O quarto sombrio só tinha um abajur aceso. O relógio na mesa de cabeceira marcava 3h35m da madrugada. A moça dos cabelos violeta não conseguia dormir por mais que tentasse. Pensamentos ansiosos não a deixavam pregar os olhos. Sentou na beira da cama. Tentar achar o sono não estava funcionando.

Meditação.

Se levantou, sentindo o chão de madeira sob seus pés descalços. Por pouco tempo. Passou a flutuar, sentada na posição de lótus. Fechou os olhos e respirou fundo antes de começar a enunciar seu mantra.

— Azarath, metrion, zinthos... azarath, metrion, zinthos... azarath, metrion... – Seus pensamentos pulsaram novamente, preenchendo a mente que ela tentava esvaziar e fazendo-a cair no chão. – Por Azar!

Não sabia o que estava acontecendo consigo mesma. E a revolta de não saber só piorava isso.

Se levantou do chão e olhou para o espelho na porta de seu armário. Os cabelos estavam abaixo da altura dos ombros. Sua pele continuava acinzentada e sem marcas. Seu chakra imóvel em sua testa. Seu corpo, segundo si mesma, não era nada de especial e não fazia questão de que ele fosse. Usava apenas uma velha camiseta que Garth, o Aqualad, havia abandonado em seu quarto na última vez que estivera ali e suas roupas íntimas.

Não havia nenhuma novidade sobre Ravena.

Enquanto se olhava no espelho se lembrava de como as coisas pareciam mudar, com ela permanecendo para trás.

Richard Grayson, agora não poderia ser chamado de menino prodígio. Em seus 21 anos, agora ele era Asa Noturna. Ainda líder dos titãs. Ainda teimoso. Ainda obcecado. Ainda mascarado. Com a alteração de cabelos mais longos, um novo uniforme e uma nova namorada.

Koryand’r, ainda era a doce Estelar aos 20 anos de idade. Amorosa, cuidadosa, excêntrica, alienígena. Menos ingênua, ainda mais forte, com um uniforme um pouco mais revelador e um novo namorado.

Victor Stone, quase completando 23 anos, continuava sendo o mesmo divertido Cyborgue, preocupado com seu carro, jogando vídeo-games, comendo pizzas e discutindo com Mutano quase toda manhã. Quase toda porque ele não trabalhava somente com os titãs de Jump City. Sempre que podia dava uma mão para os titãs da costa leste, parte disso era culpa de sua namorada alada.

Garfield Logan, bem, ele tinha 20 anos. Ele ainda era irritante. Só não era mais o mais baixo dos titãs. A puberdade uma hora teria de chegar: músculos, barba, cabelo e uma voz mais grossa fazem parte do pacote. Ele tentou fazer o nome “Ferano” pegar. Não rolou. Continuou tentando fazer que a equipe comesse tofu. Não rolou. Tentou fazer sucesso com as mulheres. Bem, algo tinha que dar certo.

E ela, Ravena sem sobrenome, no dia de seu aniversário de 21 anos, ainda vivia trancada em seu quarto, se rendia um pouco mais as suas emoções do que antes, tinha o cabelo alguns centímetros mais longo e havia mudado o uniforme. Ela estava ali, olhando para tudo que acontecera, sabendo que não faltava muito para ela ter de dizer adeus a tudo.

Se sentia vazia.

Em um impulso, decidindo que precisava de mudanças, foi até a gaveta de seu armário. Procurou o objeto sem parar. Achou a tesoura prateada e fechou a gaveta. Olhou-se no espelho novamente. Não pensou duas vezes.

Os cabelos caíram no chão de madeira.

Ravena voltara a usar o cabelo que usava aos 16. Não se arrependia.

Decidiu nem se preocupar com o que estava vestindo. Se teletransportou para o telhado.

O céu estava bem estrelado e a lua estava nova. A noite estava amena, aquele clima nem quente demais, nem fria demais. O barulho das ondas, durante a noite, era mais intenso. Ela contava com tudo aquilo no cenário, com cada um dos elementos. Só não contava com o cheiro de álcool. E o elemento verde.