Minha primeira atitude ao acordar foi separar folhas de papel, nas quais poderia colocar o meu pensamento e suposições em escrito. Antes de me sentar em frente ao trabalho preparei um copo de café forte. Isso me ajudaria nas horas seguintes. Comecei a pensar.

O primeiro contato que havia tido com os homens e Lilly fora no bar da mulher, onde Henrie e eu fomos atacados com um golpe no pescoço. A barwoman, Lilly, uma mulher de cabelos escuros e olhos castanhos. Era a única pessoa que sabia o nome. Isso pelo descuido de homem desconhecido que esbarramos na rua de Salismouthh.

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Naquele dia havia mais duas pessoas, dois homens. Um era negro, estatura mediana, cabelos castanhos e olhos verdes. Era um homem misterioso e parecia se divertir com a apreensão das pessoas que estavam sob seu controle. Sei que se divertiu comigo, não uma, mas duas vezes. O outro homem presente eu não pude identificar, apenas sabia que não era velho pelo timbre de sua voz.

Anotei os detalhes de suas características físicas em uma folha, logo embaixo anotei o conteúdo de um bilhete que Henrie e eu encontramos na casa. Uma foto minha e meu nome escrito no verso.

Vector... Vector O’Hanoly. Meu pai. Eu sabia que tudo o que estava acontecendo era para atingi-lo de alguma maneira. No entanto, parecia faltar alguma coisa. O elo. Se eles precisavam atingir Vector, poderiam fazê-lo de várias maneiras mais diretas. Seqüestrar dois protegidos – Spork e Jenester – e atrair a filha do homem, não parecia muito prudente.

Recostei-me na cadeira e levei o café à boca.

– Está faltando algo – Sussurrei para mim mesma. Então fechei os olhos e tentei me apegar aos detalhes. Eu era boa nisso.


– O que vocês esperam conseguir com isso?

– Francesca... Sendo filha de Vector, eu esperava mais de você.

– Como você sabe de Vector?

– Sei de muito mais


Com certeza ele não havia citado o nome de Vector em vão. Sua intenção era deixar claro que ele sabia da Coeur, sabia de nossos deveres e ações e, acima de tudo, sabia da posição de Vector e do poder envolta dele. Aquelas pessoas eram perigosas. Se não as pegasse primeiro, elas nos pegariam. No entanto, era claro que eu era peça de algum jogo, afinal o encontro em Salismouthh não foi o único. Tivemos um em Londres. Aquele bar no qual estava junto de Henrie e Anthony, e onde meu parceiro fora pego. Lembro-me de sentir desesperada, da procura sem rumo por McMahon para então achá-lo na sala de um lugar qualquer.


– O que vocês querem? – Tornei a perguntar.

– Ganhar tempo.


E então um civil apareceu, dando-me tempo suficiente para atirar-me encima de um dos homens e resgatar a minha arma.

– Como você se chama?

– Abraham! Abraham!


Abraham, o homem dos olhos bonitos.


Suspirei ao perceber que minha linha de pensamento não estava me levando a lugar algum. Não estava conseguindo pensar como eles.

Levei o resto de café à boca e me levantei, desistindo temporariamente dos meus pensamentos. Decidi por um banho e, posteriormente, sair para um drink. Às vezes um copo de conhaque num bar barulhento ajudasse, não? A verdade era que eu odiava lugares tumultuados de pessoas, mas se no silêncio do meu quarto não havia chegado em um resultado, por quê não dar chance ao barulho?



Coloquei roupas quentes, não esquecendo da jaqueta de couro por último. A OTS-38 escondida entre os panos na cintura. Sei que Vector não gostaria que eu saísse de casa durante minha suspensão da coeur, mas eu simplesmente não vou conseguir permanecer aqui dentro por muito tempo. Sendo assim, saí de casa quando a ausência de luz solar deixava Londres numa quase penumbra.

Andei algumas ruas com as mãos nos bolsos, apenas observando as pessoas transitando. Quando cansei de andar, algo que uns cinco minutos depois, entrei no primeiro bar que vi. Aquela área da cidade possuía muitos bares, portanto este que havia entrado era desconhecido para mim.

