Cheerock

Capítulo 9


Victor

Dei uma ultima olhada em meu pai e fui para o corredor.

– Victor desce! – gritou minha mãe – Temos uma convidada!

Convidada? Ah, claro. A semana de festas do aniversário do meu pai. Se minha mãe não disse o nome da “convidada” é por que ela é nova. Uma nova amiga, talvez. Vai ser muito fácil fazê-la não voltar.

Corri ao meu quarto e fui ao banheiro. Troquei de blusa para a minha camiseta de espantar gente nova e baguncei o cabelo mais ainda. Então peguei o sangue falso e espalhei pelos dedos e estava pronto.

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Quero ver a cara da “convidada” quando ouvir que matei uma coruja com as próprias mãos e dissequei o bicho com os dentes. Vai ser hilário.

Desci correndo as escadas. A sala estava lotada de sacolas da Forever XXI e de lojas de eletrônicos. Ouvi uma conversa vinda da cozinha e uma voz que eu reconheci e que não era nem de longe da minha mãe.

Sequei rapidamente o sangue falso na calça e desbaguncei um pouco o cabelo. Só então eu fui confirmar minhas dúvidas.

Mas minha audição estava certa.

– Carly? – falei assim que vi a cabeleira loira.

Ela se virou olhando pra baixo.

– Oi Victor.

Mas o que diabos ela estava fazendo ali?

– Vocês se conhecem? – perguntou minha mãe com o sorriso congelado no rosto.

– Ah, então essa é a sua namorada?

Cruzo os braços, como odiar tanto um único garoto?

– Não, gênio. Eu a odeio.

– Recíproco – retribuiu ela e por isso tive vontade de abraça-la, mas tecnicamente nos odiamos.

Minha mãe, do contrário, não pareceu achar esse jogo do odeio tão divertido.

– Então vai parar de odiar, ela vai morar aqui de agora em diante.

O que?

– O que? – falei meus pensamentos em voz alta e pra Carly disse – O que aconteceu com Josh?

Ela tornou a olhar para o chão.

– Você tinha razão, Patrisha não me queria lá e eu não queria dar problemas para ele.

– Ah, certo – ela parecia muito triste e eu não queria piorar a situação, então completei – Mas ela não fica no meu quarto.

– Não – falou Hugo – Ela vai ficar no meu quarto.

– Azar o seu que vai ter que dormir no sofá.

– Não mesmo – interrompeu minha mãe – Ele vai dormir com você.

– Não vou dormir no mesmo quarto que o gênio maravilha.

Olhei de relance para Carly e vi o sorriso. Missão cumprida, câmbio desligo.

– Então você dorme no sofá – disse Hugo.

– Há! Você quer tanto assim dormir naquele quarto cheio de demônios e monstros que vão te comer vivo enquanto você estiver dormindo?

– Não existe isso – ele estava começando a ficar com medo, dava pra ver no olhar dele.

– Existem sim, eles não me comem por que sou o mestre deles. Uma ordem minha e eles enchem a barriga com um delicioso menino metido a inteligente.

– Número um: eu sou inteligente e número dois: eu durmo no sofá por que lá é mais confortável que sua cama dura.

– Bú! – gritei.

Hugo arregalou os olhos e saiu correndo.

– Você sente alegria em dar medo em um garotinho de onze anos? – perguntou minha mãe com os braços cruzados.

– Muita – falei encostando-me ao balcão.

Ela revirou os olhos e foi atrás de Hugo.

Cruzei os braços e olhei para Carly.

– Tô vendo que você adora seu irmão – ela disse sorrindo.

– Ele começou.

Fui à geladeira e comecei a pegar ingredientes para um sanduíche.

– Você quer um também? – perguntei.

– Uhum – murmurou ela.

Olhei para ela e a vi olhando para o vazio com os olhos cheios d´água.

– Se você chorar de novo eu não vou fazer sanduíche pra você.

Ela me olhou e riu.

– Que injusto, vou falar pra sua mãe.

– Vai se esconder debaixo da saia da minha mãe?

Ela riu e se aproximou.

– O que você tem aí pra fazer seu sanduíche?

– Pão, presunto e requeijão.

– Tem ketchup?

Fui à geladeira e olhei dentro.

– Aqui – tirei o vidro de ketchup.

– Nenhum sanduíche é completo sem ketchup.

