“Essa é a minha casa! Não permitirei que façam isso. Vão embora daqui, não são bem vindos!”

A voz de Yubaba foi imediatamente reconhecida por Sen. A bruxa estava de pé, em seu escritório, gritando com um inimigo invisível aos olhos da menina. Seu braço, esticado, com a mão em lâmina, tentando enxotar o adversário.

“Cale-se, bruxa. Você já não tem direito a nada. Nós temos um acordo.” A voz, fria e impassível, transmitia a sensação de que, qualquer que fosse o desejo do dono daquela voz, seria atendido.

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A expressão de Yubaba congelou, seu rosto mergulhado em desespero. A garota, mesmo estando longe, pôde ver que a bruxa suava frio. Era óbvio que o inimigo era implacável; Yubaba sabia que não poderia vencê-lo.

“O combinado nunca foi esse”— a voz da bruxa perdeu a convicção anterior – “Vocês só tinham que tratar do menino dragão!”

Sen sentiu seu corpo paralisar com a menção de Haku, sendo quase incapaz de abafar um grito. Por mais que estivesse escondida e relativamente longe, ainda seria possível escutá-la com nitidez, mesmo em um tom de voz moderado. Sua respiração perdeu o ritmo e viu-se sufocando, mas conseguiu manter-se em silêncio.

“O trato dizia que você pagaria um preço. Este é o nosso preço, Yubaba. Acordo é acordo. Você não tem poder para quebrá-lo.”

“Este preço é demais! Vocês não pod-“

A fala da bruxa foi cortada por um movimento de mão do seu adversário. O corpo da velha moveu-se um centímetro, mas recuou. Toda a sua extensão tremia, e a mulher tentou várias vezes falar, sem sucesso.

Uma risada ecoou pelo salão e Yubaba caiu de joelhos.

“Não... meu bebê, não... Não!”, gritando, a bruxa ergueu-se e correu, lançando um feitiço, na direção da sombra que a desafiava.

A cena, aos poucos, foi tomada por um clarão, seguido de escuridão total. Então, Sen finalmente recobrou a consciência.

O que ocorrera naquele momento ainda não estava muito claro na mente de Sen. Seu campo visual era muito limitado, a impedindo de obter mais informações. Tudo o que conseguia imaginar era que o filho de Yubaba fora machucado na sua frente, na melhor das hipóteses. Sen estremeceu ao lembrar do nada pequenino primogênito da bruxa.

Uma grande afeição surgiu entre Sen e o menino depois da aventura que compartilharam. A jovem se sentia profundamente entristecida apenas com a ideia de que algo de ruim pudesse ter acontecido a ele.

Atônita, o primeiro impulso de Sen foi correr. Correr atrás de Yubaba, do filho, de Haku. Mas a voz de Zeniba pedindo cautela ressoou em sua mente, e, aos poucos, a jovem foi capaz de se acalmar. Precisava de um plano.

Entretanto, Sen sabia bem que seus planos não eram planos. Não havia etapas, procedimentos, era apenas uma forma que encontrava de resolver um problema estrito. Assim, pensar que precisava de um plano apenas a atrasava, fazendo-a se iludir de que poderia prever todos os problemas e complicações que pudessem aparecer.

Ela não precisava de um plano. Ela precisava de uma desculpa.

Uma desculpa para ir no andar dos diretores, uma desculpa para poder procurar e fuçar.

A única solução que a menina via era subir de posição na casa de banhos. Uma faxineira poderia ir a todos os lugares, mas geralmente estes nunca estariam vazios. Não, Sen precisava de tempo, espaço. Precisava que confiassem nela para que mexesse em papéis, arrumasse mesas, qualquer coisa que a permitisse entrar e sair de uma sala sem levantar suspeitas.

A menina precisaria arranjar trabalho como faz tudo ou secretária. Haku fazia grande parte do trabalho administrativo na casa de banhos, então não haviam muitas funções disponíveis. Sem contar que a leva de clientes diminuíra drasticamente comparada aos tempos de Yubaba. A casa agora era visitada por temporada, esporadicamente. Não havia um movimento tão contínuo. Desse modo, não havia um volume grande de documentos para finanças e economia. O máximo que se fazia nessa área era organizar e catalogar papéis.

