Consequências do Amor

Capítulo 21 - Um Arrependimento, Uma Suspeita


"Sigo buscando el por qué
Te fuiste de aquí
Dejando un abismo entre tú y yo
No te he podido olvidar, no se si a ti
Te pase lo mismo

Toda mi vida cambió
Me falta tu amor
Siento que pierdo la razón
Y hoy te he vuelto a llorar
Porque sin ti no aprendo a vivir"

* Vuelve ( Reik )

NARRADORA

Angie e Brenda, apesar de serem muito boas amigas e de se darem muito bem, tinham uma particularidade: Ao contrário de Angie, Brenda preferia acordar cedo, para ela o melhor momento do dia era o horário da manhã, então fazia questão de estar de pé pontualmente as seis da manhã. Enquanto Angie não acordava antes das nove geralmente.

Mas naquela manhã, ou melhor, madrugada, Angie não conseguiu acordar tarde, eram apenas três e meia e ela já estava de pé, correndo em direção ao banheiro.

Logo que abriu a porta do pequeno cômodo, se debruçou sobre a privada e vomitou o jantar da noite passada. Ela sabia que não deveria ter comido o ensopado de frutos do mar que a amiga preparara na noite anterior, sabia que seu estômago sempre fora sensívelàquele tipo de comida. Mas fora teimosa o suficiente para fazer tudo ao contrário do que seu cérebro a dizia.

Quando sentiu que já não tinha mais nada em seu estômago, deu descarga e se levantou.

Ela andou até o espelho e olhou seu reflexo, que não era nada bom. Seus olhos estavam borrados de rímel. Ela sabia que fazia mal dormir com tanta maquiagem no rosto, mas sentia-se tão cansada na noite anterior que não deu a mínima para procurar seu demaquilante. Seu rosto apresentava um tom amarelado, nada normal, que constrastava com o suor espalhado sobre sua pele.

Aquela não era ela mesma. Aquela era o reflexo do que Angeles Carrara fora um dia. Onde estava a mulher alegre e sorridente, que sempre tentava achar um lado bom nas coisas por mais difícil que a situação fosse?

Ela estava feliz em retornar à Paris, afinal além de a cidade ser linda, ela podia ficar perto da melhor amiga e continuar trabalhando com música, mas faltava algo… Mas ela não podia se dar ao luxo de pensar nele. Ela estava se saindo tão bem em afasta-lo de seus pensamentos. Mas claro que ela tinha seus momentos de fraqueza, onde a dor e a saudade eram maior que tudo e ela se permitia reviver mentalmente os bons momentos que passara ao lado de German Castillo.

Angie abriu a torneira e lavou o rosto, antes de voltar para seu quarto e deitar-se.

Tentou dormir, mas não obteve sucesso. Virou-se e deitou-se em vários ângulos diferentes, mas mesmo assim o sono não veio.

Se debruçou sobre o criado mudo e pegou seu celular e seu fone de ouvido. Ela conectou o fone ao aparelho, e logo acendeu a tela.

Suspirou. German havia mandado uma mensagem de voz. Desde sua volta a França, ele não havia tentado de nenhuma maneira contata-la, então por quê agora? Ela estava decidida a não escutar a mensagem. Se achava covarde por aquilo, mas ouvir a voz de German era demais para ela. Já era difícil ignorar os telefonemas de sua mãe e Antônio, agora teria que ignorar a mensagem de German também? Ela voltara para França com o propósito de se reencontrar. Sua vida se tornara uma confusão na qual ela se sentia perdida e voltar a morar em Paris deu-a o escape de que precisava.

A saudade estava matando-a, faziam dois meses completos que saira novamente de Buenos Aires para fixar estadia em Paris. Dois longos e monótonos meses.

O motivo de ter regressado a cidade do amor, era tentar se reconstruir, deixar os machucados e as mentiras de lado, mas ainda assim a saudade do que ficara para trás não diminuia, só crescia com o passar do tempo.