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Dei de ombros.

– Não sou muito fã de ketchup.

Peguei a sanduicheira, coloquei os dois ali e liguei.

– Me desculpe Victor. Eu sei que parece que eu estou te seguindo. Vou dizer pra Janice que eu tenho que ir...

Ela se virou e ia sair, mas agarrei seu pulso.

– Pera Carly – ela se virou e seus olhos estavam cheios d´água de novo – Ai droga. Cara, para de chorar, eu não sei o que fazer quando isso acontece.

Ela riu.

– Você não está zangado comigo?

– Por que eu ficaria?

– Por que tecnicamente eu vou morar na sua casa agora.

Eu acho que ela tá com aquele negócio... qual é o nome mesmo... ah, TPM. Quer dizer, as meninas ficam sensíveis e zangadas com esse troço, né?

– Carly, você sabe que nosso ódio mútuo é só de brincadeira, certo?

– É?

Não deve ser só essa TPM, deve ser crise de autoestima também.

– Eu não te odeio de verdade, Upsent. Se eu odiasse não teria te ajudado.

Ela sorriu e eu retribuí o sorriso.

– Victor, acho que o sanduíche está queimando.

Ai caralho!

Corri pra tirá-los da sanduicheira antes que eles queimassem (apesar de já estarem ligeiramente queimados), coloquei-os em um prato e coloquei na bancada com dois copos e uma garrafa de refrigerante.

– Coca?

– Coca.

Ela sentou ao meu lado e pegou um, depois melecou de ketchup e começou a comer.

– Ei.

– Oi.

Ela me olhou.

– A sua cara tá melada.

Ela sorriu.

– Não caio nessa Simons, pode ir parando por aí.

Melei meu dedo no ketchup do sanduíche dela e melequei sua bochecha.

– Agora tá.

Ela riu.

– Ah, seu...

Então começamos uma “guerra de ketchup”. Carly Upsent está se mostrando ser uma amiga melhor do que eu esperava, na verdade ela é até legal demais pra ser a verdadeira Carly, alguém deve tê-la trocado com um robô divertido.

Deve ter sido nessa hora que minha mãe chegou, ou talvez ela estivesse rondando a cozinha para ver como nos comportávamos. De qualquer modo, minha mãe odeia bagunça (ela nem entra no meu quarto pra não pirar) e por isso me deu bronca.

– Victor Simons!

– Iiiiih – sinal que meu castigo vai aumentar – Encrenca – sussurrei para Carly, que riu.

Ela estava toda vermelha como se tivesse acabado de sair do massacre da serra elétrica ou de outro filme violento.

– Me desculpe Sra. Simons. Nós vamos limpar.

Minha mãe analisou a cena minunciosamente e relaxou.

– Vão tomar banho e dormir. Victor, seu irmão já está com o saco de dormir no seu quarto.

Vi, pelo canto do olho, que Hugo estava chegando pra tomar o leite morno que sempre toma antes de dormir.

– Tudo bem, é ele quem vai ser comido pelos monstros que moram debaixo da minha cama.

– Não se preocupe – ele disse já chegando à cozinha – Vou dormir com papai e mamãe vai dormir no seu quarto.

– Esse não foi o trato mocinho – disse minha mãe fazendo o leite de Hugo.

– Agora é... Nossa Victor, quando foi que o Jason da serra elétrica entrou aqui?

Carly riu.

– Depois você reclama do meu humor.

– Banho – insistiu minha mãe.

– Vem.

Subimos as escadas e entreguei-a ao quarto de Hugo, seu novo lar.

– Até amanhã.

Estava me virando quando ela me chamou.

– Victor, obrigada.

Sorri pra ela e fui me limpar.

Será que estou doente por ter passado o resto da noite pensando naquele sorriso?

Carly

Existem duas opções para isso estar acontecendo: Deus me dando algum sinal ou uma puta coincidência.

– Vem Carly, você está com fome?

Como a mãe dele pode ser tão legal?

– Victor desce, temos uma convidada! – ela gritou – Me desculpe, ele deve estar cuidando do pai dele.

Sorri, mas eu já sabia disso.

– Papai é um inválido – disse Hugo indiferente.

Victor e Hugo pareciam bem diferentes. Victor era mais profundo que Hugo. Tudo o que o garoto sentia (quando ele sentia alguma coisa, ou seja, raramente) estava estampado na cara dele. Já Victor era mais complexo, ele faz um trabalho complexo para esconder o que sente, por isso é tão difícil ter certeza a não ser quando os sentimentos afloram.