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Este seria o princípio da ascensão de Sen. Se seria o suficiente, a menina não tinha ideia. Porém, era um começo e um começo não pode ser desperdiçado.

Preparou-se para realizar as tarefas daquele dia no jardim. A mudança de ares fez bem à garota e esta acabou ficando mais responsável e cuidadosa em seu trabalho. Já não mais tropeçava, esbarrava, pulava por aí. A restrição ao jardim e a algumas atividades esporádicas com magia ajudaram seu relacionamento com Haku e isso era tudo o que ela precisava para exercer suas funções de forma mais efetiva.

Na situação atual dos dois, sem mais regras e formalidades, Sen sentia-se mais confiante para fazer perguntas e pedidos, apesar de ser cautelosa quanto à isso. Haku já havia demonstrado abertura quanto à essas questões, mas a menina preferiu não abusar da boa vontade do rapaz. Agora, entretanto, a ajuda seria essencial. Decidiu que, após o expediente, falaria com ele.

Para ser franca, não havia muito o que fazer. Os arranjos florais ficavam prontos cada vez mais rapidamente, já que a menina começou a reutilizar formações posteriores. Depois de tanto tempo montando ikebanas, ideias originais simplesmente pararam de aparecer. Quanto à horta, sendo este cuidado por Sen e Haku diariamente, não havia muita necessidade de manutenção ou cuidados especiais, então restava aos dois apenas usar alguns feitiços para fortalecer as hortaliças. Junto à tudo isso, a restauração mágica da casa já havia sido concluída, pois ficou restrita às goteiras, vazamentos e problemas menores.

Resumindo, não havia muito o que fazer.

Sen suspeitava que, mesmo Haku dividindo mais tarefas com ela, boa parte do dia da menina ainda se manteria desocupado. Atualmente ela fica no jardim ou arranja qualquer coisa para fazer pela casa, sempre na esperança de conseguir ir aos escritórios. Era enlouquecedor ter tanto tempo livre e não poder fazer nada. Uma vez quase perguntou à Haku se havia magia de invisibilidade, mas preferiu não arriscar. Poderia mentir dizendo ser uma curiosidade de criança, mas era melhor garantir não ter um Haku com suspeitas na cola dela.

O sol já havia nascido e a jovem já era capaz de escutar os pássaros cantando. Por mais que se arrumasse e saísse cedo, Haku sempre a chamava por garantia, mas já não mais entrava no quarto desde o dia que ele entrou quando ela estava se vestindo. A menina ria ao pensar que ele não tinha ideia de que aquele corpo não era mais dela e que a situação poderia ter sido bem mais constrangedora. Questionava-se o que ele pensaria quando soubesse a verdade.

Naquele dia, entretanto, ainda não havia sinal de Haku. Sen estranhou a falta de pontualidade do jovem e decidiu ir ao seu quarto checar se tudo estava bem, mas antes de bater à porta, a garota questionou-se se aquilo era realmente necessário. O rapaz poderia ter saído em alguma missão e apenas esqueceu de avisar.

"Apenas esqueceu de avisar..."

Sen balançou a cabeça, em negativa. Não era do feitio de seu mestre esquecer ou não informar algo importante. Na época que a garota o irritava e ele constantemente a evitava tal situação seria possível, mas não mais. Agora, Haku fazia questão de deixar a menina à par de tudo.

Após alguns instantes de dúvida, Sen enfim decidiu bater à porta. Porém, por mais que batesse, simplesmente não havia resposta. Por fim, bateu uma última vez e chamou o nome de Haku, enquanto abria a porta. Pediu licença, mas permaneceu sem resposta.

Não sabia se realmente era uma boa ideia entrar, mas agora já estava ali. Haku estava na cama, deitado mergulhado em uma confusão de lençóis e colchas. A jovem, cautelosamente, andou até ali e ajoelhou, cutucando o rapaz no ombro.