Seus dias se resumiam em apenas uma coisa: trabalho. Era mais fácil se distrair se tivesse sua atenção totalmente focada em algo.

A loira prendeu seu olhar por alguns minutos no celular, olhando a notificação da mensagem piscando na tela. E simplesmente ignorou a mensagem. Ainda não se sentia pronta para ouvir ou ver German Castillo. Não se recuperara de tudo que acontecera, seu coração precisava de mais tempo para se curar. Ela precisava de mais tempo, precisava ficar sozinha e longe de tudo que a magoou, era a melhor tentativa de recuperação para um coração quebrado.

(…)

ANGIE

Brenda estava sentada no sofá tomando uma xícara de café, enquanto mantinha o olhar concentrado em seu notebook quando eu adentrei o cômodo.

Percebendo minha presença, falou sorridente:

— Bom dia, Angie! — Disse alegre. Era incrível como Brenda sempre conseguia estar de bem com a vida. — Dormiu bem?

— Não muito. — Confessei. — A insônia me pegou de jeito.

E era verdade, ultimamente eu vinha tendo problemas para dormir à noite.

Brenda desviou o olhar do notebook e olhou para mim. Logo que seus olhos verdes se encontraram com os meus, o sorriso que ela exibia sumiu de seu rosto, sendo substituído por uma expressão preocupada.

— Angie, você tem certeza de que está bem? — Perguntou, o cenho franzido.

— Claro… e por que não estaria? — Disfarcei. Eu sabia que minha aparência não era das melhores, mas eu não devia estar tão péssima assim para abalar o estado de ânimo de Brenda.

Minha amiga me lançou um olhar duvidoso.

Encolhi os ombros.

— Brenda, relaxa. Estou bem. — Tentei tranquiliza-la, mas de nada adiantou já que sua expressão preocupada pareceu se aprofundar ainda mais.

— Você está pálida. — Apontou, séria. — Isso não é sinônimo de saúde para mim e para você?

Demorei alguns segundos para responder. Era difícil pensar em uma resposta convincente com minha amiga me fitando seriamente, quase brava.

— Foi só um mal-estar. — Contei esboçando o melhor sorriso que consegui. — Não é nada demais.

Brenda balançou a cabeça em negativa, constatando:

— Mas você nunca fica doente.

— Claro que fico! Todo mundo fica doente de vez em quando, Brenda. Eu não sou imune. — Expliquei tentando soar o mais convincente possível.

— Sei… — Duvidou, me observando como se soubesse todos os segredos da minha alma. — Então… quando foi a última vez que você ficou resfriada?

— É… foi… — Começei — Duas semanas atrás. — Menti torcendo para que minha amiga acreditasse.

— Sei…, mas eu não me lembro de te ver espirrando uma vez sequer.

Droga! O quê eu iria responder?

— Foi um resfriado bem fraco.

Parabéns para mim. Eu deveria ganhar o prêmio de " A Melhor Desculpa Esfarrapada do Ano".

Brenda bufou como se estivesse falando com uma criança teimosa. Mas eu não era uma e muito menos teimosa. Tá, talvez eu fosse teimosa, mas só um pouquinho.

— Pare de mentir para mim, Angeles! — Pediu, parecendo realmente chateada comigo. Ela só usava meu nome de batismo quando estava brava ou chateada comigo. — Nem você mesma acredita no que acabou de falar.

Abri a boca para tentar me explicar, mas de repente senti meu estômago embrulhar e corri para o banheiro.

(…)

NARRADORA

German fechou seu notebook com um pouco mais de força do que era necessário para executar a simples tarefa.

Olhou para o relógio que marcava quatro horas da tarde e suspirou. Trabalhara o dia inteiro, precisava relaxar os músculos tensos.

Decidiu então que iria correr.

Minutos depois, ele já havia trocado a roupa social por uma mais confortável e adepta a situação. E saiu para correr.

