Estava evidente que Petter Lacun não abriria mão de destruir Hogwarts e, sobretudo, aquele que um dia, talvez, o mais infeliz de sua vida, tirou sua vida de uma vez por todas. Voldemort, além de todos os bruxos, também corria perigo.

Mas, o que não entrava em minha cabeça era como Lacun conseguiria destruir Voldemort. Todos nós, inclusive Dumbledore, sabemos que ele era tão poderoso quanto qualquer outro. Você-Sabe-Quem era quase como uma lenda que se passava de geração em geração. Harry era parte integrante de toda a história e fama em torno do tal. Afinal, ele foi o único que até hoje sobreviveu ao feitiço Avada Kedavra, feitiço mortal e imperdoável.

Durante toda a noite, após conseguirmos chegar com vida à escola, não consegui pregar os olhos. Ron, obviamente, já dormira como uma coruja no alto de uma torre, mas eu não. Petter Lacun não saia dos meus pensamentos. O que ele estava de fato planejando? Seria realmente justo todos morrerem por um ódio acumulado por um fantasma rebelde? Eu jamais conseguiria responder. Jamais.

Lá fora, pelos vitrais do dormitório, a neve caía lentamente. O natal se aproximava e, consequentemente, meu coração ficava mais apertado. Esse ano não conseguiria passar a data com meus pais, o que me deixava ainda mais triste. Minha mãe, de alguns meses até aqui andava indiferente comigo. No meu aniversário, nada recebi. Ah, meu pai me enviou chocolates, mas tomada pela angústia não comi nenhum deles, mesmo sendo o meu favorito.

Viver em Hogwarts, ser uma bruxa aplicada e, acima de tudo, do bem, me deixava feliz, me tornava completa. Mas, ao mesmo tempo, desejava em silêncio ser um trouxa e esquecer essa ideia de voar em vassouras e ser ameaçada constantemente por vilões bem piores que os bandidos armados que assaltam bancos e lojas das grandes metrópoles.

Lembro do dia em que decidi comunicar ao Ministério que estava desistindo de continuar meus estudos em Hogwarts, me encontrava estupefata de tudo. Mas, como nos melhores filmes, fui contida de última hora por Harry, que com seu conselho espirituoso me fez mudar de ideia. Reconhecia que essa era de longe a principal qualidade de Harry. Nunca, em momento algum, me senti sozinha tendo-os por perto. Do que seria de mim sem Ron e Harry?

Sorri por saber que jamais poderia elogiá-los de tal forma. Seria como inflar o ego de ambos para sempre. Fechei meus olhos e desejei que nem mesmo as paredes ouvissem meus pensamentos, pois poderia ser perigoso demais.

Calma, Hermione, calma! - falei comigo mesma

Tracei durante toda a noite a maneira ideal de cumprir o desejo de Lacun. Seria ingenuidade de minha parte pensar que ao despertar a parte fragmentada da alma daquele fantasma, ele pegaria sua malinha e nos deixaria em paz em um final feliz e para sempre. Mas seria mais arriscado ainda se eu o contrariasse. Quem mais morreria? Um dia amais poderia ser o último e derradeiro de todos nós.

Dumbledore, claro, sabia que Petter Lacun estava por perto. Ele havia sido claro em seu discurso na Floresta Proibida. Mas por que Dumbledore não nos comunicou até o momento? Seria impossível imaginar uma recuada por parte dele, simplesmente, o bruxo mais admirável do reino mágico.

Eu precisava pensar com calma, suficientemente para decifrar o enigma deixado como cortesia. A Câmara Secreta, as paredes, tudo que foi escrito.

– Chegaaaaaaaaaaa! - gritei descontrolada.

Tapei minha boca com as mãos imediatamente, mas era tarde. Deita, quieta, olhei para o lado e, como em um feitiço bem sucedido, ninguém havia acordado. De fato, estava insuportável conviver com tamanha pressão. Precisava manter o foco, dormir, repousar a alma e esquecer por um instante tudo que me cercava.

– Não, não, não! - apressei em me arrumar.

O dia já havia chegado e eu ainda estava na cama. Perdi a hora, perdi o café da manhã e, àquela altura, também perdi a primeira aula do Professor Snape, o que fazia do meu dia começar terrivelmente péssimo.

– Sta. Granger?

Sim, Snape e sua clássica interrogativa. Não seria mais fácil derramar todo seu ódio de uma só vez, antes de me questionar com isso?

Harry e Ron, do outro lado da sala, me analisavam com um ar de piedade. E estavam certos. Eu não havia dormido bem e estava a ponto de sair correndo daquele lugar para me refugiar em um buraco qualquer.

– Acredito que a Sra. queira nos explicar o motivo do seu atraso de uma hora... e meia, Granger?!