– Carly? – escutei.

Droga. Senti as bochechas corando e por isso olhei para baixo antes de me virar.

– Oi Victor.

Ele parecia muito confuso, não posso culpa-lo.

– Vocês se conhecem? – perguntou Janice confusa também. Nossa, que confusão.

– Ah, então essa é a sua namorada? – disse Hugo.

Victor cruza os braços com raiva, estou inclinada a concordar. Hugo está começando a se tornar um estorvo.

– Não, gênio. Eu a odeio.

– Recíproco – falei em impulso, então me lembrei da mãe dele ali, talvez ela se sentisse desconfortável.

E estava mesmo, mas ela é um amor de pessoa e só briga com o Victor.

– Então vai parar de odiar, ela vai morar aqui de agora em diante.

– O que? – ele estava ainda mais confuso, mas olhando pra mim acrescentou mais delicadamente – O que aconteceu com Josh?

Droga. A lembrança de como ele tinha me alertado sobre Patrisha na noite anterior me atingiu em cheio.

– Você tinha razão, Patrisha não me queria lá e eu não queria dar problemas para ele.

– Ah, certo – ele parecia desconcertado, mas depois voltou ao normal – Mas ela não fica no meu quarto.

– Não – falou Hugo – Ela vai ficar no meu quarto.

– Azar o seu que vai ter que dormir no sofá.

– Não mesmo – interrompeu Janice – Ele vai dormir com você.

– Não vou dormir no mesmo quarto que o gênio maravilha.

Tentei segurar o riso, mas qualquer insulto ao “gênio maravilha” estava sendo aceito de bom grado.

– Então você dorme no sofá – disse Hugo.

– Há! Você quer tanto assim dormir naquele quarto cheio de demônios e monstros que vão te comer vivo enquanto você estiver dormindo?

– Não existe isso – A voz do garotinho estava começando a tremer.

– Existem sim, eles não me comem por que sou o mestre deles. Uma ordem minha e eles enchem a barriga com um delicioso menino metido a inteligente.

– Número um: eu sou inteligente e número dois: eu durmo no sofá por que lá é mais confortável que sua cama dura.

– Bú! – gritou Victor subitamente.

Hugo arregalou os olhos e saiu correndo. Tive pena dele, mas só por alguns segundos, depois era engraçado novamente.

– Você sente alegria em dar medo em um garotinho de onze anos? – perguntou Janice com os braços cruzados.

Senti vergonha por estar achando engraçado.

– Muita – disse Victor encostando-se ao balcão que separava a sala de jantar da cozinha.

Ela revirou os olhos e foi embora.

Ele cruzou os braços e me olhou. Estava usando uma blusa de uma banda de heavy metal com cinco caras mal encarados e medonhos com a língua para fora e fazendo vários sinais demoníacos.

– Tô vendo que você adora seu irmão – falei para descontrair.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Ele começou.

Victor foi à geladeira e começou a fuçar lá dentro.

– Você quer um também? – perguntou ele.

Eu sempre fazia sanduíche quando chegava do colégio e Terrence não estava vigiando. Esse pensamento me deu uma sensação de nostalgia e voltei a ficar deprimida.

– Uhum – murmurei.

– Se você chorar de novo eu não vou fazer sanduíche pra você.

Percebi que ele me olhava e ri.

– Que injusto, vou falar pra sua mãe – brinquei.

– Vai se esconder debaixo da saia da minha mãe?

Aproximei-me do balcão pra ver o que ele tinha pegado da geladeira.

– O que você tem aí pra fazer seu sanduíche?

– Pão, presunto e requeijão.

Que primário, falta o mais importante.

– Tem ketchup?

Ele abriu a geladeira novamente e voltou com um vidro.

– Aqui.

– Nenhum sanduíche é completo sem ketchup.

Ele deu de ombros.

– Não sou muito fã de ketchup.

Que crime.

Ele preparou os sanduíches e colocou na sanduicheira.

Senti-me repentinamente desconfortável.

– Me desculpe Victor. Eu sei que parece que eu estou te seguindo. Vou dizer pra Janice que eu tenho que ir...

