Cheerock

Capítulo 22


Victor

– Tá tudo bem Victor? – perguntou Ted.

– Ela não está atendendo minhas ligações, nem respondendo minhas mensagens.

– Ela não deve estar querendo falar com você.

– Ela estava estranha mesmo...

– Bem, está ficando tarde, tenho que ir.

Eram seis da noite, até mesmo Logan já tinha ido embora e quase todo mundo já tinha ido embora. Eu estava ligando para Carly desde que o treino da banda acabou umas duas horas atrás, e ela não atendia. Estava começando a ficar preocupado.

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– Vou procurar ela pelo colégio.

– Beleza.

Demos um high five e ele foi embora enquanto eu entrei no colégio novamente, procurando Carly.

Passei pelo refeitório, pela sala de artes, dei uma olhada rápida por todas as salas do primeiro andar e as do segundo também. Depois disso fui ao ginásio, às quadras de esportes e até mesmo à cozinha. Nada de Carly. Na verdade não existia nenhuma viva alma naquele lugar.

Liguei novamente. Se o celular estivesse pelo menos desligado eu saberia que ele descarregou e voltaria para casa esperando encontra-la lá, mas ele chamava, e chamava, e chamava e enfim desligava com aquela mensagem irritante querendo que eu deixasse uma mensagem.

Considerando que não havia ninguém no colégio, resolvi entrar nos banheiros femininos (descoberta do dia: eles com certeza cheiram muito melhor que os masculinos). Procurei em todos os banheiros de todos os andares, mas nem lá ela estava.

Eu estava começando a me sentir em um jogo de esconde-esconde forçado e sem graça. Minha paciência estava chegando ao limite, eu entendo que ela queira ficar sozinha, se esse for o caso, mas custa alguma coisa pelo menos avisar?

Meu celular vibra e pego com rapidez, mas é minha mãe.

– Alô?

– Victor, cadê vocês?

– A Carly sumiu, estou tentando acha-la. Ela está aí?

– Não, estava ficando preocupada, ela não atende minhas ligações.

– Nem as minhas, vou continuar procurando.

– Não volte muito tarde.

– Certo.

Desliguei o telefone ligeiramente decepcionado.

Continuei rodando o colégio feito um idiota.

Em certo ponto olhei o relógio e eram sete e meia. Aquilo estava indo longe demais, eu estava com muita fome e com chance de ter hipoglicemia por causa do remédio, que inclusive nem tinha tomado naquele dia, me deixando com mais fome e mais zangado ainda.

Os corredores começaram a ficar abafados e resolvi ir ao terraço, no topo do prédio. Chegando lá, finalmente encontro quem eu passei mais de três horas procurando.

Talvez eu devesse ter dado meio volta, me acalmar e por fim falar alguma coisa, mas eu só queria agarrar o braço dela, carregá-la pra casa e comer. E dormir.

– Carly? – perguntei só pra confirmar.

Ela se virou, estava escuro, eu só conseguia ver seu cabelo e o vulto.

– Victor? O que você está fazendo aqui?

Foi a gota d´água.

– O que eu estou fazendo aqui? Carly você viu seu celular? Eu estou te ligando desde que meu treino acabou, estou te procurando há três horas e meia e estava quase me matando de preocupação!

– Ah, me desculpe, eu tava distraída e...

– Distraída?! Eu não consigo acreditar que você ficou distraída por três horas e meia e nem sequer sentiu o celular vibrar, tocar ou sei lá. Sabe, minha mãe também está louca em casa e eu rodei esse colégio inteiro a ponto de ter um ataque de hipoglicemia.

– Me desculpa Victor, eu tava só pensando na... deixa pra lá, vamos voltar pra casa pra descansar sua mãe.

Então descemos as escadas juntos e finalmente saímos da escola.

Na rua, ela voltou a falar.

– Estou vendo agora suas ligações, me desculpa.

– Hum – murmurei com raiva, pra não ter que gritar mais com ela.

– Percebo que você acordou.

– Obrigado por me trazer ao colégio.

– Não há de que.

Passamos um tempo sem dizer nada. Resolvi que seria bom se eu dissesse para ela que Ted descobrira.

