Forks
Ela já tinha visto fotos, até mesmo alguns vídeos, no entanto não parecia ter sido o suficiente para prepará-la. O hospital era imenso e, a alguns bons metrôs de distância, o shopping se erguia majestosamente, com uma ponte de vidro os conectando. Rosalie estacionou o carro e soltou um assobio, inclinando o corpo sobre o volante na tentativa de calcular o quão alto os prédios se erguiam.
Estava animada com a possibilidade de trabalhar tão perto do irmão. Apesar de implicarem um com o outro constantemente, o amava muito e sentira sua falta. Checou a maquiagem no espelho e com um sorriso final, saiu e trancou o carro. Tinha optado por usar uma calça social preta, uma blusa branca de seda com detalhes rendados, um blazer salmão e o sobretudo branco por cima. O cabelo estava solto, caindo em ondas douradas por seus ombros.
Ainda devia ter trinta minutos de sobra antes da entrevista com a Doutora Swan, o que lhe dava liberdade para explorar. Escolheu ir pela emergência ao invés de pela entrada principal, já que passaria algum tempo por ali caso fosse contratada. Chegou ao mesmo tempo em que uma ambulância parava abruptamente, as portas se abrindo deixando dois homens a vista. Um estava na maca coberto de sangue. O outro pressionando alguma das diversas feridas que o paciente parecia ter. Rosalie sequer pensou antes entrar em ação.
— O que aconteceu? — perguntou enquanto desfazia a trava para escorregar a maca até o chão. Notou o o corte profundo a poucos centímetro do pescoço que o socorrista estava tão focado. — Continue pressionando!
— Acidente de carro, mais dois estão a caminho e... Quem é você?
Rosalie não deu muita atenção à última pergunta, checando a pulsação do homem. Arrebentou os botões da camisa social dele, que antes de ser embebida em carmim tinha sido azul, e encontrou mais cortes e um grande hematoma começando a se espalhar pelo abdômen.
Ela desceu do salto e jogou o cabelo para trás. Que belo dia para remarcar entrevistas.
Vinte minutos mais tarde, antes do que esperava, passava pelas fileiras de leitos em direção ao banheiro. Adquiriu o costume de sentir olhares sobre si e simplesmente não se importar, mas dessa vez, talvez porque devia estar em algum dos andares mais altos tomando um café bem feito e conversando sobre suas habilidades, sentia-se consciente demais sobre o fato de suas roupas estarem cheias de manchas secas de sangue.
— Droga, minha blusa preferida — reclamou, fazendo bico.
Tirou o sobretudo, que também ficou sujo, e suspirou ao colocar ele na bancada da pia. Seu reflexo no espelho era uma bagunça completa, completamente diferente de quando ela estava no carro. Apesar disso, Rosalie sorriu. Aquele homem não corria mais perigo de vida por hora e os médicos tomavam conta dele. A única coisa com a qual devia se preocupar agora era tirar o sangue que havia espalhado pelo rosto quando passou as costas das mãos pela testa.
Jasper provavelmente levaria um choque se a visse coberta daquele jeito. Seu querido irmão nunca a tinha visitado no trabalho. Ele nunca admitiria em voz alta, mas se preocupava com ela, bem mais do que deixava transparecer. A água escorrendo pelo ralo foi lentamente ficando rosa conforme se limpava. Sua primeira missão quando chegasse em casa seria procurar uma lavanderia que fizesse milagres.
— Senhorita?
Ela inclinou a cabeça na direção da porta, reconhecendo a voz do socorrista que ajudou.
— Sim?
— A equipe do hospital precisava falar com a senhorita — ele falou um pouco mais alto que antes.
Rosalie secou o rosto suavemente, por sorte decidiu colocar uma maquiagem bem leve quando estava se arrumando mais cedo, então não havia borrões. Respirou fundo dando uma última olhada em sua figura bagunçada no espelho e arrumou a postura. Abriu a porta, tendo que dar um passo para trás caso contrário o rapaz teria caído em cima dela.
— Quem quer falar comigo?
Ele apontou para o balcão, antes de se abaixar para amarrar o cadarço do tênis. Ela engoliu a risada, usando o ombro dele de apoio para calçar os próprios sapatos.
— Obrigada — sussurrou, dando uma piscadela assim que terminou.
Um grupo de pessoas a esperavam, realmente uma equipe. Um homem e uma mulher vestidos de forma mais apropriada para um escritório, algumas enfermeiras, médicos e o motorista da ambulância.
— Muito bem, estou aqui. Quem queria falar comigo?
