— Eu gosto da Shunrei... – Shiryu disse e Seiya imediatamente parou a caneca fumegante de café no ar, e o fitou surpreso.

Era segunda-feira e estavam tomando café da manhã juntos, antes de irem ao trabalho. Uma das coisas boas que o acidente trouxe foi que passaram a aproveitar esses momentos.

Seiya piscou rápido, pousando de novo a caneca na mesa. Ele não só admitiu o que sentia, ele disse em voz alta. Sem se quer tirar os olhos do jornal que lia.

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— E eu vou chamá-la para sair... Um encontro – Confirmou, finalmente baixando o jornal e fitando o jovem irmão.

— Poxa, que legal... – Seiya controlou precariamente um sorriso de excitação, enquanto se voltava a seu café – Bom... Muito bom – Bebeu do seu café ainda sorrindo.

— Só isso? Nenhuma pirueta? – Ironizou também sorrindo.

— Ah, estou me contendo para não parecer estranho. Mas vou dar um mortal para trás, assim que você sair – Deu uma risada alta, fazendo Shiryu sorrir também.

— Você é muito estranho, Seiya – Shiryu enfatizou, levantando-se. Colocou suas coisas na máquina de lavar louças e completou – Mas... Eu te amo mesmo assim... Valeu por se preocupar comigo, de verdade.

Seiya sentiu-se imensamente feliz. Shiryu era atencioso e cuidava dele, mas raramente colocava em palavras, como agora.

— Bem, o que seria de você sem mim? – Comentou também se levantando. Shiryu apenas sorriu, revirando os olhos – Aquela reunião com o advogado é hoje?

— Não, eu pedi mais tempo, então ele me deu até sexta. Tem alguma coisa errada naquele contrato, mas não consigo identificar o que é.

— Eu sei, também andei analisando. Até fiquei tentado a perguntar para o Algol... Sei que ele não quer mais saber de nada...

— Também pensei nele... Em um ultimo caso, sabe?

— Falando nisso, hoje é o primeiro dia da Shunrei.

— Hoje é só a parte burocrática. É amanhã de verdade. Pedi para a Marin repassar algumas informações e observar como ela se adapta e a partir daí designar o trabalho.

— Excelente, chefe. E quando vai fazer o tal convite?

— Breve...

— Por que você se segura tanto? – Questionou o irmão mais novo.

— Eu disse “breve” Seiya, o que mais você quer?

— Quero que você pare de se segurar. Conheço esse seu breve... Vai enrolar até...

— Eu não me seguro, Seiya, eu só penso diferente. Gosto de ser... Cauteloso.

— Cauteloso demais, Shiryu. Sei que ela gosta de você.

— Sabe? – O olhar de Shiryu era interrogativo e Seiya percebeu que tinha falado demais.

— Claro... É só olhar pra ela... O jeito como ela te olha e fica vermelha. Não percebeu também? – Jogou, tentando consertar as coisas. Era verdade, de qualquer jeito.

Shiryu manteve o olhar por mais alguns momentos e então, desviou, convencido.

— Olha, Seiya, ela vai começa a trabalhar na empresa. Não quero que pareça que teve interferência minha, entende? É o que vai parecer, as pessoas falam do que não sabem... Além desse processo que vai nos deixar um belo rombo se não formos cautelosos... Eu não vou enrolar, eu quero... Eu quero...

Seiya ponderou o que Shiryu disse e, como sempre, havia razão nos seus argumentos. Então suspirou, rendido.

— Tudo bem... Mas, estou de olho em você – Apontou o dedo em sinal de aviso.

— Claro, papai – Sorriu.

***

Já era quarta feira e não haviam tido nenhum progresso com o contrato. Shiryu estava começando a dar a causa como perdida.

— Shiryu, está ocupado? – Seiya adentrou na sua sala, caminhando até a mesa do irmão.

— Pode entrar, Seiya – Ironizou – E sim, eu estou. Mas, fala, do que precisa?

— Eu estava analisando o contrato infernal e os números não bateram.

— Quais números?

— Olha... – Seiya, apontou os balancetes que tinha e todos os cálculos que havia feito, demonstrando a anormalidade do contrato – Viu, não batem.

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Shiryu recomeçou a avaliar os números e chegou ao mesmo resultado.

— Não batem... Porque não batem? – Pensou alto.

— Eu não sei... Se descobrirmos o que é, matamos a charada... Se tivermos mais tempo, vamos encontrar.

— Não dá pra adiar mais. Tenho que passar os dados para o advogado logo. Empresas que são grandes, como aquela, conseguem agilizar muito bem esses tramites quando querem.

— Droga... – Seiya lança os papeis na mesa, com um longo suspiro derrotado.

Estavam exaustos.