A única resposta que Sen recebeu foi um gemido. O jovem estava de costas pra ela, mas mexeu-se um pouco até que seus rostos ficassem frente a frente. A movimentação a assustou e a garota acabou se afastando. Porém, percebeu que o rosto de Haku estava mais vermelho do que o normal, e estava coberto com gotículas de suor. Mesmo vendo, era difícil acreditar na possibilidade dele ficar doente, então, delicadamente, Sen posicionou as costas da mão

— Quente! - assustada com a temperatura inesperada, a garota acabou cortando a testa de Haku com a unha do indicador, ao retirar a mão com pressa. Ele abriu os olhos com esforço, olhou a menina à sua frente e voltou a fechá-los. Seja lá o que ele tenha pensado sobre a visita inesperada dela, aparentemente não tinha força o suficiente para enxotá-la.

Assim, Sen endireitou Haku na cama. Tal tarefa foi extremamente difícil para o corpo pequeno e franzino de dez anos. Mesmo se estivesse com seu corpo normal, ainda teria sido difícil. Haku era alto, de ombros largos, não era um corpo muito fácil de manobrar quando se está em uma posição ruim. Por conta disso, a garota subiu na cama e o puxou. Ajeitou as cobertas, levantou delicadamente sua cabeça e afofou o travesseiro. Depois de descer, Sen saiu do quarto em busca de um balde e toalhas limpas. Colocou uma toalha umedecida em sua testa e a molhou algumas vezes, para ajudar a abaixar a temperatura. Porém, não poderia ficar ali o dia inteiro, então molhou bem dois panos limpos e os posicionou na testa e pescoço. Despediu-se e pediu bênçãos aos deuses bons, pedindo que seu mestre ficasse bem.

Quando ia deixar o recinto, percebeu a mesa de trabalho de Haku. Não era um objeto de fascinação, era um simples e básico objeto de madeira e não havia quase nada em cima. Porém, junto a uns papéis, havia uma caneta tinteiro. Amarrado na ponta, havia um pequeno e desgastado elástico roxo.

Sen foi incapaz de abafar a surpresa. Aquele era o elástico que usava antes de Zeniba e seus amigos lhe darem um novo. A garota olhou para Haku e não pôde deixar de sorrir.

Alguma parte dele ainda lembra.

A garota correu para o escritório do Senhor para notificar a doença seu mestre. A emoção de ver seu elástico no meio das coisas de Haku serviu como um gatilho. Naquele dia, não seria capaz de pedir funções administrativas, mas acabou ganhando uma oportunidade a mais: ela tinha uma razão para ir ao escritório. Se fosse cuidadosa e furtiva o suficiente, talvez fosse capaz de descobrir alguma coisa.

Por mais que fosse uma chance incrível, Sen ainda não era capaz de visualizar como usufruir da oportunidade. Não via a possibilidade de ver ou ouvir algo relevante, era necessária muita sorte para estar no lugar certo, na hora certa. E é necessário lembrar que Chihiro e seus pais pegaram uma estrada errada e foram parar em um parque de diversões abandonado, mas que, na verdade, era habitado por criaturas mágicas. Seus pais foram transformados em porcos e Chihiro teve que se tornar Sen para trabalhar naquele mundo e ser capaz de salvá-los. Sorte não era uma virtude da família Ogino. Pensamento positivo era algo difícil de sustentar com tantas lembranças desafortunadas.

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Como estava ocupada demais se desesperando por antecipação, Sen correu por toda a casa sem nem perceber. Só parou quando bateu o nariz na porta do escritório. Todo o medo e ansiedade apagaram tudo e todos ao redor da menina, e somente a porta a trouxe de volta à realidade. Tomada por um ar de reclamação, a menina massageava dolorosamente o nariz com uma mão, enquanto batia à porta com outra. O seco e cortante "entre" soou quase que imediatamente e Sen logo adentrou o recinto.

Só havia visitado aquele escritório uma vez após seu retorno, mas parecia ter sido muito mais. Quase todos os seus pesadelos se passaram ali, então a menina não nutria sentimentos muito bons por aquele lugar. Entretanto, não deixou seus sentimentos a distraírem. Se quisesse ser útil e necessária, precisava sempre ser precisa e concisa. Portanto, no instante que chegou ao centro sala, logo fez uma reverência e começou:

— Senhor, perdão incomodá-lo. Vim porque Mestre Haku está doente e incapaz de trabalhar hoje. Achei que o Senhor gostaria de ser informado sobre isso.

