— Então eu fiz ele sair. — finalizou Franchesca, deitada no gramado, tentando acender um baseado. Audrey arrumou os óculos, desesperada, balançando as mãos, tentando dissipar a fumaça que viria. Girei os olhos, não acreditando que ela ainda pensava fielmente que um Auror apareceria de repente caso ela usasse drogas, maldita lavagem cerebral de Molly Weasley. Charles continuou de braços cruzados, com sua barba abundante, com alguns fios brancos entre os ruivos, olhando a Diggory com descrédito.

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— Você fez o garoto levantar para você sentar? — indagou ele, indignado. Me nego a acreditar nisso, pensei, tentando reunir forçar para pendurar-me na outra barra, quase morrendo no processo. Era tão fácil quando eu tinha dez anos! Aquela era a primeira vez em quase seis anos em que nós nos reuníamos. Na verdade, era aniversário de George, e nós aproveitamos para dar uma fugida para o parquinho, relembrar os velhos tempos. Acabei desistindo e soltando da barra, sentindo uma fadiga quase cruel. Ser velho era uma droga.

Ofeguei colocando as mãos na cintura, assistindo a mulher de cinquenta anos dar grandes tragos em seu baseado, deitada no chão naqueles trapos descolados e seu cabelo louro desgovernado e frizzado. Fui até Audrey e apertei seus ombros, a mulher estava tensa, parecendo esperar uma Auror brotar ali para ela sair correndo.

— Claro porra, eu sou a idosa! — ela apoiou seus cotovelos na grama e me olhou. — Eu já tenho idade para o preferencial, né?

— Bem, a idade não foi gentil com você, então sim. — retruquei, fazendo Charles rir enquanto recebia o baseado de Franchesca, que desencaixava sua sapatilha de seu pé para tacar em minha cara. — Eu fui sincero!

— Eu te od... Ok, sem desespero, apaga o baseado... — sibilou Franchesca, estática. Congelei, apavorado. Nunca, em cinquenta anos assistindo (e as vezes participando) de atividades ilícitas, alguma autoridade apareceu. Audrey soltou-se e agarrou a varinha, pronta para aparatar. Apontou para Franchesca, irritada.

Eu tenho filhos para criar, sua maluca! — sibilou ela, enlouquecendo. — Se eu for presa, você vai pagar a minha fiança!

— Charles, anda! — sibilei, sem saber de onde Franchesca vira o Auror, mas meu irmão estava tendo dificuldades e mirar a varinha para a batuca em meio a grama.

— Calma, eu não enxergo mais como antes... — murmurou ele, ajoelhando-se e tornando a batuca em cinzas. Todos se arrumaram, nervosos, olhando para os lados como um bando de viciados em crack até Franchesca dar um muxoxo.

— Ah, que droga, é só Andrômeda. — arregalei os olhos para a Diggory. — O quê? Eu deixei meus óculos na Grécia.

Audrey tremelicou seu olho esquerdo.

Eu quase tive uma parada cardíaca, Franchesca! — esganiçou ela. Olhei para a casa onde Andrômeda mora e assisti ela falar algo para uma adolescente a sua frente, com madeixas esverdeadas. Nós ficamos em silêncio enquanto eu, secretamente, torcia para ele não ir até nós. Nenhum de nós sabíamos muito bem como conversar com Edward Lupin. Eu o via com Victoire, mas fazia a linha do pai durão para que ele nem se aproximasse, mas então eu sentia uma onda terrível de culpa, onde eu sentia os olhos de Nymphadora em minha nuca.

Andrômeda entrou na casa novamente e ele começou a fazer seu caminho, provavelmente em direção d’A Toca, então teria que passar por nós. Nos ajeitamos, exatamente como antes, quando Nymphadora finalmente aparecia após uma briga, muito magoada e cheia de não me toques. Ele finalmente tocou a calçada do parquinho e provavelmente teve a visão de uma mulher estranha de óculos, que o olha de uma forma quase dolorida.

Uma velha loura, com culpa. Um velho barbudo que não o reconhece. E eu, um velho de rosto machucado, culpado de mais para olhá-lo.

— Vocês sabem que é estranho um bando de adultos em um parquinho, certo? — brincou, dando uma leve parada receosa, com as mãos nos bolsos da calça. Ele era assustadoramente parecido com alguém que nenhum de nós reconhecíamos, e dávamos o crédito ao pai. Mas havia uma coisa nele, uma essência, seja lá o que for.

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É quase angustiante.

Nós ficamos em um silêncio digno de animais recuados por um ser desconhecido. O garoto estava visivelmente desconfortável. Charles abriu os braços, dando de ombros.