Snape era sarcástico. Durante todos os anos, ouvi sempre as mesmas histórias envolvendo sua pessoa. Acredito que sua personalidade seja fruto de algum trauma sofrido no passado. Perder o amor de sua vida, a mãe de Harry, poderia ter sido um deles. O que não justificava agir daquela forma.

Mantive a postura antes de me retratar. Carregava comigo três livros, um deles era pesado demais para minha possível longa explicação, na qual foi encurtada em prol dos meu braços fracos.

– Bom, Professor Snape... - iniciei

De braços cruzados, no fundo da sala e com seu olha fixamente direcionado para a porta, Snape se manteve calado, ouvindo atentamente minha mentira de última hora.

– Eu não passei muito bem essa noite. Acredito que tenha comigo algo que fora rejeitado por meu organismo. Bom, talvez, uma indigestão provocada pela carne de rã.

– Carne de rã? Todo mundo sabe que ela detesta carne de rã, Harry! - cochichou Rony ao pé do ouvido de Harry, enquanto Snape se preparava para mais questionamentos.

– E por que a Sta. não buscou auxílio médico na ala da enfermaria?

Como não havia pensado nisso? Faz parte do nosso protocola não esconder doenças. Eu poderia dizer que desmaiei e acordei somente hoje, mas não iria adiantar também. Pensava em outra desculpa, quando um dos monitores adentrou à sala, eufórico e ofegante.

– Com licença, caro professor! Necessito que a aluna Hermione Granger me acompanhe até a sala de Alvo Dumbledore, imediatamente!

Será que eu havia sido salva pelo gongo ou tudo ficaria pior do que a cara feia do professor?. Eu já estava envolvida em problemas demais para administrar mais. Dulmbledore, claro, já sabia de tudo e eu estava completamente condenada.

– E poderia eu saber o motivo de uma retirada tão repentina? - questionou Snape ao monitor.

– São ordens do próprio Diretor, professor. Sou apenas um enviado, não sei do que se trata o assunto. - respondeu.

Snape apenas acenou positivamente com a cabeça enquanto se virava ao quadro para continuar a aula. Todos me examinavam, inclusive Harry e Ron, nos quais acompanharam seus olhares até o momento em que eu sumi no fim do corredor e a porta se fechou.

– Dumbledore já sabe de tudo? - perguntou Ron, fingindo estar respondendo uma das questões do caderno.

– Talvez, você saiba o que sua coleguinha foi fazer na sala de Alvo, não é mesmo Sr. Weasley? - ironizou Snape.

Estava mais que óbvio que Dumbledore sabia de tudo, principalmente da nossa fuga noturna para o encontro com o fantasma de Petter Lacun. Onde eu estava com a cabeça de ter arriscado nossas vidas por tão pouco?

Desejei que Lacun fosse exterminado de uma vez por todas, assim como os vampiros com estacas de madeira. Não era justo o que estava acontecendo, principalmente por eu estar envolvida. Havia mais de mil alunos em Hogwarts, mas eu me havia me enrascado novamente.

No trajeto até chegar ao ponto em que minha vida chegaria ao fim, apenas os meus passos e os do monitor podiam ser ouvidos. Nenhuma palavra trocada, nem se quem um pergunta curiosa. Realmente, a situação era bem mais delicada do que eu poderia imaginar.

Pude observar, ao passar em frente a biblioteca, a Sra. Burnes, a responsável pela limpeza do departamento, acenar de maneira falsa para mim. Tenho certeza que sua curiosidade era grande o suficiente para, quem sabe, me acompanhar com o intuito de ouvir toda a conversa por trás da porta.

– Você sabe o que o Diretor quer comigo? - tentei iniciar uma conversa com o monitor, no qual não me respondeu.

– Sta. Granger, chegamos!

Cheguei? Como o hipogrifo Bicuço em seu ritual de abate? - falei comigo mesma em pensamento, enquanto tentava respirar e me manter calma.

Meu coração parecia ter parado à medida que caminhava sozinha em direção a porta da sala de Alvo. Seria melhor bater educadamente ou entrar como seu fosse da família, com um sorriso no rosto e um tapinha nas costas?

– Entre, Srta. Granger! - ouvi sua voz, antes mesmo de pensar em parte na porta.

Calmamente girei a maçaneta dourada. A sala de Dumbledore era bem iluminada, repleta de livros e incensos de aromas variados. Havia muito ouro por todas as partes e uma imensa ampulheta que ele herdara de seus avós.

Dumbledore parecia sereno, mas não poderia me animar. Em suas mão havia um pedaço de pergaminho. De longe pude ver como o segurava.

– Bom dia, Sr.! - disse eu, trêmula

Dumbledore retribuiu minha cordialidade e pediu para que eu me sentasse em um cadeira em frente à sua mesa. Haviam muitos papéis espalhados, por todos os lados.