German claramente não fazia o tipo de pessoa que saía para correr ouvindo música. Se alguém o sugerisse a idéia de correr para pensar ou se distrair, ele simplesmente não aceitaria a sugestão, mas agora correr todas as tardes virara uma rotina da qual ele seguia a risca. A princípio ele tentara esquecer os problemas apenas aumentando sua carga horária de trabalho, mas inesperadamente, trabalhar de modo exaustivo não era suficiente. Não mais. Então passou a correr para aliviar seus pensamentos conturbados.

Correu por exatamente uma hora seguida, parando apenas uma vez para amarrar o cadarço de um dos tênis de corrida e outra para comprar outra garrafa de água.

Quando finalmente parara de correr para descansar um pouco, percebeu que estava em frente a casa dela. Em frente a casa da mulher que ele nunca deveria ter deixado partir.

Fora um completo covarde e idiota e tinha noção disso. Dias depois da partida dela, ele já percebera o tamanho da idiotice que cometera. Pensou em contata-la, mas sabia que fazia mal à ela. Angeles merecia alguém que não a tivesse ferido tanto quanto ele fez. Merecia alguém melhor do que ele se julgava ser. Sabia que fazia mal à ela mas ainda a amava e precisava dela. Ainda desejava Angie com cada célula de seu corpo, mas não podia ser egoísta desse jeito.

Passou praticamente os dois meses inteiros sem tentar qualquer tipo de contato, mas no dia anterior ele simplesmente não aguentara mais de saudade e enviou-a uma mensagem de voz, expressando tudo o que sentia. Parecia hipócrita depois de tudo o que ele lhedissera, enviar uma mensagem falando o quão miserável e arrependido se sentia.

E como se não bastasse naquele dia completavam dois meses desde sua partida. Dois meses que pareciam nunca chegar ao fim.

Suspirou, massageando a têmpora dolorida. Decidiu então que já era hora de voltar para casa. Estava exausto.

Logo que chegou em casa, encontrou Violetta na sala analisando algumas partituras.

Percebendo a presença do pai, a garota levantou os olhos das folhas em suas mãos e o fitou.

— Boa noite, papai.

— Boa noite, filha. — Respondeu recostando-se no sofá.

— Tudo bem? — A garota quis saber.

As olheiras profundas do pai pareceram se aprofundar mais ainda com a pergunta.

— Sim. — Respondeu metódico, a postura rígida. Acostumara-se a dar a mesma resposta sempre.

A garota sabia que era mentira, mas se o pai achava que era melhor assim, tudo bem. Por trás daquela fachada impermeável ela sabia que se escondia um homem ferido, que sofria com o peso de suas atitudes e escolhas. Ela até pensou em convencer Angie a ficar, mas a tia precisava de tempo para raciocinar, precisava de um tempo para si mesma para poder lidar com suas próprias feridas.

Por mais que German fosse um dos motivos da partida de Angie e tivesse que lidar com as consequências, era difícil para Violetta ver o sofrimento do homem que lhe dera a vida. Por muito tempo ele fora a sua única família e ela a dele.

Violetta sorriu para o pai e ele retribuiu com o melhor sorriso que conseguiu forçar.

— Vai jantar com a gente hoje? — Vilu perguntou na expectativa, pois ultimamente o pai vinha se ausentando dos jantares, preferia comer no escritório enquanto trabalhava.

— Hoje não, filha. — Ele não sentia o menor indício de fome. Seu corpo precisava de algo mais forte como uma taça de vinho por exemplo, mas que exemplo de pai ele daria a filha se lhe respondesse isso?

German caminhou até a filha e depositou um beijo casto em sua cabeça e sussurrou:

— Eu te amo.

— Também te amo. — Vilu respondeu carinhosa.

Dito isso, o moreno subiu e dirigiu-se ao seu quarto. Pegou uma muda de roupa e encaminhou-se ao banheiro para tomar uma ducha.

Cerca de vinte minutos depois, ele já se encontrava com a segunda taça de vinho em mãos. Geralmente, ele não passava da primeira taça, mas hoje completava mais um mês da partida de Angie e ele se achou digno de servir-se de mais um pouco da bebida.

