Estava deitada na minha cama quando fui acordada por um grito. Ainda era de noite e, apesar de já estar acostumada, me levantei rapidamente pelo susto.

_Deixa que eu vou. – Disse Christian se levantando e me dando um beijo.

Tinha se passado um mês desde o sequestro e parecia que tivesse sido ontem, principalmente para Noah. Tudo o que aconteceu aquele dia afetou meu filho profundamente e nós percebemos isso logo em seguida.

FLASHBACK ON

—TAYLOR! ALGUÉM AJUDA! – Gritei desesperadamente.

Logo em seguida Taylor apareceu junto com a equipe da ambulância. Eles pegaram Christian e o levaram até a ambulância. Eu estava com Sofia no meu colo, sabia que ela precisava de mim assim como Noah. Peguei meus dois filhos e corri até a ambulância.

_Senhorita precisamos ir até um hospital, o Senhor Grey ira na ambulância. Por favor entre no carro. – Disse Taylor abrindo a porta. Por mais que eu quisesse ir na ambulância com ele, meus filhos precisavam de mim e eu sabia que não poderia ir com eles dentro da ambulância.

_Obrigada Taylor. – Entrei no carro. Nem Sofia ou Noah falaram durante o caminho. Os dois estavam calados se segurando a mim e tremiam por qualquer barulho vindo de fora. Isso partia meu coração. _Já estamos bem, meus amores e o papai vai ficar bem, também.

Chegamos ao hospital e eu saí correndo. Taylor se ofereceu para carregar Noah, já estava difícil segurar os dois ao mesmo tempo. Noah pareceu incomodado no começo, mas quando percebeu que era o Taylor e que eu estava ao lado, ficou mais calmo. Assim que entramos no hospital fui pedir informações sobre Christian. Felizmente não tinha sido nada sério, em algum momento na disputa entre Leila e Jack, ele recebeu um tiro de raspão, devido à adrenalina ele não percebeu nem a dor do impacto. Foram necessários apenas alguns pontos e ele estava liberado.

Voltar para casa foi a confirmação de que tudo estava bem, minha família estava junta de novo. Emma estava tristinha e tinha sentido a nossa falta, mas, felizmente, não percebeu o que tinha acontecido. Fomos recebidos por Kate, Mia, Elliot e Ethan, que nos abraçaram até acharem que era suficiente. Mas não ficaram muito, acharam melhor nos deixar descansar, o que eu agradeci. No dia seguinte Christian e eu teríamos que ir para a delegacia fazer a denúncia.

_Você não faz ideia de como é bom ter você entre meus braços. – Christian me abraçou assim que saímos do quarto dos meninos. Foi difícil fazer Noah e Sofia dormirem, tivemos que colocar os três no mesmo quarto e, mesmo assim, demoramos muito em convencê-los de que tudo estava bem.

_Deve ser a mesma sensação de estar em seus braços. Eu tive tanto medo. – As últimas palavras vieram junto com as lagrimas. Estive me segurando este tempo todo por causa das crianças, mas tinha tanta coisa dentro de mim, tanto medo... _Eu achei que ele fosse matar a gente. – Disse entre as lagrimas.

_Agora está tudo bem, amor. Vocês estão seguros e eu nunca vou deixar que nada aconteça com vocês.

_Você nos achou.

_Sempre vou achar vocês, meu amor, sempre. – Disse me beijando. _Agora vamos deitar, acho que os dois precisamos dormir, foi um dia longo.

Os dois deitamos na cama e caímos no sono rapidamente, ambos estávamos exaustos e precisávamos descansar, mas nosso descanso não durou muito. Fomos acordados por gritos vindos do quarto dos meninos, eu me levantei de um pulo e saí correndo, Christian estava logo atrás de mim. Quando chegamos no quarto, Noah estava sentado na cama chorando e gritando, enquanto Emma parecia assustada e Sofia tinha os olhinhos cheios de lagrimas, prestes a chorar.

_O que aconteceu, amor? – Perguntei me sentando em sua cama. Noah correu para meus braços.

_O moço malvado vai me pegá mamãe! – Disse chorando. Foi nesse momento que percebemos a magnitude dos danos causados em meu filho.

_Não meu amor. Ninguém vai te pegar. Você está em casa seguro. – Noah parecia não meu ouvir e continuava chorando se segurando em mim.

_Filho está tudo bem! – Disse Christian sentando na cama, ele já tinha Emma e Sofia no colo. _Papai não vai deixar que nada aconteça com você.

_Polque Noah ta cholando? – Perguntou Emma.

_Por que ele teve um pesadelo, amo. Mas vai ficar tudo bem. – Respondi.

_O que acham de dormirmos todos juntos hoje? – Perguntou Christian. Emma ficou animada, Sofia estava sonolenta demais e Naoh apenas balançou a cabeça.

Eu peguei Noah no colo e Christian levou as meninas. Deitamos as crianças no meio da cama e Christian e eu nos deitamos cada um de um lado. Nestes momentos agradecia por Christian ser exagerado e ter uma cama enorme. Foi difícil dormir naquela noite, não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido, na dor e medo que meu filho estava sentindo.

