Capítulo XXI - Ordem

Magnolia - 30 de março de x792

Que os magos da Fairy Tail não dispensavam uma boa farra, todos sabiam. A guilda mais desordeira de Fiore sempre foi amplamente conhecida por suas folias, e por ter o dom de transformar qualquer motivo banal em festa.

Naquela ocasião, não poderia ser diferente. Praticamente todos os seus membros, juntamente com diversos visitantes, estavam reunidos no salão principal da sede, comemorando o que eles costumavam chamar de Pré-Hanami, que na verdade não passava de uma boa desculpa para badernar na véspera do feriado.

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A música tocava alta e várias pessoas conversavam animadas pelo ambiente. Alguns grupos se formavam para o fim de jogar cartas, ou jogos de tabuleiro, outros iniciavam competições de bebidas. Claro que Cana liderava um desses últimos, permanecendo invicta até então.

Mirajane, Kinana e Lisanna, desdobravam-se para atender a todos os clientes. Os número de pedidos parecia maior do que nunca, o que fazia com que a albina mais velha começasse a desconfiar que os pedintes queriam apenas uma desculpa para ver as garçonetes desfilando pelo salão.

E, é claro, como em todos os eventos organizados recentemente, uma série de repórteres circulavam pelo local, em busca de qualquer furo que rendesse uma boa matéria. O destaque ia para Jason, que gritava seu jargão de forma empolgada, registrando tantas caras e bocas quanto conseguia, especialmente dos integrantes da Fairy Tail.

Embora o ambiente estivesse agitado como nunca, ainda encontrava-se peculiarmente calmo, se eventos passados da guilda fossem usados como parâmetro. Isso porque nenhuma briga havia começado, nenhuma cadeira havia se partido, nenhuma pessoa havia ficado inconsciente. Ao menos até então.

A Strauss mais velha refletia justamente sobre isso, quando as portas principais foram chutadas, escancaradas com um estrondo, revelando a chegada de dois magos e captando toda a atenção dos presentes.

TADAIMA!!! - Natsu berrou, adentrando o salão em passos largos. Afinal, desde seu retorno da última missão, ainda não havia visitado a guilda. Lucy o seguia de perto.

— Acho que toda essa calma acaba agora. — Mirajane pensou, ao vizualizar os colegas. - Okaeri!!!— Saudou de volta, com a mesma animação, observando o quanto a loira parecia desconcertada. Não pôde evitar de sorrir maliciosamente.

— Luuuuushy!!! - Happy choramingou, voando a toda velocidade e chocando-se contra os fartos seios da maga estelar. - Vocês demoraram tanto! - Reclamou. - Pensei que nem viessem mais.

— Nós tivemos um… - Heartfilia começou, reticente. - Contratempo. - Emendou, acariciando a cabeça do exceed.

Os dois magos recém chegados tiveram imensa dificuldade de atravessar o salão. Isso porque, todos os presentes, pareciam querer falar com Lucy. Os membros da guilda, por estarem preocupados com sua saúde, e os visitantes, porque ela tinha praticamente se tornado uma celebridade. Afinal, não era qualquer um que era declarado morto, com direito a um funeral e tudo, e retornava, milagrosamente, meses depois.

Quando finalmente alcançaram o balcão, os dois magos ocuparam os acentos vazios, próximos de onde os demais integrantes do time estavam sentados. Natsu acomodou-se ao lado de Gray, e Lucy postou-se entre o mago do fogo e Wendy.

— Oi pessoal. - A loira saudou, enquanto se ajeitava, sendo imediatamente respondida.

— Que bom ver que você está melhor, Lucy. - Erza comentou, enquanto preparava mais uma garfada do bolo de morango que vinha degustando. - Estávamos todos preocupados. - Revelou. - Principalmente a Wendy. - Completou, em tom sugestivo.

Talvez por entender bem o que motivava a aflição da pequena dragon slayer, Lucy mal percebera a indireta na fala da ruiva. Alheia a qualquer mensagem subentendida, apenas girou a banqueta, para que pudesse encarar a garota de cabelos azuis.

— Está tudo bem agora, Wendy. - Tranquilizou-a. Contudo, a menina abaixou a cabeça e encolheu os ombros, fazendo com que Heartfilia arqueasse as sobrancelhas.