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– Um conhaque – Pedi, logo passando o dinheiro para o homem. Não demorei a receber o meu copo com alguns cubos de gelo dentro. Tomei o primeiro e gole e fechei os olhos por alguns segundos. Eu amava conhaque; uma das minhas bebidas preferidas, perdendo apenas para o café.

– Oh, a garota assassina – Uma voz chamou-me. Olhei para o meu lado esquerdo e me surpreendi ao ver quem estava sentando ali. – Lembra de mim? – Perguntou de modo divertido e apontou para a perna.

– O louco que eu, sem querer, atirei na perna.

– Sim, basicamente – Sorriu e eu não pude deixar de notar em seus olhos mais uma vez. Lindos. Um verde, outro azul.

– Posso beber com você? – Dei de ombros em resposta. Era uma coincidência grande me encontrar com ele nesse bar com tantos bares na região. Ou, pensando melhor, poderia não ser uma coincidência. Enrijeci-me com o pensamento. Ele poderia ser um deles.

– Quem é você? – Perguntei sem pensar.

– Abraham Wilson – Respondeu franzindo o cenho. Parecia não entender onde eu queria chegar com minha pergunta. Talvez estava o julgando mal.

– Desculpe, você me lembra alguém, apenas isso.

– Alguém importante?

– Um parente distante – Menti. Não conhecia ninguém que me lembrasse, mesmo que brevemente, aquele homem. Cabelos escuros, pele extremamente braça e olhos heterocromáticos.

Abraham havia pedido vodka pura e bebericava seu copo de tempo em tempo, assim como eu também o fazia. Seu modo despreocupado e um pouco avoado me fez esquecer quase por completo minha suspeita repentina sobre ele. Coincidências poderiam acontecer, eventualmente.

– Então, conte-me – Sussurrou aproximando-se de mim. – Você é algum agente do governo ou algo assim?

– Isso importa? – Respondi. Minha intenção não era ser mal-educada, mas o rumo daquela conversa não era um terreno seguro. Portanto fingi uma risada, para não deixar um clima ruim se criar.

– Claro que sim, vamos, eu sei guardar segredo – Piscou.

– “Algo assim” – Respondi então.

– Uma mocinha do governo – Concluiu e bebeu um longo gole de vodka, quase acabando com o líquido do seu copo. – Quem diria.

– É – Dei de ombros. Pensando bem, esse joguinho era fácil de sustentar.

Continuamos a conversar nos próximos minutos; demorei a perceber que já estávamos chegando a duas horas de conversa. Confesso que era um evento engraçado, pois, apenas com Henrie, conseguia manter alguma conversar por muito tempo. Lembrando do meu parceiro, Abraham o lembrava de certa maneira, deixava fluir as palavras sem aparente preocupação. Isso me fazia rir às vezes, mesmo se não quisesse.

–... eu estava tão louco, nem me lembrava do que havia usado!

– Você não deveria estar me contando sobre isso – Refleti.

– Por que? – Perguntou levemente assustado. Sorri.

– Sou do governo, lembra?

– Ah! – Riu e chamou o garçom para mais dois copos. Pagou-os.

Remoia-me para aceitar que a presença de Abraham estava, no mínimo, sendo agradável para mim. No entanto, o motivo principal da minha ida ao bar estava deixado de lado. Não importa, teria mais tempo para isso depois.

– Qual o seu nome? Acabei de perceber que não sei. Você sabe o nome.

– Parece justo eu te contar o meu, portanto? – Levantei as sobrancelhas. – É Gabriela.

Continuamos a conversar enquanto bebíamos algo. A madrugada estava fria e o álcool estava começando a fazer efeito.

– Preciso ir – Disse interrompendo-o enquanto contava um caso.

– Mas já?

– Eu nem deveria estar aqui – Dei de ombros.

– Posso ter seu telefone? – Perguntou esperançoso.

– Não – Ri, mas sem mentir.

– Oh, vamos, Gabriela. Foi legal conversar contigo e ainda não te desculpei por conta da minha perna – Insistiu. Vi enquanto ele puxava um pedaço de papel de seu bolso e pediu uma caneta para o barman. Anotou algo ali e estendeu-o para mim. – Então, talvez, me liga?

Peguei o papel e o guardei no bolso. É claro que eu não ligaria, mas para encerrar o assunto decidi guardar o número sem reclamar.