No dia seguinte as coisas pareciam melhores, acordamos as crianças e fomos tomar café da manhã. Christian e eu ainda tinhas que conversar sobre o acontecido, mas achamos melhor da atenção às crianças antes. Assim que terminamos de tomar café da manhã, Christian e eu nos arrumamos para ir na delegacia fazer a denúncia, mas não conseguimos sair, Noah quase teve um ataque de pânico quando nos viu saindo, assim decidimos ligar para a delegacia e pedir que mandassem alguém pegar o depoimento, não foi difícil conseguir isso, graças aos contatos de Christian.

Estávamos sentados na sala brincando com as crianças quando Taylor anunciou que os policiais tinham chegando. Christian se levantou para recebê-los e eu fiquei mais um pouco com os meninos.

_Bom dia, delegado. – Disse Christian.

_Bom dia, senhor Grey. – Assim que Noah ouviu a voz do delegado começou a tremer e fez xixi nas calças.

_Noah, filho. Está tudo bem? – Perguntei me aproximando dele, mas ele continuava tremendo e começou a chorar. Peguei Noah no colo tentando tranquiliza-lo. _Christian! – Chamei e ele apareceu rapidamente.

_O que aconteceu? – Perguntou assim que entrou.

_Eu não sei, ele começou a tremer e chorar. – Disse preocupada.

_Senhor Grey? – Disse o delegado entrando na sala. Nesse momento Neah começou a gritar e se segurar em mim com força.

_Delegado peço para que volte outro dia. – Pediu Christian enquanto se aproximava de nos.

_Claro, podemos marcar outro dia.

_Gail, acompanhe o delegado, por favor. – Gail assentiu e os dois saíram.

_Está tudo bem, filho. Não tem mais ninguém aqui, estamos só nos aqui. – Disse Christian baixinho tentado tranquiliza-lo.

_Está tudo bem, amor. – Disse enquanto o abraçava com força. Queria que ele se sentisse seguro. Passamos alguns minutos tentando acalma-lo, até que ele parou de chorar e de tremer. Tínhamos pensado em almoçar fora, mas achamos melhor ficar em casa.

_Precisamos procurar ajuda, Christian. – Após o almoço, as crianças foram brincar no parquinho e eu e Christian ficamos conversando na varanda olhando pra eles.

_Eu sei, amor. Não imaginei que ele fosse ficar tão afetado.

_Ele é uma criança sensível e não foi uma experiência muito agradável.

_Não foi agradável para nenhum de nos. Talvez todos nos precisemos de ajuda. Você também tem pesadelos, eu sei que tenta esconder, mas eu escuto você de noite amor. E Sofia também não tem dormido muito bem. – Eu suspirei sabendo que era verdade, queríamos fingir que nada aconteceu, mas a situação estava pior do que o esperado.

_Você está certo, acho que precisamos de ajuda.

_Amanhã mesmo vou procurar um psicólogo infantil para as crianças e um para nos. Até então é melhor ficar de olho neles.

_Tenho medo de que ele não melhore. – Disse deixando algumas lagrimas caírem pelo meu rosto.

_Vai ficar tudo bem, meu amor. Você vai ver, daqui a pouco nosso filho vai estar correndo e brincando normalmente, sem pesadelos ou medos.

_Assim espero.

FLASH BACK OFF

No dia seguinte, Christian procurou o melhor psicólogo da cidade para começar com o tratamento. Um mês tinha se passado e já podíamos ver melhoras nas crianças. Emma, só era afetada pelas crises do irmão, por isso foi mais fácil. Sofia era muito pequena e não conseguiu processar o ocorrido, por isso o tratamento foi rápido, logo ela esqueceu tudo e voltou ao normal. Mas com Noah foi diferente. A pesar de estar melhor, ele ainda tinha pesadelos. Não se assustava mais com pessoas estranhas nem fazia xixi na cama, mas de vez em quando acordava gritando de noite.

_Quer dormi com a mamãe? – Ouvi Christian perguntando enquanto estrava no quarto.

_Teve outro pesadelo, filho? – Perguntei quando ele colocou nosso filho na cama. Ele apenas balançou a cabeça e se ajeitou ao meu lado.

_Estamos aqui, amor. Pode dormir. – Disse fazendo carinho em seus cabelos. Em alguns minutos ele acabou dormindo.

_Achei que os pesadelos tivessem acabado. – Christian estava deitado do outro lado e os dois olhávamos pra ele.

_Aconteceu alguma coisa diferente hoje? – Perguntou.

_Não, eles foram para a creche, parecia bem quando fui pega-los. Passaram a tarde brincando no parquinho e desenhando.

_Bom o psicólogo falou que é normal ele ter algumas recaídos e o tratamento está apenas no começo. Devemos ter paciência.

_Eu sei, mas detesto ver ele desse jeito.

_Eu também, amor. Mas daqui a pouco nosso filho vai voltar ao normal.