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— Lucy-san, eu… - A curandeira gaguejou, aflita. - Eu… - Continuou tentando, como se estivesse com dificuldades para falar. Sendo tomada por um mal pressentimento, a maga estelar estreitou os olhos.

— Você...? - Incentivou.

A garota ergueu a cabeça, revelando os olhos brilhantes e chorosos. Típico semblante que Lucy costumava classificar como “cara de cachorrinho sem dono”. E também, não era para menos. Wendy sentia como se tivesse traído a confiança da companheira de equipe.

No dia anterior, bem quando enfrentava um verdadeiro interrogatório da parte de Laki, que tinha achado curioso o fato de apenas a maga estelar ter ficado de repouso, quando havia sido atingida pela mesma magia que a dragon slayer celeste, Mirajane aparecera, salvando a pátria.

Naquele momento, a azulada sentiu-se imensamente agradecida por ter encontrado uma oportunidade de livrar-se das perguntas dos colegas. Contudo, se soubesse o que viria a seguir, teria ficado e respondido tudo de bom grado.

Conforme havia dito, a albina conduziu Wendy até o depósito, com a desculpa de que precisava de ajuda para pegar alguns materiais. Entretanto, bastou chegar ao local, para descobrir as verdadeiras intenções da Strauss mais velha. Ela também queria respostas. Mas estava disposta a usar de meios mais baixos para tal.

A pequena curandeira ainda arrepiava-se, só de lembrar a sequência de acontecimentos.

— Vamos Wendy, eu não quero ter que fazer isso. - Avisou Mirajane, inclinando-se sobre a garota. - Mas eu vou fazer, se você não me contar a verdade. - Ameaçou.

— Mira-san… - Tremendo, a menina começou. - Eu não sei do que você está falando. - Afirmou, desviando o olhar.

— Que feio Wendy! Mentindo para mim! - Censurou a mais velha, sem abandonar o timbre angelical. - Vamos, você precisa apenas confirmar para mim se aquela visão da Charle¹ está perto de se realizar. - Insistiu. - Basta dizer sim ou não.

— Como é que eu vou saber? - Esganiçou a garota, esforçando-se em sua mentira. Afinal, ela havia prometido segredo a Lucy.

Ante a negativa, a garçonete meneou a cabeça, antes de prosseguir:

— Assim você não me deixa escolha… - Declarou em tom de lamento, em seguida atacando a pequena impiedosamente com cócegas.

Apesar da determinação da albina em arrancar a verdade, a dragon slayer resistiu bravamente. Aguentou até onde pôde, chegando ao ponto de cansar a maga take over. Foi quando já não tinha mais voz para gargalhar, sentindo que não aguentaria mais, que Wendy esgoelou um “Sim”.

Exultante, Mirajane cessou com a tortura, para dar pulinhos e gritinhos animados. Não podia acreditar no que tinha ouvido.

Entretanto, a curandeira sentia-se a pior pessoa do universo. Tinha entregado o segredo da companheira de equipe, que jurara proteger. Esbaforida, chegou a acreditar que a albina a deixaria em paz, já que havia conseguido o que queria.

Ledo engano.

Mirajane a assaltou com um verdadeiro interrogatório sobre o casal e a gravidez, que durou vários minutos.

E se as garotas não estivessem tão distraídas, uma tentando conter a própria animação e a outra buscando recuperar o fôlego, teriam visto que não estavam sozinhas no depósito.

— Wendy! - Lucy praticamente gritou, trazendo a companheira de time de volta a realidade.

— Hã? - A azulada piscou confusa.

— Você estava me dizendo alguma coisa. - Lembrou a loira. - Parecia importante. - Acrescentou, desconfiada. Imediatamente, a dragon slayer recomeçou a tremer.

— É que… - A menina estava pronta para desculpar-se, quando foi, providencialmente interrompida.

— Wendy! - Mirajane interviu, aparecendo do nada, dando um pequeno susto na curandeira. - Será que você pode me acompanhar até a enfermaria? - Perguntou. - Parece que alguém se machucou.

Para estranhamento do grupo, azulada encarou a albina de forma desconfiada. Mesmo assim, demorou poucos segundos para responder, abandonando a postura retraída que sustentava:

— Claro. - Concordou, levantando-se. Devia ter imaginado que Mirajane não permitiria que ela estragasse sua diversão.