Nunca fora um homem que descontava os problemas e frustrações na bebida, mas a sensação de queimação do líquido âmbar era de certa forma reconfortante.

Trabalhou por mais algumas horas e foi se deitar.

Quando foi apagar a luz, a foto no porta-retrato que Vilu tirara anos atrás, chamou sua atenção. Um German, Vilu e Angie sorridentes o encaravam felizes. Pareciam uma família feliz. E eram, mas ele estragara tudo ao envolver-se com Esmeralda, que apenas oenganara, não passava de uma atriz que apenas executara o seu trabalho com perfeição. Ele caiu no teatro dela, tudo não passava de fachada e fingimento. Como um dia ele pode acha-la parecida com Maria? E mais tarde se envolvera com Priscilla. Como ele não pode ver o quão superficial e vingativa ela era? Como não percebeu a maneira que a mesma tratava a própria filha? E saber que estava tão preocupado em achar uma mãe para Violetta e tão amedrontado pela solidão, que tomara as piores escolhas de sua vida. Fora tão impulsivo sendo que a escolha perfeita mantivera-se por tanto tempo perto. E agora que ela estava longe era como se uma parte dele tivesse partido junto.

Sentiu algo molhado escorrer pelo rosto. Lágrimas. Mal percebera que as derramara.

Soltou uma risada amarga.

O quão patético ele soava? Sabia que merecia tudo o que sentia no momento. Só estava vivendo o que procurara. Ele não conseguia de maneira alguma esquecer a expressão machucada no rosto de Angie. Nem toda a bebida do mundo podia fazê-lo esquecer a dor que viu nos olhos dela.

Não se considerava um homem sensível, mas Angie exercia um poder tão grande sobre ele, que seus sentimentos vinham á tona com uma facilidade surpreendente.

Encarou a foto por mais alguns segundos, as mãos fechadas em punho.

Respirou fundo, limpou o rosto molhado com as palmas das mãos e deitou-se.

Não demorou muito para pegar no sono. Não sabia se a sonolência se devia ao trabalho, ao desgaste emocional que sentia, ou as boas taças de vinho que ele tomara. Talvez uma mistura dos três.

(…)

ANGIE

— Tem certeza de que não quer ir ao médico? — Brenda perguntou, realmente preocupada.

— Brenda, — Segurei suas mãos entre as minhas — eu agradeço muito sua preocupação. De verdade. Mas só foi um mal-estar, eu te garanto que não passa disso.

Minha amiga olhou para mim em dúvida, procurando veracidade em minhas palavras.

Eu não queria que Brenda se preocupasse comigo, tudo não passava de um mal-estar repentino. No máximo eu contraira uma virose, nada demais. Ela já estava preocupada comigo antes, mas depois de eu correr para o banheiro e vomitar outra vez, sua preocupação pareceu triplicar.

— Tem certeza de que vai ficar bem sozinha?

— Tenho sim. — Respondi sorrindo. — Pode ir tranquila.

Brenda tinha combinado de ir visitar seus pais, mas claramente sentia receio em me deixar sozinha em casa. A visita já estava marcada há alguns dias, eu não queria que Brenda a cancelasse por causa de uma bobeira.

— Promete que se não se sentir bem ou precisar de qualquer coisa vai me ligar? — Pediu séria.

— Prometo. — Respondi prestando continência, o que fez Brenda sorrir e parte da preocupação se esvair de seu rosto.

Nos despedimos e Brenda saiu, mas não sem antes olhar uma última vez para mim, confirmando se eu estava bem.

Me sentia melhor, o enjoo já tinha ido embora.

Decidi terminar de escrever a música que comecei a compor dias atrás. Eu era uma compositora do You-Mix e meu trabalho era escrever músicas para os artistas deles. Era um bom trabalho, eu me sentia próxima da música e além de tudo podia ficar próxima de Brenda, já que trabalhávamos juntas. Enquanto eu compunha, ela cuidava da carreira dos artistas e para que tudo ocorresse de maneira devida.