No dia seguinte mantemos a nossa rotina normal. Eu não tinha voltado a trabalhar, Christian me convenceu a deixar meu emprego e começar a estudar na universidade no semestre seguinte, mas, mesmo assim, eu procuraria um estágio. Não gostava de ficar de sem fazer nada. Christian voltou a trabalhar normalmente, mesmo achando que deveria ficar mais tempo em casa, mas a empresa precisava dele. Emma e Noah só iriam para a escolinha no ano seguinte, mas faziam atividades externas, como natação e aula de pintura, que os dois adoravam. Sofia ficava mais em casa, comigo e nossa pequena já estava falando quase tudo.

_Ana? – Escutei Gail me chamando.

_Pode entrar, Gail. – E estava no quarto de Sofia trocando sua roupa, já que tinha se sujado toda comendo uma banana.

_Queria saber se você tem alguma preferência para o almoço.

_Não, Gail. Qualquer coisa que você fizer vai estar ótimo. – Respondi.

_Tudo bem. – Disse Gail saindo do quarto. Mas antes que ela saísse completamente, um pensamento veio a minha cabeça.

—Gail! – Ela parou e se virou pra mim. _Você pode fazer lasanha? Aquela com molho branco e muito queijo! – Gail olhou pra mim e sorriu.

_Claro, Ana. Mais alguma coisa?

_Sim, você pode fazer pudim de sobremesa? – Só de pensar no pudim minha boca começou a salivar.

_Claro que posso. Está cheia dos desejos hoje. – Disse brincando comigo.

_Pronto, agora você está limpinha, meu amor. O que você acha de ir pegar os seus irmãos? – Perguntei pegando Sofia no colo.

_Noah e Mema? – Perguntou olhando pra mim. Ela conseguia falar o nome de Noah direito, mas Emma virou Mema.

_Sim, meu amor.

Saí do quarto carregando Sofia no colo e cheguei até a cozinha, onde Gail já tinha começado a fazer o almoço.

_Gail estou indo pegar os meninos, eles ficaram amanhã inteira lá.

_Já está com saudades?

_Sim, acho que me acostumei a tê-los comigo o dia todo.

_Não tem como não sentir saudades daqueles pequenos. E daqui a pouco eles vão para a escolinha.

_Não quero nem pensar nisso, agora sou que quero que fiquem aqui pra sempre. – Falei rindo.

_Acho que o senhor Grey vai concordar com a senhorita. – Respondeu Gail, rindo do mesmo jeito.

_Bom, estamos indo.

Saímos de casa sendo seguidas de perto pelos seguranças. Depois do sequestro, Christian manteve a segurança do jeito que estava. Nem ele e nem eu queríamos que algo como aquilo acontecesse de novo. Apenas esperava que um dia as coisas pudessem voltar ao normal. Sawyer ainda estava no hospital, o tiro que levou quase o matou, mas, graças a Deus, ele conseguiu se salvar.

Chegamos na escolinha dos meninos, era a mesma que eles assistiam antes, a diferença era que agora eles iam apenas para participar de certas atividades. Hoje eles ficaram mais tempo porque a escola tinha montado atividades especiais e eles quiseram ficar.

_Mamãe! – Gritaram os dois assim que me viram.

_Oi meus amores! Se divertiram?

_Sim, foi muito divertido. Agente blinco o dia inteiro. – Disse Emma sorrindo.

_Quem bom, agora vamos pra casa que Gail está fazendo uma comida gostosa pra gente.

_Oba! – Coloquei os dois em suas cadeirinhas junto com a Sofia e voltamos para o apartamento. Assim que passamos pela porta da cozinha senti o cheiro da lasanha que Gail estava fazendo e o cheiro teve um efeito inesperado. Entreguei Emma à Gail e corri ao banheiro, onde vomitei tudo o que tinha comido até então.

Me levantei do chão e andei até a pia, estava me sentindo um pouco enjoada ainda, mas me segurei. Lavei minha boca e meu rosto, tentando eliminar qualquer rastro de vomito. Quando estava terminado alguém bateu na porta.

_Ana você esta bem? – Perguntou Gail do lado de fora.

_Sim, Gail, já estou saindo. – Terminei de me arrumar e saí do banheiro.

_Quer que eu chame o senhor Grey? Você está pálida, querida.

_Não precisa Gail, foi só um mal-estar. Já estou melhor.

_Tudo bem, vou fazer uma sopinha pra você.

_Obrigada Gail, eu amo a sua lasanha, mas não que seja uma boa ideia come-la agora.

_De nada, querida. Os meninos estão brincando na sala.

_Obrigada, Gail. Vou lá ficar com eles. Pode nos chamar quando o almoço estiver pronto.

_Claro.

Fui até a sala e me sentei com os meninos. Fiquei sentada observando enquanto os três brincavam com massinha de modelar, precisava ficar de olho para que Sofia não comesse a massinha. Enquanto os olhava brincar, pensamentos invadiram minha mente. Pensei em quando foi a última vez que me senti enjoada desse jeito, apenas pelo cheiro de comida e a resposta foi... quando estava gravida dos meninos.