— Devolvo ela já, já! - A take over garantiu, cordialmente, arrastando a menina para longe dali.

Lucy estreitou os olhos, enquando observava as duas amigas se distanciarem. Algo dentro de si sinalizava a estranheza da situação. Afinal, sabia muito bem que por trás do sorriso angelical de Mirajane, existia uma mente demoníaca.

Curiosa, seguiu matutando o comportamento das duas magas, distraíndo-se ao ponto de esquecer das coisas ao seu redor e não perceber a cadeira que voava a toda velocidade em sua direção.

— CUIDADO! - Natsu Berrou, enfiando-se na frente da loira e chutando o móvel com toda a sua força, desintegrando-o no ar.

Lucy ofegou ante ao susto. Por um momento, sentiu que seu coração havia parado apenas para, no seguinte, voltar a bombear descontroladamente.

— Você está bem? - O dragon slayer inquiriu, preocupado, vendo a parceira perder a cor.

— Sim. - Heartfilia assentiu, levando uma das mãos ao peito. Estremecia só de pensar no que poderia ter acontecido, caso tivesse sido atingida.

O mago do fogo ainda encarou a parceira um par de segundos, certificando-se que ela estava realmente bem, antes de virar-se furiosamente em direção ao salão.

— PRESTA ATENÇÃO NO QUE ESTÁ FAZENDO, CABEÇA DE LATA! - Gritou para Gajeel, que se ocupava em socar Jet e Droy, ao mesmo tempo.

— Falou comigo, vela de cemitério? - O dragon slayer do ferro provocou de volta. - Tá a fim de morrer?

— Eu é que vou te matar, por quase ter acertado a Lucy, seu cretino! - Declarou Salamander, avançando contra o moreno.

A partir dali, a confusão que começara há pouco tempo, se propagou pelo salão feito rastilho de pólvora. Logo, inúmeros magos estavam envolvidos no perrengue, elevando a baderna a um nível colossal, dificultando a tentativa dos pobres visitantes de escapar ilesos do meio do conflito, temendo por suas vidas.

— A intenção do Natsu era te defender, mas ele apenas piorou a situação. - Comentou Erza, casualmente, olhando em direção a Lucy que, a esse ponto, já encontrava-se agachada atrás do balcão.

Hai. - a loira choramingou, impressionada com o modo que, mesmo de costas, a ruiva desviava tranquilamente dos objetos lançados em sua direção.

— Lucy-san!!! - A voz aguda de Wendy se sobrepôs ao tumulto do local, fazendo com que as duas que vinham conversando, perscrutassem em volta, a sua procura. Logo, localizaram a garota sobrevoando a bagunça, com o auxílio de Charle. - Graças aos céus, você está bem! - Constatou aliviada, posando delicadamente ao lado da maga estelar.

— Não sei por quanto tempo. - Reclamou, percebendo que vários itens lançados chocavam-se contra a bancada, provocando altos estrondos.

— Aqui está ficando perigoso. - A curandeira concluiu, alarmada. - Melhor levar você para um lugar seguro. - Decidiu. - Charle, leve a Lucy-san para o segundo andar. - Pediu, voltando-se para a exceed branca.

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— Ok. - Mal-humorada como sempre, a gatinha concordou de pronto.

— Espere, Wendy! - Lucy pediu, assim que sentiu a felina agarrar as costas de suas vestes. - Você não tinha algo para me dizer? - Lembrou, fazendo a garota corar, desconcertada.

— Depois conversamos. - Respondeu. - Vou tentar acalmar a confusão, antes que os feridos alcancem um número maior que a minha magia de cura possa suportar. - Explicou.

— Certo. - Heartfilia concordou, em seguida, sendo imediatamente transportada em direção ao piso superior.

Assim que sobrevoaram as grades de proteção do segundo andar, Charle aterrissou Lucy cuidadosamente no assoalho. A loira agradeceu o favor, vendo a exceed logo depois retornar ao térreo, para auxiliar Wendy em sua difícil tarefa.