A garota levantou-se e encontrou no rosto maligno uma expressão completamente neutra, como se a doença de Haku não fosse nada que importasse a ele, ou como se a informação não fosse nova. Aquele rosto guardava muitos segredos e mistérios que Sen se via incapaz de ler.

O homem murmurou em entendimento e varreu o ar com a mão, anunciando que a jovem já podia se retirar. Ela fez outra reverência e já abria a porta quando o homem a chamou para retornar. Transtornada, voltou para o centro da sala e aguardou instruções, enquanto o homem a olhava profundamente.

Sen já havia visto aquele olhar. Os olhos de um bruto, sádico, que acredita ter a pessoa à sua frente na palma de sua mão. Um olhar cheio de manipulação, autoritarismo, superioridade. Quando dirigido à mulher, o olhar parece ser ainda mais pesado, com malícia e possessão.

Sen não gostava nada daquele olhar.

Senhor cruzou as mãos e recostou-se na cadeira, nunca desviando o olhar. Sen, apesar do medo, foi capaz de manter uma postura forte e decidida. Era visível na expressão dela que ele seria incapaz de fazer algo que ela não permitisse. Em toda a sua posição de autoridade, ver tal comportamento — ainda por cima vindo de uma subordinada — deveria ser muito engraçado para aquela figura, tanto que o homem soltou uma risada desdenhosa. Sen transparecia força e ele transparecia desejo. Desejo de tudo e qualquer coisa. O mundo estava caindo, pouco a pouco, em suas mãos.

Mas ainda não era a hora de Sen também cair, ele pensou. Não, ele ainda não tinha interesse o suficiente para fazer algo sobre ela. Na sua posição, tão superior, ela não passava de uma poeira que nem chega a ser incômoda.

— Haku tinha muitas tarefas para hoje. Você deve assumir todas as responsabilidades. Qualquer erro, deslize ou se faltar algo, os dois sofrerão as consequências. Entendido?

— Entendido, Senhor.

— Mais uma coisa. Eu ia pedir à Haku que cuidasse do andar abandonado. Estando ele incapacitado, você fará isso. Quero que limpe e organize aquela bagunça. Mas você não tem permissão para mexer em qualquer coisa que não esteja imediatamente à vista.

— Entendido, Senhor. — A ordem estando encerrada, Sen saiu da sala calmamente, controlando o impulso de correr para fora.

As tarefas gerais de Haku eram bem simples e já havia um tempo que Sen o estava ajudando a concluí-las. Assim, a menina sabia exatamente o que fazer. Esse fator somado com sua pressa de ir ver Haku fizeram com que tudo fosse terminado bem cedo. "Também tenho que considerar que não tenho ideia de quanto tempo vou levar no andar abandonado..." Sen não desejava que Haku fosse punido por sua causa, então não ficou muito tempo com o rapaz. Levou almoço para ele e o ajudou a comer. A febre já não estava tão alta, então ela podia ficar menos preocupada.

Apesar disso, Haku ainda não conseguia se manter consciente. O maior intervalo de consciência do rapaz foi quando a garota o ajudou, com muito esforço, a se alimentar. E mesmo assim, era apenas uma sopa fria que foi ingerida muito rápido. A garota só pôde secar o seu rosto e umedecer a toalha em sua testa.

Com dor na consciência por deixá-lo sozinho de novo, Sen se esforçou para sair do quarto. Correu para o andar abandonado. Queria terminar logo o que tivesse que fazer para poder voltar para Haku.

O andar abandonado era uma questão estranha para a casa. Pelo que Sen foi capaz de entender, aquele era o andar "das coisas da antiga dona", ou seja, o andar de Yubaba. Os funcionários não parecem se lembrar dela, então só sabiam dizer isso, informação provavelmente passada pelo Senhor. Porém, o que ninguém parecia perceber era que o andar do Senhor era como uma réplica — ou talvez ninguém jamais tenha ido ao andar abandonado —. Também havia um fator que Sen não entendia: no elevador, o botão do andar do Senhor mudava. Ou era o último andar da versão da casa de Yubaba ou era um número acima, já que esta casa possui dois andares iguais.