Eles olharam de um para o outro e depois para alguém atrás dela.
— Eu gostaria de falar com você — a voz suave, e carregada de autoridade a fez se virar.
Bom, agora conseguia entender melhor o motivo para Jasper falar com tanta admiração sobre sua sócia.
— Dra. Isabella Swan — falou com um sorriso.
Os olhos esverdeados se estreitaram um pouco em sua direção.
— Você sabe meu nome, no entanto, eu não sei o seu.
— Sou Rosalie. Rosalie Hale. Tínhamos uma reunião marcada em — ela checou o relógio de pulso —, aproximadamente, sete minutos.
— Ah, a irmã de Jasper. É um prazer conhecê-la, Srta. Hale — Isabella estendeu a mão, que ela aceitou, trocando o casaco de braço
— Igualmente. As circunstâncias podiam ser melhores, no entanto.
— Nisso você tem razão — a doutora passou por ela e entregou o prontuário para a enfermeira do outro lado do balcão. O senhor Bennett está melhor, mas antes de dar alta, aplique a vacina contra gripe. A senhora Williams já pode ser liberada também, não esqueça de marcar uma consulta para ela com um obstetra.
Rosalie observou a interação com interesse. Isabella Swan não parecia ser mais velha do que ela e mesmo que fosse, não deveriam muitos anos de diferença. Entretanto, a autoridade que parecia formar uma aura ao seu redor era impressionante.
— Srta. Hale, da próxima vez que se encontrar em uma situação como essa, por favor, tome cuidado. Poderia ter prejudicado o paciente, mesmo sem querer — Isabella a encarou, colocando as mãos nos bolsos do jaleco e a encarando. — No entanto, em nome do Hospital, quero agradecê-la por ter ajudado a salvar aquele homem. Venha trabalhar na primeira semana depois do feriado.
Mais tarde, sentada dentro do carro na garagem da casa do irmão, Rosalie nem sequer pensou na bronca que tinha levado de sua nova chefe tamanha sua felicidade.

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. Algumas horas depois .


Jasper se aproximou sorrateiramente da cama em que Rosalie dormia. Como um menino travesso, olhou para a colher de madeira com um sorriso e acertou na panela que segurava com a outra mão. O barulho ecoou pelo quarto todo enquanto ele batia. Tinha descoberto sobre as boas notícias através de Isabella, então estava um pouco chateado com a irmã.
— Rosie! Acorda! — gritou, começando a se afastar.
Tomar uma distância segura era a melhor estratégia no momento. Principalmente quando os olhos dela se entreabriram, as pálpebras pesadas caindo várias vezes antes dela os fixar nele. O azul escuro intensificado pela fúria de ter sido acordada e ainda mais daquela maneira.
— Jasper, seu filho da mãe. Sai daqui!
Ela atirou um de seus travesseiros nele, mas o safado desviou. Rosalie tinha uma excelente pontaria e o teria acertado mesmo sonolenta, no entanto, ele ganhou experiência com o tempo. A mãe deles passou algumas tardes os colocando de castigo por brigas bobas de criança como aquela.
— Vamos lá, Rosie, é hora de acordar — ele sentou na beirada da cama, largando o despertador improvisado sobre o colchão. Riu quando tentou tirar uma mecha de cabelo da frente do rosto dela e levou um tapa na mão.
— Você não cresce, não é mesmo? — ela murmurou, arrastando o corpo até ficar mais ou menos sentada.
— Sua capacidade de observação, querida irmã, me surpreende a cada dia — sua voz estava laçada de ironia, fazendo Rosalie rir.
— O que você quer? — ela perguntou.
— Pensei em convidar Isabella e os pais dela para almoçarem com a gente amanhã. O que acha?
— Parece uma boa ideia.
Rosalie bufou, aborrecida, ao ser empurrada para que ele pudesse se acomodar ao seu lado.
— Espero que eles sejam mais agradáveis que ela.
— Ah, fiquei sabendo do que aconteceu no hospital. Foi interessante descobrir que minha adorável irmãzinha conseguiu uma bronca e um emprego no mesmo dia pela chefe dela.
— Sério, Jazz?
Ele se encolheu quando ela cutucou suas costelas, sorrindo.
— Isabella só é um pouco fechada, Rose — ele segurou os pulsos da irmã com a mão direita e passou o braço esquerdo pelo ombro dela. — Você vai ter a chance de conhecê-la fora do ambiente de trabalho, poucos tem esse privilégio. Ela é uma boa pessoa. Agora vê se levanta que o jantar está pronto.