A jovem soltou um riso pelo nariz, enquanto debruçava-se no corrimão. Estava realmente apiedada da pobre dragon slayer celeste. Ali de cima, a maga estelar tinha uma visão ampla da rinha que tomava conta do andar inferior. Certamente, não seria nada fácil conter os baderneiros. Não quando uma Erza furiosa, por finalmente ter sido atingida, caminhava decidida em direção ao núcleo do furdunço, com uma aura assassina emanando para todos os lados.

— Não é muito seguro ficar aí. - Uma voz feminina informou, em tom de alerta. - As vezes, alguns idiotas são estúpidos o bastante para acertar a grade.

Lucy endireitou o corpo e virou-se, buscando a pessoa que proferira o aviso. Deparou-se com Evergreen, há uns bons metros de distância, ninando Egeo, que aparentemente estava bem incomodado com a barulheira.

— Evergreen! - Exclamou, correndo em direção a maga. - Faz um bom tempo que não te vejo na guilda. - Comentou.

— Eu busco aparecer em momentos mais calmos. E quando venho, quase sempre fico aqui em cima. - Respondeu a mulher, não cessando de balançar o pequeno bebê. - Por mais que eu sinta falta do ambiente, não tenho certeza se é seguro para o Ege² — Explicou.

— Entendo exatamente o porquê. - Falou a garota, complacente.

Enquanto a maga de cabelos castanhos lutava para acalmar a pobre criança, Lucy concentrou-se em observá-los. Egeo já havia completado três meses de vida, sendo bem gradinho para a idade.

Ao contrário do que Mirajane temia - e confessara para a loira, recentemente -, o filho de Ever e Elfman era incrivelmente fofo. Os grandes olhos, embora ainda fossem enevoados devido a tenra idade, davam sinais de que assumiriam a mesma cor azul intensa característica da Família Strauss. Por sua vez, os ralos cabelos eram tomados por nuances douradas, tal como os fios de sua mãe.

— Ele parece bem assustado. - Observou a loira, reparando nas grossas lágrimas que escorriam pelo rostinho da criança.

— Não acho que seja apenas susto. Ele está habituado ao ambiente barulhento. - Contou Ever. - Também não é fome, já que ele acabou de mamar. - Descartou. - Ele deve estar com cólica. - Concluiu, aflita.

A maga estelar corou, levemente comovida. Era impressionante a forma como Ever se afligia pela dor de seu filho.

— Mães são mesmo incríveis… - Deixou escapar, levemente hipnotizada.

— O que disse? - Inquiriu a mulher.

— Nada! - Constrangida, a loira esganiçou.

Mais alguns minutos se passaram, onde Ever insistia em balançar o pobre Egeo, que seguia chorando sem trégua, e Lucy apenas observava, encostada em uma mesa, sentindo-se levemente chateada por não poder fazer nada.

— Você pode segurá-lo para mim? - Ever pediu, repentinamente, quase entrando em desespero.

— Heim? - A loira sobressaltou-se, surpresa.

— Ele não se acalma de jeito nenhum! - Respondeu a mulher. - Acho melhor esquentar uma bolsa térmica, talvez alivie a cólica. - Explicou. - Mas eu não posso levá-lo até a cozinha comigo, não com essa confusão lá em baixo. - Emendou.

— Hmm… - Sem saber como agir, a loira murmurou. - Ok! - Assentiu, aproximando-se.

— Deve ter alguma bolsa térmica na enfermaria. - Supôs a maga. - Eu vou lá pegar, e depois desço para esquentar. - Avisou, entregando, com cuidado, a criança para Heartfilia, que o recebeu, totalmente rígida.

Evergreen estranhou o receio da companheira de guilda. Afinal, Lucy já havia segurado Egeo algumas vezes. Entretanto, embora estivesse curiosa com a situação, a ponto de sentir a língua coçar para perguntar o motivo do desconforto aparente da colega, a pressa para atender as necessidades de seu pequeno a impediu de seguir em frente.

— Certo, eu já volto! - Garantiu, guardando o assunto em um canto afastado de sua mente, para em seguida sumir por um dos corredores.

Lucy estremeceu, aturdida. Estava completamente tomada pelo nervosismo. Aquela era a primeira vez que pegava um bebê no colo, desde que descobrira que seria mãe. A constatação desse fato fazia com que um frio percorresse sua espinha. Em menos de sete meses, seria ela a enfrentar aquela situação. E isso era, no mínimo, apavorante.