Estudando mais sobre magia, Sen começou a imaginar que os andares talvez mudassem de posição de tempos em tempos. Um motivo ou objetivo, porém, a garota era incapaz de imaginar. Tudo o mais na casa era relativamente normal, então não havia muito o que investigar.

Quando Sen finalmente terminou de subir as escadarias regulares, seguiu cautelosamente até a escadaria escondida que levaria para o último andar. Se alguém a visse, fariam várias e várias perguntas e a menina simplesmente não tinha tempo para isso. Quando finalmente subiu todas as escadas, correu para a porta dupla. O batedor de Yubaba ainda estava ali, porém, neste andar, ele parecia estar dormindo — pelo menos, era o que Sen esperava que estivesse fazendo.

Abriu as portas. Estava sozinha, em um andar abandonado, onde provavelmente não podia ser ouvida. Então, aproveitando uma oportunidade única desde começara a viagem, Sen gritou. Não era bem um contexto que provocasse um grito, porém, a garota vinha contendo tanto suas emoções que, no fim, foi necessário.

Por mais que não fosse digna de um grito, a situação era bem peculiar. O que outrora foi um andar rico em salas, inclusive os quartos pessoais de Yubaba e seu bebê, agora era uma enorme galeria. O andar do escritório do Senhor podia ser igual ao original de Yubaba, porém o próprio não parecia ser realmente ele. O lugar havia se tornado um enorme salão, com apenas quatro paredes, lotado de coisas. Haviam móveis e cadeiras largados, papéis, até mesmo uma banheira, bem ao canto da sala. O ambiente era extremamente escuro e fedia à mofo.

Sen começou com magias básicas para iluminar, refrigerar e sugar as sujeiras e impurezas do lugar. Não importa a quantidade de coisas, a magia utilizada era a mesma, sendo, então, um gasto válido. Antes mesmo de se mover, todo o lugar já estava limpo, claro e cheiroso. Bastava apenas organizar a bagunça.

A garota já esperava passar o resto do dia ali, então resolveu observar a sala e catalogar os objetos, para poder organizá-los melhor. Recolheu, separou e guardou todo o tipo de objeto. Utilizou as estantes, cabeceiras, cômodas, todos os móveis disponíveis para que o ambiente ficasse o mais vazio possível. No fim, a garota conseguiu organizar tudo muito bem. Ela disponibilizou os móveis de maneira que ficassem acessíveis e harmoniosos. Para as coisas mais pesadas, utilizou um pouquinho de magia para diminuir o peso, como no caso da banheira, que foi colocada no centro do salão. A garota imaginou que se transformada numa fonte, seria um toque bem legal para o lugar, então a deixou ali.

Após mexer, empurrar, bagunçar, arrumar, a garota se dirigiu aos fundos da sala e se jogou no canto, exausta, observando seu trabalho. A garota suspeitava que já estivesse escuro, então parou apenas por cinco minutos. Precisava voltar para Haku.

Quando estava saindo da sala, entretanto, notou um brilho azul vindo de perto de uma das janelas centrais. Como o salão era enorme, ela precisava andar bastante de um ponto a outro, então demorou um pouco para alcançá-lo. Quando se aproximou, percebeu que a luz vinha de debaixo de um lençol preto. Como estava muito ocupada organizando tudo, não havia se preocupado com as coisas que não estavam imediatamente à vista, como o Senhor havia dito.

Entretanto, aquela luz a atraiu. Entre tantas coisas tapadas que ela havia apenas movido, esta era a única intocada e que, mesmo assim, a atraía. Aceitando a possibilidade de ter que encarar as consequências, Sen puxou o lençol com toda a força, incapaz de esperar mais para ver o que estava escondido.

E gritou.

Mas aquilo não era sem importância como antes. Sen suspeitava que nada, na verdade, seria como antes.

Porque ali, congelada em gelo e cristal, estava a bruxa da casa de banhos, Yubaba.