Cinzas de uma Era

Capítulo 17 – Sangue no Tapete.


— Gravata não Lily, porque gravata? Está muito bom assim, sem gravata.

— Ai tio quem já se viu um noivo casar sem gravata?! – Exclamou a menina já irritada.

— Eu também nunca vi um casamento celebrado por uma criança, então coisas que nunca se viu valem por aqui, capithe? – esperou uma resposta dela que não veio, apenas olhou-o irritada, então perguntou outra vez – Capithe, princesa?

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— Capithe, Tio Peeta. – Respondeu contrariada – Mas do terno por cima da camisa eu não abro mão.

— Onde você aprendeu essa expressão “eu não abro mão”? – perguntou Peeta entre risos – parece uma velha.

— Os adultos falam assim, se você não sabe. – disse mostrando-lhe a língua – e agora vou ajudar a Tia Kat. – concluiu deixando-o só.

— Talvez eu saiba considerando que EU sou o adulto daqui. – murmurou assim que ela passou pela porta.

Haviam-se passado três dias após o pedido de casamento e só agora o tal evento aconteceria. Claro que, se fosse por Lily, teriam feito no mesmo dia.

— Você está lindíssima Tia Kat! – exclamou Lily ao entrar no outro quarto e deparar-se com uma Katniss vestida em um vestido cor bege bem claro, soltinho, que caí-lhe até os joelhos.

— Obrigada querida. Vamos começar? Você pode chamar o seu tio para iniciarmos isso de uma vez porque eu sinceramente não estou mais acostumada a usar saltos.

— Claro! – Assim que passou pela porta gritou – Tio Peeta! Vem, vou começar agora!

O loiro chegou e ficou em pé ao lado da mesinha que Lily colocou como sendo o altar, e Peeta prendia o riso o máximo que podia, o que não era suficiente pois a garota logo percebeu.

— Não ria senhor Mellark, isso é o seu casamento, e é coisa séria.

Peeta não aguentou e gargalhou alto e pôde ouvir quando Katniss dentro do quarto o acompanhou.

Antes que Lily começasse novamente a repreender o loiro, Katniss entrou, segurando entre as mãos uma única flor postiça que havia sido tirado do vaso da cozinha. Ela andou rapidamente até chegar onde Peeta estava e obrigar-lhe a pegá-la pelo braço;

— Nunca pensei que seria tão constrangedor sem a música. – afirmou, sentindo Peeta rir ao seu lado.

Lily Pigarreou para ter a atenção dos tios e iniciar a “cerimônia”.

— Estamos hoje aqui para testemunhar a união de Katniss Everdeen e Peeta Mellark. – ela parou um pouco e depois olhou confusa para Peeta, antes de sussurrar – o que eu digo agora, tio?

Katniss escondeu o rosto no terno de Peeta para rir, enquanto ele dizia à menina que também não sabia, então que ela procedesse como quisesse.

— Tudo bem. – prosseguiu ela – Vamos para as alianças então.

Lily desceu-se do altar improvisado e foi até o criado mudo onde descansavam sobe um pequeno lenço de pano, dois anéis.

O de Peeta era um anel de prata que ele comprou pela internet à um ano atrás. Ele não queria utilizar a mesma aliança que usava quando era casado com Delly, ao mesmo tempo que queria usar algo que fosse ao menos especial. Por isso aquele anel de prata. Ele o comprou apenas porque Aya tinha gostado.

O anel designado à Katniss era, evidentemente, de Delly. Porém ela teve o cuidado de não ser o anel de noivado dela, nem a aliança de casamento. Katniss optou por um delicado anel de ouro branco, dentre os muitos que Delly tinha, com uma única pedrinha de rubi vermelho por cima. Peeta declarou não saber a origem do anel, e julgou que a própria falecida esposa o tenha comprado, antes de tudo.

Lily trouxe-os e depositou-os no “altar”, dando permissão aos noivos que pegassem os anéis que entregariam. Como a loirinha não sabia o que falar, apenas deixou que ambos deslizassem os anéis nos dedos um do outro. Katniss e Peeta sabiam as palavras desse momento em um casamento normal, só não queriam dizer. O silêncio era preferível. Tudo agora era silencioso: as ruas, as casas, os casamentos. A Nova Era seguia silenciosa como um crime no meio da noite.