Eu tinha que sair dali, eu estava com muita vontade de chorar. Fui me virar, mas ele agarrou meu pulso.

– Pera Carly – virei-me e ele pareceu entrar e desespero – Ai droga. Cara, para de chorar, eu não sei o que fazer quando isso acontece.

– Você não está zangado comigo? – perguntei.

– Por que eu ficaria?

– Por que tecnicamente eu vou morar na sua casa agora.

Ele riu.

– Carly, você sabe que nosso ódio mútuo é só de brincadeira, certo?

– É?

Ele parecia estar olhando um novo bicho que apareceu do nada.

– Eu não te odeio de verdade, Upsent. Se eu odiasse não teria te ajudado.

Sorri e ele devolveu o sorriso. Mas que covinhas mais lindas. Então senti o cheiro de queimado.

– Victor, acho que o sanduíche está queimando.

Ele pareceu acordar e perceber o cheiro.

Victor desligou a sanduicheira, colocou os dois em um prato e levou à bancada com dois copos e uma garrafa de refrigerante.

– Coca?

– Coca.

Sentei-me ao lado dele, joguei muito ketchup do jeito que eu gosto e comecei a comer.

– Ei.

– Oi.

Olhei-o.

– A sua cara tá melada.

Sorri. Ele vai mesmo fazer essa piada velha?

– Não caio nessa Simons, pode ir parando por aí.

Ele passou o dedo pelo sanduíche e sujou minha cara, literalmente.

– Agora tá.

Ri. Essa foi nova, mas não vou passar por baixo.

– Ah, seu...

Então o melei e ele retribuiu e assim por diante. Eu nunca pensei que fosse me divertir tanto com Victor Simons, mas aquela era a noite mais divertida que tenho desde meu preimeiro encontro com Taylor (e olha que foi só o primeiro).

– Victor Simons!

Eu não tinha visto Janice na porta e ela parecia zangada. Por que eu sempre tenho que estragar tudo?

– Iiiiih! Encrenca – ele sussurrou e eu não pude evitar sorrir.

Ele estava completamente vermelho de ketchup até nos cabelos. Se ele estava assim, eu não podia nem imaginar como eu estava.

– Me desculpe Sra. Simons. Nós vamos limpar – falei envergonhada.

Ela relaxou.

– Vão tomar banho e dormir. Victor, seu irmão já está com o saco de dormir no seu quarto.

– Tudo bem, é ele quem vai ser comido pelos monstros que moram debaixo da minha cama.

– Não se preocupe – disse Hugo chegando – Vou dormir com papai e mamãe vai dormir no seu quarto.

– Esse não foi o trato mocinho – disse Janice colocando leite em um copo.

– Agora é... Nossa Victor, quando foi que o Jason da serra elétrica entrou aqui?

– Depois você reclama do meu humor.

– Banho – insistiu Janice.

– Vem.

Segui-o escada acima. No corredor vi de relance o quarto de casal com um home magro cheio de fios conectados nele.

Victor me deixou em um quarto no fim do corredor.

– Até amanhã.

Ele começou a se virar, mas senti necessidade de dizer alguma coisa.

– Victor, obrigada.

Ele sorriu mostrando mais uma vez as adoráveis covinhas e foi embora.

Tomei meu banho e me arrumei para dormir.

Mesmo com sono saí e desci as escadas. Janice estava sozinha na cozinha lavando a louça.

– Janice? – falei baixinho para não assustar.

Ela se virou e sorriu, mas vi que tinha lágrimas nos olhos.

– Ai, me desculpe eu não queria ser um problema, eu vou ajudar a limpar tudo...

– Carly, não é você querida. Isso sempre acontece quando estou sozinha.

– Me desculpe a intromissão, mas é por causa do seu marido?

– Você viu?

– Victor tinha me dito ontem.

Ela me olhou.

– Vocês saíram ontem?

– Você lembra que eu disse que um amigo me ajudou a fugir do meu padrasto ontem e me levou até Josh? Foi Victor.

Ela sorriu.

– Acho que devo desculpas a ele... Obrigada Carly, você é uma garota maravilhosa.

Sorrimos uma para a outra.

– Deixa que eu termino – falei – Você devia descansar.

Ela sorriu e saiu da pia.

– Obrigada.

Depois de lavar, enxugar e guardar a louça eu passei um pano no chão que já estava ficando grudento por causa do ketchup e fui dormir.