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XVIII- Chocolate quente


O dia seguinte à visita de Agatha ao hospital era sábado e ela não precisaria trabalhar. Aproveitando seu tempo livre a jovem visitou seu padrasto no hospital, novamente. No entanto, dessa vez ele não acordou em nenhum momento durante os quarenta minutos que ela lá esteve.

Ao sair do hospital a jovem lembrou-se que o aniversário de seu Ricardo seria no dia seguinte e ela ainda não comprara um presente. Aquilo era horrível, ela nunca sabia que presente comprar para um homem.

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Após caminhar por longos minutos pelo centro da cidade ela viu uma loja de especiarias, era sua última chance de encontrar algo legal para dar de presente ao seu chefe e amigo. Alguns minutos depois a jovem saiu da loja carregando uma bela sacola que continha uma garrafa do melhor vinho tinto da loja e uma caixinha de chocolates belga.

---xx---

Rafael acordara perto do meio dia naquela bela manhã de sábado. Embora o frio se fizesse bem presente, o sol iluminava a cidade.

Após tomar um banho e vestir-se informalmente o jovem saiu para almoçar. Não sabia onde iria almoçar, só sabia que estava realmente faminto, geralmente acordava assim quando dormia demais.

O jovem Suvens acabou almoçando em um pequeno restaurante de comida caseira que havia no centro da cidade. Era pequeno, mas a comida era simplesmente deliciosa. O local fora inaugurado há menos de dois anos, mas, desde então, Rafael era cliente do local.

O rapaz estava indo para seu carro, quando lembrou-se que o aniversário de seu pai seria no dia seguinte e ele ainda não comprara um presente. Pensou um pouco sobre o que poderia dar à seu pai, e acabou decidindo-se por um vinho e uma boina nova – há alguns dias seu pai dissera-lhe que andava querendo uma nova boina.

Sem perder mais tempo o rapaz dirigiu até uma pequena loja de especiarias e lembranças que ficava bem ao centro da cidade.

Enquanto procurava uma vaga para estacionar seu carro, Rafael olhou para o outro lado da rua, onde ficava a loja em que ele pretendia comprar o presente de seu pai, e viu Agatha saindo da loja, carregando uma sacola presenteável. Sorriu com seus pensamentos e estacionou logo seu carro. Não perderia aquela oportunidade de falar com ela e atormentá-la, já que ela saíra mais cedo do trabalho no dia anterior, sem lhe avisar.

Assim que estacionou o carro apressou-se para atravessar à rua. Quando chegou na calçada do outro lado apressou ainda mais o passo até conseguir ficar atrás de Agatha, que continuava caminhando despreocupadamente. Quando Rafael tocou-lhe o cotovelo, a moça viro-se meio assustada.

-Fazendo compras? - Perguntou Rafael, sorrindo.

-Rafael? - Perguntou ela, parecendo surpresa. - Oi! Vim comprar o presente do seu pai, se não me engano é o aniversário dele amanhã, não?

Agatha tinha certeza de que o aniversário de Ricardo era no dia seguinte, mas queria achar uma forma de alongar aquela conversa com Rafael, afinal, era muito chato ficar olhando-o e não saber o que falar.

-É amanhã sim. - Confirmou Rafael, admirando-a. Ela ficava ainda mais linda sobre a luz do sol. - Você vai, não é mesmo?

-Lógico que sim! Não perderia por nada. - Afirmou a garota, sorrindo.

-Ótimo. - Disse Rafael, sorrindo também. - E então, o que você comprou para presenteá-lo?

-Um vinho, o melhor que eles tinham na loja, e um chocolate belga.

-O melhor vinho que eles tinha naquela loja? - Perguntou ele, apontando para a loja de onde a jovem acabara de sair.

-Sim. - Disse ela, confusa. - Por que?

-Porque eu pretendia comprar esse vinho que você comprou para dar a meu pai. - Falou Rafael e Agatha riu.

-Sinto muito, acho que cheguei primeiro que você.

-Então você terá que ir comigo até a loja comprar a boina que darei de presente para meu pai.

-E por que você imagina que eu irei? - Perguntou Agatha, embora estivesse com muita vontade de ir com ele.

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-Porque é a forma que eu encontrei de você me pagar por ter comprado o que eu planejava.

A jovem mulher fingiu pensar um pouco sobre a proposta, embora já tivesse a resposta para ele. Depois de alguns segundos ela falou:

-Tudo bem, eu vou com você. Mas apenas porque sou uma pessoa extremamente legal!

