— Você não está nem disfarçando sabia? – Shunrei comentou enquanto a amiga passava um batom.

— Sabia. Quem gosta de sutilezas é você, eu vou para o ataque. Aqui, passa esse batom também – Estendeu-lhe o batom vermelho que usou, recebendo um olhar descrente de Shunrei – Por favor, vermelho fica lindo em você.

— Não acho que combina comigo.

— Tudo bem, mas você precisa esconder esse resquício de machucado dos lábios. Que tal esse aqui? – Escolheu um mais suave e dessa vez, Shunrei não protestou – Devia soltar o cabelo.

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— Nós só vamos tomar sorvete mesmo?

— Sim! Com dois caras lindos! Ah, vamos Shunrei, entra no clima – Puxou a amiga, desfazendo a trança que ela habitualmente usava – Somos mulheres, jovens e lindas. Você pode até fingir que não está interessada no Shiryu, mas não pode negar que a ideia de ir tomar sorvete com eles é excelente.

Sorriu, contagiando a amiga. Shunrei adorava esse jeito espontâneo e descontraído de Saori.

E sim, ela está fingindo não estar interessada, quando claramente, estava desde que o viu, pela primeira vez.

— Não vamos deixá-los esperando mais... – Novamente puxou a amiga, que apenas se deixava levar. Somente quando já estavam perto da entrada, Saori soltou sua mão – Você tranca.

Antes de qualquer coisa, a jovem já corria em direção aos rapazes, que permaneceram no mesmo lugar.

— Sua segunda sobremesa favorita, certo? – Saori segurou o braço de Seiya e aproximou-se sugestiva.

— É impressão minha ou você está tentando me seduzir pelo estômago?

— Depende, está funcionando? – Ambos sorriram e começaram a andar, ligeiramente rápido, sugerindo que queriam alguma privacidade.

— Excelente ideia essa do sorvete hein, cúmplice – Comentou Seiya baixo.

— De nada. Já comecei a envolver a Shunrei como posso. Não sei seu irmão, mas Shunrei precisa desses empurrões ou a coisa não desenrola.

— Empurrões? Garota, Shiryu precisa ser arrastado com toda a força – Saori sorriu largamente – É sério, ele assumiu toda responsabilidade possível e existente pra ele, depois que nossos pais morreram... Ele... Ele parou de viver de verdade, entende? Shunrei é perfeita pra ele e eu não canso de repetir isso. Não vou deixar que... Shiryu a deixe escapar – Sorriu com o próprio comentário.

— Fique tranquilo, eles estão interessados um no outro, isso é um fato. Só precisamos fazer exatamente o que disse, não deixar que eles percam essa chance – A frase perdeu tonalidade no fim, como se, repentinamente, lembrasse de algo importante – Nós precisamos sair juntos e arrastá-los conosco.

— Estamos fazendo isso agora.

— Agora foi de improviso, precisamos que eles fiquem mais juntos. Eu disse que você tinha me convidado pra sair, então precisamos sair... Com eles.

— Deixa isso comigo.

— O que pretende?

— Você saberá. Você trabalha, certo?

— Sim, mas estou de férias. Tenho ainda uma semana livre.

— Melhor ainda... – Parou, respirando fundo, como se algum cheiro tivesse atraído – Sinto cheiro de sorvete, estamos perto não é?

— Na verdade, sim – Comentou surpresa – É nesta esquina, como isso é possível? Você sentiu o cheiro?

— Você ficaria surpresa...

Enquanto isso...

Shiryu havia permanecido no mesmo lugar, esperando Shunrei que já vinha ao seu encontro.

— Vamos ficar de vela, você sabe não é? – Shunrei comentou e Shiryu sorriu.

— Não seria a minha primeira vez... E provavelmente não será a última. Na verdade, sou bem experiente nisso – Confessou e Shunrei sorriu, daquele jeito que já não saia da sua cabeça.

“Acho difícil de acreditar” , a jovem pensou, mas preferiu não comentar.

Começaram a andar, calmamente, observando o jovem casal animado, mais a frente. Permaneceram por m breve momento em silencio, aproveitando, discretamente, a presença um do outro.

— Desculpa me intrometer, mas aconteceu alguma coisa?

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— Do que está falando?

— Bem, hoje você parece meio... Abatido – Não era bem essa palavra que estava procurando, mas é a que mais se assemelha ao sentimento que Shiryu lhe transmitia.

— Abatido?

— Sim... Quero dizer. Seu olhar está... Pesado. Diferente dos outros dias. Não quero parecer invasiva, me desculpe se...

— Não, eu jamais pensaria isso. Pode falar.

— Talvez pareça estranho, mas você tem o que meu avô chamava de "olhar limpo". Já ouviu falar que os olhos são a janela da alma?

— Sim, sim.

— Isso é uma realidade visível em algumas pessoas e meu avô era muito bom em notar isso. Então eu passei a prestar mais atenção no olhar das pessoas, graças a ele. E hoje, seu olhar está diferente...

— Estou impressionado – Falou com sinceridade – Seu avô devia ser uma pessoa admirável. Gostaria de tê-lo conhecido.

— Ele era fantástico – Sorriu, lembrando-se dos ensinamentos valiosos que recebeu – Eu aprendi muito com ele.

— E você acertou, estou preocupado com o trabalho. Mas, são ossos do oficio.

— Quer conversar sobre isso?

— Não vou te importunar com isso...

— Que isso, não me importuna, eu gosto, lembra? – Ela parou de caminhar assim que dobraram a esquina e o fitou diretamente, com um sorriso suave, o incentivando a continuar.

Como esquecer? Shiryu rememorava cada momento com ela, inconscientemente, e cada vez mais gostava de sua companhia.

— O problema é com um bom funcionário, muito importante, que também era um amigo de longa data do meu pai... Ele se demitiu hoje. Sem explicações, sem acordos ou negociações... Sem um motivo claro. Ele estava à frente de quatro novos contratos muitos importantes e eu confiava muito nele.

— Isso realmente afetou você.

— Mais do que eu mesmo esperava. Foi tão de repente que não sei o que fazer agora.

— Eu sei – Ela sorriu, olhando para o lado. Shiryu nem percebeu, mas eles já haviam chegado à sorveteria – Agora... Você vai esquecer tudo isso e tomar o melhor sorvete da cidade... Por que sofrer por antecipação não te ajudará em nada, pelo contrário, vai te impedir de ver claramente. Combinado?

Shiryu a fitou novamente, de maneira mais intensa do que deveria, pois ela corou.

— Combinado – Sua voz acabou saindo mais baixa do que pretendia.

— B-bem, então... Vamos, pois aqueles dois já estão escolhendo... – Praguejou mentalmente por ter gaguejado, mas como se manter firme diante de um olhar tão penetrante quanto o dele?

— Vou à falência neste lugar, quero provar todos – Comentou Seiya, que já tinha escolhido dois sabores em uma cestinha própria para isso.

— Grave na memória esse Seiya que você um dia conheceu, Saori – Shiryu disse em um tom tão sério que todos pararam para ouvir – O encanto vai desaparecer quando o ver tomando sorvete.

— Shiryu, vai pegar o seu sorvete e larga o meu pé – rRetrucou enquanto ouvia as meninas dando risada.