Chuva cinza

Capítulo 3 - Novamente


Eram quase nove da noite quando resolvi tomar banho, programei o chuveiro no mais quente possível. O banheiro estava uma fumaça só, nem dava pra ver meu reflexo no espelho, também, pra quê arrumar o cabelo se eu não ia sair de casa, coloquei somente meu pijama de moletom branco, e sai. Entrei no quarto, e me sentei na cadeira da escrivaninha, resolvi mandar um e-mail pros meus pais, já que eles não atenderiam se eu ligasse. Depois fiquei sentada num banquinho em frente à janela, observando a chuva, de repente, apareceu uma borboleta, eu olhei fixamente pra ela, e bati no vidro pra que ela saísse, mais não saiu:

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–Sai daqui! - eu disse batendo mais vezes. - Sai, sai logo! - falei quase esmurrando a janela.

Nisso, o garoto, André, passa, e olha pra mim:

–Oi Maria Júlia. - ele diz olhando pra cima e acenando, tentando manter os olhos abertos, o que era difícil, pois estava chovendo.

Eu acenei de volta, morrendo de vergonha, então abri a janela:

–Oi. Ei, o endereço que te passei estava errado? - perguntei brincando, tentando puxar assunto.

–Não, não. Só fui visitar um amigo. - falou enquanto piscava os olhos rapidamente.

–Ah, entendi. - eu disse fingindo que acreditava.

–Bom, tô indo nessa... Tchau Maria Júlia! - disse todo encharcado.

–Tchau. - respondi. - É M.J.... - disse pra mim mesma, enquanto fechava a janela e ele ia embora.

Sentei de novo no banquinho, e fiquei sorrindo olhando lá pra fora, perdida em pensamentos, até que a borboleta aparece novamente, então eu volto à realidade, e levanto, odiava borboletas, desde que meu irmão morreu. Então, me joguei na cama.

*

*

*

–TOC TOC! Maria Júlia? - Alguém pergunta.

Parecia a voz de tia Marta, abri os olhos, e olhei no relógio da cabeceira, já eram dez da manhã, eu tinha adormecido.

–Eu! - respondo um pouco sonolenta.

–Querida, já acordou? - pergunta tia Marta ainda do lado de fora.

–Agora já né! - respondi um pouco grossa.

–Me desculpe... Só pra te avisar que trouxe mais comida, e també deixei pro Spike. - ela disse

–Tudo bem... Obrigada tia! - tentava falar auto para que ela ouvisse.

–Qualquer coisa me liga tá bem? Estou indo. - continuava.

–Tá bom tia... - eu disse olhando para o chão, esperando o momento em que ela fosse parar de falar.

–Tchau! - ela exclamou.

–Tchau... - resmunguei, acho que baixo de mais que ela nem deve ter ouvido.

Me levantei, olhei para a janela, e por um milagre, não estava chovendo! Estava nublado, porém com um solzinho. Resolvi então, dar uma voltinha com Spike. Fui ao banheiro, lavei o rosto, e vesti meu jeans velho, uma blusa de manga cumprida azul clara, e meu all star surrado. Desci as escadas, dei uma olhada na cozinha, vi algumas embalagens de bolacha que tia Marta havia deixado, pensei em pegar, mais estava sem fome; quando coloquei os pés lá fora, voltei rapidamente pra dentro, ainda estava frio pra mim, que era friorenta. Voltei para o quarto, coloquei uma toca, e depois peguei o casaco cinza perto da porta, ele estava um pouco sujo, por conta de ontem à noite, mais usei assim mesmo. Resolvi pegar só um pacote de bolacha, por via das dúvidas, coloquei no bolço, e sai. Abri a casinha de Spike, e ele começou a me lamber.

–Bom dia pra você também Garotão! - eu disse com aquela vozinha ridícula de quando falamos com animais ou bebês. - Vamos passear, vamos? - perguntei.

–AU! - ele latiu animado.

Então eu tentei colocar uma coleira nele, o que era bem difícil, até que por fim, consegui.