— Não chora! - Pediu, sentindo os olhos arderem. Se o bebê não se acalmasse logo, ela sentia que acabaria chorando junto com ele, graças aos seus hormônios loucos de gestante. - Shhh, você vai ficar bem! - Encorajou, ninando-o de forma desajeitada.

Contudo, a criança seguia gritando. Os olhos anilados jaziam ressentidos, e expeliam lágrimas sem parar. Os bracinhos gorduchos agitavam-se, em busca de alívio.

— Ever, ele está chorando mais! - Gritou, desesperada. Contudo, não obteve resposta.

Desorientada, seguiu balançando, desordenadamente, a pobre criança.

— Aguenta só mais um pouquinho, Ege. - Murmurou, acalentando o bebê. - Sua mamãe já vai voltar, e logo essa dor vai passar. - Garantiu, sentindo as próprias bochechas umedecerem. Ótimo, ela realmente estava chorando. Patético.

A loira estava tão concentrada em sua tentativa falha de acalmar a criança, que mal percebera que os ruídos, provenientes da briga que se desenrolava no andar de baixo, haviam diminuído drasticamente há algum tempo. Da mesma forma, não reparou na aproximação de mais uma pessoa, que avançava animadamente em sua direção.

— Lucy, finalmente achei você! - Natsu gritou, aliviado, correndo feito um furacão em direção a parceira.

Distraído, como sempre, ignorou completamente o clima do local, seguindo tagarelando desenfreadamente:

— Eu fiquei preocupado, achei que pudesse ter sido esmagada por alguma mes… - Começou a narrar, interrompendo-se bruscamente ao assimilar a imagem da parceira com um bebê no colo.

Heartfilia o encarou, o desespero estampado no semblante. Todavia, o mago seguiu congelado no próprio lugar, atarantado com a visão a sua frente. Naquele instante, ele sentiu como se estivesse recebendo uma prévia do que viveria dentro de poucos meses. E isso era perturbador o suficiente para trazer de volta todas as dúvidas e incertezas que ele vinha enfrentando nos últimos dias.

— Algum problema? - Esforçando-se para sair de seu transe, o dragon slayer perguntou, caminhando até a companheira.

— Ele não para de chorar. - A jovem explicou, constrangida. Esperta como era, Lucy havia captado com facilidade a mudança de comportamento de Dragneel e o motivo que a ensejara. - A Ever disse que é cólica. - Completou, evitando os pensamentos vergonhosos.

— E onde ela está? - Salamander indagou, parando em frente a maga estelar, desconfortável. A visão do pequeno bebê esgoelando ressentido era de partir o coração.

— Foi buscar uma bolsa térmica. - Respondeu, sem perceber que agitava a criança com força exagerada.

— Bolsa térmica? - O rapaz franziu o cenho. - Para quê? - Indagou, confuso.

Lucy rolou os olhos para cima. A ignorância do mago do fogo para alguns assuntos corriqueiros ainda a impressionava.

— Para colocar na barriguinha dele, Natsu! - Explicou irritada. - Para ver se a dor alivia um pouco. - Emendou.

— Ah! - Murmurou o dragon slayer, que seguiu observando a loira em sua vã tentativa de sossegar a criança.

Sem entender bem o motivo, sentia uma certa aflição crescer em seu interior. Uma cena tão banal, como aquela, começava a despertar nele sensações completamente desconhecidas. E isso o assustava um pouco.

— Me dê! - Sem conseguir permanecer inerte, estendeu os braços em direção a maga.

— O quê? - Inquiriu ela, sem saber ao certo a que o dragon slayer se referia.

— O Ege. - Especificou. - Me entregue o Ege. - Completou.

A loira encarou o parceiro, desconfiada. Não era segredo o quanto Salamander era desastrado. E entregar a ele um ser tão frágil quanto um bebê, poderia ser considerado um ato quase irresponsável.

— Anda logo, Lucy! - Insistiu, vendo a insegurança da maga estelar. - Eu não vou parti-lo ao meio. - Garantiu.

— Natsu… - Murmurou, incerta. - Por favor, tenha cuidado. - Pediu, sem, todavia, fazer mensão de entregar a criança. O mago do fogo revirou os olhos.