Batidas na porta chama a atenção de ambos.

— Pode entrar – Shiryu autorizou.

— Com licença – Era Marin, trazendo alguns papeis nas mãos – Está ocupado? Preciso da sua assinatura.

— Não, pode trazer.

— Pra ela você não está ocupado, não? Deus está vendo, Shiryu.

— Morre Seiya... – Shiryu respondeu, pegando os papeis oferecidos por Marin, sem nem piscar.

— E ai Marin, como está? Nem parece que trabalhamos na mesma empresa... Não te vi essa semana.

— Tudo bem Seiya, e você? – Respondeu, esperando a pasta para que Shiryu analisava – Eu não paro de circular, você que se escondeu na sua sala esses dias. O que houve?

— Problemas, minha cara, problemas. E como está a adaptação de Shunrei?

— Melhor impossível. Ela é muito inteligente e dedicada.

— Sério? Então foi uma boa aquisição?

— Não tenho dúvidas. Ela é muito rápida e pega muito fácil o trabalho... Além de parecer realmente gostar da coisa – Sorriu, se lembrando da empolgação da jovem – Ela é um doce de menina.

— Ah, eu sei... Ouviu, essa Shiryu? Um doce de menina... – Falou sugestivo e piscou para Marin – E está se adaptando muito bem.

— Isso é ótimo... – Devolveu os papeis para a jovem ruiva, lançando um olhar duro ao irmão, que apenas sorriu.

— Shiryu, já posso apresentar pra ela os contratos atuais?

— Se você considera oportuno, fica a vontade. Precisamos de toda a ajuda possível.

— Obrigada... Vocês estão horríveis, deviam ir pra casa. Uma mente descansada pensa melhor. Com licença... – Sugeriu, já se virando para ir embora.

— Talvez ela tenha razão, não veríamos o problema nem se ele estivesse em luzes neon. Estamos há quase três dias em cima desses papeis Shiryu, até tarde, depois do expediente... – Acusou, fitando o irmão claramente cansado – Vamos pra casa.

Shiryu queria negar. Tinha que ter essa resposta até o final da semana e não hesitaria em ficar, em outros tempos. Em mandar Seiya pra casa e ficar ali, devorando aqueles papeis... Mas, hoje...

— Tudo bem, vamos pra casa.

Seiya soltou um longo assobio.

— O que foi?

— Não me leve a mal, mas graças a Deus aquele acidente aconteceu... Vamos... – Seiya começou a pegar a carteira de Shiryu e a blusa, largada em um canto. Shiryu sorriu e passou a organizar os papeis, mas foi impedido – Não! Larga isso ai... Vai que o velho Shiryu retoma o controle. Vamos, vamos...

Shiryu, apenas se deixou conduzir. Estava mesmo muito cansado até para ironizar o comportamento do irmão.

Chegando em casa, tudo que fizeram foi pedir comida, tomar um relaxante banho e dormir. Precisavam recuperar energias para os próximos dias.

***

— Sim! – Respondeu as batidas em sua porta e se permitiu suspirar longamente, ainda concentrado nos papeis que segurava. Era quinta feira e Shiryu estava esgotado. O dia estava sendo extremamente puxado, mal comeu tentando acertar os malditos números e o prazo final já era nesta sexta.

Ele nunca reclamava do trabalho e não o faria agora, mas não podia negar que pela primeira vez, em anos, gostaria de ter umas férias. Não, férias é demais, uma folga de uma semana já era suficiente.

— Com licença, Shiryu. Posso entrar? – A voz doce de Shunrei invadiu sua sala e, imediatamente, Shiryu parou tudo o que estava fazendo para se concentrar nela.

— Claro, sempre... – Soou mais urgente do que gostaria, mas era inevitável. Shunrei já manipulava seus pensamentos e suas ações sem que ele nem mesmo percebesse.

Qualquer minuto com ela agora seria um renovo em sua energia.

Trocaram poucas mensagens desde o pic-nic e era a primeira vez que se viam no trabalho.

Ela usava uma roupa mais formal, de todas as que já tinha visto ela usar, e estava absolutamente linda.

— Desculpa, eu não quero incomodar... – Falou, envergonhada.

— Não se preocupe com isso, precisa de alguma coisa?

— Marin me apresentou os dados das empresas com as quais tem contrato vigente e me disse que você está tendo problema com um contrato em específico.

— Sim, eles não chegaram a utilizar os serviços e começaram um processo por quebra de contrato. Nossa resposta precisa ser enviada até amanhã... Mas os números não batem de jeito nenhum – Falou, mexendo em alguns papeis – Eu não quero acreditar que Algol tenha cometido um erro tão grande.

— Não foi um erro dele, e sim da contratante.