-É claro que é. - Concordou Rafael e, para surpresa de Agatha, não havia tom de ironia em sua voz.

Os dois caminharam até a loja e cerca de 10 minutos depois saíram novamente. Rafael carregava o embrulho com a boina preta que comprara para Ricardo e conversava animadamente com Agatha sobre assuntos idiotas, como um novo filme que estava em cartaz nos cinemas.

-Você tem algum compromisso agora? - Perguntou, subitamente, Rafael à Agatha.

-Na verdade não. Tenho o resto do dia livre, apenas à noite planejo visitar meu padrasto. - Respondeu a jovem.

-Seu padrasto? - Perguntou Rafael, confuso.

-É, ele está no hospital. Seu pai não lhe contou? Foi por isso que saí mais cedo do serviço ontem.

-Oh! Meu pai não falou-me não, deve ter se esquecido. Mas e como o seu padrasto está? É Gregório o nome dele, não? -Perguntou Rafael, ainda surpreso pela notícia. Justo quando ele pensara em irritá-la por ela ter saído mais cedo do trabalho ela tinha ''o'' motivo. Ainda bem que ele não falara nada antes.

-Ele está...não sei dizer. Está com câncer, estado terminal. -Falou a jovem e Rafael surpreendeu-se de novo ao notar que ela não parecia estar muito triste nem desesperada como geralmente as pessoas estariam.

-Sinto muito. - Falou ele e ela deu uma risadinha irônica. - O que foi?

-Você sente muito porque nunca soube o que ele falava de você! - Afirmou a garota, com convicção.

-Então que tal assim, você aceita tomar um chocolate quente comigo e me conta tudo o que ele falava de mim...o que acha?

Agatha ponderou um pouco sobre aquele convite. Ela estava muito querendo ir, mas não sabia se estava preparada para contar alguma coisa para Rafael...Mas ela estava precisando muito desabafar.

-Tudo bem. Eu aceito!

Rafael sorriu ao ouvir a resposta da jovem mulher e continuou caminhando, logo adiante tinha um ótimo café que servia também chocolate quente. Enquanto caminhava se viu segurando a mão dela, sem nem perceber ao certo quando a pegara. Agatha percebeu aquele toque, mas decidiu não falar nada, era bom demais para ela querer estragar.

Após acomodarem-se em confortáveis cadeiras do belo café, cada um com uma xícara de chocolate quente em sua frente na mesa, Rafael falou:

-E então, vai me contar o que Gregório falava de mim? E é mesmo Gregório o nome dele? Não me falou antes.

-É Gregório sim. - Confirmou Agatha, suspirando. - Tem certeza de que quer falar sobre isso?

-Se você quiser falar, estarei pronto para ouvir. - Disse Rafael, bebendo um pouco do chocolate quente. Ao perceber que Agatha hesitara um pouco antes de responder, ele continuou falando: - Se você não quiser me contar não precisa, mas as vezes é bom conversarmos com as pessoas sobre coisas que nos incomodam.

Vendo que Rafael tinha razão, Agatha decidiu dar a ele uma chance de ser seu ouvinte. Qualquer pensamento anterior que ela tivera sobre ser indiferente à seu velho amigo, tinha sumido.

-Tudo bem, vou lhe contar. Mas prometa que não ficará com raiva de mim ou de Gregório, embora ele mereça, não quero que você sinta-se mal por nada, está bem?

Percebendo que a história era bem mais longa e séria do que parecia, Rafael concordou com um aceno de cabeça.

-Bem...você se lembra daquela vez que me convidou para ir com sua família à um parque aquático? E da outra vez em que vocês iam fazer uma trilha e também me convidaram?

-É claro que lembro. Você negou todos os meus convites! - Disse ele, recordando-se dos eventos que ela citara.

-Não foi exatamente porque eu quis Rafael. - Falou ela, suspirando, e ele levantou uma sobrancelha. - Entenda, Gregório nunca foi com sua cara e era bem possessivo em relação à mim. Ele achava que nossa amizade era íntima demais e que você queria, falando francamente, apenas transar comigo. Nada que eu falava o fazia mudar de ideia.

-Mas éramos apenas crianças! -Disse Rafael, um pouco indignado com a história.

-Eu sei, e sabia naquela época, mas Gregório não. Ele não me queria perto de você, ficava extremamente zangado quando eu saía com você, mesmo que fosse para fazer algum trabalho da escola e odiava ainda mais quando você ia até a minha casa. A princípio ele apenas brigava comigo toda vez que saíamos juntos, após um tempo...ele começou a ultrapassar o limite das palavras.