— Dá logo ele! - Exclamou, com cuidado, passando os braços em torno do pequeno corpinho.

Heartfilia observou, um tanto surpresa, o rapaz suspender cuidadosamente o bebê, aninhando-o nos braços fortes em seguida. Porém, a mudança não passou batida pelo pequeno, que protestou chorando ainda mais.

— Melhor me devolver! - Decidiu a loira, estendendo os braços para pegar a criança novamente.

— Espera. - Natsu pediu.

Temerosa, a loira cruzou os braços, fitando o companheiro de time, e quase caiu para trás quando percebeu que ele liberava um de seus braços, passando a sustentar Egeo apenas com o outro.

— Natsu!!! - Exclamou, alarmada. - O que pensa que está fazendo? - Inquiriu.

— Me deixe tentar uma coisa. - Respondeu ele, simplesmente.

Contrariada, a loira seguiu observando, piscando confusa ao perceber que o mago posava a mão livre sobre o ventre da criança. Sem entender, encarou-os por alguns momentos, até perceber, completamente surpresa, que o choro de Egeo diminuia gradualmente.

— O que você…? - Começou, curiosa, atentando logo em seguida para o que acabara de ocorrer. - Você aqueceu a mão! - Constatou. Natsu apenas assentiu, confirmando.

Admirada, Lucy seguiu contemplando a cena. Egeo cessara completamente de chorar, e fitava, satisfeito, o rosto de quem havia lhe oferecido alívio. Natsu, por sua vez, balançava levemente os braços, sem olvidar de sua magia, concentrado em não esquentar demais a pele e acabar queimando a criança por acidente.

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— Isso foi… - A maga retomou a palavra. - Incrível. - Admitiu, enlevada com a visão. Afinal, Natsu não era assim tão alheio ao que ocorria a sua volta.

A maga estava tão encantada pelo vislumbre de um Natsu tão cuidadoso, que mal percebera o retorno de Evergreen. Esta, por sua vez, petrificara por um instante, apavorada com a visão de seu pequeno e frágil bebê sob os cuidados do desajeitado jovem de cabelos róseos. Seu receio era tanto, que fora aproximando-se do trio cuidadosamente, temendo que qualquer movimento brusco pudesse assustar o dragon slayer a ponto de fazer com que ele largasse sua criança.

— Oi, Evergreen! - Reparando a aproximação da mulher de cabelos castanhos, Natsu saudou, fazendo com que ela sobressaltasse.

A maga de óculos meneou a cabeça negativamente, desaprovando a própria atitude. Óbvio que Natsu a perceberia. Afinal, seus sentidos eram afiadíssimos.

— Como vai, Natsu? - Perguntou, educadamente. Porém, sem dar chance do rapaz responder, seguiu falando. - O que está fazendo? - Externou sua curiosidade, ao ver a mão do mago descansando na barriguinha de seu filho.

— Quando a Lucy me falou que você foi buscar uma bolsa térmica para aliviar a dor de Ege, eu pensei em tentar o mesmo com a minha magia, pois ele estava chorando muito. - Explicou.

Ever piscou, perplexa.

— Impressionante. - Elogiou, afagando a cabecinha da criança, que estava tão confortável no colo aquecido de Dragneel que nem se importara com a chegada da mãe. - Será que você pode continuar fazendo isso, enquanto eu desço para esquentar a bolsa? - Pediu.

— Ah, não precisa descer. - Disse o rapaz.

Antes que pudesse questionar a razão, o mago do fogo retirou a mão que repousava sobre o bebê - ocasionando um resmungo de protesto nele - e pegou a bolsa das mãos da mulher de cabelos castanhos, colocando-a aquecida logo em seguida sobre o ventre da criança.

— Sua magia realmente tem muitas utilidades domésticas. - Comentou Evergreen, ao vê-lo amparar Egeo, dessa vez com ambos os braços.

— Não sei se isso é um elogio. - Disparou Natsu, arrancando risadas das duas mulheres. - Eu posso segurá-lo mais um pouco? - Mudando o assunto, pediu, com os olhos brilhando em expectativa.

Ever sorriu, amolecida. O marmanjo bem parecia uma criança, quando pedia as coisas daquela maneira.