— O que? – Shiryu comentou surpreso – Do que está falando?

— Eu estava analisando os balancetes e eu sou boa com números. Se eles não batem o erro está nos dados... E acho que sei qual é a anomalia, tentei explicar para Marin, mas ela disse que não entende nada disso, me pediu para vir aqui te mostrar... Posso? – Corou.

— Por favor... – Ele estava ansioso por qualquer luz que viesse sobre esse contrato. Ele se pôs em pé, enquanto ela dava a volta na mesa.

Shunrei pousou os papeis que segurava na mesa e, enquanto procurava o que queria, uma de suas mãos subiu até o cabelo solto e colocou uma mecha atrás da orelha. Movimento que hipnotizou Shiryu por um momento.

Ele se permitiu aproximar-se ainda mais dela. Claro que estava interessando em saber o que ela tinha encontrado, mas não podia negar que queria ficar mais perto dela, mesmo que só por agora.

— Primeiro, bem aqui... – Ela continuou firme, apresentando todos os cálculos que já tínhamos feito e refeito varias vezes – No final os números não batem por causa disso aqui... – Ela pegou outra folha, com os dados da empresa contratante.

— Esses dados já foram analisados. Os números estão corretos.

— Com os da Matriz... Mas o serviço seria para as filiais. Sete, para ser precisa. Olha esse aqui... Se usar os valores originais, o resultado final não vai mesmo bater – Quanto mais ela mostrava os dados, mais claro ficava para o Shiryu – Os dados estão certos, mas não valem para o tipo de serviço que eles pediram.

— As filiais... – Repetiu incrédulo, enquanto apoiava as mãos na mesa – Como eu não vi isso antes? – Shiryu e Seiya analisaram por quatro dias seguidos esses dados e não viram algo tão simples – Esse é um erro grotesco da parte deles.

— Arriscaria a dizer que não é um erro... Eles podem até ter agido de má fé mesmo... A matemática não mente...

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Shiryu voltou sua atenção para a jovem, completamente impressionado, com o empenho e a dedicação dela. Shunrei parecia quase encantada enquanto expunha suas analises. E ela falava com muita propriedade, como se já fosse íntima dos números.

Ela realmente amava.

—... Alterados. Não posso dizer que há transparência nas decisões deles, mas sim, pode ser um erro, bem estranho... – Cada vez menos Shiryu escutava suas palavras.

Não que não estivesse interessado, apenas não conseguia mais conter o sentimento crescente em si. Shunrei ainda estava concentrada nos papeis, já Shiryu só conseguia se concentrar nela.

Engoliu em seco. É um sentimento muito novo, grande e intenso. E tê-la tão perto de si dificultava muito as coisas.

Essa menina não podia existir... E, se existe mesmo, então ele a queria como jamais pensou desejar alguém.

Sua mente divagava entre a realidade e a imaginação. Seu pulso batia acelerado e parecia que todos os seus sentidos estavam apurados. Sentia o perfuma suave que a jovem emanava, sentia o calor que sua pele emitia, como se a tocasse.

Os lábios dela se mexiam convidativos e ele novamente se pegou imaginando como seria tomá-los. Beijá-la faria todas as novas sensações que sentia extravasar?

“Por que você se segura tanto?”. Oportunamente, a frase de Seiya, dita dias antes, lhe veio à mente...

É verdade. Ele se segurava sim e agora percebia.

Esses dias concentrado no trabalho mostraram isso. Queria ter ligado para ela. Queria ter procurado por ela nos corredores... Ele queria vê-la...

Se ele já não negava que a queria, porque não fez isso? Por que não ligou para ela, porque não a procurou?

Por que ele não ignorou a ligação de Seiya, aquele dia no parque, e continuou a dizer o quanto ela mexia com seu ser. Ele deveria tê-la segurado pela cintura, tocado seu rosto, finalmente sentido seus lábios...

Se ele queria beijá-la mais do que qualquer coisa... Testar se aquela boca seria tão doce quanto em sua imaginação apontava.

Por que ele se segurava?

Shiryu estava tão atordoado que não percebeu quando foi que fechou os olhos. Porém ao abri-los, pode perceber que não estava só delirando. Uma mão estava firme na cintura da morena e ela estava próxima o bastante para sentir sua respiração.

Shunrei o fitava com a face vermelha e tinha muita surpresa no olhar. E mais do que isso, Shiryu tinha certeza que havia um brilho de expectativa.

“Eu a beijei?”, perguntou-se preocupado. Ele não percebeu nenhuma de suas ações e não entendia como isso era possível.

Sem saber o que era delírio ou realidade, ele não soube dizer se havia beijado aquela linda garota, então, na dúvida, se inclinou e colou seus lábios aos dela.

E desta vez ele estava bem consciente.