ela respondeu suas dúvidas com a voz embargada. — Eu escolho William porque é ele que eu amo. Você não entende? — O vestígio de esperança estava tanto em seu tom quanto em seus olhos.

Harry fechou os olhos, encostando a testa no vidro gelado e mentalizando a imagem que vira há poucos segundos.

— Você consegue ver? — falou baixinho, envergonhado.

— Sim...

Ele a encarou pelo reflexo, um misto de ansiedade e pena nos olhos cor-de-mel.

— Por favor... — Hermione tinha os olhos marejados. — Eu não quero mais brigar.

Harry também não, e ela pareceu sentir isso, pois logo correu para seus braços.

— Por favor, tente entender... — ela se afastou apenas um pouco para olhá-lo. — Eu projetei tudo em você! Meus pensamentos, meus poderes, meus sentimentos... e-eu me confundi. E não sei como fazer isso parar. Mas tente focar na Oclumência e descobrir o que realmente sente, sem a minha influência, sem confundir os meus sentimentos com os seus.

— Mas...

— Esses sentimentos são meus, Harry! — implorou. — Esse desejo, essa criança... são meus. Não confunda as coisas. Eu preciso que você separe o que é meu do que é seu... só então poderemos seguir em frente.

— Eu não...

— Por favor, Harry!

Foi sentindo o desespero dela que ele finalmente cedeu.

Harry queria estar com ela, tê-la por perto, cuidar da garota que sempre cuidou dele. Mesmo que não fosse do modo que queria, ele decidiu se render, mais uma vez, à vontade de Hermione.

Encostou a testa na dela, com os olhos fixos em seus lábios.

“Eu posso... uma última vez?”.

Um semblante penalizado o encarou de volta.

— Harry...

Aproximou mais o rosto, vendo-a fechar os olhos, completamente entregue sem muito esforço. O encostar dos lábios foi suave, mas acelerou os batimentos cardíacos do rapaz mesmo assim. A morena tentou se afastar, voltar à razão, mas ele a beijou de novo, pressionando sua boca com mais intensidade.

— Prometa para mim — murmurou ofegante. — Prometa que ele a fará feliz. Prometa e eu a deixo ir.

Ela abriu um sorrisinho envergonhado.

— Se ele me aceitar...

— Como ele poderia não a aceitar? Você é maravilhosa!

— Há uma primeira vez para tudo.

A moça deu de ombros antes de sair do abraço, e já estava a caminho da porta quando o moreno chamou sua atenção:

— A mulher mais feliz do mundo, Granger! — Ela se virou, curiosa. — Ou ele a faz a mulher mais feliz que esse mundo já viu ou eu volto atrás com minha palavra e a roubo para mim.

Para a surpresa do garoto, Hermione sorriu bobamente antes de confirmar com a cabeça e finalmente sair da Sala Precisa.

~*~

— Não estou entendendo — confessou a mulher. — Você continua dizendo que não era William.

— Porque você me dizia que eu não era William. Eu acreditei em você.

— Mas por que eu faria isso?

— Você tinha medo que eu não me lembrasse... — Ele sorriu de lado, apegado às lembranças. — Mas eu sempre me lembro.

Memórias de quando acordou n’A Toca após uma madrugada intensa de febre e delírios o tomou. Hermione tinha o beijado no dia anterior e ele, curioso, remexeu em suas coisas e descobriu a mentira da amiga.

Foi o primeiro passo para ficarem juntos.