— Claro. - Concordou. Embora ainda se preocupasse por deixar sua preciosa e linda criança nas mãos de Salamander, não podia negar-lhe isso. Não quando ele havia lhe prestado um grande favor, ao aliviar a dor de seu filho. - É bom que eu descanso um pouco. - Comemorou, tomando lugar em uma das mesas dispostas por ali.

Natsu e Lucy a imitaram. Puxando cada um uma cadeira, daquela mesma mesa, acomodaram-se de frente para a mulher, que observava muito atenta o seu pequeno. A forma que ele ficava a vontade com o mago do fogo a impressionava um pouco. Afinal, Egeo era um tanto manhoso.

Outro detalhe que não passara despercebido pela mulher de óculos, era a curiosidade com que os dois magos encaravam seu filho. Eles mexiam nas mãozinhas, nos pés, perscrutavam tudo minuciosamente como se pudessem aprender alguma coisa com aquela pequena criança. E isso a incomodava, um pouco. Não pela estranhez da atitude, mas por sentir que estava deixando alguma coisa passar. Alguma coisa importante.

— Eu acho que a falta de sono deve estar mexendo com a minha cabeça. — Concluiu mentalmente, logo após ter a ligeira impressão de que Natsu e Lucy trocaram um olhar um tanto apaixonado.

Não demorou muito para que Ege dormisse, ainda nos braços do rapaz. Cuidadosamente, Salamander devolveu a criança para a mãe, e logo em seguida foi puxado por Heartfilia para que voltassem ao andar inferior.

— Tem certeza que quer descer? - Indagou, preocupado, enquando descia os degraus da escada de madeira.

— Sim. - A jovem respondeu. - Não vai ter graça se eu ficar o tempo todo separada do pessoal. - Explicou.

— Então se proteja, caso ache que alguma briga vá acontecer. - Orientou. - Vou pedir para o Happy te trazer para cima ao menor sinal de confusão. - Acrescentou.

Lucy soltou uma risadinha, fazendo com que Dragneel arqueasse as sobrancelhas, de forma inquisitiva. Contendo-se, a jovem apenas meneou a cabeça negativamente, indicando que não era nada.

O fato é que a loira ainda não estava habituada a mudança de comportamento que Natsu sofrera. Toda aquela preocupação, em tempo integral, não parecia combinar com a personalidade despreocupada que era praticamente sua marca registrada.

Não que o dragon slayer não se preocupasse com ela antes. Pelo contrário, a cuidado que ele tinha com seus amigos era uma de suas características mais admiráveis. Mas aquela atenção que estava recebendo era diferenciada, e ainda causava certo espanto.

Assim que alcançaram o térreo, os dois magos caminhavam de volta para o balcão, unindo-se novamente aos seus companheiros de equipe, que farreavam eufóricos. A festa parecia estar mais animada que nunca, com música alta tocando e bebidas de todos os tipos sendo oferecidas.

Pelo salão, os membros da guilda e os visitantes seguiam interagindo animados. Algumas pessoas com o discernimento alterado pelo álcool, começaram a dançar, aqui e ali, com destaque para Max, que remexia-se no ritmo da música, tendo uma vassoura como par.

Os fotógrafos seguiam capturando cada detalhe, torcendo para que uma nova confusão ou um furo de reportagem aparecesse.

Como se já não houvesse distração o bastante, Cana, que certamente era a mais alcoolizada da festa, mas não a menos sóbria, decidira organizar uma apresentação de dança sensual sobre a bancada do bar.

Enquanto Mirajane ralhava com a cartomante, pedindo que ela usasse o palco e não o balcão, a dupla Loxar, completamente alterada, juntou-se a filha de Gildarts, fazendo com que a albina desistisse de tirá-las dali.

— Vamos lá, garotas! - Gritava a morena, agitando para o alto as duas garrafas de bebida que tinha em mãos.

— Uhuuuuuuul! - Engrolou Meldy, retirando a capa vermelha que habitualmente usava e jogando para a pequena plateia que se formava por ali.

— Mel-chan está se despindo como o Gray-sama! - Gritou Juvia, entre risadas histéricas, tão bêbada mal conseguia dançar.

— Hei, Juvia-chan! - Chamou a rosada, irritada. - Não me compare com aquele idiota! Censurou, em alto e bom som.