Passei as horas seguintes compondo e, quando finalmente terminei a música, me senti sonolenta e acabei dormindo ali mesmo, no sofá.

Acordei com o barulho das chaves destrancando a porta.

Me sentei e passei as mãos pelos meus cabelos, numa tentativa falha de os arrumar.

— Acabou de acordar? — Brenda perguntou sorrindo, de pé ao meu lado.

— Sim, acho que ainda não me acostumei totalmente ao fuso. — Respondi ainda um pouco sonolenta.

Brenda riu.

— Está se sentindo melhor agora? — Quis saber.

— Muito melhor. — Afirmei sorrindo. — Falando em fuso… que horas são?

— Três e nove. — Falou após checar seu relógio de pulso.

— Já? — Duvidei. Eu dormira por aproximadamente quatro horas. Ultimamente eu vinha me sentindo um pouco mais cansada que o normal, mas pensei que provavelmente isso estava relacionado com a minha mudança de horário devido a minha insônia frequente.

— Já. A senhorita tem dormido bastante durante a tarde, não acha? — Brincou.

Dei de ombros, dando risada.

— Acho que vou tomar um banho. — Disse e me pus de pé.

Logo que fiquei em pé, senti uma tontura e tive de me sentar novamente.

— Angie, o que foi? — Perguntou preocupada, sentando-se ao meu lado.

— Foi uma tontura.

— Você almoçou? — Brenda perguntou, seus olhos atentos me observando a procura de uma resposta.

— Não, meu estômago está um pouco embrulhado ainda. — Admiti.

— Angie, você precisa se alimentar direito.

— Eu sei, mas não sinto fome.

Brenda suspirou.

Ficamos alguns minutos em silêncio. Brenda parecia pensativa de repente.

— Angie, posso te perguntar uma coisa? — Pediu, soando quase insegura e incerta. Estranhei. Brenda não costumava agir assim.

— Claro.

— Promete que não vai tirar conclusões precipitadas? — Perguntou apreensiva.

— Prometo. — Disse, curiosa para saber o que é que estava deixando Brenda daquele jeito, fora de seu estado natural.

Ela olhou para mim preocupada e começou:

— Angie, você se lembra quando foi a sua última menstruação?

Por que ela achava que aquela simples pergunta faria com que eu tirasse conclusões precipitadas? Não tinha sentido, ao não ser que… De repente as palavras de Brenda começaram a fazer sentido. Ah não, não podia ser… Eu não podia estar… Senti-me empalidecer de repente.

Fiquei sem reação por alguns segundos. Meu coração batia acelerado.

— Não… não pode ser. — Falei por fim. Eu não podia estar grávida.

— Angie, talvez você esteja certa, mas precisa considerar essa opção. Ultimamente você tem ficado cansada com mais frequência, você vomitou e sentiu enjoos, sentiu tontura, mal-estar, além da palidez. — Constatou.

— Brenda… eu não posso estar grávida. — Disse ainda um pouco trêmula.

— Angie, você tem certeza? — Perguntou preocupada.

Simplesmente não era possível que eu estivesse grávida...

Foi quando as memórias das noites que German e eu passamos juntos inundaram minha mente. Fechei os olhos com força e respirei fundo. Ainda era difícil encarar de frente às memórias dos momentos que eu passara com German, principalmente as referentes a nossa primeira noite juntos. German fora maravilhoso comigo para depois partir meu coração sem piedade. Eu me entreguei de corpo e alma para depois me magoar e ter de lidar com os estilhaços do meu coração quebrado. Outra vez.

Eu lutava comigo mesma para esquecer aquela noite e todos os nossos momentos juntos, mas nunca conseguia. Como eu poderia esquecer?

— Angie? — Brenda me tirou de meus devaneios.

Abri os olhos e a encarei.

Brenda estava certa, eu podia estar realmente grávida. Na última noite que tivemos juntos meu organismo não estava sob o efeito da pílula e German e eu não nos previnimos usando algum outro método. Como isso não havia passado pela minha cabeça? Eu revivera mentalmente essa mesma cena tantas vezes e em nenhuma delas me lembrei que não nos previnimos. Eu que me considerava tão segura e prevenida havia esquecido de algo fundamental.

