Quatro malditas palavras. Parte ll

―Você vai gritar comigo ou algo assim?

―Eu deveria, não acha?

― Fred...

―Por quanto tempo você ia esconder isso, Hermione? ― o rapaz estava de costas para a ex namorada, olhando para fora da janela do quarto e tentando se controlar. ― Não pensou que eu gostaria de saber sobre Rose? Ela é minha filha, Hermione! ― Fred se virou, encarando a garota que não sabia como falar.

Ela havia pensado nessa conversa milhares e milhares de vezes e, agora que a hora finalmente chegara, simplesmente não sabia o que fazer.

―Fred, eu...

―Você o quê, Hermione? Honestamente, não teria sido mais fácil evitar essa confusão toda? Não era muito mais fácil simplesmente evitar essa bola de neve antes que ela causasse todo esse estrago? Olhe como as coisas estão agora, Hermione! Isso tudo era mesmo necessário?

―E você acha que eu gosto de toda essa situação, Fred? Você acha que eu não sei a confusão que eu formei? Você realmente acha que foi fácil para mim viver quase quatro anos da minha vida com esse maldito segredo? Como você acha que eu me senti quando tive que explicar para Rose o porquê do papai dela não poder busca-la no fim do dia, como todas as crianças do prédio onde eu trabalhava? Talvez não tenha passado pela sua cabeça, Fred, mas cada minuto desde que eu descobri estar grávida, eu penso em como te contar. Olha...

― E por que não contou? ― o rapaz tentava manter o controle no tom de voz, que se elevava a cada sentença. ― Era simples, Hermione. Era só dizer quatro malditas palavras. Quão difícil poderia ser dizer ‘’Fred, eu estou grávida.’’? Eu não consigo acreditar que você só queria ir embora tão rápido assim, sem explicar nada e sem deixar nada para trás...

―Eu não sabia! ― Hermione levou as mãos ao rosto quando percebeu que havia gritado, sentindo lágrimas se formarem em seus olhos. Infelizmente, ainda não era a hora de caírem. ― Eu estava tão preocupada com você, com fazer qualquer coisa que pudesse te deixar feliz durante esse tempo, qualquer coisa que fizesse você aproveitar a sua vida, que eu não dei atenção a enjoos idiotas, Fred. Eu suspeitava, sim, mas descobri de verdade sobre a gravidez já em Buenos Aires, quando eu estava milhares de quilômetros longe de você. Quando não estávamos mais juntos.

― E essa é a sua desculpa? Você poderia escrever, Hermione. Uma carta bastava!

― Eu não achei justo! ― nenhum dos dois lutava para controlar o tom de voz, e ambos tinham certeza de que eram ouvidos nos andares de baixo e até mesmo nos jardins d’ A Toca. ― Eu sei o quanto isso soa idiota, mas eu não achei justo depois de terminarmos da maneira como aconteceu. Não é tão simples assim mandar uma carta para o seu ex namorado avisando que ele é pai.

― Quatro. Malditas. Palavras. Era tudo o que eu precisava saber, Hermione. ― o rapaz respirou fundo, bagunçando os cabelos ruivos ainda mais. ― Tudo poderia ter sido tão diferente... Nós poderíamos ter sido diferentes.

― Me desculpe. ― a garota quase sussurrou, deixando uma lágrima cair. ―Eu sei que não tinha direito nenhum de esconder isso de você, mas... Eu só não sabia o que fazer. Eu estava num país diferente, com pessoas diferentes e eu estava com medo do que poderia acontecer com... Tudo. Eu sei que o que eu fiz é a pior coisa do mundo e eu sinto muito por ter mentido esse tempo todo, mas... ― ela sentiu que não saberia como continuar tudo isso, sua mente parecia não saber mais como pensar e as palavras não queriam mais ter sentido ao sair. ―Quer saber, só saiba que eu acho mais do que justo você ficar com raiva. Me desculpe. De verdade.

Hermione deu as costas ao rapaz, limpando algumas lágrimas, e caminhou até a porta. Quando alcançou a maçaneta, ouvir a voz de Fred soar quase como um sussurro:

―Eu não estou com raiva de você, Hermione. Estou magoado.

Os dois se encararam por um momento e a garota não sabia mais o que fazer. Pedir desculpas não tornaria nada mais fácil e muito menos traria de volta o tempo perdido, assim como sabia que suas justificativas soariam idiotas nesse momento. Sabia que Fred tinha muito o que assimilar e que não seria nada fácil agora que ele estava noivo.

― Eu não queria que as coisas ficassem do jeito que estão agora, eu devia ter contado. Desculpe. ― mais uma vez, Hermione se virou para a porta, desta vez, abrindo-a.

― Hermione? ― Fred chamou, a voz ainda trêmula assim como o resto do corpo. Quando a garota voltou para o quarto, seu olhar não alcançava o de Fred, e ele sabia que ela estava se controlando para não desabar em lágrimas. Mesmo assim, não pode deixar de pedir: ― Rose já sabe? Sobre mim?

― Ela não faz ideia. ― ela forçou um pequeno sorriso, respirando fundo. ― Mas não se preocupe, não vou contar nada até que você queira. Afinal, sou especialista em guardar segredos das pessoas que eu amo.

...

O almoço correu tão bem quanto poderia. Fred e Hermione se evitaram o máximo possível assim que deixaram o quarto, ocupando-se com qualquer coisa que os deixasse longe um do outro. Fora Molly, Gina e Jorge, nenhum dos Weasley’s – e Harry - desconfiaram de algo.

Rose mostrava a todos sua nova coruja, que ainda não tinha nome, mas que já adorava, e não hesitava em responder que o ‘’tio Fred’’ havia lhe dado a pelúcia. ‘’Tio’’ que Molly pegou observando a pequena várias e várias vezes. Não sabia quanto tempo levaria até Fred aceitar que agora tinha uma filha, mas sabia que ele não teria que se esforçar para agradar a ruivinha.

Havia comentado com Hermione assim que ela voltara de viagem e agora tinha mais certeza, era como se, desde o início, Fred e Rose soubessem que havia algo mais ‘’profundo’’ entre os dois além da amizade. Os dois se adoraram desde a primeira ‘’conversa’’, e Molly sabia o quanto o filho adorava crianças. Não estava preocupada com a relação dos dois ruivos, sabia que se dariam muito bem. Sua maior preocupação eram Fred e Hermione, sabia muito bem que os dois teriam muitas noites mal dormidas para enfrentar nos próximos dias.