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Quando terminou de colocar o anel na moça, Peeta a olhou, sem dizer nada e ao mesmo tempo dizendo muita coisa. Ela era sua esposa agora. De uma forma engraçada e curiosa, mas era. Continuou a observar ela que, agora o olhava, provavelmente tentando desvendá-lo. Lily os interrompeu dizendo que o noivo podia beijar a noiva e que ela os declarava marido e mulher. Esta tinha sido a única frase que ela conseguira decorar.

Peeta aproximou-se devagar, ainda fitando os olhos cinzas da esposa. Encostou os lábios na morena, de modo demorado porém sem mais pretensões. Afastou-se dela e Katniss pôde perceber que seus olhos estavam lacrimejando. Ela não sabia porque, mas ele estava com vontade de chorar.

— Você está muito emotivo agora que voltou a ser você. – descontraiu ela, levando uma das mãos ao rosto dele que fechou os olhos e apreciou o carinho oferecido. Quando abriu os olhos mais uma vez, olhou-a firmemente antes de dizer baixo:

— Não quero falhar com você. Não quero falhar outra vez. Não com você. Não com ela. – concluiu referindo-se a Lily, que agora parecia impaciente enquanto retirava a toalha branca do altar.

— Não vai. – afirmou ela.

— Não quero te decepcionar. – afirmou ele.

— Não fará isso. Você nunca decepcionou, nem a mim, nem a elas. – Ele abaixou a cabeça, então ela repetiu. – Nem a elas, Peeta.

— Quem abriu essa janela de novo? – indagou Lily, interrompendo – essa tranca deve estar ruim.

Katniss deu de ombros e Peeta limitou-se a observar.

— Bem agora que já acabou esse casamento - começou a morena – vou tirar essa roupa e esses saltos e iremos jantar, certo?

Lily ainda mexendo na janela concordou sem olhá-la, então a mais nova casada seguiu para o quarto. Peeta a seguiu, encostando a porta.

Katniss livrou-se do salto e olhou no espelho percebendo então a presença de Peeta por trás de si.

— Achei que poderia precisar de ajuda – iniciou ele, começando a abrir o zíper do vestido, que se estendia por toda a extensão da coluna. Katniss sentiu um suave arrepio passar-lhe pelo corpo, enquanto ele abria o zíper e continuava falando – você sabe, essa coisa de zíper nas costas.

— Peeta... – assim que pronunciou o nome dele, o loiro começou uma série de beijos pela sua nuca, o que a fez parar com o discurso e suspirar – Peeta, Lily está bem ali na sala. Ela pode entrar aqui... você sabe... ela é como um tsunami.

Peeta sorriu ainda com os lábios encostados na pele dela, e a abraçou por trás.

— Tem razão. Aliás, eu ainda terei muito tempo com minha esposa, certo? – indagou olhando-a pelo reflexo do espelho.

— Certo. Você terá. Nós teremos.

— Vou ver o que ela está aprontando, então. Não ajuda muito no meu auto controle ficar aqui, e ainda mais com esse vestido assim.

— Vai. – riu Katniss, interrompendo-o – eu já estou indo.

~~ ~~

Mais tarde, naquela mesma noite o jantar estava sendo servido: uma sopa de ervilha que não tinha muito gosto por falta de temperos, porém não estava de todo mal.

— Tio Peeta, preciso que o senhor amanhã olhe a janela. Ela está se abrindo muito e o senhor sabe, tenho medo.

— E a palavrinha mágica, Lily? – corrigiu-a Katniss

— Por favor, tio.

— É claro, pequena. Amanhã eu a olharei sem falta. – respondeu sorrindo, como sempre fazia quando conversava com a garotinha.

— Obrigado.

— Bem agora vamos dormir? Você está acordada desde muito cedo, Lily. – afirmou a mais velha, levantando-se e tirando os pratos da mesa e levando-os a pia.