Eu não pensei em preservativos para evitar uma suposta gravidez. Nem passou pela minha cabeça, já que desde minha adolescência eu tomava pílulas anticoncepcionais devido as minhas fortes cólicas menstruais. Mas agora eu lembrava. Depois do acidente, eu fiquei tão abalada que acabei me esquecendo das pílulas. Como eu pude esquecer de algo tão importante?

Puxei o ar para dentro do peito, sentindo uma lágrima descer pela minha bochecha e logo outras seguiram o exemplo.

— Ah, Angie… — Brenda correu até mim e me abraçou.

Solucei. Se eu realmente estivesse grávida o que eu iria fazer? Era claro que eu já pensara em ter filhos no futuro, mas eu definitivamente não me sentia pronta para assumir uma responsabilidade tão grande quanto ser mãe.

— Angie, fica calma. — Brenda disse, sua voz calma e recofontante como o habitual.

Me afastei do abraço para poder encarar minha amiga.

— E se eu realmente estiver grávida? O que eu vou fazer?

Eu ainda me sentia confusa e perdida em meio a minha vida. Eu precisava de mais tempo para absorver tudo o que ocorreu. Ainda precisava pensar e decidir qual rumo minha vida tomaria.

— Nós ainda não temos certeza se você está grávida, — Começou, enquanto me olhava compreensiva — mas tenho certeza de que você vai dar um jeito. Você é Angeles Carrara, uma mulher forte. Nós somos amigas tempo o suficiente para mim saber que você vai conseguir lidar com o que quer que aconteça. — Ela respirou fundo e continuou: — Mas se você realmente estiver grávida, sem sombra de dúvidas você será uma mãe incrível. Não consigo ver alguém mais amorosa e gentil do que você.

Senti mais algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Me emocionei com as palavras que Brenda me disse. O que eu faria sem ela? Durante esses últimos meses ela foi a responsável por eu ter mantido a lucidez.

Sequei o rosto com as palmas da mão.

— Eu preciso ter certeza primeiro.

— Claro. — Brenda concordou. — Eu vou rapidinho até a farmácia comprar um teste, tudo bem? Mas preciso que você fique o mais calma possível.

Concordei com a cabeça.

Novamente Brenda se preocupou em me deixar sozinha, principalmente por causa do estado emocional no qual eu me encontrava. Mas eu lhe assegurei que iria tentar me acalmar.

Brenda saiu, mesmo ainda estando obviamente preocupada comigo.

Dez minutos mais tarde, Brenda voltou com uma sacolinha azul na mão.

Eu me sentia nervosa, eu prometera a minha amiga que tentaria me acalmar, mas cada minuto que Brenda passou fora parecia uma eternidade. Me sentia nervosa e apreensiva. O clima ao meu redor parecia ter esfriado de repente.

Minha vida ultimamente se tornara incerta, eu precisava e queria ter certeza do que estava acontecendo comigo.

Brenda me entregou a sacolinha e me perguntou se eu precisava de ajuda, mas eu lhe respondi que precisava fazer aquilo sozinha.

Caminhei até o banheiro e fiz o teste.

Segundo as instruções que acompanhavam o teste, eu precisaria esperar três minutos para saber o resultado. Então voltei para sala para esperar. Juro que aqueles foram os três minutos mais difíceis e intermináveis da minha vida.

Passado os três minutos, tomando coragem, encarei o objeto em minhas mãos que definiria o resto de minha vida.

(…)

* TRADUÇÃO

VOLTE

"Sigo procurando o porque
Você fugiu daqui
Deixando um abismo entre você e eu
Eu não pude esquecer, não sei se com você
Acontece o mesmo

Toda minha vida mudou
Me falta teu amor
Sinto que perco a razão
E hoje voltei a chorar
Porque sem você não aprendo a viver"

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