Rafael percebeu que Agatha possuía um olhar distante e perdido, viu-se obrigado a falar:

-Ele abusava de você?

-Sexualmente? -Perguntou ela e ele assentiu. - Não, jamais tocou-me dessa forma. Imagino que ele não fosse tão idiota e sujo á ponto disso. Ele apenas divertia-se batendo em mim. Era como se a vida dele ficasse melhor após ele dar-me uma surra. E elas eram bem piores sempre que eu me encontrava com você. Por isso nunca fui em passeios quando você me convidava. Eu tinha que pedir permissão a ele e ele me batia, deixava eu ir, mas a surra era tão forte que eu ficava com marcas. Nunca quis que você visse. Não pense que era por não confiar em você Rafael, era apenas medo de que você me odiasse quando soubesse, era medo do que Gregório poderia lhe fazer se descobrisse que eu havia lhe contado. Medos bobos, eu sei, hoje eu sei, mas, como você mesmo disse, éramos apenas crianças.

Quando terminou de falar, Agatha sentia-se mais leve. Mesmo não tendo entrado em muitos detalhes com Rafael, fora ótimo ter desabafado com alguém sobre aquele assunto. Quando deu por si, Rafael segurava sua mão em cima da mesa e acariciava-a de forma carinhosa.

-Eu sei que éramos crianças, mas não somos mais e quero que saiba que eu estou aqui para o que quer que você precise. - Rafael se viu falando tais palavras e percebeu que estava realmente sendo sincero, ele sempre se importara com Agatha e continuava se importando.

-É muito bom saber disso! - Afirmou Agatha sorrindo de forma meiga.

-Mas, mesmo depois de tudo isso, você vai visitá-lo?

-Eu o perdoei. Pode parecer estranho e sem sentido, mas me senti realmente bem ao fazer isso. Nunca perdoaria a mim mesma se ele morresse sem meu perdão.

-Você é uma pessoa muito boa Agatha! -Disse Rafael, estendendo um pouco mais a mão e acariciando o braço da jovem. Percebeu que ela arrepiou-se pelo toque dele.

-Imagino que isso seja um elogio. -Falou ela.

-Com certeza é.

-Então muito obrigada senhor Rafael. - Falou Agatha e riu ao ver a careta que ele fez por ela tê-lo chamado de senhor.

-Muito bem senhorita Agatha, agora que sei dessa parte de sua história você me deve uma coisa!

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-Devo? - Perguntou ela, confusa.

-Me deve vários passeios, afinal você furou tantos na juventude...agora terá que me recompensar.

-Quem lhe ouve falar assim imagina que somos muito velhos. - Falou ela e ambos riram. - Mas tudo bem, eu irei lhe recompensar pelos passeios, pode ter certeza.

-Ótimo! Porque eu vou me lembrar de cobrar. -Garantiu Rafael.

Após mais alguns minutos conversando, ambos pagaram a conta e saíram do café. Rafael insistira muito em pagar a conta de Agatha, falando que ela prometera recompensá-lo e aquela era uma das recompensas. Ele insistira tanto que ela acabou cedendo no final e ele pagou o chocolate quente dos dois.

Enquanto afastavam-se do café, Rafael perguntava-se se deveria tocar no assunto ''Kate e formatura'', acabou achando melhor deixar para outro dia aquela conversa. Agatha já deveria ter esgotado-se de assuntos chatos e relativos a infância-adolescência deles.

Após uma pequena discussão, Rafael convenceu Agatha à aceitar a carona dele até o hospital, alegando que não teria nenhum problema para ele aquilo. Alguns minutos depois de terem entrado no veículo, o jovem Suvens estacionou-o em frente ao hospital. Agatha olhou-o e disse:

-Obrigada pela tarde de hoje, foi incrível e foi muito bom desabafar com alguém!

-Disponha. - Disse Rafael, sentindo o ótimo perfume que ela estava usando.

O jovem homem foi inclinando-se levemente em direção a garota. Ela não fez nada, apenas esperou-o, mas, quando achou que ele ia beijar seus lábios, ele desviou e deu-lhe um delicado beijo no pescoço. Mesmo assim, Agatha arrepiou-se.

-Boa sorte com Gregório e até amanhã. - Falou ele, sorrindo pela reação dela, embora ele também quisesse beijá-la, achou melhor esperar pelo dia seguinte.

-Obrigada por tudo e até amanhã. - Falou ela e, sorridente, saiu do carro.

''Parece que finalmente estamos nos acertando'', pensou Agatha, ao entrar no hospital.