— Sim tia, eu já estou com sono mesmo. – levantou-se Lily da mesa, indo em direção a Peeta e beijando-lhe a face – Boa noite, Tio Peeta.

— Boa noite, princesa.

Katniss sorriu como sempre fazia ao presenciar uma cena de carinho entre Lily e Peeta. Ela se pegou imaginando o quanto ele amava a Aya e o quanto ela fazia falta. Peeta nunca deixaria de sentir uma certa tristeza em seu coração, ela sabia. Não quando perdeu pessoas tão queridas. Não quando as perdeu de modo tão brutal.

Acompanhou Lily até o sofá que ela insistia em dizer ser sua cama e que de algum modo era bem espaçoso para ela. A pequena loira era mesmo pequena e magricela, fazendo-a caber em qualquer lugar.

— Tia a senhora pode verificar a janela para mim? – disse a menina assim que deitou-se e cobriu-se.

— Você está mesmo com medo por causa dela não é? Não se preocupe, Peeta descobrirá amanhã porque ela está abrindo sozinha.

— Obrigado Tia Kat. Boa noite.

— Boa noite, meu anjo.

Katniss seguiu para o quarto encontrando Peeta deitado, ambas as mãos entrelaçadas sobre o abdômen, olhos atentos no teto. Ela nem tinha percebido que ele tinha passado para o quarto.

Aproximou-se dele e afagou suas mãos. O loiro voltou os olhos para ela e sorriu simples, desentrelaçando as mãos e utilizando-a para tocar os cabelos negros e compridos da morena. Ela aproximou-se dele e beijou-lhe os lábios.

Peeta sentou-se na cama com o intuito de trazê-la mais para perto de si, porém sem ainda quebrar o beijo. Sentou-a em seu colo, e enganchou seus dedos no cabelo da morena. Ela arfou quando sentiu seus lábios em seu pescoço, logo depois.

Em algum momento entre seus beijos, a camisa de Peeta foi retirada, com o intuito claro de ter mais contato. As mãos dele eram ágeis pelo corpo da esposa, buscando algo que não tinha a muito tempo. Ou que nunca teve.

Peeta tinha certeza que aquilo era diferente. Ele estava convicto que nunca tinha sentido essa expectativa, esse desespero em tê-la, essa ânsia. Ele amava Delly, tinha certeza, mas aquilo era diferente. Nada que tenha experimentado com sua falecida esposa. Ele se sentia como se fosse a primeira vez, como se nunca tivesse feito aquilo na vida, e isso o deixava ansioso para ter aquela mulher para si.

Apertou-a contra si, e a viu puxar a blusa azul clara que usava para retirá-la, porém quando a blusa passava por seus braços, ela parou.

— O que foi Katniss? – perguntou ansioso.

— Acho que... Acho que ouvi algo. – respondeu ainda buscando fôlego.

— Eu não ouvi nada. Vem – puxou-a novamente – por favor...

— Eu acho que... – tentou continuar porém os lábios dele invadiram os seus novamente, e toda a preocupação que ela tivera no momento se fora rápido e translucidamente como o bater das asas de um beija-flor.

Até que, sem aviso prévio , de súbito , ouviu-se um grito.

Peeta soltou-se de Katniss imediatamente, largando-a na cama. Arrancou de debaixo da cama sua faca, que Katniss nem imaginava que ele a escondia ali, enquanto corria para fora do quarto, sem camisa, do modo como estava.

Katniss levantou-se atrás, sentindo seu coração palpitar forte e alto como se quisesse saltar. A tempos ela não sentia uma sensação de medo tão grande. Mais precisamente, desde quando resgatara Lily.

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Lily. Pensou em seu nome mais uma vez.

Antes de chegar a porta do quarto ela já chorava, e assim que estava para chegar ouviu o grito de Peeta.

— NÃO!

Katniss se apressou e ao chegar não sala não conseguiu entender bem a cena. Um homem alto fugia pela janela, com Peeta correndo atrás dele, com a faca nas mãos.

O entendimento veio ao olhar para o chão.

Lily agoniava, enquanto seu sangue molhava o tapete.