– Ted descobriu sobre a gente hoje.

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– O que?

Foi a primeira exaltação dela hoje, pelo menos a que eu percebi.

– Não fui eu quem contou Carly, ele descobriu.

– Não tem como ele ter descoberto!

– Ted é mais inteligente do que você pensa, Carly. Ele percebeu sozinho e eu não quis mentir pra ele sobre isso.

– Por que não?

– Por que ele é meu melhor amigo.

– E daí?

Parei de andar. Ninguém desrespeita um amigo meu, e eu já estava muito zangado. Parecia até que Carly queria botar lenha na minha fogueira.

– Sabe Carly, você pode não saber o verdadeiro valor de uma amizade já que nunca teve um amigo de verdade, mas eu sei. Ted é meu melhor amigo e não se mente para um amigo de verdade. Além disso, eu confio nele.

– O que você quer dizer com eu não ter amigos de verdade?

Estávamos começando a gritar, um de frente para o outro.

– Desculpe se eu não acho as putas de torcida amigas verdadeiras!

– Sabe, Victor, você querendo ou não eu já fui uma líder de torcida e não gostava de ser chamada de puta!

– Você conjugou bem o vero no passado. Você mudou Carly. Eu também mudei.

– Isso é irrelevante para a conversa.

– Eu quero dizer que você não é mais a super puta que costumava ser, você é legal agora.

– Victor Simons, eu nunca fui puta! Eu fui vítima de estupro!

Parei, eu tinha esquecido isso, mas provavelmente era algo que ela nunca iria esquecer.

– Me desculpa, eu só quero voltar pra casa, e não aguento mais ser seu namorado secreto. Quero falar pro mundo que gosto de você.

– De jeito nenhum! Eu não preciso de mais uma coisa para afundar minha reputação!

– Quer dizer que me namorar vai afundar a SUA reputação? Isso é ridículo! Carly eu quero dar o melhor de mim para você, mas eu não percebo a reciprocidade aqui. Sinto que tem algo prendendo você.

– Talvez eu só não goste tanto assim de você.

– Ótimo.

– Ótimo.

Eu estava no auge da raiva quando continuei caminhando em direção de casa e disse:

– Então está tudo acabado.

Carly

Faltei as duas últimas aulas e o treino das líderes de torcida. Isso por que na primeira aula depois do almoço todas as garotas me olhavam diferente, sinal que o boato já tinha corrido o colégio. Provavelmente o boato de que chamei as líderes de torcida de putas também.

Não aguentei a pressão. Estava tudo mudando muito rapidamente e eu não era forte o suficiente para aguentar.

Fui até a cobertura, sem me importar com as consequências. Olhei o celular por um instante e deixei-o no chão, então sentei no parapeito e fiquei olhando o tempo passar, derramando algumas lágrimas ocasionalmente.

Passei um bom tempo apenas apreciando a vista, sem me importar com a hora ou em pensar nada. Claro que algumas vezes eu pensava em tudo que estava apostando mudando tanto assim, mas logo me lembrava que eu estava fazendo algo bom.

O céu escureceu e comecei a escutar os gritos de animação das líderes de torcida. E com esse barulho comecei a me lembrar do refeitório e chorar novamente.

Resolvi que eu tinha que parar de pensar, ou acabaria me machucando cada vez mais. Comecei então a pensar em tudo aleatório, como o canto dos pássaros, a música da Taylor Swift eu combinava muito comigo nesse momento – shake it off – tirando o fato que eu estava ligando bastante para as fofocas. Com o tempo esvaziei a mente.

Até alguém subir no terraço.

– Carly?

Virei-me e vi Victor com uma cara de espanto, segurando o celular e ofegante.

– Victor? O que você está fazendo aqui?

Acho que eu devo ter escolhido as palavras erradas, por que foi nessa hora que ele explodiu.

– O que eu estou fazendo aqui? Carly você viu seu celular? Eu estou te ligando desde que meu treino acabou, estou te procurando há três horas e meia e estava quase me matando de preocupação!

Ai não...

– Ah, me desculpe, eu tava distraída e...