— Bem, nós comandávamos essa área. — disse ele. Franchesca o olhou e assentiu.

— Esse parquinho era quase nossa propriedade... Tudo funcionava da forma que queríamos. — disse ela, sentando-se na grama.

O garoto sorriu lentamente.

— Pela minha avaliação, o parquinho agora pertence aos grifinórios do 4º ano.

Audrey maneou a cabeça negativamente.

— Então isso explica a zona. — disse, apontando para uma lata de cerveja perto do balanço. — Aquilo jamais aconteceria na nossa vigília.

— É! — concordou Charles. — Vamos ensinar esses pirralhos o que é administração!

Ted olhou para mim e desviou quando eu peguei seu olhar.

— Minha vó disse que minha mãe também gostava de mandar aqui. — relatou ele, parecendo querer iniciar aquele assunto.

Mandar é uma palavra muito fraca para sua mãe. — disse Franchesca.

— Ela achava que o mundo simplesmente parava quando ela ia dormir e só voltava a funcionar quando ela acordava. — Ted gargalhou com o relato de Audrey e eu também acabei rindo, assim como todos. Eles foram se atropelando, revivendo memórias de Nymphadora como uma velha amiga que viajou para longe. Eu gostaria de dizer que também falei, mas não consegui. Você já leu tudo isso, já deve saber que tenho problemas em expressar sentimentos. Eu queria falar... Mas eu não conseguia. Então eu ouvi, assim como Ted ouviu, ansioso, quase desesperado para descobrir um pouco mais da pessoa que lhe deu a vida.

Há muitas formas de se perder amigos, mas enterrar um é a mais cruel. O tempo irá jogar areia em suas memórias e esse rosto, essa voz, essa personalidade que você tanto amava serão apenas breves lembranças que seu cérebro realmente se esforçou para guardar. E só coisas boas ficarão, e mesmo as ruins, serão lembradas com nostalgia.

Quem eu seria sem Nymphadora? Sinceramente, não sei, mas eu teria sobrevivido. Como? Não sei, mas eu teria vivido. Não quero conhecer esse Bill que nunca encheu os olhos com uma beleza tão única, tão exclusiva. De personalidade difícil, ô garotinha egocêntrica, intensa... É oito ou oitenta, nunca existiu meio termo para Nymphadora. É de um extremo para o outro.

Me pergunto se esse Remus realmente pensou que ela ficaria em casa, provavelmente não. E quando me lembro disso, eu me teletransporto para a noite da Batalha de Hogwarts, e a vejo ao longe. Fora só um relance, eu estava em um duelo.

Provavelmente correndo, a procura do marido.

Essa cena roda e roda em minha mente e eu penso nas zilhões de possibilidades, universos alternativos onde eu, de alguma forma, teria falado com ela. Como está essas mil versões minhas e de Nymphadora em que se falaram? O que eles falaram? O que eu diria? Eu tenho algo para dizer a ela?

— Mas sua mãe gostava mesmo era de fazer a vida de Bill um inferno, certo Bill? — brincou Audrey, sentada ao lado de Frankie. Sequer notei que estava divagando, fitando o Lupin arduamente, um pouco distante do círculo que havia se formado na grama. Ele manteve seu olhar, como se quisesse me desafiar, mas ao mesmo tempo, me dar segurança para falar.

De um extremo ao outro...

— Bem, eu nunca me esquecerei da vez que sua mãe quase me matou afogado. — relatei, indo em direção da roda, pronto para compartilhar minhas histórias.

Mulher mais adorada!

Agora que não estás, deixa que rompa

O meu peito em soluços! Te enrustiste

Em minha vida; e cada hora que passa

É mais por que te amar, a hora derrama

O seu óleo de amor, em mim, amada...

E sabes de uma coisa? Cada vez

Que o sofrimento vem, essa saudade

De estar perto, se longe, ou estar mais perto

Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia

De viver fraco, o peito extravasado

O mel correndo; essa incapacidade

Esse contentamento, essa harmonia

Que me dão essa força, essa coragem

(...)

Coisa incompreensível! A existência

Sem ti é como olhar para um relógio

Só com o ponteiro dos minutos. Tu

És a hora, és o que dá sentido

E direção ao tempo, minha amiga

Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!

A beleza da vida és tu, amada

Milhões amada! Ah! Criatura!

(...)

Vai teu caminho que eu vou te seguindo

No pensamento e aqui me deixo rente

Quando voltares, pela lua cheia

Para os braços sem fim do teu amigo!

Vai tua vida, pássaro contente

Vai tua vida que estarei contigo!

Vinicius de Morais

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.