– Organização nunca foi meu forte, menina. Minha mãe sempre me condenou por isso! - brincou em um tom descontraído.

Dumbledore teria todos os motivos para me convocar, e eu estava preparada para possíveis punições. Ter enfrentado a Floresta Proibida havia sido uma loucura. Poderíamos estar mortos naquele momento.

Meu silêncio demonstrava a angústia que pairava no ar. Alvo sabia porque eu, ali, mantinha preservadas as palavras que durante todos esses anos escapavam fáceis de minha boca. Pensei em iniciar um pedido de desculpa formal e abrir de uma vez por todas o jogo envolvendo aquele fantasma desaforado, mas era tarde, pois Dumbledore começou a se pronunciar.

– Certamente a Srta. deve estar imaginando o motivo de eu tê-la convidado a passar parte dessa linda manhã de inverno em minha sala. E, eu desconfio que já saibas o real motivo, assustador por sinal.

– Hermione, sua idiota, fique calma e olhe fixamente nos olhos de Alvo. - me instrui em pensamento enquanto ouvia atentamente o que me dizia.

– Sei que você, diferente de muitos alunos de Hogwarts, possui uma curiosidade aguçada e uma inteligência admirável. Cheguei a comentar dias atrás com a professora McGonagall sobre sua destreza em ser tão aplicada. Espero que continue assim, do fundo de meu coração. Mas, talvez, essa sua curiosidade seja pesada demais para alguém da sua idade, tão nova e com tanto a aprender. Você me entenderá um dia.

Mas, não posso privá-la daquilo que você mesma descobriu. Peço somente que isso permaneça entre nós, como em uma conversa entre velhos amigos. Confiar em você não será um sacrifício. Confio de olhos fechados e dedos cruzados, Granger.

Portanto, vamos ao ponto: Hogwarts corre perigo, como mesma sabe. Petter Lacun está entre nós, como mesma sabe. Seu encontro e dos seus amigos com o fantasma de Lacun na noite passada foi arriscado demais, vocês poderia estar mortos, mas felizmente não.

– Me desculpe, Alvo! - disparei involuntariamente

– Desculpas aceitas e nenhum ponto debitado de Grifinória! - brincou.

Como estava dizendo, Granger, Petter Lacun voltou para cumprir o que havia prometido desde sua partida, quando, fracassadamente, tentou matar os pais do Sr. Potter para se aliar com Você-Sabe-Quem.

Claro, não deu certo. Lacun falhou e Vol o eliminou como um sopro de vento que arranca uma delicada folha de uma árvore. Porém, sua alma se fragmentou em algo que por suas mãos passou. Antes que entre no assunto Hagrid, ele não é culpado de nada. Não sabíamos que tudo isso viria à tona. Entendíamos Petter Lacun como um fantasma expulso de mundo mágico e não contávamos com tudo o que vem acontecendo.

Agora, mais do que nunca necessitamos de sigilo. Não podemos gerar um pânico desnecessário. Hogwarts está protegido, pelo menos por hora. Os guardas estão reforçando todas as passagens até que nós tomemos a melhor decisão que, por sinal, não caberá a você.

O motivo de nosso encontro hoje foi justamente para pedir que a Srta. e seus amigos não entrem em colapso e, em hipótese alguma tomem atitudes precipitadas. O que ouvir de Petter na noite de ontem deverá ser esquecido. Preciso que me prometa que será esquecido.

Somente eu posso definir o destino de Petter Lacun. Me entende?

Meu cérebro estava fritando. Estava clara que eu não entendia o porquê de Dumbledore querer silenciar tudo que eu, Harry e Ron sabíamos a respeito do maldito fantasma. E, eu deveria responder o que deveria ser respondido, mas fui covarde a ponto de concordar com um balançar de cabeça. Não teria como discordar de uma ordem de Alvo Dumbledore, pelo menos em sua frente.

– Perfeito, querida! - sorriu Alvo, antes de encerrar.

– Esse segredo está vivo apenas entre nós e ninguém mais. Continue dando importância aos seus estudos, empenhe-se, dedique-se e Hogwarts jamais desmoronará. Agora, preciso que volte à aula, enquanto eu organizo todos esses papéis. - finalizou.

Fim. Minha boca havia sido calada e não havia mais nada a ser feito. Petter Lacun não poderia me procurar por não ter obedecido sua ordem. Dumbledore fora claro sobre isso. Hogwarts estava bem, livre de ameaças e eu também.

Era hora de esquecer tudo isso, ou, pelo menos tentar. Harry não iria gostar nada de saber sobre essa conversa Mas eu deveria me manter calada por pelo menos uma vez na vida. As paredes ouviam e arriscar novamente era como me atirar do penhasco mais alto para uma morte rápida e instantânea.