– Distraída?! Eu não consigo acreditar que você ficou distraída por três horas e meia e nem sequer sentiu o celular vibrar, tocar ou sei lá. Sabe, minha mãe também está louca em casa e eu rodei esse colégio inteiro a ponto de ter um ataque de hipoglicemia.

Oh, Deus... ele já teve um, não duvido da possibilidade de ter outro.

– Me desculpa Victor, eu tava só pensando na... deixa pra lá, vamos voltar pra casa pra descansar sua mãe.

Eu entendia completamente o lado dele e na verdade estava me sentindo muito culpada por nem ter notado o tempo passar. E o fato de Janice estar preocupada me deixava muito mal.

Olhei o celular e vi trinta ligações do Victor e dez da Janice. Resolvi me desculpar novamente.

– Estou vendo agora suas ligações, me desculpa.

– Hum – resmungou ele com raiva. Não há nada que me deixe mais zangada do que receber um “hum” como resposta.

– Percebo que você acordou.

– Obrigado por me trazer ao colégio.

– Não há de que.

Ele parecia bem mais calmo e resolvi me calar antes que piorasse a situação, mas ele quebrou o silêncio.

– Ted descobriu sobre a gente hoje.

Existem momentos que você consegue ter mil pensamentos em um segundo e tenho quase certeza que esse foi um desses momentos e todos os meus mil pensamentos me diziam que essa era uma péssima hora para alguém descobrir sobre a gente.

– O que?

Ele pareceu surpreso pela minha reação, mas continuou andando.

– Não fui eu quem contou Carly, ele descobriu.

– Não tem como ele ter descoberto!

As coisas estavam mais complicadas do que pensei.

– Ted é mais inteligente do que você pensa, Carly. Ele percebeu sozinho e eu não quis mentir pra ele sobre isso.

– Por que não?

– Por que ele é meu melhor amigo.

– E daí?

Parece que falei a coisa errada novamente.

– Sabe Carly, você pode não saber o verdadeiro valor de uma amizade já que nunca teve um amigo de verdade, mas eu sei. Ted é meu melhor amigo e não se mente para um amigo de verdade. Além disso, eu confio nele.

Nesse momento ele conseguiu me irritar.

– O que você quer dizer com eu não ter amigos de verdade?

Foi nesse momento que começamos a gritar. Como aquelas cenas de filme quem que os dois ficam um de frente para o outro gritando e gesticulando exageradamente.

– Desculpe se eu não acho as putas de torcida amigas verdadeiras!

– Sabe, Victor, você querendo ou não eu já fui uma líder de torcida e não gostava de ser chamada de puta!

– Você conjugou bem o vero no passado. Você mudou Carly. Eu também mudei.

Ele estava fugindo do assunto.

– Isso é irrelevante para a conversa.

– Eu quero dizer que você não é mais a super puta que costumava ser, você é legal agora.

Ele tocou num ponto delicado nesse momento. Eu odiava ser chamada de puta. Terrence me chamava de puta. E a lembrança de Terrence trazia milhares de outras muito desagradáveis.

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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Victor Simons, eu nunca fui puta! Eu fui vítima de estupro!

Ele se endireitou e se acalmou, pareceu se lembrar e se sentir mal por ter dito algo assim.

– Me desculpa, eu só quero voltar pra casa, e não aguento mais ser seu namorado secreto. Quero falar pro mundo que gosto de você.

– De jeito nenhum! Eu não preciso de mais uma coisa para afundar minha reputação!

Eu nem sei por que disse isso, o ponto dele foi lógico e até fofo, mas meu dilema de hoje a tarde me perturbava mais do que eu sequer podia imaginar.

– Quer dizer que me namorar vai afundar a SUA reputação? Isso é ridículo! Carly eu quero dar o melhor de mim para você, mas eu não percebo a reciprocidade aqui. Sinto que tem algo prendendo você.

– Talvez eu só não goste tanto assim de você.

– Ótimo.

– Ótimo.

Ele se virou e continuou andando, nossa primeira briga parecia mais feia do que as primeiras brigas normalmente são e dessa vez a culpa parecia ser majoritariamente minha.

– Então está tudo acabado.

E foi então que eu notei o que realmente tinha acabado de acontecer.

Continuei seguindo-o tentando me lembrar de manter todos os pensamentos longe.