— Quem é o idiota? - Gray murmurou, com uma gota na cabeça. Afinal, não estava muito inclinado a comprar confusão com uma jovem ébria.

Lucy gargalhou, com vontade. Ainda julgava incrível a forma que toda aquela bagunça fazia com que se sentisse em casa.

— Não tem graça. - Fullbuster, interpretando errado a razão das risadas de Heartfilia, resmungou.

— Lucy parece tão feliz. - Uma Erza, estranhamente depressiva, comentou para uma jarra que segurava na mão direita, mostrando que começava a desviar-se de seu juizo perfeito. - Eu também queria estar feliz. - Contou para o objeto de vidro, encarando-o como se ele fosse o melhor confidente do mundo. - Eu tembém queria dançar no balcão, mas o Mystogan não está aqui para me ver. - Lamentou, caindo no choro.

— Erza-san… - Disse Wendy, sorrindo constrangida, espantada com toda aquela aura deprimente.

— Eu queria ver as cerejeiras junto com ele!!! - Gritou, abraçando a pequena dragon slayer e pranteando copiosamente. Atordoada, a garota apenas dava tapinhas do consolo no topo da cabeleira ruiva.

— Erza tá doidona. - Natsu concluiu.

— Aye. - Happy, que roía tranquilamente um grande peixe, concordou.

O grande relógio pendurado na parede do bar indicava que haviam acabado de passar das dez da noite, o que fazia com que Lucy se perguntasse se todas aquelas pessoas realmente conseguiriam levantar-se na manhã seguinte, para comparecer ao festival. Afinal, ainda estava relativamente cedo para que todos estivessem tão alterados. E todos sabiam que as farras da Fairy Tail costumavam virar a madrugada.

Certamente, seria esse o caso do Pré-Hanami, se algo completamente fora do comum não tivesse acontecido naquele instante.

Um grupo de forasteiros, uniformizados e organizados, adentrou o salão da Guilda, desviando-se com cuidado das eufóricas pessoas alcoolizadas.

Se fosse considerado apenas o estado precário da maioria dos que se encontravam ali, eles poderiam facilmente ter passado despercebidos, mesmo com toda a atenção que chamavam. Entretanto, em meio a tantos bêbados, pessoas perfeitamente sóbrias encaravam, curiosas e espantadas o avançar do grupo recém chegado.

— Os Cavaleiros Rúnicos? - Wendy, que havia acabado de acomodar, com a ajuda de Charle, Erza de volta em uma banqueta, perguntou, externando os pensamentos dos demais. O que a incomodava mais era reconhecer Doranbolt e Lahar a frente dos guardas.

— O que eles estão fazendo aqui? - Mira indagou, baixinho, aproximando-se do “Time mais forte”.

Do outro lado do Salão, Levy e Gajeel encaravam a unidade do conselho com a mesma curiosidade. Até mesmo Elfmam e Evergreen - que havia deixado Egeo dormindo no andar de cima - observavam a cena.

— Lucy Heartfilia! - Chamou Doranbolt. Sua expressão era de profundo desagrado.

A maga estelar sentiu cada pelo de seu corpo arrepiar-se ao ouvir seu nome sendo pronunciado de forma tão rígida. Mesmo temerosa, não pôde deixar de perceber que Natsu havia assumido uma postura defessiva e Erza, mesmo ébria, estreitava os olhos de forma ameaçadora. Gray ostentava um semblante de poucos amigos.

Receando que uma confusão com os funcionários do Conselho mágico começasse, respirou fundo e respondeu:

— Sim? - Sem timbre denunciava puro nervosismo.

Doranbolt abaixou a cabeça por um instante, mas ergueu-a novamente com um olhar incerto. Entretanto, não havia falhas em sua voz, quando fez o anúncio aterrador, que chocou todos os presentes.

— Nós viemos cumprir um mandado de prisão decretado contra você. - Avisou, vendo os grandes olhos castanhos da maga arregalarem-se ainda mais. - Lucy Heartfilia, você está presa. - Proclamou.

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¹ A visão da Charle mencionada, aconteceu no capítulo 20 da fanfic Vínculo Mágico, sendo revelada no capítulo 21.

² Ege: Apelido fofo do Egeo. :3